A escuridão envolvia-o. Não, era melhor dizer que ele era a escuridão, mesmo que seu corpo ainda estivesse “vivo”, sua alma estava sendo engolida pelo desespero e dor que seu corpo e alma sentiam.

As primeiras coisas que Zero pôde escutar quando acordou foram passos, se tornando cada vez mais próximos à medida que soavam. Seu corpo estava coberto de feridas, o que o mantinha de pé eram as correntes em seus pulsos, que o erguiam. Sofridamente, o rapaz abriu os olhos, percebendo que sua máscara havia sido parcialmente quebrada, ao meio, por uma força que até ele desconhecia. O que Grandark estava fazendo com seu corpo..?

Falando no diabo, era ele quem vinha andando na sua direção. Sem vontade de levantar a cara para tomar outra surra, Zero simplesmente voltou a olhar para baixo, desanimado.

Diferente do esperado, o homem parou alguns passos do rapaz acorrentado, observando seu estado e fez um som de desaprovação, cruzando os braços.

– O que há de errado com você, Zero?

Sem resposta. Grandark apertou os pulsos, mas respirou e expirou lentamente, como se tentasse manter o controle de si mesmo. Ok... Aquilo era estranho para a entidade impulsiva que Zero conhecia tão bem. O rapaz ergueu a cabeça mais uma vez, fitando os olhos esmeraldas do seu torturador.

– O que você quer de mim..? Você já tomou tudo o que eu tinha.

– O que eu quero? – O homem voltou a andar, descruzando os passos e parando logo na frente dele, ambos tinham a mesma altura. – Essa é uma ótima pergunta... Antes de qualquer coisa, quero que crie vergonha nessa sua cara suja e lute.

O olho amarelo do Zero se arregalou de surpresa de ouvir aquelas palavras. Por que ele queria que lutasse? Talvez... Por que estava perdendo a vontade disso? Não deveria haver outra explicação, é claro. Afinal de contas, foi uma arma criada para empunhar outra arma. É, não passava de um objeto... As palavras duras de Grandark ecoaram em sua mente mais uma vez ao pensar naquilo e, em desânimo, o rapaz simplesmente abaixou o olhar.

Grandark sibilou de raiva e sem perder tempo agarrou a gola do Zero com ambas as mãos, apertando-o com força e forçando a voltar o rosto para ele, com os narizes quase se encostando, os olhos do homem brilhavam de fúria enquanto os de Zero estavam claramente surpresos.

– Mas que merda Zero! Lute! Seja um homem! Vai simplesmente desistir de tudo dessa maneira imbecil?! Sem nem mesmo tentar algo para se livrar dessas correntes?!

– Mas...

– Não me venha com desculpas seu bostinha! Holy está em perigo!

Ao ouvir aquelas palavras, Zero sabia de uma coisa: aquele que estava na sua frente definitivamente não era a entidade que o torturou, que o forçou a fazer coisas terríveis e contra sua vontade... Grandark, percebendo que finalmente ganhou atenção que queria, começou a murmurar, sem se afastar.

– Me escute direito seu merda. Eu te escolhi para me empunhar por que você é mais do que um saco de carne. Eu posso nunca ter admitido isso, mas eu não quero que você morra. Escute, você se importa com a Holy, não é? Ela está em uma cama em não sei onde, sofrendo sozinha enquanto você está aqui sendo um imbecil egoísta achando que não merece nada de bom da vida! – Grandark bufou na cara do Zero, reunindo ar e organizando as palavras que desejava falar. – Pare de ser um idiota e vai atrás dela! Ela está correndo perigo, ela precisa de você! Nós dois precisamos...

Zero engoliu seco, sem saber definir o que se passava naquele momento. Seus braços estavam doloridos, podia sentir o sangue pingando da sua roupa, mas... Por algum motivo, aquelas palavras faziam uma força renovada brilhar em seu coração. O que era tudo aquilo? E mais importante...

– Quem é você? – Murmurou o rapaz, claramente desconfiado.

– Essa é uma pergunta que também quero fazer.

