Heavenly Hell escrita por Ju Benning


Capítulo 29
Silver Assassin


Notas iniciais do capítulo

Mais um cap chagando. Reta final apertando, já vemos a linha de chegada! Não vou gastar muito o tempo de vocês aqui, mas agradeço pelas leituras e principalmente pelos comentários!
Bjs e boa leitura! Bajo vcs nas notas finais :*



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O tom alaranjado do céu finalmente estava sendo vencido pela escuridão da noite, que ainda assim não era amedrontadora, era agradável na verdade, a brisa era boa e acolhedora. O tamanho da Lua no céu chegava a assustar, era absurdamente grande e branca, mas assim como o Sol, misteriosamente não incomodava aos olhos de quem observava.

Apesar de já ser noite, ainda havia festa em alguns dos cantos daquele lugar.

—- Isto tudo ainda é sobre o coração do cara morto? – Sam falou quando saiu da enfermaria acompanhado por Zoey. Ela havia dito (mandado) que ele testasse o joelho.

—- Um pouco. – Ela maneou a cabeça – De uma forma ou de outra a noite hoje é de festa... acho que temos uns dois ou três nascimentos para a madrugada de hoje... e sabe, não vou gastar seu tempo contando detalhes... Mas hoje em dia, aquele rio que divide o território em dois não serve mais para nada. Tecnicamente esse é o lado dos Elementais, então não haveria festa para nascimentos durante a noite, porque para esse grupo de feiticeiros, não existe benção de anjo mostrada pela Lua. – Ela deu ombros, observando o joelho do homem, que se movimentava como o esperado.

—- Então, porque haverá festa? – Ele olhava ao redor aos poucos ganhando confiança em sua perna recém consertada.

—- Como eu disse, a divisão já era. Agora todos podem e mais do que isso querem ir e vir, aproveitar o melhor dos dois lados... – Ela respondeu.

—- Bonito. – Sam falou sem se cansar de olhar o tamanho daquela lua.

Zoey riu.

—- Bonito agora. Houve uma guerra pela unificação, foi bastante sangrento e culminou na morte Darian. Ava era uma das líderes que defendiam a continuidade da separação junto com a mãe de Catarina. –

Sam ficou de cenho franzido.

—- O que aconteceu com a mãe dela? – Ele perguntou sendo aquela realmente a primeira vez.

—- Maya... – Zoey engoliu em seco.

Nesse momento a lua ficou completamente azul, interrompendo a conversa.

—- Uou. – Ele exclamou.

—- Mais uma feiticeira azul, que não tem padrinho! – A voz de Catarina chamou a atenção dos dois. – Já que felizmente o traste do Rafael não existe mais... – Ela suspirou dando de ombros.

—- Um brinde a isso! – Zoey brincou. E as duas riram uma pra a outra, embora o desconforto fosse notável.

—- Pensamos que estaria na enfermaria, Sammy. – Falou Dean.

—- Eu estava, mas Zoey quis testar meu joelho. – Sam explicou olhando para Catarina por mais do que um breve segundo.

—- Zoey é sempre tão prestativa... – Ela sorria forçadamente – Obrigada, meu bem. –

—- Não tem que agradecer nada, Sam é uma graça. – A outra respondeu no mesmo tom – Se divertindo? – Ela apontou de Catarina para Dean.

—- O que ela quer dizer com isso? – O caçador franziu o cenho receoso de que Zoey estivesse vasculhando em sua mente.

—- Nada. – Catarina respondeu sorrindo – Não fui mostrar o lugar a ele. Tinha algumas preocupações políticas e pessoais. Como você está, Sam? – Ela soava ainda mais distante que ultimamente.

—- Não foi nada, Catie. Eu que fico feliz de ver que você está bem. – Ele sorriu.

A Feiticeira olhou pra Dean mais uma vez que sorriu e piscou pra ela de leve.

—- Sam, -- Catarina continuou – que acha de conhecer o lugar? Tem coisas legais pra ver. --

O homem riu baixando a cabeça por um momento.

—- Eu acho que adoraria... tem muitas coisas lindas pra ver. – Respondeu levantando o olhar para ela.

—- Vamos por aqui. – Catarina começou a andar e Sam a acompanhou.

Dean olhou os dois se afastarem como se não estivesse mais se dando conta de Zoey ali.

—- Que feio, Dean. – Ela falou de repente.

O outro voltou a olhá-la confuso.

—- Desculpe, o que disse? – Ele falou atordoado.

—- Eu vi esse olhar... – Zoey respondeu como se fosse óbvio.

O outro balançou a cabeça negativamente e sentou-se na grama dourada tranquilamente, não parecia fazer muita questão da presença da outra e por isso a ignorou.

Zoey também se manteve em silêncio por um tempo, mas não saiu de onde estava, o que começou a incomodar um pouco o Caçador. Dean adoraria ficar um pouco só, precisava pensar sobre o plano b que Catarina havia proposto. Precisava pensar no que seria melhor num contexto geral. Não só para eles, mas para ela também. Ignorar o que Catarina sentia por Lúcifer, a quem ela amava, não estava mais nas considerações dele. Não era justo.

E além de tudo isso precisava se preparar, havia conversado muito mais coisas com Catarina, sabia em partes o teor da conversa dela com seu irmão, por isso espera que Sam voltasse em pouco tempo e sabia que ele não estaria com o melhor dos ânimos.

Xx

—- Então, – Catarina quebrou o silêncio – o que achou de Zoey? – Ela mantinha os braços atrás do corpo uma mão segurando a outra.

—- Ela fala bastante, mas não parece ser o tipo de criatura que faz mal a alguém. – Sam respondeu, notando o desconforto da Feiticeira.

