Heavenly Hell escrita por Ju Benning


Capítulo 30
Hell Sweet Hell


Notas iniciais do capítulo

ALELUUUIA!! Chegou mais um (um dos últimos) Depois de uma demora memorável :( Espero que ainda haja alguém com fé por aí ainda pra ler. Pra compensar o tempo sem nada, juntei dois capítulos e acho que esse seja o maior da fic!
Não vou enrolar vocês mais ainda...
Boa leitura, gente! Obrigada por todos os comentários, favoritações e leituras, obrigada por todo o carinho! Bjs, vejo vocês nas notas lá embaixo!



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Às vezes tudo o que você mais precisa é de uma longa e tranquila noite de sono, mas em tempos de crise, dificilmente se consegue o que quer, principalmente quando o assunto é sono. Por isso, depois de ouvir a mesma mensagem em sua mente seguidas vezes Catarina desistiu de seu sono, pelo menos naquele momento.
Sentou-se na cama apertando as têmporas.
—- Você não fez isso... – Ela resmungou o mais baixo que conseguiu para não acordar Dean que dormia já de maneira inquieta na cama do outro lado do quarto.
A mulher desceu da cama e seu enorme felino se aconchegou sozinho na mesma.
—- Eu vou precisar que durma mais profundamente, Caçador. – Ela sussurrou mais uma vez, tocando a cabeça de Dean levemente, fazendo com que ele entrasse em sono profundo e se aquietasse no colchão macio. – Perfeito. – Ela comentou estalando o pescoço para os dois lados.
Ainda mais no fundo do quarto havia uma espécie de banheira feita em pedras rústicas com uma pequena cascata que fluía sem parar trazendo um ruído tranquilizante ao ambiente e que também, de alguma forma mágica, a banheira nunca transbordava e a água nunca se sujava, era sempre cristalina. Catarina ajoelhou-se por um breve momento à borda do local e com um recipiente de prata nas mãos colheu um pouco daquela água e se dirigiu cantarolando baixinho até a varanda, onde sentou-se no chão e depositou o recipiente de prata em sua frente.
Alguns movimentos de mão e palavras depois a água se ergueu do recipiente e passou a pairar em frente aos olhos da mulher, como se fosse uma tela.
—- Sei que está aí, já chega de charme. – Ela falou em um tom de voz normal.
O líquido passou a mostrar uma imagem diferente, de um lugar sombrio e de alguém com uma expressão preenchida por um sorriso sarcástico.
—- Não imaginei que fosse responder ao meu chamado... – O Arcanjo Sombrio usou todo o seu deboche naquela frase.
—- Eu quero ver a garota. – Catarina encurtou o assunto.
—- Virou a boa moça de vez? –
—- Não. Mas Melissa deixou de ter a ver com o nosso problema no momento em que eu deixei o corpo dela, por isso, deixe a garota ir, você tem muitas mais almas com as quais se divertir, e tem direito a elas... no entanto não é o caso de Melissa. – Catarina o fitava com o olhar vazio, não queria revelar a ele sentimento algum com os quais ele pudesse jogar.
—- Então se importa com a garota? – Ele especulou.
—- Eu me importo é com o fato de que você manter Melissa aí presa e sob tortura é um crime suficientemente grande para que você seja invadido e devidamente punido... o que tiraria toda a graça do meu plano. – Ela riu mordendo o lábio inferior.
—- Isso se ela fosse humana... – O outro ponderou.
—- Ela tem alguma magia, mas ainda assim nasceu na Terra, com pelo menos uma parte humana. É uma questão de semântica, qualquer argumentador convencerá o conselho celeste a interferir e eu tenho certeza que Miguel espera avidamente por um momento assim... – Ela riu dando de ombros.
—- Algo me diz que você está tão desesperada que vai apelar pra o seu pit bull alado pra me arrancar o coração já que você mesma não é capaz. – Provocou.
A mulher riu.
—- Sabe qual é o seu problema? – Ela fez uma pausa para encarar o outro – Seu problema é se julgar tão intocável, é julgar que eu ainda sou a jovem completamente impulsiva de que você se lembra, ou completamente maluca. Seu problema é achar que só porque talvez eu não consiga acabar com você eu não tenha mais nenhuma saída. – Ela tirou o olhar do dele por um momento – Seu erro, meu caro, foi contar com meu desespero. Foi achar que o remorso que eu sinto em relação a Mel, fosse o suficiente para começar uma operação suicida de resgate que acabaria com ela mesma e os Winchester mortos e talvez até eu também. – Ela arriscou uma gargalhada ao vislumbrar a expressão dele se desmanchar – Você realmente deve estar muito desesperado pra achar que fosse fazer algo idiota assim... Melissa é forte, ela aguenta o tranco até que eu vá aí da melhor forma possível... –
—- Eu vou matá-la, Catarina. E os seus humanos favoritos vão odiar você pra sempre. – O Arcanjo ameaçou.
—- Não é como eu eu fosse ficar come eles para sempre. – Ela confessou – Mas eu tenho planos a seguir que são maiores que apenas um indivíduo específico... Talvez se você tivesse avisado a alguém mais sentimental... teria tido mais sucesso. Mas isso é política, meu caro. Às vezes se perde uma ovelha, para salvar todo o rebanho. –
—- Eu digo que está blefando! – Ele se irritou.
—- Estou? – Catarina riu mais uma vez – Bem, se eu realmente estiver blefando, sua ideia de matar Melissa será péssima, pois perderá seu instrumento de chantagem. Seu eu não estiver blefando sua ideia de matar Melissa aí dentro ainda é péssima, ela não fez nenhum pacto, nem é má. Você não tem direito sobre a vida ou a alma dela. Lembra-se disso? Não acho que queira dar espaço para invadirem seu amado Inferno. –
—- Tudo é questão de semântica, Catarina. – Ele riu – E eu vou dizer mais algumas coisas já que aposto no seu blefe. Eu quero você aqui, com seu dois porcos de carne e osso em menos de 24hrs humanas, ou eu vou destroçar essa garota. –
—- Estou cansada dos seus jogos. – Catarina manteve a seriedade – Tenho coisas mais importantes a tratar. Faça o que bem entender, faça bom uso da sua refém antes que as consequências caiam sobre a sua cabeça. –
—- 24hrs, Catarina. – Ele repetiu antes que a mulher fizesse com que a água se dissipasse e a imagem sumisse.
Uma vez desfeita a ligação, Catarina pode esmurrar o chão irritada.
—- Lúcifer mais uma vez, estou certo? – Disse a voz conhecida de Miguel, que acabava de pousar no parapeito da varanda.
—- Ele tem Melissa como refém. – Ela explicou revirando os olhos.
