Heavenly Hell escrita por Ju Benning


Capítulo 31
Toda Estrada Tem Seu Fim (Parte 1)


Notas iniciais do capítulo

Honestamente, depois desse tempo todo eu nem sei se tem mais alguém aqui. Mas eu simplesmente não consegui acabar antes, um pouco por falta tempo, mas muito mais porque não pude mesmo, acho que foi algo psicológico.
Perdi as contas



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Lúcifer arrastou Catarina sem muita delicadeza até o Trono de Osso e a acorrentou ali. A mulher percorreu o lugar com os olhos e avistou Khan engaiolado numa jaula ridiculamente pequena para o tamanho do animal, o que a fez se sentir esquentar de raiva. Em outro canto Elena se encolhia com os olhos arregalado e sua cobra ao redor de si. Mas ao menos estava livre.

A garota fez menção de correr até ela, mas Catarina a repreendeu com o olhar.

—- Veja o exemplo de Catarina e tente não ser tão idiota quanto aquela que você chama de mãe, mas que nunca vai te amar como amou a pequena Hanna. – O diabo dirigiu seu veneno à loira assustada.

Catarina fazia sinal negativo com a cabeça, mas se mantinha em silêncio.

—- Catarina. – Falou o diabo que brincava com a adaga da feiticeira entre as mãos.

—- Sim, querido. – Ela soou debochada.

—- Não pense que Crowley traiu você. – Ele soou vitorioso quando passos pesados se aproximaram atrás da grande porta de entrada e a mesma se abriu, revelando o cérbero gigante que era mais assustador do que qualquer representação em filmes sobre mitologia grega.

Crowley vinha andando cabisbaixo na frente do animal, Noite desmaiado sobre o lombo do cão com Castiel igualmente abatido ao seu lado e ambos Winchester feridos, porém acordados entre os dentes de duas das três bocas do animal, que aparentemente apenas os segurava, sem perfurar. Com a cabeça do meio o cérbero parecia sorrir satisfeito mostrando ao dono que tinha cumprido sua tarefa.

—- Meu garoto. – Lúcifer sorria – Agora larga o brinquedo. – Ele ordenou e riu ao assistir as cabeças da direita e da esquerda larguarem sem delicadeza alguma os Winchester no chão frio daquele lugar.

—- Tome. – Lúcifer conjurou um pedaço considerável de carne e lançou ao monstro que devido a disputa que se iniciou entre as três cabeças, acabou por derrubar Castiel e Noite no chão também.

Catarina fechou os olhos até que o animal se retirasse com seu jeito desastrado levando o pedaço de carne, pois ela teve quase certeza de que ele pisotearia um dos seus.

—- Pode abrir os olhos, minha predileta, ninguém foi esmagado. – Lúcifer soou entediado.

—- Onde está Gabriel? – Ela perguntou entre os dentes.

—- Devidamente preso. – O diabo se divertia conjurando uma taça de bebida nas mãos – Me certifiquei disso antes de ir buscar você. –

Lúcifer fez menção de tocar Catarina, mas parou o ato devido ao susto que não conseguiu esconder por causa do rugido furioso que Khan soltou.

—- Você ainda tem amigos fieis. – Lúcifer zombou.

—- Não é o caso dele. – Ela apontou Crowley com a cabeça, que trazia a espada de Lúcifer nas mãos – E não que algum dia tenha sido. --

—- Também não é como se ele tivesse sido tido escolha. – O Diabo tentou amenizar, ele não se importava, só gostava de ser irritante.

—- Me traga a espada, Crowley. – Lúcifer ordenou estendendo a mão na direção do outro.

Catarina, que não tirava os olhos dos amigos, percebeu que Dean não estava tão mal quanto fingia estar. Ela observava em silêncio o que estava tramando o caçador.

Crowley caminhava cabisbaixo com a espada entre as mãos, evitando o olhar da feiticeira, seu grande erro no entanto foi justamente passar perto demais do Winchester mais velho de forma tão descuidada. O homem o surpreendeu com um golpe muito rápido apesar de não ter machucado o demônio foi suficiente para tomar a espada de suas mãos.

—- Era isso que você queria? – Dean dirigiu seu sarcasmo ao Diabo, que tinha suas íris iguais às de Catarina vidradas num branco sombrio. – Solta ela. – Falou usando a lâmina para apontar para a feiticeira.

—- Interessante. – Lúcifer ponderou se aproximando dele – Sempre ouvi dizer que você fosse um grande caçador... mas de novo eu te vejo atrás de Catarina. A criatura mais bonita na qual você vai colocar os olhos? Sim. Mas ainda é o monstro mais perigoso com o qual você já esbarrou. – Ele deu de ombros – Deveria me pedir pra mata-la ao invés de solta-la. –

—- Não vou cair na sua conversa. – Dean limpou o sangue que escorria de sua testa com as costas da mão livre – Solte-a e eu te dou sua espada de volta. –

—- Pobre homem... – O outro zombava andando de um lado pra outro e então lançou um olhar de canto para a mulher acorrentada -- ... veja só o que você fez, ele acredita em você. – Gargalhou – Quantos humanos terão de ter o coração partido por você até que eles entendem que são apenas marionetes, que são apenas um pedacinho do plano que eu sei que você vem maquinando nessa linda cabecinha! – Ele esbravejou na direção da feiticeira que exibia uma bela cara de nada encostada na lateral do trono.

—- O único plano aqui é matar você. – Dean retrucou.

O Diabo gargalhou mais uma vez.

—- Eu sei que eu não sou a criatura mais confiável do mundo, mas veja a ironia, eu não costumo mentir. Eu te falei que ela e seu irmão não eram nada e eu vou te falar agora que você está prestes a dar o seu pescoço pelo dela quando na verdade, ela só vai gostar de você enquanto tiver alguma utilidade e sabe qual é a sua utilidade pra ela, Dean Winchester? –

—- Não. Por favor me diga. – Dean zombava acompanhando o adversário com o olhar.

—- Você já sabe com quem se parece... e, como é o nome que vocês dão a esse tipo de coisa na Terra... – Ele tentava se lembrar – Ah! Marido. Ela deitou com você por conveniência e você acha que é afeto? Depois que eu matar todos vocês, vou começar outra enorme briga e essa sim será difícil, você acha mesmo que é assim fácil ficar com mulher do "Príncipe Celeste", vai sonhando... Depois de Darian, ele foi o único que ela amou. Agora deixa de ser idiota e me entrega logo essa espada! -- Ele berrou a última palavra. 