—- Você tem toda a razão. – Respondeu rindo por baixo da respiração – Na verdade ela é a vítima perfeita. Simpática, inocente e transparente. A receita do caos. –

—- Eu acho que são característica boas a se ter... tornam as pessoas confiáveis. – Tentar ler de alguma forma o que se passava mente daquela mulher era perda de tempo, Sam pensava enquanto a observava caminhar.

—- Então o que acha de alguém como eu que não tem nenhuma delas? – Ela virou-se abruptamente para olhá-lo nos olhos.

—- Eu... – Foi a vez de Sam não saber o que responder – Kathe tinha... eu me apaixonei por ela... – Sam tinha mais a dizer, mas foi interrompido.

—- Kathe foi um engodo premeditado, baseado na sua Jéssica Moore, baseado na sua mente, construída para que você se apaixonasse por ela... – Catarina empurrou Sam de leve e seu tom era urgente – Kathe funcionou e foi criada por mim. Catarina. Eu nunca falho nisso, Sam. Dissimular e persuadir são as minhas habilidades mais aguçadas. – Ela respirou fundo – Kathe é uma mentira, desista dela de uma vez. Esqueça-se de mim, parta para outra, porque eu nunca estive nesse barco realmente. Eu sempre vou magoar você, como quando trouxe seu irmão de volta às suas costas, ou como quando te dei meu diário para salvar a mim mesma, na verdade – Ela deu de ombros – É isso que eu sou Sam. Meu passado, a criança que tinha na imagem que você no Salão das Artes, não existe mais, talvez nunca tenha existido. O que eu sou é o resultado de todas as distorções, pecados e tragédias do longo de todos os meus milhares de anos. – Ela o olhou por um tempo considerável, e parte do desconforto parecia ter se esvaído – Me desculpe, Sam. Eu devia ter arranjado outra forma de te fazer confiar em mim e ficar sob meu controle... –

Sam a olhava atônito.

—- Você sabe ser mesmo cruel com as palavras – Ele falou colocando uma mecha do cabelo dela atrás da orelha – E tudo aquilo que você falou, é verdade, eu estou ciente, mas eu continuo apaixonado por você... e estou disposto a... –

Mais uma vez Catarina o interrompeu, erguendo seu dedo indicador.

—- Não termine essa frase, Sam. Pelo seu bem. Não faça mais isso com você – Então ela abaixou o dedo e fazendo sinal para que ela a seguisse, Catarina desceu algo parecido com um barrando até a beira do rio prateado, onde havia uma espécie de gôndola boiando. A mulher entrou nela e o homem a seguiu.

Um simples movimento de mão dela e embarcação seguia encantadamente sozinha rio abaixo. Ela sentou-se em uma das pontas e com ajuda de seus poderes improvisou uma espécie de capa branca, macia e de aspecto pesado, onde se enrolou.

—- Sempre sinto frio perto desse rio... ele é lindamente mórbido. – Falou recostando-se na lateral da embarcação – Mas aproveite a vista do passeio, é linda. – Comentou por fim desviando o olhar para o Céu e ficando em silêncio.

—- Por que não quis mais conversar? – Sam falou depois de algum tempo.

—- A conversa não estava tomando o melhor rumo. – Ela resumiu-se a falar, quando baixou a vista para observar a fortaleza do outro lado de rio. A que parecia ser feita de cristal -- Eu preferia ter te jogado um feitiço para então poder desfazê-lo, porque já estou ficando cansada de explicar! -- Apesar de suas palavras, não estava soando rude.

—- Eu dizer que estou disposto a entender você como você é não é um bom rumo? – O tom de voz de Sam elevou-se, mas não se tornou agressivo.

—- Não! Isso não muda nada. – Ela deu de ombros.

—- Outch. – Sam falou esticando o braço para fora da gôndola, com intenção de tocar a água.

—- Não faça isso! – Catarina falou num tom quase desesperado, que fez Sam trazer a mão de volta à embarcação -- Essas águas não são confiáveis. – Ela explicou voltando a se encostar na lateral da embarcação.

—- O que ia acontecer? Eu ia ficar mortalmente molhado ou algo assim? – Sam falou em tom de zombaria.

Ela o olhou sem humor.

—- Você seria puxado para o fundo desse rio, o que significa muitos metros abaixo de nós. E o Assassino de Prata ia fazer um jogo com você, em que se você ganha das correntezas, de suas algas, de todas as amarras dele, consegue voltar à superfície e tenta vencer o fluxo do até a margem para então sair. Se o rio ganhar, você morre. Afogado e esquecido para sempre no fundo das águas prateadas. – Ela sorriu maldosamente ao final da fala – Humanos não costumam se sair bem nesse jogo. Vocês morrem fácil demais. –

—- Assassino de Prata é o nome do rio? – Sam olhava meio assustado para a água que antes achava tão bonita.

—- Apelido carinhoso. – Catarina sorriu de lado.

—- Mas, voltando ao assunto... O eu devo fazer então? Porque, no fim das contas, você fez isso com a minha cabeça. – Sam retomou a conversa.

A Feiticeira suspirou, buscando a melhor maneira de contar algumas coisas.

—- Agora... minha bagunça fugiu do controle. – Ela riu sem humor -- Sabe Sam, embora meus códigos morais sejam diferentes dos seus, eu estou tentado levar conta ambos nesse momento. Porque para mim sexo pode perfeitamente não significar nada, um detalhe, não tem nada a ver com amor. – Ela engoliu em seco – Eu costumo usar esse artifício porque vocês homens são extremamente fáceis de manipular nesse aspecto – Ela havia se curvado na direção dele, como olhá-lo mais de perto fosse ajudar em alguma coisa -- O que eu não esperava era alguém fosse levar tão a sério, eu não sabia que o seu sentimento pela Jéssica era assim tão forte para o resultado ser esse com o qual nos deparamos agora. -- Ela suspirou -- Eu quero libertar você, deixando tudo muito claro, Sam, mas você precisa colaborar. --

Sam balançou a cabeça em negativa, quando com mais um movimento de mãos, Catarina fez a gôndola encostar-se à margem e desceu da embarcação, ainda completamente envolvida pela capa. Sam a seguiu.