—- Eu ouvi a conversa... – Ele desceu de onde estava se sentando de frente a ela – E percebo algumas coisas também: você não gosta tanto assim da garota, mas se sente em dívida com ela, se sente em dívida com esses humanos e não sabe o que fazer, não é? – Catarina não deu resposta, nem levantou a cabeça – E fora a questão de você conseguir ou não dar um fim a ele... você está esquecendo de algo mais importante do que os seus dilemas pessoais... –
—- O que é, Senhor Eu Sei Tudo? – Ela falou mantendo a cabeça onde estava.
—- A Barreira Protetora da Terra. – Catarina bufou o Arcanjo continuou antes que ela pudesse protestar – Você sabe que desde de o momento que despertou no seu corpo de novo a sua magia deixa a proteção improvisada e bagunçada que você arranjou e volta pra você, sempre vai voltar, a não ser que faça o que tem de fazer, o que devia ter feito mil anos atrás quando deu tudo errado pela primeira vez. – Ele discursou – Você não se deu ao trabalho de verificar, mas essa crise que se instala na Terra está fora de controle e nós podemos fazer muito pouco com esse impedimento de receptáculos que nunca tivemos antes da bagunça que você aprontou. Muitos inocentes estão morrendo, muitos caçadores estão morrendo porque eu não posso interferir como faria se a Barreira Original tivesse sido refeita. –
Catarina levantou a cabeça.
—- Miguel, eu sei o que eu deveria ter feito! Mas você acha que é fácil encarar a possibilidade de total destruição? Eu nasci, sabe-se lá porque, condenada a ser eterna! Você me ajudou a fazer aquela adaga, pra que eu fosse como você e os outros arcanjos pelo menos. Mas eu nunca a enfiaria no meu próprio coração. Então, reconstruir a Barreira Original, sabendo que talvez todo o processo possa me desintegrar não é fácil. – Ela ofegava.
—- Catarina, é apenas uma possibilidade, que não acredito que vá se concretizar, você precisa se acalmar. – Miguel a segurou pela mão. -- Faça de uma vez o que tem de fazer... arrume a sua vida de uma vez por todas, Catarina, e faça isso por si mesma. –
—- Sem a sua ajuda? – Ela tocou o rosto do anjo, derretida..
—- Não posso fazer muita coisa, no momento. Você encontrou bons caçadores para lhe auxiliar, mas pare de brincar com eles. – Miguel era incisivo -- Tenha cuidado, não sacrifique ninguém e não se esqueça da garota. Afinal, ela a abrigou em seu corpo boa parte da vida... --
—- Ela sabe se virar. – Catarina resmungou.
—- Porque a indiferença? --
—- Eu estou preocupada com ela! – Admitiu -- Mas traçar um plano para salvá-la provavelmente colocará em risco os rapazes, Noite e Castiel, porque é exatamente isso que o Arcanjo Sombrio espera que eu faça. E o nosso objetivo é enfrenta-lo e não fazer um resgate, o que muda tudo. – Ela suspirou – Queria que você pudesse entrar comigo e fazer isso... –
—- Infelizmente eu não posso. O conselho acredita no contrabalanço, pra o Céu fazer sentido, precisamos do Inferno. – Ele mexeu nos cabelos dela.
—- Mas não vou fechar as portas de lá! – Catarina choramingou.
—- Mesmo assim... – Ele suspirou de uma forma que deixava claro o quanto odiava aquilo -- Você sabe que consegue fazer isso sem mim. Não importa a decisão que tomar. –
—- Acho que você a criatura que mais tem fé em mim no universo inteiro! – Ela riu.
—- Eu conheço você, é só isso. –
—- Tudo bem. – Ela engoliu em seco – Quando eu acabar o que tenho pra resolver no inferno, você me encontra nos portões no Céu... está mais do que na hora de resolver tudo. –
—- Vai ficar tudo bem. – Ele falou beijando a boca dela que num impulso cheio de saudade retribuiu. Era dele que sentia falta todo esse tempo.
—- Aawn que fofo! – A voz de Geórgia os interrompeu, enquanto ela pairava em frente ao parapeito.
—- O que faz aqui, cabeça de fogo? Deveria estar descansando. – Estranhou Miguel.
—- Eu estava indo fazer isso, mas tem alguma coisa errada acontecendo no rio. Acho que alguém caiu lá, achei que devesse avisar. –
—- Caiu? – Catarina e Miguel disseram em uníssono.
—- Ninguém cai lá, ninguém é tão burro ao ponto cair lá a toa. Tem ter alguma outra coisa, pode ter sido empurrado, não tinha ninguém por perto? – Catarina falou em tom preocupado.
—- Na verdade tinha sim, Zoey estava bem na beirada, onde eu acho que alguém caiu, mas ela parecia tranquila... –
—- De novo... – Miguel passou a mãos pelos cabelos ao olhar para Catarina que parecia estar se dando conta de alguma coisa importante.
—- Ah não. – Ela ficou de pé – Dean! – Ela praticamente gritou sem ter medo de acordá-lo com um susto.
No entanto o caçador não moveu nem um centímetro. Catarina então chegou perto de seu ouvido.
—- Querido, -- Ela sussurrou – ACORDE! – Exclamou sem sutileza alguma, fazendo com que Dean pulasse de onde estava.
—- Isso é realmente necessário? – Ele perguntou sentando-se, ofegante pelo susto.
—- Sei que prometi uma noite tranquila e por isso me desculpa. – Ela falava agitada – Mas é uma emergência. Com quem seu irmão ficou depois que vocês discutiram? Foi com Zoey? –
Dean ainda estava sonolento demais para raciocinar.
—- Não. – Respondeu sem pensar.
Catarina respirou fundo.
—- Ótimo, podemos voltar todos a dormir... obrigada por avisar, Geórgia. – Ela sorria.
—- Quer dizer, espera. Qual foi o nome que você disse? –
O sorriso deixou o rosto da mulher.
—- Zoey. Aquela que cuidou dele, a loira. –
—- Ah, agora eu me lembro. Foi essa daí sim. –
Catarina virou-se para Miguel.
—- Qual a chance dela ter feito aquilo de novo e logo com ele? –
—- Zoey nunca mais tinha feito isso, mas se por algum motivo Sam a lembrou do que aconteceu com ela, se ela achou que eles tinham algo em comum, pode ter o empurrado com certeza.—Miguel suspirou.
—- Espera aí. – Dean interferiu – O que aquela mulher fez com o Sammy? –
—- Jogou ele no riu. – Geórgia explicou rapidamente.
—- Não tem problema, ele nada. – Dean falou sem entender o desespero.
—- Seria cômico se não fosse trágico. – Catarina falou com um ar de riso e olhou o Caçador -- Aquele rio se chama Assassino de Prata por uma razão, Dean. As pessoas, principalmente humanos, não simplesmente saem nadando dele. E Zoey empurrou Sam dentro dessa simpática criatura. –
—- Filha da puta! – Dean xingou com a respiração presa de tanta raiva e sem pensar duas vezes, pegou sua arma e partiu para fora do quarto, não importava se Sam o odiava ou não, não ia deixar um pedaço arrogante de água matar seu irmão.