—- Você deveria escrever uma novela mexicana. – Dean zombou – Solte-a e eu devolvo. –

O Diabo passou um tempo em silêncio olhando os outros que davam sinal de consciência, então ele estralou seus dedos. Correntes emergiram do chão, amarrando todos os outros e os pendurando pelos punhos a uma altura considerável do chão. Apenas Dean ficou onde estava.

—- Minha proposta segue firme. -- O caçador afirmou, não sabendo muito mais o que fazer.

O caçador revirou os olhos.

—- Dou-lhe uma... – Dean começou a contar e Catarina se agitou onde estava.

—- Catarina, diga a verdade. Você sabe que eu estou falando a verdade. Você precisa dele, gosta dele, até se importa, mas isso não o faz menos descartável. – O Diabo pedia.

—- Dou-lhe duas! – Dean contou mais uma vez – Quer essa porcaria ou não? --

—- Dean, não faz isso! – Catarina o advertiu – Ele vai acabar com você. –

—- Já passei por coisa pior. – Dean respondeu a ela.

—- Não seja tolo... você não passou não. – A feiticeira balançava a cabeça em negativa – Desista, entregue a espada, eu vou negociar a saída de vocês. –

—- Como, minha querida? – Lúcifer zombou – Você está acorrentada e sem forças. –

—- E você acha que Miguel vai deixar isso de graça? – Ela soava entediada – Ninguém com juízo são me machuca e você sabe disso. –

—- Você e seu Pit Bull alado... – Ele revirou os olhos – Vejo isso depois. –

—- Depois que ele invadir essa droga de lugar que você chama de lar, deixar pelo avesso e me tirar daqui nos braços dele? – Ela tinha um sorriso malvado nos lábios.

—- O Conselho não permitiria. – Retrucou o Arcanjo sombrio, mais irritado do que Dean já havia visto.

Com as irritações de Catarina, o Arcanjo tirava os olhos de Dean e se virava para ela, o caçador começava a entender o jogo que ela, que sugestivamente olhava da arma que Dean tinha guardada no coldre para as correntes que seguravam os outros erguidos do chão. Apesar de amarrados, já estavam de voltando a consciência embora não falassem nada, junto com as correntes haviam sido amordaçados.

—- Quantas vezes o meu Anjo não passou por cima de tudo pra me salvar? – Ela soava cada vez mais apaixonada e quanto mais ela falava, mais ele se virava de costas para o homem.

Dean discretamente sacou sua arma e mirou na roldana que sustentava todas as correntes de uma só vez.

—- Se é assim que as coisas são porque não ficou ao lado dele? Porque guardou seu corpo e passou tantos anos adormecida em jovens humanas podres e tão inferiores a você? – Ele soava indignado – Se é assim, porque perde seu tempo com esses vermes? Embora eu o odeie, Miguel é melhor que qualquer um desses insetos. –

—- Vai dar uma de preocupado agora? – Ela ergueu as correntes nos braços e mostrou o corte que ia da base do pescoço ao abdômen – Não seja ridículo. – Ela completou no segundo em que Dean atirou três vezes seguidas fazendo com que os outros voltassem ao chão.

A distância era considerável, mas ao menos estavam livres.

—- Quanta esperteza. – O Diabo falou ainda de costas, mas virou-se de supetão e com a adaga que segurava consigo, perfurou o peito de Dean antes que o mesmo pudesse ao menos se dar conta do que havia acontecido.

O homem sentiu algo gelado lhe atravessar o peito, mas o choque não o fez sentir dor alguma, ouviu as exclamações ao seu redor, ouviu o berro de seu irmão, mas as coisas ficaram turvas.

—- Dean... – Ele ouviu a voz de Catarina bem ao fundo, mas não conseguia responder a nada, apenas ainda sentia o gelo em seu peito quando outro golpe o atingiu. Sentiu seu corpo se deslocar rapidamente, sentiu um impacto contra suas costas, até que sentiu a frieza do chão gelado contra suas costas mais uma vez, sentiu sua mão afrouxar na bainha da espada. Mas apesar disso tudo não havia dor.

Catarina engoliu em seco, mais uma vez Dean havia sido ferido por sua adaga na droga daquele inferno e mais uma vez tentando salvar a pele dela.

—- Vamos sair dessa, caçador. – Ela sussurrou pra si mesma, enquanto observou o Diabo chutar um Dean já em boa parte inerte para um canto do salão.

Houve muito barulho, os outros já não estavam mais acorrentados e já havia tido tempo para que as mordaças estivessem ao chão. Haveria uma carnificina, ela pensava.

—- Haverá uma carnificina se eu não fizer nada... – Ela mudou o pensamento quanto voltou a encontrar os olhos assustados de Elena que ainda se encontrava encolhida onde estava, no canto ao lado da jaula de Khan.

Catarina sorriu para a filha.

A Feiticeira tinha planos em sua mente, alguns deles todos os outros que ali lutavam conheciam, outros apenas ela, mas esta não era a questão do momento. A questão do momento é que de alguma forma, no final, as coisas sempre davam certo pra ela, só tinha de achar um novo caminho de chegar aos seus objetivos. E naquele momento, olhando nos olhos de sua filha, vendo humanos, anjos, guardiões, todos ali; um novo caminho se mostrou diante dos olhos de Catarina, que encontrou um momento para sorrir.

Aproveitando a distração da Estrela da Manhã, Catarina começou a jogar seu jogo com tudo que tinha. Então chamou sua filha para perto de si. Elena chegou até a mãe rápida mas discretamente.

—- Quer me deixar orgulhosa? – Perguntou a garota que balançou a cabeça positivamente de maneira quase desesperada – Então escute muito bem o que eu vou dizer e faça exatamente o que eu mandar. – Elena confirmou com a cabeça mais uma vez.

Catarina abraçou a filha e cochichou em seu ouvido por algum tempo enquanto acariciava seus cabelos. Elena escutava atentamente a abraçava Catarina apertado.

Quando sua mãe adotiva a soltou ela não demorou nem um segundo olhando a mãe. Com uma magia rápida, Elena libertou Khan, que apesar de contrariado deixou sua dona onde estava e seguiu a loira que apesar de nervosa se mostrou empenhada em cumprir a tarefa dada por Catarina, moça sumiu rapidamente e devido a grande distração no salão a frente o fizera.

—- Quem vai ser o próximo? – O diabo sorria para Noite, Castiel e Sam de braços abertos.

Xx

—- Quarto Céu. Encontrar Miguel no Quarto céu. – Elena repetia enquanto andava até o lugar mais vazio que conseguiu encontrar – Essa rima é ridícula. --

Kahn marchava impaciente atrás da moça e rugiu para que ela se apressasse.