—- Então me fale sobre a noite depois que trouxe Dean de volta a vida, já que disse que está tentando ser muito clara... – Ele franziu o cenho.

—- Não vamos por esse caminho... eu não quero magoar você de novo! – Ela exclamou ao começar a andar pela bela grama do lugar.

—- Eu entendi tudo o que quer dizer, compreendi que nunca houve nada de verdade, nada além de manipulação e posterior piedade – Ele a alcançou -- Mas se quer ficar quite comigo, seja de fato, totalmente clara. --

Catarina pendeu a cabeça para trás.

—- Pelo amor de Deus, Sam, você precisa mesmo que eu te informe? Você acha que Dean passou a noite inteira tentando me encontrar naquela floresta? Aquele lugar nem é tão grande assim! – Ela exclamou voltando a andar na frente dele.

—- Se você não quisesse ser encontrada... – Sam falou, mas já começava a compreender o que havia acontecido, embora fosse difícil acreditar.

—- Mas acontece, – Ela virou-se pra ele de supetão mais uma vez, com os olhos marejados – que tudo que eu mais quis, foi que ele me encontrasse, afinal, você estava mesmo certo, olhá-lo é como encarar Miguel e isso não tem preço... -- Seu rosto se curvou num sorriso com um devaneio.

—- Então foi isso que aconteceu... Usou meu irmão para matar a saudade que sentia do seu anjo. – A expressão de Sam se transformou de um jeito inexplicável.

—- Ninguém me acalma como Miguel, mas seu irmão é um cara e tanto, nem houve tanta dissimulação assim. – Ela falou por fim, tomando um caminho diferente do que achou que ele fosse seguir.

Sam realmente não a seguiu, mas perguntou de onde estava:

—- Você pelo menos se arrepende do que aconteceu? – Seu tom era amargo.

Catarina demorou algum tempo para responder, gostar dos dois rapazes não a impedira de brincar com eles, talvez devesse simplesmente ter voltado para Lúcifer ou Miguel após ter acordado e ter deixado a profecia bíblica tomar seu caminho natural. Afinal, muito provavelmente o afeto pelos Winchester derivava de seus reais sentimentos pelos dois Arcanjos em questão.

—- Eu não sou uma boa garota, Sam... – Ela continuou seu caminho, após responder genericamente – Sei que não vai me seguir. Mas tenha cuidado, não vá morrer. – Foi o último aviso dela antes de sumir.

—- Eu sobrevivi a você. Eu vou ficar bem. – Sam retrucou seco.

Sam ficou em pé, avaliando o que sentia e percebendo que talvez aquela fosse uma das piores sensações que já havia tido em toda a história. Percebeu que nunca tinha sentido o que sentia naquele momento em relação ao seu irmão. Afinal, que Catarina estivesse mentindo, dissimulando ou simplesmente sendo louca ele já devia desconfiar, mas Dean sabia o que se passava pela mente do caçula e Sam sentia-se traído.

Xx

Gabriel ficou paralisado olhando a moça a sua frente e Melissa a olhava tentando entender como aquela moça podia parecer tanto com Catarina.

—- Do que você fugiu, Elena? – Gabriel perguntou olhando-a de maneira arredia.

—- Alif morreu e a culpa é minha de certa forma, eu estou com medo de ser levada a julgamento. – Sua perturbação não parecia fingimento.

—- Alif? – A expressão de Gabriel caiu – O que houve? O que você fez, Elena? – Ele andou na direção dela.

—- Ele foi a uma caça ao dragão por mim com Otto. Eles estavam me disputando. Só que Otto matou Alif! Ele sabia que mesmo que ganhasse aquela disputa idiota eu não seria dele... então matou o Coração Azul. – Elena se abraçou e andou até Gabriel – Você entende porque podem me culpar? –

—- Não exatamente... mas se você diz... – Gabriel balançou a cabeça – Agora me o que veio fazer aqui? Como me achou? –

—- Eu procurei as feiticeiras prateadas que estavam na Terra pra ver se achava sua energia perto de algumas delas... Então achei ela. – Elena apontou para Melissa – Mais uma que caiu no seu charme, anjinho? – Havia uma forte ironia na voz dela – Vai dizer que não teve a intenção agora? –

—- E eu não tive... – Ele olhou pra Melissa de canto – Foi um mal-entendido. –

—- Sim... – Elena olhava nos olhos de Mel – Afinal, eu vejo que ela gosta de outro... Dean Winchester. –

—- Saia da minha mente! – Melissa exigiu irritada.

—- Ah, querida, você acha que ele está morto? – Elena continuava a vasculhar a mente da outra.

—- Claro! Porque é isso que ele está! – Devolveu a outra.

—- Não. – Elena riu debochada – Ele está vivo e está na dimensão mágica, com a minha mãe. – Ela riu de lado – E um tal de Sam também. --

—- O que? – Melissa sentiu o ar sair de seus pulmões – Não é possível, isso não faz o mínimo sentido! – Acima da cabeça da garota sua Fênix voava em círculos como se observasse tudo ao seu redor e sentisse a irritação da dona – Eu vi o corpo de Dean... e a filha de Catarina morreu, como ela pode ser a sua mãe? –

—- Ela tem dois filhos adotivos... digo, tinha, agora que Alif morreu também, ela só tem Elena. – Gabriel explicou uma das perguntas e se o momento não fosse tão tenso, Melissa teria rido da expressão confusa dele.

