Dia - X escrita por Chiye


Capítulo 3
Capítulo 3 - Sonho


Notas iniciais do capítulo

Nesse capitulo inteiro o que mais importa é o sonho que eu tive. Preste bastante atenção nele, leitor.



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Ricardo nos levou a um laboratório cheio de homens e mulheres de jalecos brancos. Todos estavam falando agitados mas pararam assim que chegamos e se sentaram. Alguns cumprimentaram Ricardo. Nenhum sequer deu sinal de que viu eu, Sarah e O Doutor entrarmos, com exceção de um robozinho vermelho. Ele entregou um microfone a Ricardo e disse “Bom dia!” para cada um de nós três, depois foi até um canto e ficou parado. Nos sentamos também.

--Temos aqui três pessoas que dizem que podem ajudar! –Disse Ricardo. Uma onda de murmúrios percorreu a sala, mas logo se calou. –Ele— E apontou para O Doutor. –Não é humano! Deve ter vindo de algum lugar ai fora! Ele sabe de algum lugar onde podemos ir.

--É um planeta muito parecido com a terra. –Explicou O Doutor ao bando de cientistas. –Não fica muito longe daqui, são apenas...

Mas eu me distrai e comecei a relembrar do episodio Nova Terra. Era um ótimo episódio com a décima regeneração d’O Doutor e Rose Tyler, sua companheira. Lembrei da frase “Viajar com você. Eu amo”. Eu adorava essa série. Ri sozinha quando lembrei da Cassandra no corpo d’O Doutor. Cochichei “Oh, baby, I am beauting out a samba” para Sarah e nós rimos com as mãos cobrindo a boca. Ainda lembro de como humanos riem fácil.  Humanos são um bocado idiotas... Sinto falta disso. Era adorável ser assim. Por que você precisa entender, leitor, que a maldição de um senhor do tempo me atinge também. Não é nada divertido, posso lhe assegurar.

Ficamos naquela reunião por mais de uma hora, até que os cientistas disseram que no outro dia de manhã nos ajudariam. Dispensaram eu e Sarah, mas pediram que O Doutor ficasse e lhes mostrasse algo sobre foguetes. O robô vermelho nos acompanhou até os quartos. Ficamos em quartos próximos e, pela experiência adquirida assistindo a série, combinamos de gritar caso algo estranho acontecesse. O robô e desejou boa noite quando entrei e saiu.

O quarto era tão branco como o resto do prédio. Havia uma cama, um pequeno banheiro e uma mesinha com uma pequena barra de ferro. Me aproximei, curiosa. Ao meu toque, a barrinha produziu um holograma de uma tela de computador.

Apesar de estar cursando técnico de informática em algum ponto do passado, tive bastante dificuldades para mexer naquele computador. Tive que acostumar a tocar no holograma, que funcionava como uma espécie de touchscreen super sensível. O sistema operacional era bastante diferente também, embora ainda tivesse uma interface comunicável.

Depois de abrir um browser(navegador para os leigos), decidi descobrir tudo sobre esse lugar. Sei que a explicação pode ser tediosa, leitor, mas peço que leia.

O Guardian’s. Fundado no ano de quatro mil novecentos e oitenta e dois pelo governo da época, dada a situação critica do planeta. No mesmo ano foi criada a lei que obrigava toda a população a usar filtros de ar nos narizes. Nano filtros de ar. Era como Ricardo dissera: Sem troca ou reparo.

Basicamente, o Guardian’s produzia oxigênio. Terra e luz solar produzidas em laboratório para plantar algumas arvores. Esse plano não deu certo; A noite as arvores usavam o oxigênio também. Fora todas descartadas. Então enriqueceram a água e criaram um substrato(solo, leitor, solo.) artificial para produzirem algas. Elas sim deram conta do oxigênio de um prédio inteiro. O problema era que tudo isso custava caro e uma noite ali custava milhares de dólares. Ninguém podia pagar.

Instalaram isso em hospitais e presídios, também. Devo lhe informar que não deu certo. Imagine, todos tentando desesperadamente ficarem doentes para poder respirar ar limpo. Alguns chegavam a matar e confessar, tudo para poder respirar melhor. Isso me choca até hoje, leitor. O modo como os humanos conseguem fazer certas coisas.

