KOURIN escrita por P Capuleto


Capítulo 13
Estou pronta... Pode falar


Notas iniciais do capítulo

Hoe! Esqueci de perguntar como foi o carnaval de vocês. Espero que ninguém esteja ainda de ressaca.. To de olho em vocês hein >—> hahahaha! Leiam as notas finais, por favor. Capítulo 13 fresquinho e pronto para ser lido! Espero que gostem!



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O corredor estava vazio e eu só podia ouvir a minha respiração.

Bom, não só a minha. Ainda estava agarrada ao garoto desconhecido e demorei alguns segundos para cair na real e perceber o quão estranha era aquela situação.

– P-pode me soltar agora. - disse.

Ele obedeceu imediatamente, mas tirou os braços de mim com gentileza e calma.

– Sinto muito pelo seu telefone... - sua voz era carregada de compaixão, como se ele realmente estivesse sentindo minhas mágoas.

– Não estou triste pelo celular. - declarei guardando-o na sacola onde levo meu almoço.

– Oh, é verdade. Você disse algum coisa sobre uma mensagem. Era importante?

– Muito importante...

– Se quiser, te empresto o meu e você pode telefonar para a pessoa avisando sobre o ocorrido.

De início, fiquei muito feliz pela proposta, mas logo em seguida lembrei da verdade: eu não sei o número de Yuka de cor. Uma vergonha, já que é o mesmo desde sempre e seria impossível contar a quantidade de vezes que o disquei na vida.

– Obrigada, mas não é necessário. - tentei sorrir para tranquilizar o rapaz, mas pela sua reação, devo ter feito a cara mais assustadora do mundo.

– Precisa de alguma coisa? Que te acompanhe até sua sala? Quero compensar de algum jeito, já que isso é culpa minha.

– Não, não, não. - agitei os braços a minha frente - Está tudo bem. Não foi culpa sua. Eu estava distraída e devia olhar para frente enquanto ando.

Normalmente não me esforço tanto para aliviar uma pessoa, mas esse menino realmente não tinha culpa de nada e a dor que seus olhos deixavam a mostra era de partir o coração.

– Com licença, meninos. - a voz grave de Mao-san soou do nosso lado - Vão já para a aula antes que eu os mande para a minha sala.

– Sim, senhora. - dissemos em uníssono. Que susto!

– Yamada-san, é importante que você siga as regras da escola. Não pegarei leve por ser seu primeiro dia. E Naruma-san... - ela virou para mim e lançou um olhar severo - Espero que não esteja se deixando influenciar por Hakeshi Asuma e Uhara Sakuya. Vi que está andando muito com os dois e peço que saiba dar valor a oportunidade que a Academia está dando à vocês.

Concordei mais uma vez e comecei a andar em direção a escadaria. O garoto veio ao meu lado em silêncio. Só quando já estávamos no segundo andar é que ele sussurrou:

– Deixe que eu me apresente direito. Sou Yamada Nao e como ela disse, é meu primeiro dia.

– Prazer, Nao. Meu nome é Kourin e... essa é minha primeira semana, então acho que também sou nova aqui.

– Ai, que nome lindo! - ele uniu as duas mãos e então bateu três palminhas rápidas - Ah, e quem são seus amigos? Aos que Mao-san se referiu. Usando você de parâmetro, uma menina tão linda e educada, não acredito que sejam vândalos como ela transpareceu pensar.

Aquela sequencia de falas e seus gestos pouco comuns me deixaram um pouco desconcertada, mas ele ainda era o menino gentil de antes então continuei o diálogo.

– Asuma é conhecido por matar aulas, está no último ano e conheci ele por acaso. Sakuya é da minha sala no primeiro ano e... Bom, ela tem problemas com um colega em específico. Não diria que isso a torna uma vândala.

– Ai, Aposto que são pessoas incríveis! - declarou ajeitando a armação dos óculos.

– Acho que sim... - sorri meio sem jeito. Ele praticamente irradiava luz e me perguntei se todas as suas emoções são tão intensas assim. Já conheci "tristeza" e "alegria". Não sei se sobreviveria a "ódio" ou "euforia". - Melhor irmos para a sala, né?

– Claro. Eu também sou do primeiro ano, aliás. Desculpe se estou um pouco empolgado. É que essa escola é tão incrível!

Fomos juntos até a área de salas da nossa série e avistei minha classe.

– Eu vou entrar ali. Onde é a sua?

– Ai, não acredito! Estamos na mesma turma!

– Tá brincando? - perguntei sentindo-me feliz também. A presença de sua energia contagiante era tudo que eu precisava para quando não estivesse mais aguentando de tédio. Sakuya poderia ser útil se não passasse 50% do tempo dormindo e os outro 50 prestando atenção na aula.