—- Tudo bem, tudo bem. Não se irrite. – Ela falou quando entraram num cubículo ocupado por um demônio qualquer.

—- Senhorita Elena o que faz aqui? – O demônio perguntou olhando dela para Khan que olhava fixo na direção dele.

—- Faça. – Elena cochichou para o animal, que avançou no demônio.

Khan transformou o demônio numa pasta de sangue e quais quer sejam as outras coisas que formam um demônio. Enquanto o felino fazia seu trabalho Elena abriu um portal que refletia através de si uma imagem muito mais impressionante do que qualquer pessoa que conseguiria imaginar sobre o céu.

—- Venha, gato. – Elena chamou o felino que brincava distraído com o estrago que havia feito, ainda bem que esse é o Quarto Céu e ninguém vai implicar com essa quantidade de sangue, porque se eu fosse barrada por sua culpa, Catarina ficaria uma fera. –

O animal grunhiu como se pedisse desculpa.

—- Elena? –

—- Miguel! – A garota exclamou ao encontra-lo – Precisamos conversar. – Ela tentou puxá-lo sem sucesso.

—- Onde está Catarina? – O Arcanjo tinha um olhar assustadoramente sério.

—- Miguel, deu errado, tá bem? – Ela se agitava – Minha mãe está acorrentada, seu receptáculo vai estar morto em pouco tempo, se já não estiver... é contagem regressiva para o resto. –

—- Não posso invadir, eu sinto muito. – O anjo soava pesaroso.

—- Vai deixa-la ser feita como refém? – Elena andou atrás dele – E quanto ao trato que fizeram? Como ela poderia cumprir com a parte dela presa no inferno? Não a quer de volta em casa? –

—- Elena. – Ele a repreendeu – Fale baixo, você está chamando atenção. – Então a guiou até um canto reservado. – Eu sou a última criatura do universo que pensaria em largar Catarina lá. Eu a amo, sempre amei. Não vejo a hora dela estar bem e voltar em casa. A fiz prometer de novo que voltaria antes de lhe entregar a chave da gaiola. – Ele suspirou – Mas não posso interferir ofensivamente, não posso consertar essa bagunça toda. –

—- Não é nada disso. – Elena conseguiu interrompê-lo – Ela tem um plano, só precisa que você ajude, ninguém vai precisar saber que você estava lá. É indireto. –

Miguel ficou em silêncio.

—- Você só tem de me ouvir. –

Elena passou um longo tempo falando e o anjo a escutava de braços cruzados.

—- Não sei se concordo com essa ideia da Barreira. –

—- Posso te perguntar uma coisa? – A garota passou a improvisar, já havia dito tudo que havia combinado com a mãe.

—- Fique à vontade, Elena. – Ele estava de costas para a garota, olhando de um parapeito as nuvens que eram muito bonitas naquele lugar, assim como as bandeiras vermelhas que simbolizavam as tropas do Arcanjo.

—- Olha, perdi muito da história de vocês dois, porque eu não era nascida. Mas vocês foram cumplices por tanto tempo, todos sabem disso, você deu a vitória a Catarina durante a guerra pela unificação. Ela era casada com Darian, que foi meu pai de criação, ele morreu no meio disso e ela também porque minha mãe amava Darian de uma forma que quase não era saudável. – Estava sendo apenas sincera – Mas foi você que lhe entregou o domínio de todo o povo mágico, foi você que a ergueu de novo, foi você que esteve ao lado dela durante o exílio na Terra, você foi o pai da filha que ela gerou e que amou. Céus, vocês aprenderam a se amar ao longo do tempo... –

—- Qual a pergunta Elena? – O Anjo a cortou.

—- Eu sei de muito pouco, eu acho... mas disso eu sei... – Ela suspirou – Só houve uma criatura por quem a minha mãe se ofereceu em sacrifício. Quem foi? –

Um silêncio se instalou.

—- Aonde quer chegar? – Ele soava indignado.

—- Responda também porque não se incomoda com o flerte dela e de Dean? –

—- Onde você quer chegar? – O Arcanjo se irritou e virou-se de uma só vez para a garota.

—- Você sabe. – Elena exclamou – Existem coisas demais entre vocês dois pra você não ajudar por causa de algum receio contra o plano. Não seja literalista, depois que isso passar ela vai lhe ouvir. Negociem. –

O Anjo ficou em silencio mais um vez por algum tempo.

—- Tudo bem. – Ele respondeu.

O Anjo escondeu suas asas o fazendo não ficar diferente de um humano normal, cobriu-se com uma capa escura num estilo quase Jedi e passou à frente da garota.

Flashback on

—- Anjo... – Catarina soou receosa momentos antes de deixar seu quarto – Eu sei que eu sempre consigo o que eu quero, mas você não tem ideia do quanto você ter confiado em mim pra me dar essa chave significou. Eu vou cumprir o que prometi hoje e já havia prometido antes, eu vou voltar pra casa. –

—- Catarina – O anjo chamou antes que ela saísse – As vezes eu acho que você não sabe o que significa. Digo, o que você é pra mim. –

—- Na verdade eu acho que não quero dar importância porque acho que você já acredita em mim mais do que devia. –

—- Eu não acredito nas suas palavras, pelo menos não em algumas delas. – O Anjo revelou.

Ela se virou para escutá-lo.

—- Por mais que você goste de discursar, as suas verdades vem dos olhos e dos seus atos impulsivos. –

—- Desenvolva. – Ela voltou a se sentar ao lado dele da cama.

—- Se entregar em sacrifício por alguém... esse foi o ato mais impulsivo, verdadeiro e bonito – Ele maneou a cabeça -- que você já fez, porque se tem uma coisa que você ama é estar viva –

—- Eu nunca deixaria você na mão, Anjo. – Ela encostou sua testa na dele – Não mesmo. –

—- Da mesma forma que você arriscou sua saúde pra trazer aquele humano de volta a vida. – Ele citou.

—- Ele é especial. Os dois Winchester são. – Catarina comentou deitando-se na cama, brincando com a mão do Anjo. – Com relação a Sam eu vou carregar sempre um “q” de remorso, eu brinquei com ele e o usei no fim das contas... Dean é diferente, ele aprendeu a gostar de mim assim. – Ela sacodiu o próprio corpo de brincadeira – Mas o lugar mais seguro pra ele é bem longe, com a Mel, provável e infelizmente. – Ela fez uma careta.

—- Não me incomodou você e Dean. – O Anjo soltou olhando-a de canto.

Catarina sentou-se de uma só vez e apoiou-se no ombro dele.