—- Céus. – Melissa suspirou – Tudo bem. Mas isso não explica o fato de Dean estar vivo. --

—- Dean morreu de fato. Mas não ficou morto. – Elena deu de ombros – Sabe, uma das vantagens de ser uma feiticeira negra é poder burlar as leis naturais e trazer alguém de volta à vida... –

—- Não é bem assim, Elena. E você sabe disso! – Gabriel irritou-se – Se fosse o caso Hanna estaria viva. –

—- É claro que não... magia negra não atinge crianças, ou criaturas iluminadas como Corações Azuis. Sem falar nos riscos maiores que uma alma pura corre, caso ainda se consiga atingi-las.– A loira o olhou de esguelha – Mas Dean está longe de ser alguém puro, você não acha? --

—- Cuidado com o que fala. – Melissa trincou os dentes – Você está no meu Rancho, garota. E eu não vou me importar em ser educada se você não sair da minha propriedade imediatamente. –

—- Ah, mas é claro que eu estou com muito medo. – A outra ironizou, com a grama se movendo sinuosamente aos seus pés.

—- Eu não perguntei como se sentia. Eu mandei você sair. – A Fênix voou mais baixo.

—- Vai me arrastar pra fora? – Elena cruzou os braços

—- Garotas... – Interferiu o Arcanjo.

—- Fica fora disso! – Gabriel recebeu um berro em uníssono das duas.

—- Ainda estou esperando que me tire daqui. – Debochou a loira.

—- Com todo o prazer. – Melissa riu quando seu pássaro voou ferozmente com as garras na direção do rosto da garota.

O que Melissa não contava era que Elena também tinha uma mascote, algo que combinava com o pouco que conhecia da garota. Uma cobra enorme, que faria uma piton chorar e se esconder, levantou-se da grama aos pés de Elena e enroscou-se na Fênix que voava baixo o suficiente.

Os animais se engalfinharam pela grama, em algo que poderia ser considerado muitas coisas, menos amigável.

—- Pensou que era a única a ter um mascote, Mel? – A loira provocou – Bom trabalho, Jade. – Ela falou com sua cobra, que ainda se digladiava com Fênix.

A garota engoliu em seco e desviou o olhar por apenas um segundo. Tempo o suficiente para que Elena jogasse algo que parecia um daqueles raios de dias chuvosos na direção de Melissa. Que com o simples intuito de se proteger, esticou os braços e não esperava se dar bem, mas toda a energia que ia na direção dela se concentrou como uma esfera, centímetros antes de tocar as mãos de Mel.

—- Eu estou controlando... – Melissa sussurrou para si mesma antes de deixar seus instintos trabalharem e fazer daquela defesa um ataque.

Ver aquela loira intrusa cair de joelhos e com cara de dor, foi a melhor coisa que ela havia feito em muito tempo. Mesmo que sua Fênix não tenha levado a melhor, estava bem e empoleirada no braço da dona.

—- Tira ela daqui. – Melissa rosnou para Gabriel, enquanto andava em direção à sua casa – Ah, me diz uma coisa, quando você refez o rancho a caminhonete da minha irmã voltou junto? –

—- Sim. – Gabriel respondeu um tanto boquiaberto.

—- Ótimo. – Respondeu seca – Eu vou sair. Tenho umas contas a acertar com um morto-vivo. Mas quando eu voltar, se eu ver um maldito fio loiro dessa garota aqui. Você já era. –

—- É cedo demais, Melissa. – Gabriel interferiu.

—- Quem vai dizer isso sou eu. Antes que você apareça com mais algum mal entendido. Mas não se preocupe eu vou e volto rápido. Quando aquele maldito puser os pés de volta na Terra, eu vou entregar um belo tapa naquela cara dele e logo estarei de volta. Você não vai nem sentir a minha falta, anjo. –

Melissa estava pela primeira vez em muito tempo a encarar aquela maldita caminhonete vermelha. Pois de todas as vezes em que tentara dirigir aquela coisa não havia nada dado certo. Quem sabe agora com a motivação certa...

—- Vamos, meu bem, você tem de andar. – Ela conversava com a caminhonete quando encontrou a chave no esconderijo e a colocou na ignição.

Xx

Seus passos um tanto descuidados a levaram até a aglomeração do povo mágico que dançava, cantava e comemorava. Num festival de magias pirotécnicas e barulhentas. Seria bonito, se Catarina estivesse no ânimo de comemorar.

Mas havia uma música ao fundo, uma das suas preferidas de quando morava ali, há mais tempo do que ela gostava de admitir.

Dançar com você é a melhor parte de qualquer dessas festas.” Ela lembrou-se da voz de Darian, da frase que ele repetia com frequência. Ela parou onde estava e de repente alguém tirou a capa de cima dela, realmente não era o traje mais apropriado para aquela ocasião.

O cheiro do incenso queimando trouxe mais memórias que ela parecia ter esquecido em algum lugar em meio a tantas outras.

Que cheiro é esse, pai?” Ela se lembrava de ter perguntado na primeira vez que sentira aquele cheiro “É incenso de canela rubra, minha menina.” Catarina riu ao perceber que ainda lembrava da voz de seu pai.

A memória que veio em seguida, foi de algo que seu pai com certeza não a havia ensinado, mas foi uma das coisas que mais havia gostado de aprender. Chá de Papoula Estrelada. Maravilhosamente delicioso, absurdamente alucinógeno.

—- Chá? – Umas das feiticeiras que serviam comida e bebida parou ao lado dela guiando uma bandeja encantada servido o delicioso chá, em taças de aproximadamente 300 ml.

Catarina tirou duas daquelas maravilhas para si e tomou a primeira de uma vez, recolocou a vazia em cima da bandeja de novo e pegou mais uma taça cheia, voltando a ter duas nas mãos.

—- Obrigada. – Falou à garçonete sorrindo e logo se perdeu no meio de todas aquelas criaturas. Feiticeiros, Mascotes, Guardiões. A maioria fora de si, dançando aquela música, encharcados brincando dentro da fonte que se erguia no meio daquele pátio, arriscando acrobacias mágicas, voando, se amando. Tudo aquilo era familiar, era bom. E aos poucos a sensação de estar tão fora de si, limpava todo e qualquer problema da sua mente.