Uma vez, tentei pedir-lhe a borracha emprestada e ela me fuzilou com os olhos antes de dizer "estou ouvindo a professora, Kourin. Dá licença?".

E depois ainda reclama quando eu sou grosseira...

– É sério, menina! - ele respondeu - Agora deixe comigo porque já sei como vamos evitar a bronca do professor. É o mínimo que posso fazer depois de todo esse episódio com o celular.

– Por mim tudo bem. - disse sorrindo. Eu não estava mesmo afim de um sermão de Sumi-sensei.

Então ele pigarreou, fechou os olhos e bateu na porta. Quando foi atendido, vi sua face mudar completamente e até eu quase acreditei nas palavras que disse à ela:

– Boa tarde, senhorita. Eu sou um novo aluno seu, talvez tenha ouvido falar de mim. Me chamo Yamada Nao e devido a uma complicação com a papelada de transferência, só pude iniciar meu dia letivo agora. Peço mil desculpas pelo transtorno que nós dois estamos causando ao entrar assim depois do término do intervalo, mas é que eu... Nossa, até me envergonho por isso, mas eu me perdi e por sorte esta bela jovem, Kourin, que ao que parece é minha colega de sala, estava por perto para me guiar até aqui. Sem ela, eu jamais teria chegado antes do próximo sinal e sem mim para desvirtuar seu caminho, ela estaria em sua carteira minutos atrás. Será que poderia nos perdoar e dar-me a honra de assistir sua aula pela primeira vez?

Eu queria demonstrar surpresa e deixar o queixo cair, mas minha interpretação era essencial para o êxito daquela desculpa deslavada. Olhei para Sumi-sensei que parecia estar sendo envolvida na luz de Nao. Incrível.

– Nao-san... Mas é claro, não há problemas nisso. Seja super bem vindo a minha classe! Entrem, entrem os dois. - ela nos deu passagem e toda a turma nos fitava - Pessoal, esse é o mais novo colega de vocês. Quero que o façam sentir-se à vontade como fizeram com Kourin-san.

Então eu segui para minha mesa e Nao foi levando seu material para o outro lado da sala, onde havia lugar para ele.

– Já está se metendo em encrencas de novo, Kourin? - Sakuya perguntou mordendo o lápis.

– Acho que não. Por incrível que pareça...

– Ele é legal? O garoto novo?

– É sim. Sinto que seremos bons amigos. - me permiti dizer e então olhei em sua direção. Ele também olhava para mim e piscou um olho antes de virar-se para frente.

X

Passei a aula inteira pensando em Nao.

Mas nada do que vocês etão pensando!

Eu senti com ele a mesma ligação que senti ao conhecer Yu-chan. Uma corrente elétrica que me faz querer compartilhar tudo com ele e também saber tudo sobre sua pessoa. Assustador? Talvez um pouco. Mas ao mesmo tempo reconfortante pois apesar de todo o meu trabalho pessoal para me permitir ter novas amizades, ainda sim sentia falta de algo mais especial. Algo mais... Bem... Yuka.

O dia estava chegando no seu fim e só quando ouvi alguém dizer "sábado e domingo" foi que me toquei de que realmente faltavam poucas horas para os dias mais felizes da semana.

– Vai fazer algo amanhã, Kourin? - Sakuya peguntou sem perceber que, ao virar-se, jogou uma quantidade absurda de cabelo na minha cara.

– Pretendia descansar a cabeça. Por quê?

– Eu vou levar meus irmãos ao parque da cidade e achei que fosse gostar de ir.

– Por que exatamente eu gostaria de ir a um parque com várias criancinhas? - ela riu, mas não entendi o motivo.

– Ok, o negócio é o seguinte, - ela começou a cochichar - meu plano é conseguir dinheiro rápido. Aquele parque é cheio de pais e filhos cheio de notas e moedas prontas para serem gastas em prazeres baratos como balões e algodão doce. Preciso de ajuda na coleta já que alguém tem que ficar de olho nos meus irmãos.

Ela não podia estar falando sério.

– Sakuya, você está querendo me usar de cúmplice nos seus furtos? Achei que não fizesse mais isso!

– Shh! - pediu com o indicador nos lábios enquanto olhava para os lados - Chame de coleta. Furto é feio.

– Não vou participar disso. - respondi.

– Eu preciso, você não entende. Fui despedida do supermercado e não tenho mais onde pedir emprego. Tenho 15 anos e minhas opções são bem reduzidas. Sabe minha irmã que ajuda com as despesas? Ela está se matando de trabalhar depois da escola e isso me doi. Ela só tem 14 anos, Kourin!