—- Aposto que é porque ele é seu receptáculo. –

O Anjo riu beijando a cabeça dela.

—- Você não era assim tão doce. – O tom foi de reclamação.

Ele riu mais uma vez.

—- Sinto falta de não ser tão doce. – Foi a vez dele ficar de pé, mas ao invés de caminhar até a porta, foi até a varanda – Use a chave, mas não a perca e me encontre no Quarto Céu. – Terminou sua fala de pé no parapeito, as asas à mostra.

—- Preciso que me deseje sorte. – Ela pediu o olhando nervosa.

—- Eu te desejo... você sabe. – O Anjo a sorriu e com um piscar de olhos sumiu no horizonte.

Flashback off

Ao fim daquela lembrança, ele caminhava ao lado de Khan e Elena pelos corredores do inferno. A capa que usava arrastava pelo chão gelado e o capuz lhe cobria boa parte do rosto, mas nada daquilo se comparava à tarefa de suprimir sua energia para passar despercebido.

Elena o guiou por um caminho que o Anjo na verdade já conhecia e até uma porta que ele já havia aberto algumas vezes, quando Catarina era apenas uma jovem que ele precisava vigiar algumas vezes, mas aquela não era uma informação relevante.

—- Melissa está aí dentro, precisa conversar com ela. Ela vai colaborar isso não vai ser lá muito difícil, mas entre nós dois, ela só acreditaria em você. – Elena deu de ombros empurrando a porta – Eu vou buscar Gabriel, ele está preso em algum lugar. –

—- Quando soltá-lo, mande-o ajudar no salão, mantenha o maior número deles vivos e então volte correndo pra cá. – Ordenou o anjo, antes de passar pela porta – E tome cuidado, Elena. –

—- Claro. – Ela acenou positivamente, antes de sair com o passo acelerado, Khan a seguia, era o melhor segurança que ela poderia ter.

Xx

Melissa recobrava os sentidos aos poucos, não fazia ideia do que havia acontecido desde que havia tomado o frasco que dizia “Serpente do Éden”. Mas se sentia melhor, inclusive das costas que não doíam nenhum pouco, a garota sentou-se na cama, esfregando a testa.

Melissa não demorou a notar que havia mais alguém com ela naquele quarto, coisa que não havia antes de cair no sono, a garota se sobressaltou e se arrastou pra trás na cama ao dar de cara com a figura encapuzada coberta pela espessa capa quase preta.

—- Não precisa ter medo. – A voz forte, porém serena do homem encapuzado teve o poder de tranquilizar Melissa.

—- Quem é você? – Ela ainda se encolhia na cama, mas não conseguia sentir medo.

O homem tirou o capuz do rosto. Melissa piscou os olhos rapidamente e deixou o queixo cair. Em que momento de Dean voltando a vida o havia feito ganhar mais alguns centímetros de altura e mais massa muscular?

—- Não, eu não sou Dean. – Ele falou sem sorrir, mas também nenhum pouco rude. – Pode me chamar de Miguel. –

A garota deixou o queixo cair.

—- O Arcanjo Miguel? –

O Anjo confirmou com a cabeça.

—- Céus, eu devo estar alucinando ou eu devo estar morta! – Ela ria nervosa – Ou isso é outro truque para me matar. –

—- Nada disso. – Ele ainda soava tranquilo – Estou aqui pra ajudar e preciso de você. –

—- De mim? – Ela zombou.

—- É, de você. – Ele sorriu e ali Melissa realmente percebeu que aquela criatura não era Dean.

—- Olha, você tem uma aura boa, de verdade, mas eu já me ferrei tanto por confiar nas pessoas que eu acho melhor ficar com um pé atrás. – Melissa continuava longe dele na cama.

—- Pode ficar com os dois pés onde quiser, eu vou precisar um pouquinho do seu sangue. – O Anjo não se levantou, mas também não tinha tato algum, era um guerreiro não um diplomata

—- Você não vai encostar em mim, não faço ideia se diz a verdade ou não. – Melissa insistia e o anjo bufou.

—- Sinto muito, não posso usar meus poderes para lhe provar nada, não quero e não posso ser notado aqui. – Ele seguia sério – Mas neste momento o que sobrou de uma família, as pessoas vivas a quem você tem afeto, estão presas em uma batalha de vida ou morte que certamente acabará mal. Eu posso ajudar, mas pra isso preciso de um pouco do seu sangue. –

—- Posso saber porque? – Ela ainda soava incrédula – Não sabia que anjos faziam magia... –

Miguel jogou a cabeça pra trás estava ficando impaciente e embora não tivesse a mínima intenção de machucar Melissa, talvez precisasse força-la se ela continuasse resistindo.

—- Não. – A voz de Elena voltou ao quarto e Miguel pode respirar fundo – Mas feiticeiras fazem. – A voz dela soava cansada, talvez porque estivesse sustentando Gabriel em um de seus ombros. E um Khan ainda mais ensanguentado desfilou orgulhoso para dentro do recinto segurando um braço entre os dentes que largou num canto e então caminhou até Miguel, que acariciou seu pelo.

—- O que você fez com ele? – Melissa não conseguiu não ficar assustada com o felino anormalmente grande, mas mesmo assim exclamou pondo-se de pé e apontando Gabriel.

—- Salvei. – Elena esticou seu corpo depois de apoiar Gabriel em um canto.

Melissa se virou para o Anjo encapuzado e cruzou os braços.

—- Como eu vou acreditar que você é O arcanjo e quer me ajudar quando ela – Melissa apontou Elena – É quem vai fazer esse feitiço que eu não faço ideia de para o que serve? –

—- Serve... – Gabriel que estava consideravelmente ferido começou a falar – Para evitar que várias das pessoas que você ainda valoriza não morram. –

—- Não temos esse tempo... – Elena cantarolava enquanto juntava o sangue dele e o de Miguel em uma tigela de prata conjurada por ela – Vai ajudar ou eu vou ter de arrancar a força? – Ela gesticulava com a tigela na mão e uma pequena faca na outra.

Melissa revirou os olhos e esticou o braço.

—- Como isso vai ajudar? –

—- Isso vai desfazer de uma vez por todas a Barreira da Terra. – Miguel contou suspirando.

—- O que?! – Melissa abria os olhos mais do que o necessário – Como isso vai nos ajudar aqui e o pior quantas pessoas inocentes não vão morrer na Terra? –

—- Muitas. – Elena respondeu enquanto se sentou na enorme cama com a tigela a sua frente – Mas pensaremos nisso depois... preciso salvar a minha mãe e Noite e... vocês querem os outros vivos também, então sem drama. – Foram as últimas palavras dela compreensíveis para Melissa, depois ela apenas recitava algo bonito porém incompreensível.

