–Ora, Marcos, para que tanta pressa?-disse o cara de cabelos pretos- Ela acaba de se juntar ao nosso banquete!

Eu receava que com isso ele se referisse a mim como prato principal. O que? Que ideia canibalesca foi essa, Tatinha?

Meus olhos se voltaram aos meus pais novamente e engoli em seco, descrente do fato de reconhecer esses cadáveres.

O loiro sorriu, divertindo-se aparentemente, ao lado do outro (o que? Eu poderia jurar que ele estava do meu lado agora mesmo!).

–Ao contrario, caro Liam, - Nome esquisito, não é? (Sem ofensa para qualquer ser sobre a face da Terra que ainda se chame Liam)- Não tenho pressa alguma! Mas o cheiro dela é tão apetitoso que creio não resistir por muito tempo...

Cheiro? Apetitoso? Mas o que...?

–Você está assustando ela, Marcos. - repreendeu Liam- E você já está satisfeito, não precisa de mais uma vítima hoje. Afinal, foram mais três, além das duas moças...

–Como eu disse, o cheiro dela é apetitoso, muito difícil de resistir- disse lançando uma piscadela em minha direção, o que teria me feito corar se ele não fosse um assassino.

Só então me recuperei de meu suposto “estado de choque” e lágrimas começaram cair de meus olhos, enquanto um misto de ódio e medo se acumulava em meu peito.

Minha expressão começou a se alterar de choque a raiva assassina, enquanto meus olhos percorriam o cômodo, analisando como ele os matara e como eu os mataria. Esse pensamento me assustou, mas mantive a expressão no rosto.

Marcos deve ter percebido o que eu pensava, pois olhou para mim surpreso, porém com um rasto de decepção.

–Ela é corajosa por nos encarar mesmo vendo que seus pais estão mortos aos meus pés.

Ele estava debochando de mim? Entrou na minha casa e fez isso? Ele é louco?

–Olha aqui, não sei quem (ou o que) você é -gritei- Mas, deve estar louco se pensa que pode entrar na minha casa desse jeito para me matar sem nem uma palavra! – Bem, não foi muito épico, mas foi a primeira coisa que eu disse, e eu estava aliviada por não ter sido um “SOCORRO, SOCORRO, EU TÔ PEGANDO FOGO!”.

–O que você espera que façamos? –disse Liam, me encarando com os olhos vermelhos e expressão fingidamente confusa.

Seus olhos me fizeram desviar o olhar e hesitar um segundo, mas lembrei de que falava com um assassino e minha raiva voltou imediatamente.

–Explicações. Não quero matar ninguém inocente por enquanto, então comece a falar.

Ambos riram de minha ameaça que soou falsa até aos meus próprios ouvidos. Eu teria que fazer com que minha voz tremesse menos e soasse menos como o grasnado de um pato e mais como a voz de um narrador de futebol (mesmo que talvez um pouco mais alto e fino).

–A ruivinha ficou brava, Liam! - Marcos disse debochadamente- Será que devo contar a ela?

–Pode ser divertido – o outro respondeu, voltando-se para mim- Você provavelmente não acreditará, mas você vai morrer mesmo...

–Veremos.

–... E vou atender ao ultimo pedido da defunta. Quer fazer as honras, Marcos?

Marcos deu um passo a frente, com expressão avaliativa, como se curioso para ver como suas palavras seriam recebidas.

–Quem somos? Não direi meu nome; até sua mente limitada pode compreender qual é.

–Tá me chamando de burra!?

–burra não, de mente limitada e... Espere, você me interrompeu? Não me interrompa!- disse impaciente- (Prosseguindo) – ele realmente fez os parênteses no ar enquanto falava, como as pessoas fazem quando abrem aspas em uma frase. Esse cara era estranho. - o que somos? Simples: Vampiros. Sugadores de sangue humano. Mas perversos do que o Chupa-Cabras, que se alimenta apenas do sangue de cabras. – Nunca pensei que ouviria alguém dizer isso! - O que queremos? Nada. Somos imortais, poderíamos ter o que quiséssemos. Ao contrario dos mitos não durmo em caixões. Sou invencível! Minha velocidade é tamanha que você não consegue acompanhar, minha força é tanta que eu poderia derrubar essa sala. Minha mente é bem mais avançada que esse seu quebra-galho mortal. Acompanha?

Para provar sua teoria, ele deu umas voltas na sala no que disse ser “câmera lenta” (Ou isso era ironia ou eu não sou a pessoa mais preguiçosa que conheço), sem esbarrar num móvel sequer, enquanto eu observava boquiaberta.

Tudo o que eu pensava era: “Ferrou!”.