Dia - X escrita por Chiye


Capítulo 13
Capítulo 13 - Queimado


Notas iniciais do capítulo

Da série: Coisas tristes que você entra em depressão depois de escrever vem ai: A morte de pessoas queridas. Aproveitem, pessoinhas.



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Por mais que corrêssemos, os daleks continuavam a seguir-nos e mais deles apareciam. Estava ficando cada vez mais difícil desviar dos tiros e fora formado um verdadeiro coro de Exterminar! (Sim, traduzido isso fica bem estranho. )

Não sabíamos mais para onde estávamos indo: De tanto dar de cara com daleks e ter que mudar de direção de repente, era impossível dizer de que lado ficava a porta. Connte se aproximou de mim e disse enquanto corria.

–-Vamos achar os geradores de energia. Podemos pará-los, isso apagaria as luzes e nos daria algum tempo. Só não sei como...

–-Tudo aqui é movido a engrenagens. –Eu disse. –Meio ultrapassado, devo dizer. Mas se pararmos uma, paramos todas. –Então tirei o relógio vazio do bolso. Stevan sorriu.

–-Que peninha. –Ironizou ele. –Seria uma ótima lembrança.

Tivemos que correr um bocado até acharmos os geradores. Todos os daleks pareciam estar nos seguindo agora. Um tiro passou tão perto de mim que levantou meus cabelos. Só mais dez metros.... Sete... Falta pouco... Exterminar!... três... Dois... Connte agarrou minha mão pouco antes de chegarmos... um...

–-Agora!—Gritou ele. Eu abri a portinhola e nós jogamos os relógios lá e saímos da mira de um dalek um segundo antes de ele atirar. Houve um enorme som de atrito e as vozes dos daleks soaram irritadas, então tudo escureceu completamente. Continuamos a correr, as cegas, cada um com um braço estendido, tateando a frente, as mãos ainda juntas.

Não sabíamos exatamente aonde estávamos indo, mas continuamos a andar, seguindo na direção oposta ao som dos daleks que tentavam concertar o gerador, tateando as máquinas. Depois de alguns minutos, achamos uma fenda entre duas máquinas. Era muito quente e estreita, mas nos esprememos ali sabendo que um dalek não conseguiria essa proeza. Essa é uma das vantagens de ser magrelo. Acabamos por descobrir que no fim da fenda havia um espaço grande o bastante para sentarmos e esticarmos as pernas. Nos sentamos lá e ficamos em silencio, cansados.

O fato é que quando o relógio foi aberto, toda a nossa estrutura biocelular foi reescrita e nossa consciência devolvida ao corpo. O problema é que isso gasta muita energia. O certo seria, assim que abríssemos os relógios, ingerir carboidratos e glicose, mas, é claro, não tivemos essa chance.

Eu ainda sentia vontade de chorar por Mirai. Embora meu eu humano mal a conhecesse, meu eu senhor do tempo a conhecia desde o nascimento. Contarei um pouco sobre nossas vidas e Gallifrey mais adiante. O que você precisa saber por hora é que lá, em Gallifrey, Connte e eu tomávamos conta de Mirai como se fosse nossa irmã caçula. Acho que no fundo era algo parecido com isso. Quando eu lhes contar sobre nossas vidas lá, você irá entender que éramos uma mini família.

Mas no momento estávamos sozinhos em uma fábrica dalek. Mirai estava morta. Não tínhamos noticias d’O Doutor. Estávamos cansados e todos os outros haviam queimado.

Todos.

As crianças.

Os livros.

Os idosos.

A Instituição.

Todo o planeta.

Abracei meus joelhos na hora em que a luz voltou. Era uma sensação abrasadora, completamente triste e desesperadora. Connte se aproximou de mim. Não precisou perguntar para saber no que eu pensava. Ele não tentou me consolar, o que achei sensato, pois não havia consolo. Ao invés disso ele sussurrou algo.

–-Eu sei. –Sua voz estava falha.