—- Ela pode fazer isso? – Gabriel soou preocupado – Esse feitiço quase matou Catarina quando ela o criou, Elena não é tão poderosa. --

—- Apenas com a força dela não, por isso Catarina mandou que ela me pedisse ajuda. – Miguel se levantou de onde estava e foi até Elena, estendendo sua mão sobre a cabeça dela e foi visível que ele transferia algo como energia para a garota, – Possivelmente serei notado a partir de agora, então se preparem para defender a nós dois, isso tem de dar certo. – O anjo bagunçou os pelos de Khan de brincadeira e em seguida o felino se pôs em posição estratégica em relação a entrada e pareceu se preparar.

Melissa não conhecia aquele animal, mas, aparentemente, ele gostava de combater.

—- No meu estado? – Gabriel exclamou.

Miguel estalou os dedos e refez a saúde do irmão

—- Não reclame. – Falou enquanto fechava seus olhos, ainda ajudando Elena.

Melissa podia jurar que sentira um leve tremor no lugar.

—- Gabriel, qual é a utilidade de destruir a Barreira para nós? – Ela aceitou a espada que Gabriel lhe entregou.

—- A atual é feita com o poder... – Gabriel começou

—- De Catarina, isso eu sei – Interpelou Melissa que já se sentia ansiosa por ouvir passos e sussurros apressados se aproximarem pelo corredor – E sei que a energia retorna ao corpo dela e tudo mais... mas e daí? –

—- E dai que Catarina precisa de todo o poder de volta a ela agora. Pra isso, vamos derrubar. – Gabriel explicou sem tirar os olhos da porta.

—- Tá e devolver todos os poderes dela vai nos ajudar em que? – Melissa apertava cabo da espada.

Antes que Gabriel pudesse responder quase uma horda inteira invadiu pela porta do quarto arrebentando-a.

—- Não tão rápido, garotos. – Gabriel zombou batendo palmas duas vezes e assistindo aquele grupo de demônios explodir na gosma preta que os formava.

—- Eca! – Melissa berrou quando se viu coberta por aquela coisa.

—- Tanto tempo fora do Céu me faz esquecer que faço essas coisas legais. – Ele girou os ombros – Eu sou a droga de um Arcanjo afinal de contas. –

—- Calma, irmãozinho, calma. – Zombou Miguel ainda de olhos fechados, auxiliando Elena, que agora tinha um fio de sangue escorrendo de seu nariz.

—- Cuide dos seus assuntos! – Gabriel retrucou mal criado.

—- Você não respondeu no que vai nos ajudar... – Melissa voltou ao assunto depois de cortar algumas cabeças de invasores.

—- Vai nos salvar. – Gabriel respondeu.

Melissa parou por um segundo.

—- Eu odeio essa mulher... tem alguma coisa que ela não possa fazer? –

—- Preste atenção no que faz, Mel. – Repreendeu Gabriel ocupado com alguns demônio mais fortes.

—- Não aguento essa montanha russa de odeio Catarina, preciso dela, odeio, preciso, odeio. – Ela bateu na própria cabeça ainda distraída – Adoraria não dever mais nada a ela. –

—- Melissa! – Gabriel berrou.

—- O que? – Ela exclamou de volta virando-se para ele – Não me venha dizer que é inveja ou eu quebro a sua cara! –

Mas o que Melissa viu ao prestar atenção direito não foi o rosto de Gabriel e sim um par de olhos vermelhos que ela estava odiando reencontrar.

—- Não pensei que fosse vê-la vivia, Melissssa. – Sibilou a enorme serpente do Éden.

—- Merda. – Foi o que a garota murmurou antes de tentar golpear o animal, antes de sentir seu corpo ser envolvida por ela e jogada em um canto.

A garota ainda viu Gabriel ter um enorme trabalho combatendo muito mais do era possível simultaneamente. Logo, se quisesse viver e salvar quem amava dali, teria que vencer aquela maldita cobra.

Isso se ela conseguisse respirar, o apertar era insuportável.

Xx

Ver seu irmão morrer mais uma vez seria cômico se não fosse trágico para Sam Winchester. O homem assistia a tudo um tanto aéreo porque era surreal. Tudo havia sido surreal.

Flashback on

—- Espero que Catarina volte logo eu não sinto nenhuma segurança sem ela aqui. – Noite sussurrou para Sam enquanto ainda mantinha a mania de girar sua arma.

—- Tenha calma e fique atento, vamos ficar bem – Ele respondeu, mas também estava apreensivo não sentia que um arcanjo era o melhor guia no inferno.

—- Pessoal. – Dean chamou – Parem e escutem –

Algo similar a um rastejar se fez ouvir, mas estava tão escuro, mal dava pra ver um palmo além da luz que Noite conjurava. E quando os assustadores olhos vermelhos se fizeram visíveis foi tarde demais.

Uma enorme cobra atacou Dean e Sam ao mesmo tempo, rolando com os dois para longe. Sam tentava se desvencilhar, mas se lembrar que havia parado de lutar quando enxergou a grande quantidade de demônios com os quais seus amigos lutavam. Noite já estava sem a sua arma, Castiel que tentara alçar um voou havia sido agarrado por uma das asas sem cuidado algum e arremessado longe.

Gabriel resistia bem, devido ao poder que tinha além dos outros, mas foi aí que Sam perdeu as esperanças. Um cão gigante de três cabeças apareceu por um dos lados completamente escuros agarrou Noite com uma de suas bocas e o sacudiu contra a parede até que este perdesse a consciência, Castiel foi pisado algumas vezes antes que não mais tentasse lutar.

Gabriel surrou um pouco o cão, mas algo o pegou pelo colarinho.

—- Olá irmãozinho. – Sam reconheceu Lúcifer e então assistiu a surra que seu último amigo consciente tomou então foi afixado inconsciente na parede com coisas que pareciam pregos, porém de um material que Sam não distinguiu.

Sam se perdeu observando tudo e deixou Dean sozinho com a aquela serpente, seu susto o impedia de se ater a dor que sentia pela pressão que o animal fazia ao se enroscar.

—- Você é nojento! – Dean gritou para o Diabo quando soltou a si e ao irmão da Serpente.

—- Claro que sim. – Lúcifer ria de canto e fez um sinal com a cabeça dispensando a cobra que saiu rastejando pelo lugar.

