Lado Negro escrita por Srta Cipriano


Capítulo 2
Garoto novo




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Portland, Maine - Dias de hoje

Eu andava sob a luz do sol, o cheiro da grama recém cortada daquele enorme e vasto campo me davam calma e, eu sorria como nunca, sorria como se realmente estivesse feliz. Pássaros voavam e eu podia escutar o bater de suas asas lá em cima... Mas então senti um frio na barriga, o céu azul e sem nuvens nublou, estava de um cinza escuro assustador e o sol? Para onde tinha ido o sol? Senti a terra tremer e um cheiro estranho, cheiro de... Olhei para baixo e eu andava sobre possas de sangue, estava descalça e sentia aquele líquido grudento sob meus pés, comecei a correr até tropeçar em um corpo, caí em cima dele e gritei, gritei o mais alto que podia, a pele já estava em decomposição e havia moscas por toda volta e quando tentei me levantar não consegui, minhas mãos de algum modo foram agarradas pelo sangue como se tivesse vida própria, como se pudesse me engolira a qualquer momento...

Acordei assustada, meus olhos arregalados e minha respiração acelerada. Tivera mais um de meus pesadelos. Isto já está ficando bizarro, é raro quando tenho uma noite de sossego e bem dormida. As vezes acho que eu sou maluca. Ou talvez 'atormentada' seja o adjetivo correto.

Levei um susto quando meu despertador começou a tocar aquela musiquinha irritante, avisando que era Segunda-Feira, ou seja, infelizmente tinha aula. Deslizei da cama, peguei uma roupa no meu armário e fui para o banheiro; me olhei no espelho. Eu estava horrível e minhas olheiras enormes. Já fiz tratamento com uma psicóloga, mas não adiantou porra nenhuma, a única coisa que fizera sentido era que esses sonhos eram culpa do meu subconsciente, pela falta dos meus pais... Mas não quero pensar nisso agora. Penteei meu cabelo longo e loiro.


Descia as escadas já pronta, estava vestindo uma regata mais soltinha azul marinho, calça skinny e botas estilo montaria marrom. Fui direto para a cozinha e como sempre, Peter estava lá lendo seu jornal debruçado sobre o balcão tomando uma xícara de café – sem açúcar, claro. Ele desviou seus olhos cinzentos para mim quando me sentei em um daqueles bancos altos de frente para ele.


– Mais um daqueles sonhos, Ally? – perguntou.

– Prefiro não falar sobre isso – disse enquanto pegava uma pera na fruteira. – Mas me conte, como foi o encontro de ontem a noite?

Ele ficou mais sério do que antes, o observei, mas sua expressão estava indecifrável.

– Normal – foi aí que sua voz vacilou e ele desviou seus olhos para o jornal dando um gole no café, ele então mordeu o lábio inferior, rá, estava escondendo algo, ele tinha a mesma mania que eu quando estava incomodado com alguma coisa. E eu já tinha até uma ideia do que acontecera.

– Ela te deu um fora não foi? – eu segurei a risada.

– Claro que não, de onde tirou isso? – ele estralou a língua querendo parecer indignado e forçou uma risada estranha, e eu apenas ergui minhas sobrancelhas o fazendo suspirar, ele sabia que não adiantaria mentir pra mim. – Você venceu, o.k., ela me deu um fora!

– E porque isso ocorreu sr. Martin? – perguntei com um tom formal enquanto mastigava um pedaço daquela fruta.

– Eu derrubei, sem querer, molho de carne nos sapatos de grife dela... - ele fez uma careta.

– Quem manda ser desastrado? - eu soltei uma alta gargalhada e ele me fuzilou com o olhar. – Certo, certo, desculpe. Mas me fala, teve gritos de histeria?

– Os piores que eu já vi, o garçom me deu até um desconto por eu tê-la aturado. – Ele riu junto comigo.

Eu podia até me sentir triste ou deprimida por não conhecer meus pais ou só saber que eles me abandonaram na porta de casa de um estranho com apenas alguns meses de vida, porém amor foi o que nunca me faltou da parte de Peter, ele me criou como um verdadeiro pai, se virou para cuidar de mim e me alimentar quando só tinha 20/21 anos de idade. Esse cara aqui na minha frente com os cabelos loiros escuros perfeitamente penteados; que parece ser um homem sério, é na verdade um mulherengo sem noção, e é por quem eu sinto orgulho e pura admiração.

Recebi uma mensagem, olhei no visor e era de Nina.

To aqui na frente loirinha ;). Dizia o sms.

Dei tchau para Peter e fui ao encontro da Jennifer, minha melhor amiga. Entrei em seu carro e ela logo deu partida. Estava pegando carona com ela porque meu carro deu uns problemas e tive que deixa-lo na oficina.

– Ah, Ally, vamos ir em uma festa na praia Sexta, vai ser de mais e por conta do Matt! – Jen exclamou sorrindo.