Xx

—- Droga de escuro. – Melissa xingou assim que abriu os olhos, depois de muitas horas de uma dor incomparável, ela havia finalmente desmaiado, estava recobrando a consciência pela primeira vez desde então. – Finalmente sozinha. – Ela murmurou mais uma vez quando tentou se mover, mas os inúmeros machucados das costas a fizeram permanecer como estava. Pelo menos alguém tinha cedido as correntes, ela agora podia pelo menos sentar-se – Droga de chão frio. – Ela resmungou pela sensação de ter se apoiado numa pedra de gelo – Qual o sentindo do Inferno ser gelado? –
—- Porque nós que habitamos e administramos o lugar, não somos obrigados a queimar junto. – Disse uma voz sibilante que veio do canto do lugar de onde estava, a garota se encolheu onde estava.
—- Não vou bater em você, não se preocupe. – A voz se aproximou para que Melissa pudesse começar a ver a quem pertencia – Até porque, não tenho braços. – A voz pareceu rir, principalmente quando Melissa percebeu que se tratava de uma cobra gigante como um monstro dos filmes e de olhos vermelhos e brilhantes que a observavam de maneira doentia.
—- O que é você? – A garota perguntou assustada.
—- Vamos jogar um jogo. – Disse a criatura, ignorando-a.
—- Não estou muito inclinada a aceitar essa proposta. – Melissa desviou o olhar da criatura.
—- Não é como se você tivesse uma escolha. – A cobra riu – Eu vou te dar umas dicas, você tenta adivinhar quem eu sou! –
Melissa engoliu em seco e esperou em silêncio.
—- Eu adoro Jardim e adoro conversar com mulheres, eu conheci Adão e Eva... – Falou agitando sua calda animadamente.
Melissa o encarou em silêncio.
—- Ah, e eu adoro oferecer frutas... -- O animal parecia sorrir – Agora tenta adivinhar! –
—- A Serpente do Éden. – A garota sussurrou, sentindo a dor dos cortes em suas costas.
—- Bravo! –
—- O que faz aqui? – Melissa franziu o cenho para a criatura.
Por um tempo a criatura apenas a encarou assustadoramente.
—- Eu cumpro ordens. – Falou finalmente, sibilando, e no primeiro movimento repentino da noite se lançou na direção de Melissa com os dentes à mostra e cravou suas presas na perna da garota, que além da dor, sentiu algo quente entrar por suas veias.
—- Você disse que não ia... – Ela começou a falar, mas se achou tão ingênua que parou a frase na metade e apenas fechou os olhos.
—- Eu disse que não bateria em você porque não tenho braços, mas nunca disse que não te morderia, até porque tenho presas muito afiadas... – Prolongando o “s” ainda mais do que o seu normal, a serpente fez seu caminho de volta.
Pela primeira vez Melissa viu a saída do lugar onde estava e viu que esperando a serpente do lado de fora estava aquela que a havia arrastado até ali. Elena lhe dirigiu um olhar de esguelha quando acariciou a cabeça da Serpente do Éden, enquanto a sua própria, descasava sobre os ombros da dona, com o resto de seu comprimento enrolado nos baços da jovem.
Melissa teve vontade de estrangula-la, mas na atual conjuntura seria um milagre conseguir se levantar.
—- Aproveite suas últimas 24hrs, Melzinha! – A voz de Elena disse pra ela, enquanto ia se afastando.
Melissa engoliu em seco.
—- Eu tenho que dar o fora daqui. – E embora no fundo ela não tivesse esperanças, deu um puxão nas correntes.

Xx

—- Ah que droga, Tran!! – Noite exclamou indignado – Você não consegue agarrar um lançamento?! Mas que merda deve ter sido o seu ensino médio. –
Kevin andou mais uns bons metros pra frente e pegou a bola oval do chão.
—- Talvez seja porque você é um péssimo lançador! – Respondeu raivoso.
—- São necessários muitos mais de vocês pra jogar esse jogo, não entendo porque insistem nisso, não podemos voltar ao pocker? – Indagou Castiel profundamente entediado, sentando num canto.
—- Anjo, eu tenho energia pra jogar trinta jogos de futebol americano acumulada no meu corpo. – O feiticeiro reclamava com breves sacudidas involuntárias – Esse é o maior período de ócio que eu já passei na minha vida inteira e olha que fiquei mil anos em forma de cavalo! Eu preciso gastar esse potencial. – Ele dava pulinhos de um lado para o outro, como um lutador de box antes de iniciar um ataque.
—- Corre ao redor de si mesmo então, porque eu não vou mais joga com você – Kevin apontou o dedo pra ele, visivelmente irritado.
—- Se tem tanta energia assim, gaste-a procurando Melissa – Castiel o olhou com o canto do olhou – Não sei porque mas estou muito inquieto com isso. –
—- Ela sabe se virar, ela é bem esperta! – Noite sorriu.
—- Resposta errada tente novamente! – Uma quarta voz os surpreendeu.
—- Gabriel?! – Noite franziu o cenho ao encontrar a voz e reconhecer seu dono.
O estado do Arcanjo era deplorável, completamente desgrenhado, alguns hematomas, restos de amarras nos punhos e tornozelos.
—- É, sou eu. – Falou ofegante – Depois eu explico, preciso falar sobre Melissa. Ela foi sequestrada. –
—- O que disse? – A pele de Noite empalideceu.
—- Exatamente o que ouviu: Sequestrada. – Repetiu o outro.
—- Quem fez isso com ela? – Kevin falou depois de voltar a si pelo susto.
—- Eu sabia que tinha algo errado... – Murmurou Castiel.
—- Elena, Noite. Aparentemente ela tem alguma culpa na morte de Alif e se refugiou com Lúcifer por medo de ir a julgamento. –
Noite fechou os olhos por um longo momento e só depois falou.
—- A culpa é minha. EU nunca deveria ter deixado ela ir... –
—- Não se culpe. Eu a observava há algum tempo, o que aconteceu com ela, aconteceu sob as minhas vistas! Se tem algum culpado, sou eu. – Gabriel se lamentou.
—- Será que Catarina e os Winchester estão sabendo disso? – Castiel se perguntou.
—- Acho que não. – Noite supôs – Ele já estariam aqui se estivem sabendo. –
—- E onde diabos ela está?! – Gabriel se irritou – É dela que nós precisamos pra salvar a Mel, qualquer um de nós que entrar no Inferno sem ela, vai estar cometendo suicídio. –
—- Ela já deve estar vindo, e mesmo assim, eu vou mandar uma mensagem. Não vou me perdoar se acontecer alguma coisa com Melissa. – Noite falou com sua alegria e excitação sumindo de sua voz e expressão.