Agora o jeito era tentar um planeta novo. A economia estava em crise, a população completamente apavorada. Mas aquela era a hora. A humanidade deixou a Terra e espalhou seus domínios por grande parte do cosmos.

Depois de descobrir mais algumas coisinhas bobas sobre como era o futuro, fui dormir.

Como Eu do presente, meu presente, como senhora do tempo, te deixo um conselho. Isso que acabou de ler vai acontecer na sua dimensão no futuro. Cuide do seu planeta, leitor. Ele precisa de você. Ele está gritando por ajuda. Não ouve? Não vê? Claro que não. Você é humano. Não consegue sentir o planeta girando a mil seiscentos e nove quilômetros por hora. Não sente a translação do planeta a cento e sete mil oitocentos e vinte e três quilômetros por hora. Caindo pelo espaço, todo o globo. Você não sente a maravilha que é o magma dançando sob seus pés. Não sabe como é sentir quando o magnetismo falha. Vocês sequer notam quando o magnetismo falha. Seu planeta é lindo. Valorize isso, humano. Agora chega, sei que quer ouvir a história.

No outro dia, eu e Sarah acordamos e andamos por um bom pedaço do enorme prédio até acharmos um pátio onde uma verdadeira maratona de homens e mulheres trabalhava em algo. O que eu registrei como humana: Barras de ferro, parafusos, algo preto, placas de ferro, cientistas e algum tipo de cola em pistola. O que eu hoje consigo me lembrar: Uma estrutura metálica esperando para ser montada, parafusos de titânio, gasolina super concentrada, uma invenção terrestre que rende o triplo da gasolina convencional, placas de alumínio revestidas com outros sete tipos de metais, engenheiros, e uma pasta que vedava rachaduras e suportava pressões muito altas, além de reguladores, moduladores, módulos de combustível e outras muitas coisas que seriam spoilers para você, leitor.

Localizamos O Doutor sentado mais adiante, fazendo algo com um daqueles computadores de holograma.

--Não consegui usar aquilo. –Comentou Sarah sobre o computador enquanto íamos até o senhor do tempo.

--Eu até que consegui. –Comentei e fiz um resumo realmente muito curto sobre o Guardian’s.

--Bom dia. –Disse O Doutor. –Olhem, vou dar uma mãozinha aqui para os cientistas e nós poderemos utilizar um teletransporte e pegar toda a tecnologia que precisarmos. Vamos ficar aqui só por hoje e partir a noite, tudo bem?

--Claro. –Respondemos.

Passamos o resto do dia explorando o lugar. O Doutor nos recomendou tirar um cochilo de tarde por que muito provavelmente passaríamos a noite em claro ou dormiríamos bem tarde. Nós obedecemos.

Devo lhe pedir que guarde muito bem o que vem a seguir, leitor. Cada mínimo detalhe. Leia o trecho de novo, se precisar. Mas absorva cada pequeno detalhe. Cada cor, cada palavra e cada gesto. Só para ficar claro, o trecho que segue é um sonho que tive assim que deitei a tarde.

Bombas. Bombas e fogo por toda a parte. Eu estava deitada em uma cama, cercada de pessoas. Senhores do tempo, eu sabia. Senhores do tempo da instituição. O numero de senhores do tempo que sabiam da Instituição era proporcional ao numero de humanos que tiveram ou terão um dia X. Muitos poucos.

Do meu lado, em uma mesinha, havia um relógio. Um daqueles relógios que os homens da terra usavam no paletó no século XX. Ouvi a conversa dos que me rodeavam. Eram seis ou sete pessoas.

--Está quase no fim, a guerra.

--Sim...

--Temos que fazer agora, não teremos outra chance.

--Pobre menina...

--Ela salvará as memórias de Gallifrey!

--O planeta irá queimar, O Doutor não conseguirá impedir...

--Ele irá sofrer tanto...

--Ela também...

--Mas é preciso. E no fim poderão compartilhar suas memórias.

--A menina humana na terra está bem, acho que isso tem uma chance de dar certo. Podemos pegar os outros dois depois.

--Não vai doer, querida. –Essa ultima frase foi dita para mim. –Não se mexa.

Como se eu tivesse escolha. Estava presa a cama, amarrada. Esperando minha morte. Por que era esse o plano: Retirar minha consciência de senhora do tempo e matar meu corpo. Um corpo sem consciência não se regenera. E mandariam o relógio para longe, onde os malditos daleks não o encontrassem.