Pouco tempo depois e uma taça a mais, os barulhos tinham cor e as cores conversavam com ela. O fogo que vinha das suas mãos e pés enquanto dançava era tão macio quanto os lençóis de sua cama.

Além do que, na sua mente drogada, tudo estava bem, ninguém havia sido morto ou traído. Naquele momento sua vida inteira tinha sido um sonho bom e ela jurava que podia ouvir a risada do seu anjo perto de seu ouvido, Miguel sempre amara vê-la se divertindo.

Xx

—- Então, você não é muito de falar, né? – Zoey sentou-se do lado de Dean.

—- Não. Eu não sou. – Respondeu seco.

—- Hmm... mas eu posso supor também que você está é de mau humor. – Ela arriscou a continuar a conversa.

—- Errou. Eu só não estou pra conversa mesmo. – Ele retrucou com raiva.

Um momento longo se silêncio se seguiu, até Zoey voltou a falar.

—- Então... Eu conheci Andrea, sabe? –

—- Conheceu quem? – Dean franziu o cenho.

—- A mãe da Mel. – Ela explicou.

—- Sabia que bisbilhotar na mente alheia é feio? – Ele continuava seco.

—- Desculpa, eu não estou acostumada a encontrar mentes desprotegidas. – Ela deu de ombros – Sabe, às vezes, vocês homens são meio lentos, mas a garota, a Mel. Eu nem precisei olhar na mente dela pra saber que ela te ama, de verdade. –

Dean ficou suspirou e a olhou de esguelha.

—- Eu não vou falar sobre isso com você. –

—- Às vezes um estranho é o melhor companheiro para um desabafo. –

—- Sem chance. –

—- Sam é muito mais simpático. – Zoey falou para si mesma – Por falar nisso ali vem ele! – Ela pareceu sorrir mais – Mas não está com a melhor das expressões. –

Dean ficou em pé o mais rápido que conseguiu.

—- Canalha. – Foi a única palavra que Sam disse antes de acertar um soco no queixo do irmão.

—- Tudo bem eu mereci. – Dean falou passando a mão pelo lugar onde havia apanhado.

—- Não traiu só a mim, a Mel também... – Sam continuou a gritar com raiva para o irmão e o bateu novamente – Quer saber? Você merece ela, você merece ser usado para que ela mate as saudade do Arcanjo-mor. –

—- Já chega, Sam. – Zoey interferiu segurando mais um soco dele com a apenas uma mão e nenhuma força – Você já deu o seu recado. –

Dean ficou em pé onde estava, não tinha nada pra falar, nada que fizesse diferença.

—- Você não tem mesmo nada a dizer? – O caçula insistiu.

—- O que quer que eu diga, Sam? – Dean perguntou, limpando o sague que escorria do canto da boca.

—- Nada. Não diga nada. – Zoey interferiu mais uma vez. – E você, valentão, vem comigo de novo! –

—- Vai me levar até a Terra? Por que esse é único lugar pra onde eu vou agora. – Sam a olhou incisivamente.

—- Não, você não vai. Vai ficar aqui até esfriar a cabeça e eu vou ficar de olho em você! – Ela respondeu, tendo que arrastá-lo consigo – Só pare com isso, antes que se ofendam de um jeito que não tenha volta. –

Sam não deu resposta e finalmente caminhou com Zoey.

—- Pra onde você o está levando? – Dean falou de onde estava.

—- Acho que é melhor você não saber, precisam de umas férias um do outro, mesmo que seja de curta temporada. – Zoey respondeu em seu tom calmo.

Dean esperou que seu irmão sumisse e fez outro caminho. Já que estava sozinho naquele lugar, precisava encontrar Catarina, ou algum dos anjos, alguém conhecido.

Xx

Quando chegou à rodovia melissa se convenceu finalmente de tinha aprendido a dirigir. Tinha pego a caminhonete vermelha, a que nunca conseguira andar mais de cem metros sem estancar ou sacudir insuportavelmente, e estava a todo o vapor trocando as machas como se fossem na verdade velhas conhecidas.

Ao seu lado, um pouco ferida, a Fênix que havia começado a perder as penas, agora estava começando a ficar toda cinzenta. Mas Mel subentendeu que estava prestes a virar cinzas e nascer de novo, bela mais uma vez.

—- Acho que precisamos te dar um nome... – Ela falou para a ave, que emitiu um som de volta.

Nesse momento, Melissa sentiu o Sol em seus olhos e puxou a viseira do carro, de caíram não só o documento do veículo, como uma foto dela com sua irmã. Clarisse era iluminada, um pessoa boa de verdade, a saudade que Melissa sentia apertava seu peito. E então a ave emitiu mais um som e Melissa voltou a olhá-la.

—- Acho que nós duas já sabemos qual vai ser seu nome, não é? – Melissa olhou mais uma vez para a foto e guardou no bolso do short jeans que usava – Vai ser legal voltar a dizer o nome “Clarisse” em voz alta e alguém responder, mesmo que não seja humano. –

Essa pequena distração, foi suficiente para que algo ou alguém que não havia visto chegando pulasse em cima do capô do carro sem se preocupar com sutilezas.

—- Nos encontramos de novo, Melzinha. – Era Elena de pé em cima do capô, como se o movimento do carro não fosse nada. – Ou você pensou que ia me deixar de joelhos e me vencer daquele jeito, ainda dando ordem? – Com um toque no vidro o mesmo estilhaçou como se fosse poeira.

Melissa freou o carro de repente, para que o impulso do ato jogasse a outra de cima do capô.

