Heavenly Hell escrita por Ju Benning


Capítulo 28
Cast the First Stone Who Never Had a Broken Heart


Notas iniciais do capítulo

Gente, obrigada pelos comentários! E desculpem mais uma vez a demora, mas com o advento das férias, as coisas melhoraram definitivamente



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Dean encarava Lúcifer com mais desprezo do que receio, aquela criatura asquerosa não significava nada para o caçador além do que mais uma das baratas em que ele sempre pisou, só que essa tinha um ego muito maior.

—- O que você faz aqui? – Lúcifer perguntou maneando a cabeça.

—- Não é da sua conta, eu vou atrás de Catarina. – Ele ignorou o Arcanjo e tentou passar por Lúcifer sem sequer olhá-lo, mas este o segurou pelo braço.

—- Você não vai a lugar nenhum... – Falou calmamente.

—- E quem vai me impedir, você? Eu não tenho o mínimo – Ele fez sinal de quase nada com os dedos – de medo de você! Pode esbravejar o quanto quiser, porque você até pode ir e vir por aqui, mas não creio que possa encostar um dedo em mim. – Ele deu um meio sorriso debochado.

—- Posso fazer qualquer coisa parecer acidente por aqui. – Lúcifer apertou ainda mais o braço de Dean como se tivesse a profunda intensão de arrancá-lo e Dean rapidamente preparou um soco do mais forte que conseguia.

Os dois se enfrentariam ali mesmo naquele corredor, no lugar e momento menos apropriados de todo o universo se um enorme par de asas - maiores e mais fortes do que o de Geórgia e tão brancas que chegavam a parecer brilhantes - não tivesse feito sombra sobre os dois, se aquela figura imponente não tivesse posto uma espada no pescoço de Lúcifer.

—- Já chega. – Disse a voz forte, que Dean não conseguiu não achar semelhante com a sua, assim como a aparência. Apesar do outro ser mais musculoso, mais alto e seus olhos serem de um verde azulado. – Não posso fazer nada para impedir você de andar livremente por aqui, mas se eu matar você impedindo que fira meu receptáculo, posso convencer Catarina que não houve outra forma. – O recém chegado empunhava a espada como se segurar o impulso de degolar o outro fosse de fato a coisa mais difícil que já havia feito.

Lúcifer engoliu em seco, mas não transpareceu mais abalo algum. Sorrindo irônico como sempre, largou e braço de Dean, que aproveitando a oportunidade e a proteção de quem tinha certeza ser o Arcanjo Miguel, acertou o queixo do Diabo com a maior força que conseguiu.

—- Fique longe do meu irmão! – Dean exclamou quando Miguel interferiu mais uma vez, encarando o Diabo nos olhos, este logo desviou o olhar – Sempre quis fazer isso. -- O humano resmungou para Miguel.

—- Eu sei como é, o sorriso boçal dele tira qualquer um do sério. – O Arcanjo respondeu – Aliás, irmão, -- se dirigiu mais uma vez ao Diabo -- Já se despediu de Alif, já viu Catarina e já a consolou, não há mais nada a fazer aqui, vá embora. –

Lúcifer olhou Dean mais uma vez.

—- Eu sei que tem a minha espada e sei o que planejam fazer, mas sei também que não vai acontecer... assim como eu havia dito que Sam estava se iludindo. – Ele arrumou seu terno – Mas eu estou adorando ver como as coisas acontecem. –

—- Ele é sempre insuportável assim? – Dean virou o rosto para Miguel, que tinha o maxilar trincado e os olhos cerrados na direção do outro.

—- Por que eu ainda o vejo aqui? – Miguel olhava o irmão irritado.

—- Porque eu não tenho a inclinação de lhe obedecer, mas percebo que não sou muito bem vindo pela maioria dos presentes... e eu tenho tantas coisas a fazer, tantas almas a torturar, que eu acho que está mesmo na minha hora de partir. – E apesar de ter se desmaterializado de fato na frente dos olhos de Dean, a imagem do sorriso boçal não saia de sua cabeça.

—- E respondendo a pergunta. – Miguel dirigiu-se ao Caçador – Sim, ele sempre foi insuportável. Talvez agora você possa entender a minha ânsia pelo Apocalipse. Arrancar fora a cabeça dele é muitas vezes tudo que eu quero. – O Arcanjo suspirou – Ele é uma péssima influência e a criatura mais falsa que eu já conheci. –

—- Isso tem alguma coisa a ver com... –

—- Catarina? – Miguel se adiantou e Dean confirmou com a cabeça. –- Sempre teve. – Ele respondeu um tanto evasivo -- Do jeito completamente destorcido dele, meu irmão abrigou Catarina como se fosse sua e seu amor é real, mas... sempre que ela consegue dar algum passo de volta a criatura boa e sã e feliz que eu conheci, ele consegue de alguma forma arrastá-la para junto dele de novo. É um ciclo vicioso que eu sonho em partir. –

—- Você deve realmente ter uma ligação muito forte com ela pra se sentir assim depois de tanto tempo e tantas coisas... – Dean começou a andar.