Xx

Sam não sabia por quanto tempo mais ia conseguir prender o fôlego. Afinal, ele e seu irmão eram treinados em muitas coisas, mas apneia não era uma delas.
Aquela água turva de cor prata era desesperadora de tão pegajosa, de fato como se houvessem mil mãozinhas agarrando você, Sam olhava de um lado para outro tentando um lugar pra onde nadar, mas não enxergava nada além do prata e a água ao se redor parecia gelatina. De repente ouviu uma voz, e pensou que estivesse começando a alucinar devido a falta de oxigenação no cérebro, pois se tratava da voz de Jéssica.
—- Sam, venha ficar comigo. Eu sinto tanta a sua falta... – Era impossível dizer de onde vinha o som – Tudo o que você precisa fazer é respirar. –
Ele não conseguiu evitar de pensar nela e no logo em seguida parte da água tomou a forma do corpo dela exatamente como na lembrança que havia chegado em sua mente, assim como cor prateada sumiu, dando lugar a um colorido idêntico ao de Jéssica, da pele ao cabelo e cor da roupa. Era extremamente real e por isso assustador, porque mesmo que não quisesse respirar o susto foi tanto, que quase afogou-se.
Realmente era um jogo que o Assassino de Prata jogava, um baixo jogo psicológico, o que Sam tinha de fazer no entanto era usar sua inteligência e o pouco tempo que tinha para entender o que devia fazer.
Ao dizer isso, Sam lembrou-se de John, em uma das vezes em estavam treinando juntos e ele havia dito “E agora, o que você tem de fazer, Sam?”. Em seguida, automaticamente, Jéssica se foi e John ganhou o seu lugar, dizendo exatamente o que havia na memória de Sam.
O homem intrigou-se e algo se acendeu em sua mente.
Depois, sem que ele pensasse em algo ou alguém específico, o rosto de um palhaço macabro apareceu em sua frente e Sam teve o impulso de gritar, já tinha medo de palhaço, mas para gritar, ele tinha de respirar e isso o afogaria, então se segurou. O rosto do palhaço congelou em sua frente, não fez mais nada, assim como Jéssica depois que falou e ganhou forma.
Então Sam entendeu o jogo do Assassino.
Quando Sam caiu ficou preso, dando início ao jogo, o rio fez uso de algo genérico em sua mente, a voz de Jéssica, mas sua jogada só estava pronta quando conseguiu a imagem, o que quase fez com Sam respirasse a água, mas falhou. Nesse ponto a imagem de Jéssica ficou parada, como uma peça de um jogo esperando a próxima jogada. Foi nesse ponto, que por acaso, Sam pensou em seu pai e em algo que ele falou e isso se repetiu: a fala e a imagem. Depois veio o palhaço, mais uma vez algo tirado de sua mente e mais uma vez estava ali parado em sua frente, esperando a próxima jogada de Sam.
Sentindo que seu fôlego estava se ultimando, ele olhou para seus braços e pernas, estavam presos na água gelatinosa como se estivessem atados. Talvez Sam pudesse usar uma de suas memórias para desatar aquelas amarras e então nadar.
O homem se concentrou em achar a memória perfeita, provavelmente não haveria tempo para outra jogada.

Xx

Zoey observava fixamente a beira do rio, enquanto abraçava a si mesma. Já havia sido empurrada naquele rio muito tempo antes, porque alguém que já estava morto. Haviam sido os piores momentos da sua vida, mas encarar a morte a havia feito melhorar muito em seu próprio tormento. Pensou que fazer o mesmo por Sam seria uma boa ideia, mas a demora do homem em emergir a estava deixando preocupada.
—- É melhor você ter mais de uma vida, porque te matar uma vez só não vai ser suficiente. – Ela ouviu a voz de Dean enfurecida em suas costas e logo em seguidas sons secos e uma pressão esquisita em alguns pontos de suas costas, aquilo havia doído um pouco, mas definitivamente já havia passado por coisa pior.
Então virou-se.
—- Eu tentei ajudar o seu irmão. – Ela falou com olhar inocente.
—- Ajudar? – Dean gritou pra ela – Você vai acabar é matando ele. – Ele virou-se para Catarina que vinha logo atrás dele – Essa criatura não morre? – Ele mostrava a arma descarregada pra ela.
Catarina tomou o objeto da mão do caçador.
—- Não assim, Dean. – Ela deu um meio sorriso – Mas talvez assim... – Ela levantou a mão no ar e fez um movimento como se estivesse estrangulando alguém. E assim Zoey caiu no chão. – Você o derrubou no rio, pra morrer sem ar, acho justo que aconteça o mesmo com você. – Havia um sorriso levemente divertido no rosto de Catarina.
Zoey, que levava as mãos ao pescoço como se fosse ajudar em alguma coisa, olhava pra Dean pedindo algo que ele interpretou como clemência.
—- Nem ache que eu vou impedir. – Ele falou de cenho franzido – Ninguém mexe com o meu irmãozinho.
—- Catarina, solte-a. – Miguel falou pousando ao lado da feiticeira.
—- Não é a primeira vez que ela faz isso. – Ela contra argumentou – Eu a abriguei na minha terra, junto com o meu povo e não é a primeira vez que ela usa o rio pra matar. –
—- Você sabe que não é de propósito. Ela ficou perturbada com a experiência. – O Anjo respondeu.
—- Mas isso não dá o direito a ela de derrubar os outros, ainda mais sabendo que eles podem morrer e que provavelmente vão. – Dean retrucou andando desesperado pela margem do rio – Vamos lá, Sammy, você consegue sair dessa.
—- Mas lhe dá o espaço para compreensão e compaixão. – Miguel elevou o tom da voz, quando Zoey caiu de joelhos no chão.
—- Ela não teve compaixão com quem jogou no rio. – Catarina falou com os olhos vidrados em Zoey, numa expressão doentiamente cruel.
—- Já chega de matar poe hoje, Catarina – Miguel insistiu, tocando o ombro dela, que começou a ceder.
—- Catie, tudo bem, solta ela. – Dean falou de onde estava, mas não olhando diretamente para a Feiticeira – Acho que é ele ali. – A voz do caçador sorria.
Catarina voltou a si, quando encontrou Sam completamente encharcado e ofegante, vindo em direção a eles. Sentia-se aliviada que depois de tudo que fizera ao rapaz, o túmulo dele não seria o lar dela.
Dean abraçou Sam num impulso, sem ligar se o irmão aprovaria o gesto ou não. Nos primeiros segundos Sam não retribuiu o aperto, mas depois cedeu e quase tirou o mais velho do chão ao retribuir.
Catarina procurou o abraço do Arcanjo e se aninhou ali, como não fazia há muito tempo.

