Abri os olhos e ela estava a minha frente, dormindo tranquilamente, seus olhos estavam escuros, minha pequena havia dormido de maquiagem.

Me apoiei no cotovelo para olha-la de perto, algo estava saindo da boca dela. Sorri, não acredito que amanda estava babando.

Chequei mais perto, não, ela não estava babando, era mais viscoso, me afastei num impulso, era sangue.

As manchas roxas em seus olhos não eram maquiagem, eram hematomas escurecidos sob sua pele.

- amanda – chamei baixinho.

Toquei meu ombro e a cabeça se mexeu revelando, seu pescoço num ângulo estranho. Estava quebrado.

- nicolae – senti alguém sacodir meu corpo.

Abri os olhos, não era real, não é real.

- nicolae você está bem? – Vicentini estava sentada do meu lado.

- acho que acabei cochilando – ajeitei meu corpo.

- e estava tendo um pesadelo – ela concluiu – acho que já sei sobre quem era.

Nós estávamos acampados, se dependesse de mim e de Vicentini já teríamos chegado ao acampamentos dos soldados mas Vincent nos convencera a ficar, afinal das contas ele tinha razão, não valia a pena chegar rápido e não se estar descansado para agir.

Só que como já deu para notar, o sono era algo que realmente não vinha, e quando chegava levemente era acompanhado de pesadelos, e em todos minha pequena morria, era angustiante sonhar com aquilo, era tão real.

Olhei para o lado, Vincent estava dormindo tranquilamente, ele não tinha tantas preocupações.

Fiquei olhando para o lado de fora, vendo as estrelas irem e o sol vir preguiçosamente, esperando a hora de seguir viagem. Eu podia ver de soslaio que Soraia também não dormia, não havia notado antes, mas era obvio que ela se importava com amanda, ao estilo dela é claro, mas se importava.

- sente falta dela? – ela murmurou.

- mais do que qualquer coisa – me virei para ela – você não faz ideia.

- talvez eu faça.

O que eu poderia dizer sobre isso, ela é a mãe.

- falei com ela a dois dias atrás – ela falou mansamente – e ela me disse que sentia sua falta.

Sorri de leve.

- serio?

- é e umas outras coisinhas que ainda vamos conversar mais tarde.

Por que de alguma maneira isso me pareceu assustador.

- vocês já acordaram – Vincent se levantou bocejando – vamos levantar acampamento.

E tinha até demorado, montamos as coisas e voamos, para a minha estrema felicidade não demoramos muito para chegar. 40 minutos depois o acampamento já estava a vista.

Quando finalmente descemos formos cercados pelos meus comandantes, que realmente pareciam nervosos com minha chegada.

Nos levaram até a barraca de reuniões.

- senhor – o comandante geral parecia nervoso – não esperávamos sua visita.

- deve ser por que eu não vim visitar – respondi nervoso, mas um tipo diferente de nervosismo – quero saber como aquele maníaco pegou minha namorada.

- senhor – ele começou – não estávamos naquela leva, mas a senhorita small com certeza poderia dizer o que aconteceu.

Gabriella?

- onde ela está?

- na enfermaria.

Me levantei abruptamente, corri até a enfermaria, olhei leito por leito até encontra-la deitada, o namorado dela estava sentado ao seu lado segurando sua mão, ela estava com a cabeça e o pescoço enfaixado, notei que ela estava usando o bracelete que eu dei a ela de aniversário.

Ele levantou a cabeça assim que me viu.

- nicolae?

- como ela está? – perguntei suavemente.

- ela ainda não acordou.

Dava pra ver, no rosto sujo de poeira, as marcas das lagrimas.

- ela vai ficar bem camarada – coloquei minha mão em seu ombro – vou mandar leva-la para a corte.

- não, não – ele sorriu de canto – ela não vai gostar de acordar na corte, não depois do que ouve com amanda, depois do que ela viu.

- queria que ela estivesse acordada.

- acredite camarada, eu também.

- nicolae – Soraia chamou – temos que ir.

- me avise se ela precisa de algo.

Voltei para a reunião que já havia se iniciado em minha ausência, precisávamos decidir como conseguiríamos entrar dentro do núcleo deles sem sermos notados.

- nós precisamos de um contra-ataque – propus - se eles estiverem preocupados com o ataque poderíamos entrar.

- e se usamos isso como desculpa? – Vincent completou – é obvio que eles não pegaram amanda por que eles a querem, ela é só um meio de chegarem até você.

- e o que vamos fazer? – Soraia se intrometeu.

Ele me encarou.

- vamos dar a ele exatamente o que ele quer.

Então tínhamos um plano.

Ficamos mais três horas planejando o que faríamos no dia seguinte, quando saímos a noite já estava bem avançada, mesmo eu sabendo que eu não conseguiria dormir, tentei realmente me concentrar em outras coisas se não fosse o que amanda poderia estar passando nesse momento.

- ei...

Me virei para a voz que me chamara no momento em que eu ia entrar na barraca.

- boa noite lorenzo – cumprimentei formalmente.

- não me venha com essa merda – ele se aproximou gritando – você sabe que ela foi levada, e a culpa é sua, você fez com que eles a levassem.

Era verdade.

- eu sei – o que eu poderia disser? – eu vou atrás dela, e não vou parar...

- quer saber, cala a boca – lorenzo me empurrou – você não merece ela, nunca mereceu.

Já ouviu a expressão não acenda um fosforo em palha seca?

Só voltei a mim, quando senti o nariz dele se quebrando em baixo do meu punho. E foi o que bastou.

- tem razão – perdi o controle – eu não a mereço, nunca a mereci, mas se for preciso vou lutar minha vida inteira para algum dia merecer ou ser digno dela, então não me venha com essa de eu não a mereço, pois você não a conhece seu idiota.

Respirei fundo entrando dentro da barraca.

Precisava me acalmar eu estava nervoso, e isso não me levaria muito longe.

E mesmo tentando negar o que ele me dissera era verdade, eu não a merecia, nunca fora digno dela, amanda era boa, e a única coisa que eu fizera com ela foi machuca-la.

Mas eu não descaçaria até ela encontrá-la.