—- Cuide deles, Cérbero. – Lúcifer falou para o cão – Mas não os mate, nenhum deles. Apenas os derrote e então leve até a sala do trono. –

O cão gigante bradou avisando que havia entendido. O Diabo sumiu num estalar de dedos.

—- Dean? – Sam chamou ficando de pé, agora achava que havia quebrado uma costela.

—- Sim? – Seu irmão respondeu enquanto atirava no animal para atrasa-lo.

—- Por que não usou a Espada nele? –

—- Porque temos outros planos. -- Dean o olhou rapidamente – Vamos prendê-lo pra sempre. –

Flashback off

Essas haviam sido as únicas palavras que haviam trocado.

Após o convite do Diabo, Castiel e Noite lutavam como se suas vidas dependessem disso (e dependiam) Catarina se mantinha sentada com uma expressão entediada que só se alterava quando Noite chegava perto de ser derrotado ou quando ela olhava Dean pelo canto do olho. Ela parecia preocupada com a vida dos que sobravam.

Sam havia corrido até o corpo do irmão, a adaga ainda enfiada no peito, ele ainda perdia sangue e o caçula não retirou a lâmina por medo que acelerasse a perda de sangue. Dean não estava morto de vez ainda, mas estaria em pouco tempo e Sam não tinha a mínima esperança de conseguir salva-lo muito provavelmente estaria junto com ele qualquer que fosse o plano para onde iriam depois da morte.

No entanto algo chamou a atenção de Sam: Elena falara com Catarina e saíra as escondidas levando Khan consigo, depois disso Catarina estava quase dormindo de tédio, ela certamente planejava algo, mas o que? Sam se preocupava se ela havia achado uma forma de salvado a todos ou só a si.

Afinal o Arcanjo Miguel só se importaria com ela e talvez com Dean, seu receptáculo.

Receptáculo...

Sam levantou-se do lado do irmão e foi até o centro onde tudo acontecia, percebeu que Catarina o observava enquanto ele pegou a própria arma e apontou para a cabeça.

—- Hey! – Sam exclamou.

Lúcifer parou de atacar os outros quando percebeu o que estava acontecendo, assim como Castiel e Noite dirigiram suas atenções ao humano.

—- Que está fazendo? – Lúcifer quase caçoava.

—- Você precisa de mim! – Sam exclamou – Se você ganhando aqui... dê Adeus ao apocalipse porque você precisa de um receptáculo para ir até a Terra e eu vou me matar. –

—- Não seja bobo, Sam. – Catarina falou sem muita urgência de onde estava, como se não acreditasse que ele fosse se matar.

—- Talvez. – O diabo debochava – Ou talvez eu possa esperar que a força da minha querida Catarina volte para ela e aí vou poder andar livre na Terra, sua morte não terá valido de nada. –

Nesse momento Lúcifer virou-se na direção de Catarina e consequentemente de onde deveriam estar Khan e Elena.

—- Onde estão?! – Ele berrou cheio de ódio em direção a Catarina.

—- Longe daqui e de você. – Ela respondeu sorrindo – Já devem estar com Miguel a essa altura, desista. –

—- Eu odeio você! – Voltou a exclamar o Diabo.

—- Não odeia não. – Catarina respondeu, mas não de forma normal. Ela sentiu um calafrio forte e o tremor foi visível.

—- O que há com você? – Lúcifer se perguntou.

—- Tente descobrir. – Ela voltou a tremer, só que dessa vez com mais força.

Nesse momento, Lúcifer, Noite e Castiel, levantaram as cabeças ao mesmo tempo.

—- Miguel... – Noite sussurrou – Essa energia é a dele –

—- Não pode ser. – Lúcifer sussurrou raivoso, fazendo menção de sair dali.

—- Não se apresse. – Noite falou girando uma Espada nas mãos que não era a sua.

—- Sempre pensando rápido, Balto. – Se admirou Lúcifer indo na direção dele. Castiel se empenhava em ajudar como podia e fazia com eficiência.

Catarina se debatia involuntariamente, como se estivesse em convulsão, mas não se assustava, aquilo era um sinal de que seu plano estava dando certo.

Sam deu alguns passos na direção dela.

—- Vá pra longe, Sam. – Ela falou com dificuldade – Fique do lado de Dean, se proteja. –

Sam não se moveu.

—- Agora! – Ela gritou com ele e quando o olhou, não era como se ela estivesse com as íris brancas, não haviam íris ou pupilas neles, eram vazios, brilhantes e assustadores.

O homem foi caminhando de costas, observando-a continuar se debatendo.

Xx

Se soltar daquela cobra havia sido de longe a coisa mais difícil que Melissa já havia feito, mas ela precisava se concentrar em conseguir, não dava pra ser salva mais uma vez. Então obedecendo a um instinto não muito agradável, Melissa mordeu o animal que devido a dor afrouxou o aperto, dando espaço para que a garota movesse seu braço com a Espada e ferisse o animal que acabou por soltá-la.

—- Cèus. – Melissa puxava o ar pra dentro do corpo com toda a força.

A garota olhou ao redor. Gabriel ainda lutava e Khan, bem, ele era bom em dilacerar. No entanto, Elena parecia fraca enquanto recitava as últimas palavras então se deixou cair no colchão, enxugando o sangue de seu nariz.

A boa notícia é que o Arcanjo estava livre para ajudar. Miguel dirigiu seu olhar aos demônio que lutavam com seu irmão e estes retesaram, o anjo então materializou sua lança usou em muito poucos dos demônios, a maioria se foi com algo que demandou menos esforço que um estalar de dedos.

—- Vá embora, Samael. – Ordenou à Serpente do Éden que se esgueirou mais um vez, porém deixando um rastro por onde passava.

—- Porque não a matou? – Melissa exclamou

—- Ela tem sua importância assim como Diabo, certas criaturas podemos odiar, mas infelizmente não matar. – Miguel explicou de forma serena.

—- Precisamos ir pra junto dos outros, Melissa. – Chamou Gabriel, precisamos ir embora.

O anjo já ia perto da porta. Melissa não se moveu.

—- Eu não vou. – Ela respondeu veemente – Não há mais nada para mim ali. Nem Dean, pelo menos não agora. Tenho de me virar sozinha. –

Gabriel ficou boquiaberto observando-a.

—- Tem certeza? – Gabriel não parecia acreditar.

—- Obrigada por tudo. – Melissa sorriu para ele e então virou-se para Miguel – Pode me mandar pra casa, pra o meu Rancho Solar? –

O Arcanjo ficou observando-a por um tempo.