Xx

Ainda no meio daquela escuridão total, Melissa sabia que precisava fazer alguma coisa ou morreria sem dignidade nenhuma e não teria enterro descente, ou uma cremação memorável.
Por isso, usando as forças que sobravam, usou suas próprias correntes como apoio e se forçou a ficar de pé; esticar as costas foi a coisa mais dolorosa que sentira desde o açoitamento e veneno da serpente dava sinais físicos de estar funcionando de forma eficiente, pois se apoiar na perna por onde o veneno havia sido inoculado era uma missão quase impossível. Melissa queria pelo menos ser capaz de enviar uma mensagem, mas não acreditava que conseguiria.
A única coisa que estava em seu alcance fazer era tentar abrir as algemas assim como abrira as de Catarina uma vez, mas não podia dizer que não estava com medo de tentar algo e ser pega e morta, tinha medo de que tentar sair dali fosse ser pior de alguma forma. Porém, o desespero é uma ótima motivação, pois desliga qualquer prudência. Naquele ela só queria sobreviver.
Por isso concentrou-se nas algemas e em se lembrar da voz de Catarina lhe dizendo o que fazer, era estranho apelar para Catarina (mesmo que em memória) mas aquele não era um momento para orgulho igualmente.
Depois que lembrou-se do que fazer, não demorou muito para que aquele maldito metal deixasse os seus pulsos marcados, mas livres. Uma onda de alívio tomou a garota, agora que podia sair de onde estava, restava a ela, manter em mente o pouco que havia aprendido com Gabriel e tentar sobreviver até chegar a algum lugar que lhe permitisse achar uma forma de tirar de si aquele veneno.
Então, num suspiro de coragem, atirou-se no corredor que encontrou e rezou pra que as coisas dessem certo para ela ao menos uma vez.

Xx

O tempo que passaram na Dimensão Mágica havia sido curto e agitado e agora que estavam finalmente indo embora, os irmão Winchester sentiam que podiam dar saltos de alívio.
—- Sammy, eu sei que você me odeia agora, mas, eu não sei dizer o quanto eu estou feliz por você ter saído vivo daquele rio. – Dean olhava desconfiado para o seu irmão que se sentia aliviado por ter aceitado uma breve ajuda da feiticeira pra se secar.
—- Dean, quer saber? – Sam não olhava diretamente para seu irmão mais sentia que precisava dizer aquilo – De alguma forma Zoey estava certa... encarar os jogos daquele Assassino de Prata te muda de alguma forma, muda o jeito com o qual você encara as coisas. E por mais que seja complicado e que talvez eu nunca vá esquecer totalmente o que aconteceu. acho que isso não deve apagar nada, sabe? Nós somos irmãos e somos a única família um do outro... Então, esquece essa coisa de ódio. – Sam por fim olhou o irmão nos olhos e os dois se abraçaram.
—- Mas, me diz, o que foi que aquela coisa prata fez com você? – O irmão mais velho sorriu enquanto falava.
—- Era um jogo psicológico. Era meio louco. Funcionava através das memórias... e a memória que me salvou era com você. – Sam sorriu olhando adiante, admirando a paisagem mais linda que já havia visto em sua vida e que sabia que não voltaria a ver.
Dean fez uma careta engraçada.
—- Até quando eu não estou com você, eu te salvo... o que seria da sua vida sem o seu irmão aqui, hein? Me fala? – Ele usava um tom debochado.
—- Babaca. – O outro reclamou – Quando a gente voltar, você vai procurar a Mel, ou vai se acomodar com sua versão de saia psicótica? –
—- Catarina? O que ela queria comigo, era a semelhança com o grandão alado. -- Ele riu, não se importava com aquilo -- Eu e a Mel precisamos conversar independente de qualquer coisa. –
—- Eu conheço esse discurso. – Sam falou em tom meio azedo.
—- Não me entenda mal, Sammy, tenho mesmo que conversar com ela, Mel nem sabe que eu estou vivo, nem do que aconteceu, você sabe... nem faz tanta diferença se eu quero ficar com ela, mais importante é saber se ela vai querer alguma coisa comigo depois de tudo. – Ele ria.
—- Tá, e se ela quiser? – Sam insistiu.
—- Ela não vai, Sam. – O outro disse com convicção.
—- Isso é um jeito sutil de dizer que você não a quer mais. –
—- Não, eu estou dizendo que a Mel não vai querer nada mais. Só isso. – O outro desconversou – Mas, por falar na Catie, onde ela está? Esse lugar é lindo, mas eu quero ir embora. –

Xx

Catarina arrumava algumas coisas em seu quarto, mas algo a angustiava. Talvez porque tivesse mais coisas em sua cabeça do em qualquer momento anterior de seus tantos mil anos.
—- O que há com você? – Miguel surgiu atrás dela, como uma sombra boa.
—- Seria vergonhoso se eu dissesse que estou com medo? – Ela virou-se para ele com uma das mãos na cintura e outra na própria testa.
—- Não. – Ele olhava pra ela do mesmo jeito que fazia na primeira vez que a havia visto – Qualquer criatura tem medo, não ter medo é uma anomalia. – Delicadamente ele a trouxe para perto.
—- Fico melhor assim. – Ela aceitou de bom grado a aproximação. – Tem certeza que não pode vir comigo? –
—- Catarina, talvez eu pudesse burlar o Conselho e ir lhe ajudar, mas isso eu passei quase a sua vida toda fazendo. – Ele a envolveu pela cintura – Vá e resolva o que tiver de resolver com Lúcifer e eu vou estar esperando você no Quarto Céu, na minha fortaleza. Você se lembra de lá? – Ele falou beijando a boca dela mais uma vez.
—- Claro que eu lembro. – Ela resolveu com um riso de canto de boca.
—- Você não vai resolver o problema da Barreira sozinha, melhor assim? –
—- Muito. – Ela enfiou a cabeça no ombro dele – Tem outra coisa que eu preciso pedir a você... – Os olhos dela brilhavam.
—- Não gosto quando você olha assim... – Ele reclamou deitando de braços cruzados.
—- Eu preciso da chave. – Ela falou rápido como se assim fosse doer menos.
—- Não. – Ele respondeu igualmente rápido e veemente.
—- Porque não? – Perguntou deitando de lado junto a ele.
—- Porque se eu pedir permissão ao conselho, irão negar, e eu não vou furtar nada. – Ele justificou olhando-a nos olhos.
—- Mas é por uma boa razão! – Ela exclamou o fazendo rir – Veja, se eu usar a chave, ninguém terá problemas com o tão amado equilíbrio deles. E, em qualquer caso deles se asparem, você pode me acusar. – Ela passou o dedo pelo comprimento do nariz dele.
—- O que quer dizer? – Miguel franziu do cenho.
—- Você pode dizer que eu te seduzi. – Ela cerrou os olhos sorrindo – Que nós dois passamos a noite fazendo coisas absurdas que aqueles anjos capengas, conservadores e virgens não conseguiriam imaginar nem tentando muito. E que tomado por um torpor que te impediu de pensar direito, você me entregou a chave... – Ela esfregava o nariz no dele, mas não o manipulava, apenas o convencia de forma honesta – Pobre Miguel... tão indefeso, caiu nas mãos da Feiticeira maldita, sedutora, mau-caráter. Não teve culpa alguma. – Ela fazia um voz diferente. – E é assim que você me dá a chave, nós resolvemos o problema Lúcifer e você sai ileso no Conselho. – Ela deu de ombros com uma expressão sapeca.
—- Isso já aconteceu antes. – Ele ponderou a olhando nos olhos.
—- Sim. – Ela confirmou maneando a cabeça – Só que eu não pedi uma chave e o sexo aconteceu realmente na outra ocasião mas eu não queria te convencer de nada, só que nós realmente ficamos muito bons nisso, depois que eu te ensinei. –
Ele riu e começou a se sentar, fazendo com ela tirasse as mãos das laterais dele. Ficaram apenas se olhando.
—- Você sempre consegue o que quer? –
—- Você sabe que sim. – Catarina o olhava com ar de vencedora.
—- Terá a sua chave... – Antes que ela pudesse começar a comemorar ele continuou – Com uma condição. – Catarina prendeu a respiração sentiu que seus olhos se abriram mais que o necessário – Aprendi a lidar com você ao passar do tempo... – Ele justificou-se.
—- Faça sua proposta. – Ela ficou ligeiramente séria.
—- Você vai me prometer que quando você acabar essa tarefa – Ele tocou o ponto de peito dela onde ficava o coração – vai voltar pra casa. Seu lugar é aqui. –
—- Miguel, isso não é condição, é um prazer. – Ela retrucou. -- Logo que eu acordei e fui conversar com você, respondeu que ainda me amava e quero que saiba, que recíproca é verdadeira. Meu anjo, você fez meu coração voltar a bater depois de Darian e eu pertenço a você desde então. Espero que perdoe minhas travessuras! --
—- Estarei esperando você impacientemente. -- Ele sorria, havia aprendido a entender feiticeiras muito antes de conhecer àquela à sua frente.
—- Não vejo problema nisso. – Respondeu sorrindo -- Sua impaciência me alegra. --

