Deixei minha cabeça pender para frente, me esforçando para cuspir o sangue que se amontoava na minha boca.

Tentei, uma, duas vezes sem de fato conseguir alguma coisa. O sangue viscoso estava preso na minha garganta.

Respirei com alguma dificuldade, tinha certeza que duas ou três costelas minhas estavam quebradas, eu tinha três unhas arrancadas e tinha certeza que ele havia quebrado meu dedo mindinho. Não ia contar o que ele havia feito em minhas pernas, pois nem eu mesma sabia, só tinha certeza que havia várias partes de pele faltando, cortadas com uma faca. O que fizera com meu rosto, e de proposito, desafiando nicolae a gostar de mim daquele jeito, acho que ele havia quebrado algum osso, pois minha cabeça doía terrivelmente. Havia tufos de cabelo faltando e meu coro cabeludo sangrava bastante.

Eu estava no chão, só ficava suspensa quando ele queria brincar de torturador.

Estava tentando levantar a cabeça quando alguma coisa começou a emitir uma luz verde me assustando.

Olhei para baixo, meu cordão. Eu ainda estava com o cordão que nicolae me dera quando era uma sombra. Olhei assustada em volta se alguém entrasse eu estaria ferrada.

– estou indo pequena – a voz de nicolae saiu sussurrante, como se ele tivesse medo de que alguém além de mim ouvisse.

Então a luz apagou.

Entrei em desespero, ele nunca me encontraria, eu sabia que estava muito bem escondida, e só havia uma forma de dar a ele minha localização.

Com minha mão boa tateei minhas roupas até encontrar o bolço colocando minha digital, e então um bolço interno se abriu revelando a bala rosa.

Senti as lagrimas desceram pelo meu rosto, precisava que eles viessem me encontrar. Não sei quanto tempo mais eu aguantaria, tentei respirar fundo e falhei miseravelmente, não sei se eu seria encontrada ou não, só que eu não iria ser o brinquedo se tortura de Vladimir.

Olhei para o pequeno objeto em minhas, respirei o melhor que pude, se eles não me encontrassem, pelo menos eu estaria dando um fim a toda essa merda pelo qual estava passando.

Coloquei a bala na boca e ela imediatamente começou a se dissolver.

Tinha um gosto meio cítrico, quase enjoativo, comecei a rezar para que me encontrassem antes de 24 horas.

O relógio começara a girar.

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Poderia se quase uma ironia ficar pensando no tempo quando eu mesma já não fazia ideia de quanto tempo estava ali, três, quatro dias?

Eram apenas números, eu agora só estava preocupada com as pouco mais de 23 horas que me restavam.

A porta se abriu trazendo luz ao recinto e tremor ao meu corpo, pois só duas pessoas estravam ali, um era o homem que me trazia comida e outro era Vladimir, para mim nem um dois eram bem vindos, Vladimir torturava meu corpo e o outro minha alma. A fome é algo perigoso, principalmente depois de alguns dias, você começa a pensar que pode não ser tão ruim, aquela pouca miséria começa a parecer um banquete, dançando, seduzindo, implorando para ser comido.

O homem depositou a plataforma em minha frente, me fazendo encarar a jarra de água bem a minha frente, minha língua estava tão seca que grudava ao céu da boca como cola, eu já não tinha nem mais saliva para engolir, e bem na minha frente tinha as respostas para minhas frustações. Porém não era uma opção.

Tic-tac. Tic-tac.

Quando a porta se abriu pela segunda vez eu sabia que não era comida, só podia ser ele, grunhi involuntariamente.

– já reclamando menina? – ele se aproximou com deboche – nossa, seu rosto está horrível mesmo, nem me lembra a menina que chegou aqui.

Senti um impulso de bater nele, mas estava cansada de mais para me mover.

E eu sabia que ele tinha razão, eu deveria estar horrível.

– você sabia que os soldados reais finalmente resolveram mexer aquelas bundas brancas e lutar? – ele sorriu – eles estão me contra atacando a manhã inteira, eu achei uma afronta, mas interessante.

Já havia perdido completamente minha vontade de discutir com ele, então sempre deixava ele fala seu monologo alegre.

– sabe amanda – ele começou a dar voltas na cela – quanto tempo será que vai demorar para seu namorado vir atrás de você? Se ele não percebeu, as pessoas vão continua morrendo e você continuar sofrendo enquanto ele não vem.

Sofrendo? Não por muito tempo.

Tic-tac.

Ele começou a andar em direção a seus brinquedinhos e meu coração deu um salto dublo, não, ia começar tudo de novo.

– você não participa da guerra? – murmurei fracamente tentando distrai-lo.

Vladimir se virou na minha direção, quase pude senti sua raiva vindo em direção a meu rosto.

– você pensa que eu sou estupido menina? – ele bateu com força no meu rosto fazendo minha cabeça girar – acha que eu vou me arriscar a morrer sendo eu represento o núcleo dessa guerra? Seu algo me acontecesse eles não saberiam o que fazer, por isso fico aqui, me divertindo com você enquanto eles se dão para uma boa causa.

– mestre – uma mulher baixinha entrou de cabeça baixa – temos algumas notícias.

– espero que essa noticia signifique que seu namorado resolveu mexer a bunda!

Ele saiu batendo a porta atrás de si.

Tic-tac.

Não sei bem quanto tempo tive que esperar, só agradeci aos céus por ele não ter vindo brincar hoje, como ele mesmo chamava minha tortura.

Passei a língua seca sobre os lábios e senti mais gosto de sangue, acho que ele conseguira cortar minha boca também.

Algum tempo depois, eu não sei o quanto a porta foi aberta e dois soldados entraram carregando alguém, prenderam a pessoa pelas perna e pelas mãos e a deixaram jogada no chão assim como eu. Então isso significava que ele estava atrás de mim especificamente, ele agora queria reféns?

Olhei para o corpo no chão com compaixão, pois eu sabia o que o aguardava.

– hey – tentei chamar, mas minha voz saiu sussurrante – você está bem?

Ele ou ela não se mexeu, logo supus que fosse um homem, o corpo era grande demais para ser de uma mulher.

Tentei ir na direção dele mas senti minhas costelas e me mantive no lugar, não dava para me mexer.

De qualquer forma não havia muita coisa que eu poderia fazer por nós, então, teria que esperar que ele acordasse.

A porta se abriu num estrondo e me encolhi quando Vladimir entrou acompanhado por vários soldados, ele estava sorridente e parecia especialmente feliz.

– viu amanda – ele se aproximou – eu disse que não ia demorar para ele escutar seus gritos, ele chegou rapidinho.

O que ele estava dizendo?

Segui seu olhar para o homem caído no chão desacordado.

Um grito involuntário saiu da minha garganta, já não me importando com a dor.

Eles haviam pego nicolae.

Tic-tac, tic-tac.