—- Claro. – Ele sorria quando estendeu dois dedos de uma mão na direção da testa de Melissa – Feche seu olhos agora e quando voltar a abrir estará em casa. Você merece, pela valentia. –

—- Obrigada. – Melissa falou fechando os olhos.

Miguel cumpriu o que havia prometido, Melissa logo não estava mais ali.

—- Vá irmão. – Disse a Gabriel – Não fale nada que desminta Catarina, ela tem boas intenções quanto aos humanos. Também não fale nada sobre mim, vou ajudar Elena até que vocês vão embora, então vou encontrar a Feiticeira. Temos negócios. – Miguel falou quando voltou a se sentar perto da jovem loira que estava inconsciente, entre um sonho e um desmaio.

—- Você tem certeza que foi o melhor pra Melissa? – Gabriel perguntou antes de sumir.

—- Ela vai se reerguer. – O outro sorria – Vai ser feliz... só precisa de tempo. –

—- Obrigada. – Gabriel disse finalmente desaparecendo.

Xx

Catarina ainda se debateu por um tempo, até que enfim parou.

—- Catarina! – Noite exclamou do meio da luta, ela não parecia bem.

A distração de Noite lhe custou a Espada de Lúcifer do outro lado e uma mão forte e gelada em seu pescoço.

—- Solte-o. – Ordenou Castiel quando conseguiu apanhar a espada.

—- Fique bem aí, ou eu vou quebra-lo ao meio. – Ameaçou o diabo quando virou-se para a Catarina inconsciente.

—- Vamos! – Ele berrou – Não vai deixar que eu mate seu queridinho, vai? –

A mulher não moveu um centímetro, nem por respiração.

—- Catarina! – Sam chamou.

Todos chamaram sem resposta alguma. Um momento tenso se instalou. Lúcifer passou a apertar o pescoço de noite de verdade, o engasgo dele podia ser ouvido claramente. Castiel continuava observando irritado, com medo de que seu ataque piorasse as coisas.

—- Não pode ser! – Lúcifer gritou, praticamente correndo até ela e largando Noite com força em um canto – Não pode estar morta, não tem razão pra isso. –

Ele se encontrava abaixado perto do corpo dela, tocando seus cabelos.

O que aconteceu depois foi rápido demais para olhos humanos como os de Sam perceberem com clareza. Mas pelo barulho, ele teve certeza que as correntes que continham Catarina haviam sido partidas e de repente no lugar da inconsciência, ela fazia com Lúcifer o que ele fazia com Noite: segurava-o pelo pescoço. Seus olhos ainda sem íris ou pupilas, um sorriso doentio no rosto.

—- Surpresa. – A voz dela ainda era a mesma, mas não o poder que ela emanava, este era incomparavelmente maior.

—- O que é isso? – Lúcifer lutava para falar.

—- Sentiu falta de me ver funcionando à 100%? – Ela perguntou ao Diabo, quando usava a mão vazia para fazer algum feitiço silencioso, mas que trouxe uma gigante e suntuosa gaiola dourada – Reconhece? – Ela perguntou.

—- Não faça isso. – O Diabo se sacudia, mas ela era forte demais para ser vencida.

—- Faça silêncio. – Ela retrucou agressiva – Noite. – Ela chamou o amigo que jazia boquiaberto.

—- Eu havia esquecido como era ver isso... – Ele sussurrou quando se aproximou dela, estava bem, embora ainda sentisse dor no pescoço.

Catarina lhe entregou as chaves da gaiola.

—- Até que enfim! – Noite correu para abrir a gaiola.

—- Tenha piedade. – Lúcifer pedia.

—- Eu estou tendo. – Catarina sorriu antes de arremessa-lo lá dentro.

Noite trancou a jaula, enquanto Castiel aproximou-se dos Winchester.

—- Como está Dean? –

—- Nada bem. – Sam sussurrou.

—- Mas vai ficar. – Catarina falou quando chegou perto de Noite e da Gaiola.

—- Vai revivê-lo de novo? – Sam perguntou e se a situação não fosse menos apropriada teria rido com a forma muito pouco respeitosa com a qual Noite zoava o Diabo engaiolado. No entanto ele não era o único a encará-lo.

—- Não. – Ela respondeu com os olhos vidrados na gaiola. Com um aceno de mão a adaga presa no peito de caçador sumiu.

—- O que vai fazer agora, então? – Castiel perguntou

—- Desaparecer. – Ela falou colocando a mão no ombro de Noite.

—- O que? – Sam quase exclamou.

—- Vou dar a todos vocês um presente... – Ela suspirou apertando as grades da gaiola com força enquanto respirava fundo, tinha muita energia para acomodar de volta em si – Vou devolver suas vidas. Não vai ser perfeito, eu não sou Deus. Mas a única coisa que devem fazer é não tentar encontrar nada disso que passou aqui novamente. Se contentem com o que ganharem de volta e vivam suas novas vidas... –

—- E se nós não quisermos novas vidas? – Sam insistiu.

—- Aceitem. – Lúcifer resmungou dentro de sua gaiola, olhando diretamente para quem o havia prendido – Para-la não é uma opção. --

—- Não é como se tivessem escolha. – Ela falou quase sorrindo, completando a fala do diabo.

Um clarão branco como os olhos dela tomou o lugar inteiro, cegando todos os que estavam ali. A luminosidade durou por um tempo que não se pode contar e na verdade quando foi embora, o inferno não estava mais onde estava e tudo que haviam vivido parecia um sonho distante.

Xx

Pedir para ir embora ir e deixar os outros para trás havia sido muito mais fácil do que Melissa havia achado que seria. Seu Rancho estava num silêncio confortável e a luz laranja do fim do dia aparentemente era tudo que Melissa precisava.

Aparentemente ser egoísta naquele momento foi mais um benção do que um pecado. Agora só tinha de descobrir a maneira de certa recomeçar sua vida e deixar todo aquele tormento pra trás.

Melissa deitou-se na rede do terraço onde gostava de ficar antes de tudo aquilo, então num voo sereno sua fênix se empoleirou na ponta da rede e passou a encara-la fixamente.

—- Renascer? – A garota falou para a ave.

—- Não. – A ave respondeu numa voz conhecida, a voz da Feiticeira – Continuar a viver, numa vida diferente. –

Um clarão tomou tudo ao redor de maneira que não só a cegou como aos poucos a levou à inconsciência.

Era impossível saber quanto havia se passado desde o clarão, mas Melissa agora se encontrava dormindo na rede da varanda, quando ouviu ao longe ainda em sua inconsciência passos pesados de alguém se aproximarem e pegando uma das pontas da rede. Esse alguém a derrubou do sono direto no chão.