Dando o impulso que era necessário, Catarina o beijou mais uma vez, seu coração batia acelerado.
—- Então, não se preocupe, terá a sua chave. –

Xx

Melissa andou por muitos corredores escuros, mas suntuosos e gelados, ela se esquivou pelos cantos, sempre ouvia um ruído ou via uma sombra. Além de antidoto pra veneno, precisava de uma arma.
Em um dos corredores, se deparou com uma porta branca enorme, de certo a coisa mais clara que via em muito tempo. O objeto tinha lindos entalhes, incluindo um “C” enorme. Num impulso e talvez por intuição a abriu passou por ela e a trancou, tudo isso implorando para que estivesse vazia.
E pela primeira vez em muito tempo a sorte jogou ao seu favor. O espaço estava vazio. E era um grande espaço, tudo muito claro e aconchegante. Era um quarto, com uma linda pintura na parede, que parecia ter vida, se mexia graciosamente, em outro canto, uma caixa de vidro com um coração azul que batia como se vida tivesse, Melissa achou bizarro.
Aos poucos, observando, ela percebeu a quem aquele quarto pertencia.
—- Sua vadia... – Ela murmurou enquanto vasculhava, mancando com mais força e começando a se sentir tonta e enjoada.
Mas algo, talvez mais um pouco de sorte, lembrou-se que independente dela achar que Catarina era ou não boa pessoa, ela sabia muito sobre venenos. O demônio que matou o pai de Catarina, habitava o inferno, a Cobra do Éden igualmente venenosa (e isso Melissa sabia bem), a conta de criaturas peçonhentas daquele lugar não deveria acabar ali, então, havia uma grande chance de em algum lugar ali Melissa encontrasse seu antidoto. Por isso começou a vasculhar o mais rápido que conseguia.
Se Melissa pudesse arriscar diria que já haviam se passado pelo menos quarenta minutos, quando esbarrou no que parecia ser um fundo falso em um armário pequeno, de um material diferente do resto dos móveis, era uma madeira escura e gasta. Dentro das portas havia, em cada uma das prateleiras, na verdade em todas as partes internas haviam manchas de algo que ela julgou serem queimaduras químicas, sem perder muito tempo analisando as marcas, puxou o que parecia ser um fundo falso e o que antes era um armário esquisito e vazio, mostrou trazer dentro de vários dezenas de tubos de ensaio muito bem fechados e marcados.
Escorpiões Mediterrâneos, Harpias Adeanas, Belzebu, Peçonha Comum. Esses eram alguns dos nomes que Melissa encontrou nos frascos que tirou primeiro.
—- Duas opções. – Melissa pensou – Essas coisinhas podem ser antídotos ou só amostras de veneno. –
Ciente de que poderia se matar ao invés de se curar, a garota continuou procurando rapidamente entre os frascos aquele que a interessava.
Serpente do Éden. Ela finalmente achou o frasco certo.
Dentre todas as decisões que já havia tomado em sua vida toda, aquela era de certo a mais difícil. Sabia que se não tomasse, morreria lenta e talvez dolorosamente; se tomasse, talvez se curasse, ou talvez só fosse lhe provocar uma morte mais rápida e com sorte menos dolorosa.
Num impulso só a garota abriu o frasco e o engoliu inteiro.
Durante um momento, nada aconteceu. Melissa pensou que talvez morrer não fosse ser tão ruim assim, já que todos que amavam estavam do outro lado.
Em outro momento sua visão ficou turva e escureceu, tornando a ficar boa em seguida, erguendo-se do chão, Melissa percebeu o quão estava tonta. Então, apoiando-se aqui e ali, chegou até a grande e fofa cama e deitou-se de bruços para evitar que suas costas em carne viva encostassem em qualquer lugar.
Sua consciência foi diminuindo e sem que Melissa percebesse, seu mundo ser tornou escuridão.

Xx

Catarina andava erguendo o queixo, procurando os Winchester, com ajuda de seu felino Khan. Tinha a sua preciosa chave consigo, Miguel nunca havia faltado com sua palavra.
A mulher já havia avistado bem de longe quem procurava, mas um rosto que eclodiu como fumaça flutuando em sua frente a fez parar.
—- Balto?! – Ela forçou animação na voz, no entanto sua intuição dizia pra se preparar.
—- Graças aos Céus que eu te achei! – O tom preocupado dele beirava o desespero – Preciso falar com você e Dean sobre Melissa, urgente. –
—- Vai me dizer que ela foi feita refém no inferno, ou tem algo a acrescentar? – Um certo tédio tomou sua voz.
—- Você já sabe? –
Catarina fez sinal positivo enquanto cruzava os braços.
—- Sabe que Elena está envolvida? –
—- Meus olhos e ouvidos veem e ouvem tudo. Já estou a par dos acontecimentos. –
—- E o que vai fazer? – Uma ruga de irritação crescia na testa dele.
—- Vou busca-la quando entrar no Inferno com os rapazes. – Ela respondeu simplesmente.
—- Então Dean também já sabe? – Ele franziu a testa com mais força.
—- Não. E você, nem ninguém mais que estiver aí vai abrir um centímetro da boca ou vou fazer vocês morrerem entalados com a própria língua! – Ela usou o tom que sabia que assustava bastante.
—- Vai deixar a garota morrer, não vai? – Ele baixou o olhar.
—- Não. – Ela respondeu veemente – Só não quero drama. Preciso dos rapazes focados em uma tarefa: O Diabo. O caso de Melissa, eu vejo depois. – E antes que Noite pudesse falar mais alguma coisa, ela seguiu – Não teime comigo. Já disse que vou tirá-la de lá e eu vou. Agora assegure-se de fechar o bico dos que estiverem aí, eu chego em muito breve. –
Sem mais conversa, ela encerrou a conversação e fez seu caminho até os irmãos.