Foi então que eu chorei. Muito. Mais do que consigo me lembrar de ter chorado antes e depois daquele dia. Connte passou um braço por meus ombros. Ele também chorava. Mas não dissemos nada, simplesmente não havia nada a ser dito, apenas tudo a ser lamentado.

Você já passou uma noite em claro chorando? Se sim, sabe como é ter que chorar em silencio para não acordar ninguém. O nosso problema naquele momento era que nossa tristeza era tão grande que ficava difícil conter os sons do choro. Chorar alivia, na maioria das vezes. Acho que levamos mais de uma hora para controlar os soluços. Agora restavam apenas lágrimas silenciosas escorrendo, meio que representando um pouco da aceitação, meio representando um pouco do enorme cansaço que sentíamos.

–-Sabe –Comentou Connte depois de um tempo. –Antes de matarem nossos corpos na Instituição, eu queria ter te dito uma coisa.

–-O que?

Connte ficou meio vermelho, o rosto ainda banhado em lágrimas.

–-Queria dizer... Que gosto de você. E queria saber se você quer ser minha... Ah, você sabe...

Eu sorri. É meio que típico de senhores do tempo serem tímidos. A verdade é que eu sabia, sim. Me lembrei da ultima vez que o vislumbrei, antes de matarem nossos corpos: Havia acabado de retira-lo da linha de frente na batalha e estavam me levando para o lugar onde me executariam. Ele havia sorrido para mim.

–-Preciso te dizer uma coisa. –Dissera.

–-O que? –Eu havia perguntado.

Mas uma enorme explosão sacudiu tudo a nossa volta e fui levada embora, sob o pretexto de falta de tempo.

–-É claro que eu sei. –Concordei, baixinho, voltando meus pensamentos para presente.

–-Então... Que acha? –Arriscou ele.

–-Topo se você topar. –Dei de ombros. –Você topa?

Tenho certeza de que o que veio a seguir foi um sim: Ele sorriu de canto de boca e me beijou. Um consolo em meio a tantas perdas. Depois se afastou um pouco, mas mantendo sua testa apoiada na minha.

–-Vou sentir falta deles. –Disse.

–-Também vou. –Concordei.

Ouvimos, muito longe, um dos daleks dizer que devíamos ter voltado pela porta.

–-Droga. –Comentou Connte. –Agora não vamos mais poder ir para lá.

–-E que tal se tentarmos voltar por onde viemos?

Ele concordou com a cabeça, mas única e exclusivamente por não termos outra saída. Ficamos ali mais alguns minutos, planejando algo. O que não adiantou muita coisa: Tínhamos pouca energia e nenhum recurso.

Então começamos andar, tendo que nos esconder a todo momento dos daleks. Quando saímos de trás de uma enorme máquina, demos de cara com O Doutor e quase gritamos. Ele tinha alguns arranhões bem fundos, mas pelo menos estava com o mesmo rosto. Ele nos abraçou.

–-Onde está Mellany?—Perguntou.

Para o caso de você já ter esquecido, leitor. Chiye = Writer. Mellany = Mirai. Stevan = Connte.

Baixei a cabeça e Stevan respondeu.

–-Ela... Ela está morta.

O Doutor suspirou, triste.

–-Então... Vocês são...? –Insinuou ele depois de um tempo.

–-Senhores do tempo. –Eu disse. –Depois falamos, é melhor sair daqui.

–-É melhor mesmo. –Concordou O Doutor. –Por que instalei detonadores. Temos dez minutos para fugir. É melhor corrermos.

Então desatamos a correr, mas antes de percorremos cem metros, apareceu um grupo de daleks. Eles nos encurralaram contra o caminho fundo de caçambas, gritando Exterminar!

–-Não se aproximem mais! –Disse O Doutor, apontando sua chave de fenda sônica.

–-Arma não-letal! –Disse um dalek.

–-Experimente! –Retrucou O Doutor, ligando-a. Soube que ele estava prendendo-os ao chão por meios magnéticos.