Ela tinha cabelos lisos e castanhos, seus olhos eram castanhos avermelhados, também tinha uma pequena covinha no queixo e era um pouco morena.

– Vou ter que estudar – ela me olhou rapidamente, mas percebi que já estava indignada e prestes a soltar palavrões. – Em minha defesa: estou muito mal em literatura!

– Aquela mulher quer ferrar com todo mundo! – ela revirou os olhos bufando e voltou a atenção para a estrada. – Ei, você não está fazendo aquela aulas de teatro? Que dá pontos extras ou sei lá o que...

– Acontece que não é o suficiente...

– É simples, estude pelo resto da semana ou no Sábado e no Domingo – ela deu de ombros. – Eu não vou deixar que você mande sua vida social para o ralo só por causa daquela bruaca! Você vai! – ela disse decidida, e eu sabia que nada do que dissesse ia fazê-la mudar de ideia.

– Tá, eu vou, feliz?!


Lá estava eu, na aula de teatro, sentada no grande palco ao lado de outros alunos, formávamos um círculo em volta da professora, éramos de seis garotas e cinco garotos. O local era grande, em frente aquele palco de madeira escura enceirada haviam várias poltronas aveludadas em vermelho bordô, as paredes eram brancas e o chão todo coberto por carpete preto, janelas minúsculas ao alto das paredes para que pudesse ficar escuro quando as luzes estivessem apagadas. As cortinas amarradas no canto do palco eram da mesma cor das poltronas.


A nossa professora, Claire, era um tanto que maluca, sempre alegre o que era estranho porque todos sabemos que além de ser viúva ela já teve vários namorados que não deram certo por variados motivos, ela sempre nos contava suas histórias... Como quando namorou um russo e em meio a um jantar ele sacou uma arma a atirou no garçom – que trabalhava disfarçadamente para o FBI. O motivo? Ele comandava uma máfia. Ou quando namorou o ex-professor de E.F. que era casado com uma stripper e queria sexo a três. Eu nem vou falar dos outros. Sua sorte que era bonita, ainda mais com seus olhos verdes, e aqueles cabelos perfeitamente lisos e loiros na altura dos ombros? Chique. Sempre portava um batom rosa ou vermelho nos lábios finos, era para onde mais chamava a atenção.

– Deixa eu ver se entendi prof – disse a garota ruiva ao meu lado, Ariana. – Vamos fazer uma peça sobre Romeu e Julieta?

– Que coisa de menininha – debochou Mattew revirando os olhos.

– Shakespeare foi um um poeta e dramaturgo inglês – começou a explicar Claire ignorando Matt –, tido como o maior escritor do idioma inglês e o mais influente dramaturgo do mundo.

– Mas porque Romeu e Julieta? Porque não uma comédia como “A Megera Domada”? – perguntou a garota ao meu outro lado, Miranda, ela nem aparentava ter 16 anos, parecia ser mais velha. Uma das mais inteligentes, nem sei porque perde tempo com essa aula.

– Porque eu quero Miranda – retrucou a professora, fazendo todos rirem. – Bem, a história se baseia...

Ela foi interrompida pelo barulhos das portas duplas se abrindo no fundo do espaço. De lá passou um garoto, não era apenas um garoto, era o garoto. Me intenderam? Aquele tipo que chega e você não consegue deixar de olhar. Eu o observei, uma das primeiras coisas que percebi foi que ele com toda certeza frequentava a academia, seus músculos eram visíveis pela camiseta branca justa que ele usava, tinha o cabelo escuro quase da mesma cor do carpete sob seus pés. Era um tanto alto, devia ter uns 1,75.

– Você deve ser... – Claire estreitou os olhos tentando pensar. – Nicholas?

– Nathan – corrigiu ele ao pé do palco. – Nathan Miller.

– E você está aqui porque mesmo? – acho que nossa professora tinha a memória pior do que a de um velho de 60 anos.

– Porque fui expulso da última escola e, o diretor daqui acha interessante eu participar da aula de teatro depois da aula... – ele disse indiferente subindo pela pequena escada lateral a direita.

– Oh sim! – algo na mente dela pareceu clarear. – Você grafitou os armários... Isso é errado sabia?

– Sabia e por isso é divertido – o tal Nathan deu de ombros e os garotos fizeram sons de concordância.

– Ótimo, dou aulas a delinquentes agora – Claire murmurou. – Sente-se... Estávamos falando sobre Romeu e Julieta.

– O renomado romance trágico – disse ele se sentando em um espaço que duas garotas abriram para ele, em linha reta comigo e, então me olhou, droga, eu estava olhando para ele também. Aqueles olhos cor-de-mel se cruzaram com os meus, e vi que seus lábios eram carnudos. Mas me forcei a desviar a atenção para a professora.


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