—- Ouch! – Melissa exclamou se sentando no chão ainda de olhos fechados. Ela devia estar assustada por ter sido arremessada da rede, afinal deveria estar sozinha, dizia algo no fundo da consciência da garota, mas simplesmente não conseguia.

—- Da próxima vez que essa sua galinha vermelha usar o meu closet como banheiro eu vou esfola-la incansavelmente até que ela desista de voltar das cinzas! – Era a voz de Clarisse – Agora anda, levanta, e vai limpar. –

Melissa abriu os olhos lentamente e os ergueu até encontrar sua irmã de pé bem ali. Suas roupas estavam diferentes do usual, era um visual mais agressivo, mais preto e couro... mas então Melissa olhou pra si e encontrou uma roupa semelhante a da irmã.

O subconsciente de Melissa deu sinal mais uma vez. Mas o impulso de levantar a abraçar sua irmã muito apertado foi mais forte.

—- Uou, até parece que fui eu que quase morri na última caçada. Eu sou muito melhor do que você, garota. Eu é que devia te abraçar como se você fosse morrer todos os dias e olha que eu nem sou meio feiticeira ou sei lá como é que eu te chamo com a aquela coisa toda de você ser filha de outro cara e da mamãe vir de outra dimensão... –

Melissa ficou parada de frente para a irmã. Para metade de si toda aquela realidade não era nenhum pouco estranha, para a outra metade era surreal, não fazia sentido.

—- Essa história também me deixa louca. – Melissa improvisou.

—- Deixa nada, você adora. É quase como ter a força e ser um Jedi, sei lá. – Clarisse fez uma pausa enquanto pegava algo em seu bolso e entregava a Melissa, era um envelope. – Não sei desde quando transformou sua fênix num pombo correio, mas ela largou isso em algum lugar perto da merda que deixou nas minhas roupas. Tem seu nome escrito. – A parte de Melissa que achava aquilo tudo surreal conhecia aquela letra.

—- Obrigada. – Sussurrou para a irmã.

—- Olha, eu vou carregar as coisas no carro enquanto você lê isso aí e LIMPA o meu closet. –

—- Carregar o carro pra que? – Melissa perguntou se sentando mais uma vez na rede.

—- O Johnny tá curado... vamos até o Bobby, vai ter uma festinha, você não se lembra? Acho que você bateu a cabeça feio ontem, hein? –

—- Quem é Johnny? – Melissa exclamou contra a parte dela que aparentemente a dizia que ela conhecia essa pessoa – E... é de Bobby Singer que estamos falando? – Melissa terminou as perguntas rasgando o envelope, precisava que aquela porcaria fosse algum tipo de explicação.

Não, não você não está louca, Melzinha...” – Dizia a primeira frase da carta.

—- Qual outro Bobby seria? – Clarisse soava indignada – E céus, você está mesmo perguntando quem é Johnny? A gente teve de tirar no par ou ímpar quem ia ser a madrinha do pirralho e você vem com “Quem é Johnny?” Pelo jeito ou vou te levar pra fazer uma ressonância... a pancada foi feia... – Clarisse andava pra lá e pra cá enchendo o carro de coisas.

—- Ah! Claro. – Melissa respondeu genericamente, precisava de silêncio para ler todo o conteúdo daquela carta.

“...nem muito menos ainda no inferno. Esse é só o mínimo que eu podia fazer por todos vocês, lhes dar uma realidade melhor.

Atingi tudo que eu pretendia na Terra, mas fiz muitos estragos, eu não sou burra. Então a parte sã de mim sabia que não podia abandona-los completamente despedaçados e ir embora viver o resto da eternidade satisfeita.

Essa não é uma volta no tempo, nem uma ficção, apenas uma nova realidade, novas realidades são facilmente criadas, já que elas já existem de alguma forma, só precisam ser escolhidas. Com todo o meu poder, a ajuda de Elena e do meu Anjo, juntamos três possíveis realidades em uma única completamente real. Uma que também trás vantagens aos negócios que preciso. Talvez agora você acredite, se eu também tenho vantagem, então é 100% algo que eu faria.

Vá com calma, sei que está confusa mas precisa ter cautela. Você é a única eu vai se lembrar de que ficou pra trás, isso se deve a magia dentro de você, sua confusão se deve ao seu pedaço humano que está completamente imerso na nova realidade.

Todas as novas informações estão com você, tudo que tem de fazer é relaxar completamente e aceitar as lembranças que vierem até você. O que esta realidade lhe deu até hoje não pode ser alterado, mas daqui pra frente está tudo nas suas mãos.

Tenho apenas um pedido a fazer... nós estamos na mesma realidade, ando com vocês, assim como os anjos, demônios, outras criaturas. A barreira nesta realidade é mais elástica. Por isso o trabalho de vocês caçadores ainda é útil, apesar de que termos tudo sob controle.

O que quero dizer é, talvez minha energia não seja de todo estranha e exerça algum tipo de atração no subconsciente dos que partilharam da outra realidade conosco, mas mantenha-os longe, nós duas sabemos o quão ruim tudo pode ficar quando eu chego perto demais.

Entenderá o que precisa fazer quando precisar fazer.

Espero que seja mais feliz nesta vida que na outra. Aproveite o presente e suas semelhanças e diferenças com aquilo que ficou pra trás.

Catarina.”

—- Finalmente a vadia fez algo bom realmente. – Melissa se levantou da rede e se esticou, era bom tirar a confusão da mente, num estalado de dedos sabia que havia limpado a porcaria que sua ave havia feito nas coisas de sua irmã. Por sinal, a fênix agora se chamava Andrea, em homenagem à sua mãe. – Clarisse era melhor, mas duas dela iam acabar lhe enlouquecendo.

Ao entrar no carro Melissa abraçou a irmã mais uma vez.

—- Você é estranha. – Clarisse comentou, mas abraçou a irmã de volta.

—- Eu sei. – Melissa concordou quando sua irmã deu partida no carro e o colocou na estrada – Cla, a pancada na cabeça me deixou meio zonza mesmo, eu vou aproveitar pra relaxar um pouco até chegarmos no Bobby. –

—- Pode dormir, pirralha. –

Melissa tirou o resto do caminho para se situar naquele novo mundo.


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Notas finais do capítulo

O próximo e último cap ( ALELUIA ) já está agendado no site então quando eu digo que estará no ar sexta feira (25/12 às 16:40) ele vai mesmo. kkkkk
Espero que se tiver alguém aí ainda lendo, que goste e que me deixe saber!
Bjs para todos que lerem isso e obrigada pela paciência.



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