Fiquei fitando seus olhos esperando que continuasse, mas ao que parecia, ela não tinha mais nada a dizer. O sinal finalmente soou e todos gritaram em comemoração.

– Sakuya, eu sinto muito, mas não vou te ajudar a roubar ninguém. - tentei soar mais alto que as vozes que tomavam a sala de aula e ela bufou. Parecia zangada.

– Ok, então. Espero que tenha um ótimo fim de semana descansando em sua cama super confortável, no seu quarto com ar condicionado e condições perfeitas.

– Não acredito que vai chorar miséria pra mim. - agora eu estava indignada e me levantei para ficar de frente para ela - Você não tem o direito de fazer com que eu me sinta mal por estar numa condição melhor que a sua! Se quer ajuda para arranjar um emprego, conseguir empréstimo bancário ou para tomar conta dos seus irmãos enquanto você faz algo que não seja ilegal, pode contar comigo. Agora, não fique zangada se eu não estiver disposta a ser cúmplice num crime!

Dito isso, joguei todo o meu material dentro da bolsa e saí de lá. Por sorte, ninguém parece ter ouvido nossa pequena discussão e pude seguir sem problemas até o corredor.

– Kourin? - alguém estava atrás de mim. Quando olhei, era Nao. - Está tudo bem? Vi você brigando com sua amiga...

Olhei com desconfiança para ele em busca de vestígios de curiosidade ou de um traço fofoqueiro, mas tudo o que encontrei foi preocupação. Como ele era fofo!

– Nada que tenha a ver com a gente. - respondi.

– Desculpe por perguntar. É que realmente acho triste quando amigos se desentendem.

– Não se preocupe. - sorri.

– Vai voltar para casa a pé? - ele mudou de assunto e fiquei agradecida por isso.

– Não, eu venho e volto de carona. E ela já deve estar me esperando no portão.

Andamos e conversamos até os jardins de entrada. Tentei avistar o carro de Haruka, mas não parecia estar no lugar de sempre. Pedi a Nao que esperasse junto comigo já que eu não podia nem mesmo ligar para ela devido ao estado de meu celular.

Durante nosso papo, descobri que ele se mudou para a cidade há alguns dias também e que morava com a mãe, que era viúva e aeromoça. Não tinha irmãos e estudava teatro na antiga escola (isso explica sua performance diante da professora).

– Por que veio para a Yatobi? Qual sua história?

– Ouvi falar dessa escola no ano passado e me apaixonei desde então. Tanto que quando soube que iríamos nos mudar, não deixei minha mãe em paz enquanto ela não cuidasse da minha transferência para cá. - ri do modo como ele parecia entusiasmado.

– Não deixou nenhum amigo para trás? - perguntei curiosa ao comparar sua reação com a minha diante de todo um novo esquema de vida.

– Bem... Eu fui deixado antes de ao menos ter a chance de deixá-lo... - ele disse com um sorriso torto. Senti que aquilo poderia ser um assunto delicado e quis mudar de assunto, mas ele foi mais rápido - Você conhece Naki Touko lá da sala?

– Aham. É o inimigo mortal da Sakuya.

– Ai, jura? - notei que ele usava "ai" no início de suas frases com frequência - Estou sentado ao lado dele e me pareceu ser tão educado e gentil.

– Ele é meio bruto e burrinho, mas acho que não é de todo mal. - nunca havia parado para analisar Touko, e só lembrava de sua existência ou quando estava implicando com Sakuya ou quando respondia coisas absurdas nas questões impostas por Sumi-sensei.

– Mas já reparou no físico dele? Ai, por favor, Kourin. Aquilo é um posso de músculos!

Só então a ficha caiu. É claro... Como não percebi antes. A razão para tanta sensibilidade e fofura, todo o jeito apaixonante de ser, a minha ligação instantânea a ele... Yamada Nao é gay, mas não só isso! Ele é O amigo gay que todas as meninas sonham em ter!

Depois dessa semana, aquilo nem me afetou mais.

– Acho que está ficando tarde. Melhor irmos logo... Não sei o que aconteceu com quem vinha me buscar. - tenho um palpite apenas. Acho que ela simplesmente não quis vir depois que eu deixei bem claro que não mentiria para Nanami. Mas isso eu não iria compartilhar com ele.

– Ok, eu te acompanho então.

X

No caminho para casa, fiz várias curvas erradas e me sentia aliviada de ter alguém por perto caso me perdesse de verdade.

– Kourin, acho que prefiro levar você até minha casa e de lá nós perguntamos a minha mãe para que direção fica sua rua.