Eu e Connte continuávamos recuando, meio involuntariamente. Então senti ele me empurrar para frente e gritar. Me virei para trás e notei que ele havia caído no caminho. Me deitei de barriga no chão e estiquei o braço.

–-Segure na minha mão! –Disse a ele.

Connte tentou e nós dois se esticamos ao máximo, mas faltava um bom pedaço. Eu me estiquei perigosamente e ele tentou pular, mas em vão.

–-Doutor, nos ajude! –Gritei.

–-Ah, agora eu estou ocupado!—Disse ele.

Não quis pensar no que aconteceria se uma das caçambas viesse, a mais de trezentos quilômetros por hora. Uma morte instantânea, sem chance de regeneração.

–-Rápido!—Disse O Doutor. –Oito minutos!

–-Vem!—Gritei, em pânico.

–-Estou tentando! –Disse ele.

Maldito momento. Ao longe, uma das caçambas veio se aproximando. Olhei-o nos olhos e vi um reflexo do que eu sentia: Desespero e medo. Foram alguns dos segundos mais tensos da minha vida: Eu com o braço estendido, ele tentando alcançá-lo.

–-Isso tudo é injusto! –Gritou ele. –Maldito universo! –Então normalizou a voz, dizendo tudo muito depressa. O tempo era curto. –Writer, destrua o máximo de daleks que puder. E se lembre de mim.

Fiz que sim com a cabeça. A caçamba enfim veio. Ele se foi sorrindo.

O Doutor puxou meu braço para fora do caminho, a chave de fenda sônica ainda apontada para os daleks. Eu vi tudo acontecer: A caçamba colidiu com Connte, levando seu corpo e produzindo uma chuva de sangue. Alguma gotas voaram até mim.

Não sei exatamente o que me deu forças para sair dali. Sei apenas que, em minha mente, ouvi Mirai e Connte me dizendo para correr. Com a visão meio embaçada pelas lágrimas, ouvi o apelo d’O Doutor e corri, limpando o sangue de Connte cuidadosamente em um lenço e o colocando no bolso.

O Doutor conseguiu segurar os daleks por alguns metros, então o magnetismo falhou. Ele guardou a chave de fenda sônica e me agarrou pelos ombros. Corremos juntos. Os daleks surgiam de todas as partes, atirando e exterminando. Acertavam tudo ao seu redor, enfurecidos, incluindo o maquinário, causando explosões. Depois de duas delas quase me matarem, estava definitivamente mal. O Doutor também parecia cansado.

Alcançamos o corredor. Os daleks ainda nos seguiam. No ultimo pedaço do corredor, a explosão que O Doutor programara entrou atrás de nós.

–-CORRE!—Berrou ele.

Como se eu fosse ficar parada esperando a onda de choque da explosão. Nós dois corremos. O calor foi ficando mais intenso. O Doutor estava logo atrás de mim. Minha visão estava meio embaçada. Abri as portas da TARDIS com um estalo de dedos e corri para o console. Mas um segundo antes de a porta ser fechada, a explosão nos alcançou.

E pela terceira vez no dia, se contarmos minha execução na Instituição, meu corpo inteiro ardeu em chamas. Foi uma dor muito intensa. Meus olhos lacrimejaram e minha cabeça girou. Somados o cansaço, a falta de energia, a tristeza e os efeitos da explosão, consegui apenas pousar,sem ao menos confirmar onde eu estava. Tudo o que eu pensava era: Por favor, por favor, que cheguemos em algum lugar com ajuda, por favor, por favor... Estabilizei os controles no final e desmontei inconsciente.

–-

–-

–-

Eu estava deitada em algum lugar. Minha cabeça ainda rodava um pouco, mas eu estava bem melhor e também morta de sede. Abri os olhos. Eu estava na casa de Sarah, em seu quarto e havia um pano molhado em minha testa. Rapidamente eu o retirei e me sentei.

–-Você acordou! –Disse Sarah, surgindo a porta, parecendo preocupada. –O que houve?

Tentei me lembrar. Droga.


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Notas finais do capítulo

Pois é... Algo a me dizer? Duvidas, traumas, decepções?



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