Então colocaram algo em minha cabeça. Não vi o que, mas acho que sei. E então todo o meu corpo queimou. Dor. Intensa. Quente. Eu gritei, tentei me livrar, mas não consegui. E a dor continuava. Passava por cada célula do meu corpo.

As ultimas coisas que me lembro, ainda no meu corpo de senhora do tempo: A dor era terrível. O meu relógio ficou envolto por uma luz laranja em flocos e ouvi uma ultima coisa antes de baixarem a morte sobre mim. Alguém sussurrou algo para mim: Sentimos muito. Vai ficar tudo bem.

Acordei completamente suada, tremula e assustada. Minha garganta queimava: Devia ter berrado dormindo acompanhando meu eu do sonho. Minha cabeça doía muito e eu tinha arrepios e ânsias de vomito. Tudo isso no segundo que demorou para O Doutor, Sarah e Ricardo, o cientista, chegarem.

--O que houve? –Perguntou O Doutor.

--Eu... –Os detalhes do sonho estavam se esvaindo rápido, muito rápido. Quanto mais tentava rete-los, mais eles se iam. –Pesadelo, só isso...

--Achamos que alguém tinha tentado te matar ou algo assim. –Disse Sarah.

Mas o sonho fora vivido. Senti a dor, realmente e senti. E aquele lugar era Gallifrey, na guerra do tempo, embora meu Eu humano não soubesse. É como quando você sonha com algo que já aconteceu: É muito mais realista do que qualquer sonho que você possa ter. É vivido e sofrido, o que acontece no sonho.

--Você parece doente... – Comentou Ricardo.  

Tentei sorrir.

--Não foi nada... Acho que viajar na TARDIS realmente mexeu comigo. –E tentei sorrir novamente.

--Nesse caso, tudo bem. –Disse Ricardo. –Doutor, vamos voltar ao foguete, sim?

--Você está bem mesmo?—Perguntou o senhor do tempo, enrugando o nariz, preocupado. Aquela regeneração sempre enrugava o nariz quando ele ficava preocupado.

Fiz que sim com a cabeça. O Doutor sorriu e saiu com Ricardo. Mas Sarah continuou lá. O bom de se ter amigos é que eles sabem quando há algo errado com você.

--O que há de errado? De verdade, hein, Chiye? –Perguntou ela, se sentando na cadeira que ficava junto a mesa do computador.

--Foi um sonho. –Expliquei. Há dois grupos de pessoas que sempre irão saber se você mentir, leitor. Os pais e os melhores amigos. –Eu fiquei deitada com umas pessoas em voltas e parecia uma guerra...

Contei todos os detalhes que consegui lembrar, considerando que metade do sonho fora embora. Mentes humanas nunca conseguem lembrar de muita coisa.

--Um relógio!? –Explodiu Sarah quando o mencionei. –Um relógio! Ah, você sabe o que tem em um relógio...

--Nem pensar. –Respondi. Por que era a verdade. Nunca, em hipótese alguma, o que estávamos imaginando podia ser verdade. –Foi só um sonho, já disse.

--É, foi um sonho, mas um sonho com um relógio!

--Sarah, para com isso, tá? Olha, eu vou ver se posso ajudar O Doutor com o foguete, você vem?

Nós fomos. Fizemos coisas simples, como carregar papeis e caixas ou por parafusos em lugares fáceis.

Preciso que note três coisas nesse capitulo, leitor.

*O relógio.

*A senhora do tempo adolescente amarrada a uma cama em Gallifrey.

*A menina na terra que estava bem.

Esse ultimo tópico pode ser melhor explanado: Havia uma menina, humana, que estava bem. Ela vivia na terra. Seu nome era Chiye. Chiye Kalleto. Ela estava bem e isso era vital para o plano dos senhores do tempo.

Agora, pense, leitor. Eu sou Chiye Kalleto, como já lhe disse. Chiye Kalleto é a menina que estava bem. Humana. Eu, Chiye Kalleto, viajo com O Doutor na TARDIS a duzentos e mais uns anos. Senhora do tempo. Isso te confundiu, leitor? Não me admira. Afinal, isso é impossível. 


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Notas finais do capítulo

Alguém ai?



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