Aceita a sugestão, segui meu novo amigo de perto. Não estava tarde o bastante para o sol se pôr, mas uma camada grossa de nuvens no céu deixava tudo mais sombrio e eu estava ficando com frio também.

A medida que fomos entrando numa vizinhança, comecei a reconhecer o lugar.

– É aqui! Eu moro aqui! - gritei agarrando a manga de seu uniforme.

– Jura? Eu também! Ai, que coincidência! Ai, que coisa incrível!

Olhei em volta e avistei a casa de Haruka e Nanami.

– É aquela com o portão aberto. - apontei.

– Ai, não brinca assim comigo. Eu moro logo atrás de você! - ele começou a bater palmas como fizera antes ao descobrirmos que éramos colegas de classe.

Sorri me sentindo a pessoa mais boba do mundo. O seu jeito espalhafatoso estava me contagiando. Eu não era tão animada assim com as coisas... Tentei me conter e cocei a garganta.

– Bom, quer ir lá? Provavelmente tem algum doce na geladeira. - convidei.

– Oh, querida, não posso. Já devia estar em casa faz tempo. Mas você pode vir comigo se quiser. - ele piscou os olhos embaixo das lentes e eu tive de aceitar.

– Tudo bem, mas antes vou passar em casa para avisar que estou viva. Minha irmã pode estar preocupada.

– Ok. Vou para a minha e te espero lá. Minha mãe vai ter adorar! Não vá se perder hein. É exatamente atrás da sua. Nossas partes traseiras são separadas pela mesma grade.

Tive de rir da orientação detalhada. Eu demonstrei um péssimo senso de direção durante todo o percurso e aquilo era mais do que justo.

X

Abri a porta da frente pronta para gritar à Nanami que havia chegado e imagine minha surpresa ao me deparar com os Hakeshi sentados ao sofá junto com minha irmã.

– Olá? - cumprimentei. - Agora é comum vê-los por aqui.

– Kourin-chan, seus amigos são adoráveis. - ela olhou para mim e lançou um belo sorriso - Convidei todos para jantar conosco.

– Ah... Isso é... - eu não sabia o que dizer. Precisava falar com eles, mas eu havia prometido encontrar com Nao em sua casa. Além do mais, Asuma parecia me olhar com desprezo, o que era um pouco intimidador.

– Naruma-san, - Kyo interviu no meu gaguejar - entendo que fui curto e grosso naquela hora, por isso mesmo estou aqui. Você estava preocupada comigo e eu não dei o devido valor. Mil desculpas.

– Vou deixá-los a vontade. Estarei no meu quarto se precisar. - Nanami disse e subiu as escadas bem ligeira.

Parece que estávamos os três esperando o barulho da porta fechada para começarmos a falar.

– Eu... - todos dissemos ao mesmo tempo e paramos. Por fim Kyo continuou sozinho - Eu preciso falar com você sobre duas coisas. Uma, suas aulas particulares começarão na segunda-feira logo depois do sinal das quatro horas, e a outra coisa é sobre a noite de ontem. Tenho muito a esclarecer e creio que você esteja confusa.

– Eu também tenho algo importante a discutir com você. - o outro cruzou os braços e depois virou a cara. - Mas em particular.

Acho que essa era a minha vez de falar, mas... O que eu pretendia dizer? "Não, obrigada. Dispenso suas explicações que tenho almejado tanto pois tenho um amigo esperando por mim. Podem ficar e comer aqui e eu vou passar a noite com ele, ok? Até segunda!"

– Obrigada, Kyo... Você não tem ideia do quanto eu preciso de pelo menos um mistério resolvido. - sim, foi isso que eu disse. Espero que Nao me perdoe pelo furo... Sentei na poltrona - Estou pronta... Pode falar.

Ele suspirou e me olhou no fundo dos olhos.

– Essa é a história sobre uma pessoa incrível que não teve medo de amar e sobre um monstro terrível que se escondeu atrás de uma ilusão.


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Notas finais do capítulo

Primeiro, postei esse capítulo mais cedo para poder postar o próximo já nessa quinta-feira.
Segundo, eu sei que disse que haveria explicações nesse capítulo, mas resolvi fazer de outra forma pois acho que vai ficar bem mais legal: Um especial que sairá na quinta-feira onde conto a história de Kyo através dos olhos dele. Tenho certeza de que assim a experiência será muito mais interessante. Beijos, lindos e lindas. Até a próxima!
Ps: O que acharam da capa nova? Quero sinceridade. E por sinceridade eu quero dizer que a resposta "Autora, eu n faço ideia de como era a anterior" também é válida huauhau. Bjs!



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