—- Ah, eu vou cair, mas você vem junto. – Foi o que a loira disse antes agarrar as mangas do casaco que Mel usava e aproveitar o freio e arrastar a outra pra fora do carro. Elena jogou as duas no asfalto.

Melissa perdeu a consciência durante o acidente, sofreu uma pancada forte na cabeça ao bater no asfalto.

Elena levantou-se depois de usar sua magia para curar as suas feridas e então, sem cuidado algum pegou Melissa pelos braços e a arrastou para fora da estrada.

—- Sabe que eu amo quando caem nas minhas histórias? – Elena falou para a Melissa desacordada – Eu fugi porque tive medo do julgamento. — Ela repetiu a própria fala – Bem, eu estou com medo de enfrentar um julgamento, mas eu não recorreria à Terra, ou ao Gabriel... eu recorri a alguém que quer muito rever você, sabe? Acho que você vai se lembrar de Lúcio, Melzinha. –

Elena parou e abriu um pequeno portal, então voltou a arrastar a outra.

—- Nossa, você é pesada. – Reclamou – Vou te recomendar um regime quando você acordar. – Foi a última coisa que a loira falou antes de que o portal se fechasse às suas costas.

Melissa abriu os olhos e estava numa sala completamente preta, do chão ao teto, não havia um pingo de luz, a garota não conseguia ver a si mesmo, mas sentia muita dor em sua cabeça, instintivamente tentou levar sua mão até o local. Mas algo a impedia, algo que junto com os barulho metálico se mostrou ser uma corrente. A garota aos poucos sentiu o pânico tomar conta de si e mais ainda quando uma luz acinzentada e sombria se acendeu num ponto mais distante de onde ela estava. Embaixo dela estava seu velho conhecido Lúcio, quem ela já sabia ser Lúcifer.

—- Olá, Mel. É um prazer vê-la novamente. – Ele falou com um sorriso de lado e as mãos para trás.

—- Não posso dizer o mesmo, Lúcifer. – Ela respondeu começando a puxar as correntes com ainda mais força – Como eu vim parar aqui? –

—- Elena foi ao seu Rancho fazer um favor pra mim em troca de proteção. E o favor era trazer você aqui. –

—- Posso saber por que? – Ela atreveu-se a perguntar.

—- Bem, existe um plano contra mim e eu gosto de estar prevenido, estar um passo a frente... e eu já peço desculpas não era pra ser você. Mas Dean e Sam estão sob os olhos de Catarina e Miguel, eu fiquei de mãos atadas... então recorri a você. A mocinha protegida. – Ele riu andando para mais perto e agarrando uma outra corrente – O que agora eu acho que foi mesmo melhor, porque Sam virá por você, Catarina, mesmo que seja por remorso, também virá por você e Dean igualmente, acho que ele tem pena de você, da sua história, da sua desgraça... ou talvez seja só solidariedade. – Ele deu de ombros e puxou a corrente que segurava, como se fosse uma roldana, Melissa foi erguida até que seus pés mal tocassem o chão – Mas isso não importa. O que importa, é que em breve, estarão todos aqui, mas não estarão aqui com um belo plano arquitetado, estarão desesperados para salvar você. E eu preciso confessar, Mel... –

—- Que você gosta do som da própria voz? – Ela interrompeu tentando alcançar os pés no chão e ignorar a dor nos braços.

De uma pra a outra a voz do Arcanjo estava em seu ouvido.

—- Não... o que eu ia dizer é que eu gosto de dar veracidade as coisas. E ver você pendurada, desespera menos do que ver você pendurada e sangrando. – Ele riu com malícia mostrando o motivo estar com as mãos pra trás: Ele trazia consigo um chicote, daqueles com muitas pontas e metal feitos para rasgar em cada uma das pontas.

Melissa olhou aquele objeto e não conseguiu não entrar em pânico.

—- Você é doente! – Ela exclamou se sacudindo para se soltar.

—- Também não... essa só foi a minha parte favorita da paixão de Cristo. – Ele riu enquanto rasgou as costas da blusa de Mel – Agora sim, podemos começar – Completou passando a mão sobre a pele dela, se afastando em seguida -- Se ao menos sua pele fosse como a dela... -- Ele suspirou levemente nostálgico -- talvez eu tivesse pena de rasgá-la. --

Melissa engoliu em seco e se preparou, torcendo para que saísse dali pelo menos viva.

O primeiro golpe não demorou a vir, a dor era incomparável, inexplicável. Ela conseguiu sentir a pele se desgrudando de seu corpo e o sangue escorrer. Antes que a primeira onda de dor tivesse passado, veio o segundo golpe e depois mais outro. A garota pensou que fosse desmaiar ou ficar insensível a qualquer momento, mas nada daquilo se tornou verdade. Nada ali existia além da dor.

—- Ajuda... – Ela sussurrou no meio da dor, sussurrou desejando que alguém ouvisse.

Xx

Dean Winchester havia andado por um tempo considerável, devia ter se perdido pelos campos abertos e iguais em alguns pontos, mas finalmente havia encontrado o caminho até o pátio central onde havia sido o foco de uma festa que estava se deslocando ao longo da margem do rio, exceto por alguns indivíduos que continuaram suas festas pessoais bem onde estavam. Aquele era bem o caso de Catarina.

Ela havia subido na fonte, estava encharcada e no momento se divertia tentando se equilibrar na beirada da fonte, não havia mais música naquele lugar, mas ela cantarolava de olhos fechados.

O Caçador a observava incansavelmente enquanto se aproximava, não era possível que depois do que havia acabado de acontecer ela estivesse se divertindo, mas a cada passo que ele se aproximava dela, percebia que havia algo estranho.

—- Catarina. – Ele chamou quando chegou perto o suficiente.

Ela que parecia estar aérea, em qualquer lugar menos ali, abriu os olhos para encará-lo e depois de pisca-los muitas vezes desceu da fonte num pulo, com o olhar de quem foi pega no flagra.