—- Nós tivemos uma filha juntos, há muitos sentimentos... – Ele se resumiu a dizer – E tudo isso que ela vive, não é nada mais do que necessário pra que as coisas voltem ao seu lugar. Viver entre vocês é o que ela sempre precisou. Nós tentamos uma vez e não terminou nada bem. A Barreira natural, feita ainda por Deus foi derrubada por ela, durante o surto da morte de Hannah. --

Dean maneou a cabeça.

—- Por isso que ela quer resolver esse problema, não é? – Dean suspirou entendendo algumas coisas que antes pareciam nubladas.

—- Exatamente. – Miguel confirmou – Estava tudo quase acabado, ela estava tão bem e de repente tudo veio por água abaixo. – A sombra de profunda tristeza passou pelos olhos de Arcanjo.

—- Eu sinto muito. – Dean improvisou, não era bom com nada daquilo – Espero que dessa vez de certo... –

—- Vai dar. – Não a perca de vista, Dean. E devolva-a para nós, ao menos, salva. -- Ele sorria como um herói.

—- Vou procurar por ela. – Falou retribuindo o sorriso dando alguns passos para longe do Arcanjo.

Mas ao dar as costas ao anjo, deu de cara com um animal vindo pelo corredor que tinha todos os motivo para temer: Algo que se podia comparar a um tigre porém muito maior se aproximava rugindo e correndo e apesar de ter tido a impressão de que o animal estava mais desesperado do que furioso, preferiu não se arriscar e saiu da frente.

A fera apenas parou de avançar quando estava na frente do Arcanjo, mas permaneceu agitado.

—- O que houve Khan? – O anjo perguntou, afagando a cabeça do animal.

Houve um momento curto de silêncio, até que Miguel guardou suas asas gigantescas e começou a caminhar.

—- Pode vir se quiser... – Disse a Dean, enquanto o animal os acompanhava acelerados.

—- Pra onde? – Dean questionou mas já o acompanhava.

—- Ela precisa de ajuda. –

Xx

Vidro e sangue foi o que Sam viu ao seu redor quando recobrou a consciência. Olhou seu próprio corpo, estava ferido mas não muito, pelo menos até onde sua vista alcançou.

—- Sammy. – Era a voz de Dean – Sammy, você está bem? O que aconteceu aqui? –

—- Catarina chegou cheia de sangue, teve um surto e quebrou tudo... – Ele sentou-se com ajuda do irmão – Onde ela está? –

—- Ali. – Dean indicou a saída.

Miguel a levava nos braços, um pouco de sangue escorria pela ponta dos dedos dela, que mantinha os braços ao redor do pescoço do Arcanjo, como se a sua vida dependesse disso e o rosto escondido em seu ombro.

A maneira que o tórax dela se movia sugeria que ela estava chorando mais uma vez, os dois conversavam algo enquanto saiam dali, mas o idioma não era compreensível. Khan, a fera, os acompanhava consideravelmente mais tranquilo.

—- Antes que você pergunte, aquele é o Arcanjo Miguel e ele está levando ela pra o quarto dela, onde devem haver mais curandeiros do que nós dois podemos contar juntos. Ela vai ficar novinha em folha logo, logo. Pelo menos por fora. – Dean se adiantou suspirando.

—- E o garoto que emboscou Alif? – Sam perguntou quando tentou ficar de pé, mas a dor forte no joelho não permitiu. Um pedaço grande de vidro, que ele não havia percebido ainda atravessava o local.

—- Isso tá feio, hein? – Dean observou e Sam maneou a cabeça – Mas, eu também tenho boas notícias. Miguel falou que outros curandeiros virão buscar você e fazer a mágica deles. Vai ficar tudo bem. –

—- Dean, e o garoto? – Sam insistiu.

Seu irmão mais velho suspirou um tanto impaciente.

—- Morto, Sam. – Ele tinha o cenho franzido – Eu não vi o local nem o que restou do corpo, mas ela e o tigre fizeram um trabalho magnífico pelo que pude inferir nos corredores. – Dean não parecia chocado.

—- O que você acha disso? – Sam perguntou ao irmão.

—- Sammy, eu sei do que eu sou capaz de fazer se alguém fizesse com você o que fizeram com Alif e nós somos irmãos. Ela criou o garoto. – Maneou a cabeça, suspirando -- Sem falar que perder ele deve ter sido como reviver todas as merdas que ela já passou na vida. – Dean deu de ombros – Acho que teria feito o mesmo. Além do que ela não é humana, este é outro mundo, devem haver outras regras, outros códigos, eu não vou julgá-la como se fosse uma de nós, não é justo. –

—- Desde quando você age assim com tanta compreensão, Dean? – Sam fez uma expressão estranha, quando um grupo de homens vestidos em túnicas brancas entraram no lugar acompanhando uma espécie de maca flutuante. Na frente do grupo uma mulher alta que não aparentava ser uma feiticeira e também não mostrava asas, nenhum dos dois irmãos pode supor o que ela era, só que era tão bonita quanto as outras que haviam visto no lugar.