A dupla estremeceu ao ouvir aquela voz e Grandark virou o rosto para trás, encarando uma figura de um homem idêntico a ele... Não, aquele era ele. Um encontro que nunca deveria ter acontecido veio ao ser fatídico dia... A expressão de ambos os Grandarks estavam rígidas, claramente tensas. Zero estava boquiaberto, encarando ambos sem saber quem era quem.

O homem que havia acabado de chegar deu um sorriso, apoiando as mãos no cinto da calça, enquanto o outro estava na frente do Zero, como se tentasse proteger o rapaz.

– Que inusitado... Realmente uma situação surpreendente. Escutei o que estava falando para o inútil ali. Holy está correndo perigo é?

O silêncio se prolongou e aquele que havia acabado de falar simplesmente acenou com a cabeça negativamente, dando um riso de canto.

– Bem, era de se esperar, já que ela está dentro do Pesadelo. – Em seguida seu olhar voltou-se para aquele seu outro “eu”, que continuava na frente do Zero. – Você não é dessa dimensão, certo?

O outro Grandark deu um sorriso, suspirando.

– É claro que sou, quem mais teria a ideia genial de atravessar dimensões sabendo que pode acessar outro corpo do outro lado se não você mesmo?

– Wow, isso dai ficou confuso.

– Deixe que eu explique melhor então... – Após dizer aquilo, o outro Grandark ficou com uma expressão séria, encarando seu oposto diretamente nos olhos. – Liberte o Zero se não vai se arrepender.

O riso insano ecoou pela escuridão e o outro tirou as mãos do cinto, estralando o pescoço.

– Eu nunca prendi o Zero, ele que é fraco demais para se libertar. Mas, como exatamente vou me arrepender? Fiquei curioso.

– Permita-me demonstrar então.

O homem que estava na frente de Zero começou a correr. Mas, se acham que foi uma corrida de um ser humano, estão muito enganados. Veja bem, Grandark está longe de ser uma criatura qualquer. Seu movimento fora tão repentino e rápido que seu oponente, que era exatamente ele mesmo, ficou surpreso quando se deu conta que seu sósia estava abaixado na sua frente e acertando um chute em seu peito, mandando-o para o alto com a força que realizou.

O Grandark que estava no chão, sem perder tempo, ficou de pé e fez um arco no ar com a mão direita, e por onde sua mão passou, espinhos negros surgiram, sendo lançados em direção ao seu oponente que ainda estava no ar.

Pego de surpresa, o golpe acertou-o em cheio, sendo atravessado. Mas, o que ecoou não foi somente os gritos de dor do seu inimigo, mas daquele que Grandark veio salvar. Seus olhos se arregalaram e quando olhou para Zero, três buracos estava em seu peito, o sangue vertia abundantemente, enquanto um filete escorria pela sua boca.

– Merda...

Uma risada maligna chamou sua atenção, e quando levantou o olhar, foi por pouco que não conseguiu ver o espinho negro gigante sendo lançado na sua direção antes de atingi-lo. Grandark deu um pulo para o lado e rolou no chão para minimizar o impacto, levantando olhar para aquela coisa que foi jogada na sua direção. Era simplesmente gigante, duas vezes seu tamanho e na ponta oposta, seu oponente estava de pé, sorrindo.

– Estamos unidos, sabe? – Disse ele, pegando um dos espinhos cravados em seu peito. – A dor que eu sinto, Zero sente.

Sem cerimônia, Grandark arrancou aquela coisa, mas apesar de ter segurado seu grito de dor, a voz do rapaz ecoou gritando de dor mais uma vez junto com o sangue pingando. O outro homem ficou de pé, apertando os punhos e vendo realmente a situação complicada em que estava: não poderia ganhar matando.

Seu oponente o olhou nos olhos, rindo, mesmo que seu rosto estivesse convertido em dor. O buraco em seu peito começou a se fechar, mesmo enquanto puxava outro espinho e as dores do Zero continuassem ali.

– E agora? – Riu Grandark, depois de tirar o terceiro espinho do seu corpo. – Vai me matar e matar aquele que veio resgatar junto; ou tem alguma ideia genial?