Xx

Sam viu Catarina se aproximar com Khan e se permitiu admira-la por mais alguns momentos.
—- Você ainda a ama? – Dean perguntou de cabeça baixa.
—– Uns dias atrás eu diria que abriria mão do meu direito de morrer pra passar a eternidade com ela. – Sam tinha uma expressão estranha.
—- E agora? – O irmão continuou a perguntar.
—- Agora... me sinto um idiota. Não era um feitiço, mas era uma obsessão. Foi muita coisa de uma vez só, e, ela não é a Jéssica e Kathe não era real. Acho que eu acordei no transe, Dean. –
—- Estou muito feliz com isso. Ela ferrou com a gente, mas não consigo não ter simpatia por ela. Miguel disse, que talvez seja por eu ser receptáculo dele... acho que faça sentido. -- 
—- Justifica para mim também. Lúcifer, afinal de contas, é doentiamente obcecado por ela. -- 
Dean não respondeu mais.
—- Rapazes, -- Catarina chamou – Vamos? –
—- O gato gigante também vai? – O caçador perguntou como se não estivessem falando dela segundos atrás.
—- Vai. – A mulher respondeu simplesmente quando abriu um pequeno portal.
Do outro lado Dean reconheceu o acampamento e viu de onde estava: Noite, Castiel, Kevin e alguém que não conhecia.
Ao terminarem a passagem, Catarina se adiantou até onde estava o desconhecido o abraçou e então virou para os irmãos:
—- Conheçam o Arcanjo Gabriel. – Ela disse com um dos braços por cima dele.
Todos se cumprimentaram cordialmente, mas havia algo nos rostos que Dean já conhecia bem e Catarina, que se comunicava com o olhar, tinha aquele que desafiava alguém a não cumprir as suas ordens. Ordens essas que Dean desconhecia. Por instinto, olhou para seu irmão que pelo jeito que retribuiu tinha percebido exatamente as mesma coisa.
—- Vou eu ou vai você? – Sam perguntou.
—- Deixa ela comigo, você sonda esse Arcanjo, eu não sei porque não gostei dele... tem cara de pilantra. – Dean provocou o irmão, quando se aproximando de Catarina a pegou pelo braço e a arrastou para um canto afastado.

—- O que foi, Caçador? – Ela se fez de desentendida.
—- O que você está aprontando? – Ele foi direto cruzando os braços.
—- Não gosto quando cruza os braços pra mim. – Ela passou as mãos pelos braços do caçador que desfez o nó.
—- Eu não gosto de cruzar os braços pra você e não gosto de saber que está tentando me enrolar. – Ele continuou sério.
—- Já me conhece tanto assim? – Ela não soou irônica.
—- Reparo em você faz tempo. – Respondeu – Agora pode por favor me dizer o que está forçando os outros a não nos dizer? –
Ela respirou fundo.
—- Dean, você confia em mim? – Ela perguntou.
—- Eu me esforço bastante. –
—- Uau. Eu já devia imaginar. – Deu de ombros, mas sorria.
—- Catie, espera, -- Ele a segurou pelo braço mais uma vez – Não é verdade. Eu confio em você sim. Não teria morrido por você se não confiasse. --
—- Se isso é verdade, me deixe continuar em silêncio, eu prometo que estou fazendo isso pra o melhor. Não é uma armadilha, Dean. Sei o que estou fazendo. –
—- Catarina... – Ele falou em dúvida do que fazer – Se isso for um truque, dessa vez eu mato você. –
Ela riu e passando a encará-lo, balançou a cabeça em negativa.
—- Não é truque. – Ela assegurou dando tapinhas no ombro dele
A mulher continuou sorrindo quando se afastou de Dean que a seguiu e se juntaram aos outros. Sam buscou o olhar do seu irmão que fez sinal de negativa.
—- Quanto tempo ela levou pra te enrolar e enfiar no bolso? – Sam zombou.
—- Ela não me enrolou. – O outro disse seguro.
—- Eu achava a mesma coisa. – O outro cantarolou.
—- Sam e Dean. – Noite chamou a atenção dos dois, lançando em suas direções talvez o armamento mais pesado que já haviam segurado – O que estavam esperando? – Perguntou o feiticeiro com um risinho nervoso – Nós vamos pegar o diabo, não vamos? Que seja com estilo então! –
—- Se você deixar a Mel pra trás... – Gabriel cochichou no ouvido de Catarina.
—- Vai me matar? – Ela revirou os olhos – Fique a vontade pra tentar... --

Xx

O Inferno era ainda mais congelante quando ser invadia pelas entradas menos convencionais. E a série de pinturas nas paredes ilustrando todo o tipo de tortura doentia que era improvável de se imaginar sozinho, não ajudava ninguém a relaxar.
—- Eu devia ter acreditado em você quando falou que seria mais frio do que da última vez... – Dean comentou enquanto uma fumaça saia de sua boca.
—- Se você não teimasse não seria você, Caçador... – Ela respondeu repetindo a atitude apreensiva que ele já conhecia.
Estavam num local de praticamente total escuridão, Catarina e Noite usavam seus dons para ajudar na visão.
—- Catarina isso está tão calmo, não está? – Noite falou perto da amiga.
—- Tão calmo que está me deixando nervosa. – Ela respondeu olhando ao seu redor.
—- Até que enfim! – Uma voz rouca e irritada surgiu ao lado dela que se sobressaltou.
—- Crowley... pensei que estivesse morto. Você sumiu... – A feiticeira se sobressaltou.
—- Devia mata-lo agora. Se sumiu tempo todo, pode muito bem ter mudado de lado. – Sam sugeriu.
Catarina olhou de Sam para Crowley.
—- Você me traiu, meu bem? – Ela sorria.
—- Não. – Ele respondeu encarando Khan com certo receio – Tive muita vontade, mas não. –
—- Ótimo. – Gabriel quase gritou – Então, você fica com a gente – Ele puxou Crowley pra perto de si e deu um empurrão em Catarina – E você vai fazer o que tem de fazer. – Ele usou um tom autoritário.
—- Concertar o seu erro você quer dizer? – Ela respondeu com um sorriso azedo e começando a se afastar com seu animal a seguindo.
—- Onde você vai? – Sam e Dean perguntaram, olhando-se desconfiados.
—- Surpresa. – Respondeu sem parar de se afastar – Obedeçam o Arcanjo, ele diz ser capaz de manter você vivos sem mim agora que já entramos... – A voz dela sumiu na escuridão.
—- Eu não estou gostando disso. – Dean cruzou os braços.
—- Você não tem de gostar de nada, só tem de obedecer. – Gabriel retrucou ríspido.
—- Você acha que ela volta? – Sam perguntou ao irmão e só lhe devolveu um olhar e mais palavra nenhuma, passando a frente de todos com das armas em punho.
—- Eu tenho fé, Sam. – Castiel respondeu – O melhor que você pode fazer é ter também. –