—- Desculpe-me por estar toda molhada. – A voz dela estava discretamente grogue e Dean estranhou a formalidade.

—- Catarina você bebeu? – Ele perguntou cruzando os braços em frente ao peito.

A expressão da mulher mudou completamente, ela pareceu indignada e assustada, levou as mãos a boca por alguns segundos.

—- Eu podia ter bebido, não é? – Ela segurou um dos ombros de Dean e levou a outra mão ao ventre – Onde eu estava com a cabeça? Eu não podia ter bebido! E agora? Me desculpe. – Ela se jogou nos braços de Dean o abraçando apertando e consequentemente o molhando bastante.

—- Eu não estou entendendo uma palavra do que você está falando, Catie. – Ele disse segurando ela pela cintura e começando a ficar assustado de verdade – Por que você não podia ter bebido? O que há de tão errado? –

Ela afastou o rosto do dele e piscou por várias vezes.

—- Não se faça de tonto... – Ela riu de forma estranha – Eu estou grávida. –

Dean sentiu o estômago revirar de nervoso.

—- O que você disse? –

Ela franziu o cenho.

—- Não está bravo por eu ter bebido? – A expressão dela seria cômica se Dean não estivesse tão nervoso.

—- Que história é essa de gravidez? – Ele perguntou incisivo.

—- Ora, Arcanjo, o que deu em você? Eu já contei, lembra? Já tem quase um mês... – Ela sorriu voltando a colocar a mãe no ventre.

Dean a olhou por um longo tempo em silêncio tinha alguma porcaria muito errada ali.

—- Arcanjo? – Ele indagou, ainda segurando-a.

—- Ora, Miguel, isso não é hora para brincadeira. – Ela riu – Se bem que sinto melhor que não está bravo. Eu juro que não vou mais esquecer que não posso tomar essas coisas. – Ela beijou os próprios dedos indicadores cruzados.

Chapada. O homem finalmente concluiu e precisava tira-la dali.

—- Não se preocupe, eu sei que não fez de propósito. – Dean entrou na maluquice dela para que ela fosse com ele. – Está tudo bem com o bebê, eu prometo. – Disse beijando a testa dela.

Catarina o olhou de canto.

—- Você sempre diz nosso bebê o que há de errado com você, meu bem? – Ela cambaleou um pouco e Dean a segurou, já começando a sentir que estava ficando tão molhado quanto ela.

—- Foi isso que eu disse, querida, acho que você não ouviu... – Dean improvisava, arrastando-a pelo caminho que levava ao interior da fortaleza.

—- Querida? – Ela perguntou com mais uma expressão engraçada – Você nunca me chama assim... –

Dean respirou fundo.

—- Ah... e refresque minha memória, do que eu te chamo? –

—- Rainha. – Ela respondeu com um sorriso bobo – Eu vou te contar um segredo: quando eu digo que odeio que me chame assim é mentira. Eu adoro. – Ela falou dando um beijo no pescoço de quem na embriaguez dela, achava ser Miguel.

—- Eu fico muito feliz em saber disso, Rainha. – Dean falou se sentido um pouco ridículo – Mas me conte, onde estamos agora? –

—- Na Terra, ora. Onde mais estaríamos? – Ela olhou Dean séria – Deixa eu dizer mais pra clarear essa sal cabecinha confusa... – Ela deslizou o dedo indicador pelo nariz de Dean com um sorriso divertido no rosto -- É 18 de março de 872. Lembrou? Meu bem, estou começando a achar que você também bebeu. –

Ajudá-la a andar estava ficando cada vez mais difícil, por isso o Caçador a ergueu do chão.

—- Uau. – Ela falou com a voz ainda mais embargada – Adoro quando faz isso, é romântico. – Ela mordeu o próprio lábio inferior e deslizou uma das mãos pelo peito de Dean.

—- Catarina, minha rainha. – Ele prendia a respiração tentando se concentrar, mas felizmente já estava perto do quarto. – Que tal você ficar bem quietinha? –

—- Como quiser. – Ela falou rindo e jogando os braços ao redor do pescoço dele, escondeu seu rosto em seu ombro. No entanto mesmo tão quieta, ainda provocava involuntariamente com sua respiração roçando o pescoço do caçador.

Mesmo com o desafio de abrir a pesada porta do quarto com as mãos ocupadas, Dean conseguiu entrar no recinto e deita-la na cama.

—- Por que está frio? – Ela perguntou quando já estava deitada e Dean sentado na ponta da cama.

—- Porque você ainda está completamente molhada. – Ele explicou paciente.

—- É mesmo. Você tem sempre razão, não é, Miguel? – Ela falou estralando os dedos e trazendo uma brisa suave que a deixou completamente seca.

—- Melhor agora? – Dean perguntou mexendo no cabelo dela.

—- Bastante. – Catarina respondeu, mas ainda se enrolou no cobertor felpudo que estava perto. Ela passou alguns minutos encarando o homem e sentou-se vez – Quem bateu em você, Anjo. – Ela tocou o rosto de Dean com urgência.

—- Não foi nada, Catie. Eu estou bem. Não quero que se irrite, pelo bebê. Eu juro que estou bem. – Ele improvisou torcendo para que ela não insistisse em explicações.

Mas ela apenas sorriu e tocou as marcas que o caçador tinha no rosto e mesmo que não pudesse ver, ele sabia que ela as havia sanado.

—- Tudo bem agora... – Catarina voltou a se deitar – E, antes que eu apague, obrigada por cuidar tanto de mim assim sempre. –

—- Não tem do que agradecer... – Dean falou sincero, falou por si mesmo.

Catarina sentou-se mais uma vez e aproximou a boca do ouvido caçador que se sentiu gelar onde estava.

—- Eu amo você. – O sorriso que ela deu depois foi lindo – Venha se deitar comigo, meu amor. – Ela falou batendo no lado vazio da cama.

