Depois de mais um entediante dia de aula, Tico chega em casa e vai conversar com seu pai.

– Que droga, por que será que eu tenho que estudar? – disse ele.

– Sabe o que acontece se você não estudar, guri? Você vai ficar sem dinheiro que nem o seu paizão aqui.

– Claro, se não fosse essas férias de quase um ano.

– Tico, acho que esta na hora de contar a verdade.

– O-o que?

– Eu não estou de férias, eu fui demitido da minha empresa.

– Por que foi demitido?

– Porque eu comi a mulher do chefe, no escritório dele, ele nos pegou no flagra.

– O QUE? Que porra é essa?! Isso é sério?

– Sim.

– Que vergonha, puta merda, até o meu pai... imagino a cara da mãe quando ela descobrir.

– Ela já sabe.

– E como ela não te chutou de casa ainda?

– Por que ela estava lá no dia, era um threesome.

–... QUE FODA!

– SIM, FOI DO CARALHO, mas me arrependo já que agora estou duro, em quase todos os sentidos.

– Mas espera aí... meus pais fazendo um threesome com a esposa do chefe do pai, mas que merda é essa. – Tico percebendo como isso é ridículo. – inacreditável, e ainda eu achava que eu era louco.

– Amorzinhoooo – gritou a mãe de Tico, chamando pelo pai.

– Já vou, querida.

– Tenho uma noticia que não tenho certeza se é boa ou ruim.

– Diga, querida.

– Eu estou grávida, legal, né?

– Mó daora, querida, vamos comemorar!

Tico está fazendo uma cara que não sei como descrever, ele se esquece disso segundos depois e vai ao seu quarto jogar algo.

– O que eu vou jogar hoje, The Sims ou Diablo III?

Enquanto isso, o computador de Tico começa a apitar, era alguém o chamando, era o Marcos!

Marcos: Quando eu sair daqui, eu vou te pegar seu filho da puta, e dessa vez você não vai escapar. Enviado via celular, próximo de Presidio.

– Era só o que me faltava...

Tico consegue ouvir um grito histérico vindo da sala, era a sua mãe berrando.

– O que foi, mãe?

– A esposa do ex-chefe do seu pai acabou de ligar dizendo que está grávida.

– Não estou nem um pouco surpreso com isso.

– E agora, filho, o que eu faço? – perguntou o pai.

– E eu vou saber, porra? Vocês são adultos, se virem aí.

Tico volta ao seu quarto e percebe que tem mais uma mensagem, dessa vez é de Lívia.

Lívia: Tico! Você não tem ideia do que aconteceu na escola depois da aula, disseram que roubaram o dinheiro da escola e por causa disso não vai ter aula amanhã, depois falamos sobre isso, beijos.

– Assaltaram a escola? Será que foi o Marcos? Mas ele não está preso? Ai meu Deus... – pensou Tico.

Algumas horas depois, Tico, Livia, Pedro e João se encontram em uma praça para falar sobre o assunto.

– Um aluno mascarado entrou na secretaria e começou a saquear, mas ele estranhamente não levou tudo, ele contou uma certa quantidade de dinheiro e saiu. – disse Lívia.

– Ele não deixou nenhuma pista? – perguntou Pedro.

– Provavelmente não. – responde Lívia.

– Alguém sabe quantos reais ele levou? – perguntou João.

– Foi uns 15k, Jão.

– Isso faz sentido, Lívia.

– Como assim?

– Ouvi alguém dizer, mas não sei quem era, que precisava de 15k. Achei que fosse bobagem.

– Sério?

– Sim, foi na hora do recreio.

– Eita.

– Me pergunto o que ele queria fazer com esse dinheiro.

– Não faço ideia, Jão.

Tico, que ficou quieto a conversa inteira, começou a suspeitar levemente que foi o seu pai.

– Tico, o que você tem a dizer sobre isso? – perguntou Pedro.

– S-sei lá, acho que não deveríamos nos importar tanto com isso.

– Por quê? Finalmente acontece algo de diferente naquela escola. – disse João.

– Na verdade, meu primeiro suspeito foi o Marcos, mas como o João disse que ouviu sobre isso na escola, não deve ter sido ele.

– Também pensei no Marcos, Tico, mas isso seria meio que impossível. – disse Lívia.

– Eu contei que ele me mandou uma mensagem no pc?

– Quem? Marcos?

– Sim.

– Sério? Como?

– Sim, Lívia, ele disse algo como “vou te pegar quando sair daqui”.

– Puta que pariu, Tico, você nunca vai ter sossego – disse João.

– Verdade, João. – disse Tico com uma voz bem baixa.

– Você me chamou de quê, seu bostinha?!

– Hã? E-eu não te chamei de nada...

– Chamou sim, seu bosta, me chamando de viado de novo! – disse João, se preparando para dar um soco no Tico.

– M-m-m-m-mas – disse Tico, todo encolhido.

– É brincadeira, guri, hahahaha. – disse João – estava com saudade de você fazer essa cara de alguém que está prestes a morrer.

– Você me assustou, João, não faça mais isso com o Tico. – disse Lívia.

– Tá bom, porra, você são uns chatos que não sabem brincar.

– Enfim, já está ficando tarde, vou indo pra casa, tchau gente. – disse Lívia.

– Tchau, Lívia – disse todos.

Tico volta pra casa, entra na internet e acaba se deparando com uma noticia fresquinha em um site.

“Menino de 18 anos, que foi preso por envolvimento com tráfico de drogas junto com professores, será solto amanhã após alguém pagar uma fiança de 15 mil reais.”

– Puta que me pariu. – disse Tico.

Dois dias depois, quando as aulas voltaram, Tico, Jacinto e Laura estão discutindo sobre algum tema na hora do recreio.

– ...e então é assim que faremos o trabalho sobre fezes de coelho. – disse Laura.

– O-ótimo... – disse Tico nervoso.

– Bem, agora que já terminamos, preciso contar algo para vocês. – disse Jacinto.

– É mesmo? Conte-nos. – disse Laura.

– É algo sobre o assalto da escola anteontem.

– Isso, c-conta aí, Jacinto. – disse Tico.

– Então, fui eu quem roubou o dinheiro, espero que vocês estejam ok com isso.

– O-o que?!

– Sim, Tico, fui eu, mas eu estava desesperado, eu precisava ajudar o meu irmão a sair da cadeia.

– Por que você fez isso? Agora eu vou morrer.

– Não vai não, Tico, ele já aprendeu a lição, só espero que vocês não me entreguem.

– Não vou te entregar, provavelmente eu estaria morto até fazer isso.

– Estou de boquinha fechada. – disse Laura.

Tico sabia que Marcos não aprendeu lição alguma e que é muito certo que está sendo perseguido. Ele não consegue nem dormir, isso o deixou tão preocupado que até esqueceu o fato de que ele vai ter novos dois irmãos, e que ele também não tem dinheiro. A única coisa que resta é esperar a hora de ser encontrado e encarar o filho da puta do Marcos, mesmo sabendo que iria apanhar se fosse pego sozinho.