Xx

Cantarolando a canção que costumava cantar quando era criança e caminhava por aqueles corredores, Catarina seguia andando como se ali reinasse e não como se estivesse entrando para dar um golpe. Pois apesar da aflição que pulsava em seu coração, ela sabia que o efeito surpresa já havia se perdido, por isso não se escondia e também não se permitia tremer porque se alguém pudesse vê-la ali, a veria tranquila.
Usando um pouco de seu poder que era tanto, sentiu a energia de Melissa que parecia estar por fio.
Continuou em seu passo tranquilo
As batidas do coração da garota ela quase não ouvia, uma batida ali e outra um tempo depois.
E ela continuou em seu passo tranquilo. Sua misericórdia era limitada e sem testemunhas ela podia ser arrastar pelos corredores.
Agora ela sabia que estava perto da moribunda e quando levantou os olhos, se surpreendeu ao ver seu quarto. O grande “C” na porta branca. Todas as suas memórias num turbilhão e um nó instantâneo na garganta.
Ela acelerou seu passo pra dentro do quarto.
Encontrou o corpo com um resto de vida deitado de bruços na cama que era sua. Se aproximou até enxergar o grande estrago nas costas da garota.
—- Belo trabalho fizeram aqui. – Catarina arqueou as sobrancelhas – Só espero que não tenha sujado meus lençóis com sangue ou qualquer outra porcaria... – Ela conversava com aquela que o coração mal batia – Mas não é isto que está te matando, é? --
Olhando descuidadamente pelo corpo mole de Melissa, encontrou a marca da mordida.
—- O veneno do Éden. – Catarina soltou o pé dela de volta e cruzou seus braços – Boa jogada, Lúcifer. – Ela deu alguns passos pra trás até pisar em algo de vidro, algo que cortou seu pé.
Ao olhar o que lhe ferira, percebeu seu armário de venenos aberto e bagunçado, o vidro da amostra da Serpente do Éden vazio e agora quebrado.
—- Ah, Mel. – Ela falou pegando o resto de vidro do chão e se jogando na cama ao lado do corpo dela – Você achou que fosse um antídoto! Mas na verdade você só estava se matando... – Catarina deitou de lado na cama com o corpo inerte que respirava pouco, Khan subiu na cama também, deitando-se do outro lado.
—- Sabe, somos só eu e você aqui, eu posso não te fazer nenhum mal, mas posso deixar você morrer e ficar aqui assistindo... Ninguém nunca vai saber... sem falar que basta um feitiço bem feito, – Ela se aproximou do ouvido da garota e cochichou – e eu posso apagar você das memórias dos Winchester. Seria como se você nunca tivesse existido. – Ela riu virando-se de barriga pra cima – O que você acha, Khan? – Ela esticou o braço e brincou com o focinho do animal – Ou você acha que a gente podia fazer dela outra Ava? – A mulher mordeu o lábio e imergiu-se em algum lugar distante.
Uma baixa repentina na cama e um rugido de Khan a fizeram sentar de uma só vez e encontrar o tigre em pé como se quisesse alcançar alguma coisa numa prateleira. Foi só procurar um pouco mais para encontrar algo que a fez finalmente tremer e colocar pra fora toda a angústia. O Coração Azul de Darian batia dentro da caixa de vidro e parecia que batia mais aflito, como se tivesse a capacidade de ouvir o que ela estava dizendo desde que havia entrado naquele quarto.
Catarina levou a mão à boca, como num susto, seus olhos se encheram de lágrimas como se pudesse ver o olhar triste e decepcionado dele e ouvir sua voz implorar pra que ela não fizesse aquilo.

Não sucumba à escuridão, não permita que o sofrimento de outra criatura seja causador do seu deleite... porque não importa o quanto tu sejas soberana e tu és, meu amor, nada no universo lhe dará o direito de tratar alguma criatura como inferior, mesmo que ela seja, ou de brincar com sua vida. Porque a vida é o bem mais sagrado de todo o universo. Sendo assim, até o pior verme tem algo de sacro dentro de si. Por isso, lembre-se que ao invés de destruir, você deve preservar toda a vida que cruzar a frente dos seus belos olhos.

Sempre se apaixonara por homens tão bons e, Miguel, embora não fizesse o tipo poético, também costumava lhe dizer coisas semelhantes, ou simplesmente segurava sua mão e lhe lançava um olhar endurecido. Catarina também lembrava-se da forma como ele balançava a cabeça em negativa quando não era capaz de impedi-la. "Você é tão melhor do que isso, minha Rainha.". A voz do Arcanjo pareceu ecoar pelo quarto.

Lembrar-se daquelas palavras a fez sentir pior do que o tal verme ao qual Darian se referia e fez-se sentir indigna do amor do anjo. Agora, sem olhar diretamente para a garota desacordada, sentiu-se melhor por ver que ainda restava a ela um resquício de vida. Tocando o pé ferido garota e se concentrou apenas em curá-la.
Depois ficou de pé, em outro lugar do quarto localizou um conjunto de aparelhos semelhante a seringas, voltou pra perto de Melissa e injetou um liquido em uma de suas veias.
—- Se o Caçador tiver juízo ele vai tentar ter você de volta, garota. – Ela cochichou -- Só não seja tão chata e cansativa, isso quase acabou de custar a sua vida, literalmente. -- Catarina revirou os olhos.
Estava pronta pra sair dali quando notou a falta de Khan e antes ainda que pudesse chamar por seu nome, sentiu uma mão fria tapar a sua boca sem cuidado algum e sentiu algo igualmente gelado prender seu pulsos, sua força mágica fugiu de seu alcance.
—- Seja Bem-Vinda ao lar, minha predileta. – A voz do Arcanjo Sombrio cochichou em seu ouvido e algo bem pontudo arranhou sua garganta – Tinha esquecido como era linda sua Adaga – Catarina engoliu em seco – Agora, o que você acha de nós deixarmos a princesinha aqui e irmos confraternizar com os bonecos de barro que você apadrinhou. Acho que estão todos a nossa espera... – Ele desceu a ponta da adaga pelo pescoço dela até o meio de seu abdômen.
A dor que a Adaga lhe causava era a pior que alguém podia imaginar, mas ela era ruim o suficiente para se manter em silêncio por mais que seus poros gritassem e que seu sangue mágico escorresse em finas gotas manchando toda porcelana de sua pele.

Continua... :O


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Notas finais do capítulo

Já sabem, né? Quero muito saber o que acharam! E principalmente se ainda tem alguém aí... kkkkkkkkk Estamos finalmente no fim de tudo, então sintam-se a vontade pra falar o que bem entenderem!
bjs
( O Próximo capítulo já esta pré-pronto, por isso agora nada de demora catastrófica)



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