—- Catie, eu não posso... –

—- É claro que pode. – Ela falou maliciosa e quando Dean voltou a olhá-la não teve tempo de reagir.

Catarina o beijou com sua boca doce e macia. Por um segundo achou que estava perdido, mas foi ela que recuou.

—- Dean? – Ela chamou enquanto apertou as têmporas com as duas mãos – O que nós dois estamos fazendo aqui? Por que que estávamos nos beijando? – Ela falou com a voz mais pesada.

—- Você bebeu, ou cheirou, ou fumou algo que te fez achar que eu fosse Miguel e que estava na Terra em 872. Aparentemente queria que Miguel dormisse com você. –

Ela afundou o rosto entre as mãos.

—- Me desculpe, Caçador. De verdade. Eu finalmente deixei tudo muito claro com o seu irmão, mas ele não reagiu bem... -- Ela deu de ombros -- E estar aqui sem ver o sorriso lindo do meu filho... eu não aguentei. Me droguei com Chá de Papoula Estrelada. –

—- E o que fez você voltar a si de uma hora pra a outra? –

—- O beijo. Você e Miguel são parecido, mas não nisso e eu sinto muito, caçador, sinto a falta do meu anjo. – Ela sorriu com as bochechas coradas levemente – Onde está seu irmão? – Ela mudou de assunto.

—- Com Zoey. –

—- Ao menos ele não está só. Ao menos nenhum de vocês está. – Ela fez mais um de seus movimentos graciosos com as mãos e quando Dean olhou no outro lado do quarto estava uma cama que parecia bastante confortável. – Gostaria que os dois estivessem sob as minhas vistas aqui, mas já que não é o caso. Ficamos eu e você e juro que não vou mais te atormentar, guardarei minhas emoções para o alvo correto -- Ela sorriu bobamente.

—- Mas eu lembro que você dizer que os animais daqui eram inofensivos, porque tem tanto medo? – Dean perguntou, referindo ao receio de que eles permanecessem sós pelo lugar.

—- E eles são. – Ela falou se acomodando em sua cama – Não é dos animais que eu tenho medo, são outras coisas... – Ela suspirou – Amanhã voltaremos à terra e terminaremos tudo. Depois disso eu prometo que vou sumir da vida de vocês, vou voltar para casa. Você se entende com a Mel, Sam arranja alguém descente... vidas normais. –

—- Amanhã voltará tudo ao normal. – Ele disse tirando uma mecha do cabelo dela do rosto e indo em direção a outra cama, ao mesmo tempo que Khan surgiu pela porta e subiu silenciosamente na cama da dona, deitando-se com ela.

—- Boa noite, Caçador. – Ela falou quando se aconchegou usando o animal como um travesseiro gigante.

—- Boa noite, Catie. – Ele respondeu ao se deitar e perceber que aquela era a melhor cama em que já havia se deitado na vida, se não estivesse com a mente tão cheia, teria a melhor noite de sono da sua vida.

Xx

—- Sabe, Sam... – Zoey falou enquanto caminhavam, a beira do rio próxima dos dois – Pelo que você me conta, você se sente inseguro. E isso a pior coisa do universo e eu falo por experiência própria... e o pior é que... você não merece. –

—- Zoey, você é ótima, mas eu não quero auto ajuda agora, tá? –

—- É, você não precisa de auto ajuda, você precisa de um tratamento de choque de consciência. Você precisa parar de sentir traído, precisa voltar a se sentir forte e capaz exatamente como você é. – Aos poucos ela fazia com que os dois chegassem perto do rio.

—- Do que você está falando? – Sam franziu o cenho.

—- Eu já me senti como você, já disse que temos muito em comum... você precisa tomar as rédeas da sua vida de novo. Você precisa que façam por você o que fizeram por fim... – Ela segurou Sam pelos dois braços – Às vezes é preciso chegar ao final do posso pra renascer como se deve. –

—- Essa conversa está muito estranha, Zoey. – Ele olhou para o Assassino de Prata atrás de si.

—- Às vezes precisamos olhar nos olhos da morte pra nos tornarmos novos em folha. E eu vou te ajudar nisso, aposto que vai se sair bem. Vejo na sua mente que é capaz. – Ela soava e sorriu sincera para Sam.

Mas o que ele não esperava era ser empurrado, o que ele não esperava era sentir a água molhar todo seu corpo. Ele também não esperava ouvir uma risada macabra vinda do rio e milhares de pequenas mãozinhas o arrastando rapidamente para o fundo.

Agora Sam Winchester precisava vencer o rio antes que seus pulmões resolvessem aspirar aquela maldita água prateada.

No que Zoey estava pensando?

A resposta para aquela pergunta ficaria para depois, agora ele só tinha de usar suas forças para sobreviver.

Xx

Catarina dormia um sono profundo como havia anos que não dormia, mas havia algo que tocava em sua mente e não era sua música favorita, era uma voz.

Venha, minha doce traidora, venha até mim e volte pra casa. Não vai me matar, aos meus pés eu sei que vais chorar e eu hei de te guardar em meus braços. Diferente da bela Melissa, esta eu irei matar, matarei também os dois Winchester e os obrigarei a assistir seu mútuo fim.

Depois ficaremos eu e você, não vou permitir que saias do meu domínio jamais, vais se lembrar de como era delicioso, sermos só você e eu, minha predileta.

Ao fundo dessa gravação que se repetia no subconsciente de Catarina havia uma voz gritando e chorando de pura dor, uma voz familiar, uma voz que com certeza pertencia, com certeza, a Melissa Denvers. Não era blefe.


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Notas finais do capítulo

Que rufem os tambores pois faltam poucos capítulos! Espero que tenham gostado, espero que contem o que acharam e o que esperam do final, adorarei saber.
Obrigada por acompanharem queridos!
Bjs



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