—- Desde que procurei entender as coisas como elas são e não com eu queria que elas fossem.– Dean bagunçou o cabelo do irmão e os dois dirigiram sua atenção ao grupo que chegava.

—- Você deve ser Sam. – A mulher falou com a voz agradável e séria que tinha, ao mesmo tempo que olhava tudo ao seu redor. – Esse lugar era tão bonito... – Comentou para si mesma.

—- Tem razão. – Respondeu o mais novo dos Winchester fazendo mais uma menção de se mover.

—- O que pensa que está fazendo? – A mulher o olhou franzindo o cenho – Você não vai a lugar nenhum com o joelho assim. Não seja bobo. – Ela abriu um sorriso – Isto está muito pior do que Miguel informou, ele não faz nada direito com ela está por perto, Céus! – Ela falou mais uma vez para si mesmo.

—- Mas você pode ajuda-lo? – Dean interferiu.

—- Claro que sim! – Ela usava um tom que claramente tinha a intenção de mantê-los calmos – Só não vamos poder fazer nada aqui... até porque deve haver um grupo de manutenção vindo pra colocar essa bagunça de volta no lugar. Ainda bem que já trouxe a maca. – Ela falou a última parte mais uma vez para si mesma, fazer isso parecia ser uma mania.

Virando-se para os homens de túnica branca ela falou alguma coisa no mesmo idioma que haviam ouvido Miguel e Catarina se comunicarem e estes se aproximaram colocando Sam magicamente sobre a maca.

—- Aonde vai me levar? – Ele questionou.

—- Primeiro, meu nome é Zoey. – Ela estendeu à mão e Sam a apertou – Pode chamar o lugar aonde vamos de enfermaria... eu não lembro mais exatamente qual o nome apropriado no seu idioma, faz muito tempo que eu fui a Terra, e que falo ou ouço sua língua. – Ela dirigiu mais um olhar ao joelho de Sam – Nós vamos levá-lo logo porque essa perda de sangue é totalmente desnecessária. Tudo bem? –

—- Ok. – Sam concordou, fechando os olhos pela dor ferimento.

Dean fez menção de acompanhar o irmão, mas Zoey o impediu.

—- Eu sinto muito, mas pra onde eu vou leva-lo só podem entrar curandeiros e doentes... E é claro, alguém que mande mais lá dentro do que eu, o que com certeza não é o seu caso. – Ela deu alguns tapinhas no ombro de Dean e voltou a se dirigir a Sam – Não se preocupe, você vai ficar bem rapidinho. Vamos. –

A maca flutuante voltou a se mover e fazer seu caminho para fora daquele lugar.

—- E pra onde diabos eu vou? – Dean resmungou.

Zoey revirou os olhos e conjurou uma bolinha de luz.

—- Siga essa coisinha brilhante, ela vai levar você até Miguel, lá você se entende com ele. E faça o que eu estou dizendo não vá ficar perambulando por aqui sozinho! – Ela falou autoritária – Humanos morrem fácil demais. – Ela falou mais uma vez para si mesma.

—- Se cuida, Sammy. – Dean falou observando a cara de dor do irmão, que forçou um sorriso de volta.

Dean ficou esperando a maca sumir de sua vista para poder seguir a luzinha que Zoey havia deixado, que esperou até que o caçador se movesse para que começasse a guia-lo pelos corredores tortuosos da fortaleza.

Xx

—- Então, Gabriel, o que você passou esse tempo fazendo aqui na Terra? – Melissa perguntou enquanto se balançava na rede do terraço de sua casa e se deliciava com mousse de chocolate que o anjo havia feito para os dois – aliás, por que deixou o Céu? –

Gabriel saiu de dentro da casa e mantinha os olhos na Fênix que voejava tranquilamente do lado de fora. Ele suspirou olhando Melissa por um longo momento.

—- Você gosta de histórias longas? –

—- Eu acho que gosto das suas histórias. – Ela respondeu sorrindo e Gabriel fez o mesmo.

—- Posso sentar aí com você? – Ele perguntou meio sem jeito.

Melissa parou a rede abruptamente como fazia quando era criança e sua mãe reclamava. Não parecia tão legal sem a reclamação de Andreia.

—- Claro que pode. – Ela respondeu afastando um pouco para que ele pudesse sentar.

Gabriel sentou ao lado da garota que logo jogou suas pernas por cima das dele e encostou-se na rede. O anjo franziu o cenho para ela.

—- Se a história é longa, eu preciso ficar confortável, não acha? – Ela deu de ombros.

—- Como quiser, Mel. – Ele respondeu sorrindo e a olhando de canto, começando a fazer a rede balançar – Se incomoda? –

—- Claro que não, eu adoro esse balanço. – Ela respondeu colocando um dos braços sobre a testa, relaxando – Estou apenas esperando que você comece a falar. –

—- E eu estou pensando em como começar! – Gabriel respondeu de maneira engraçada – Eu acho que já lhe disse que você precisa de paciência, não já? –

—- Algumas vezes... – Ela o olhou por baixo do braço sorrindo – Só estou curiosa, ora. –

—- Então fique quieta, ou eu não vou conseguir falar nada. – Ele resmungou começando a massagear as pernas dela.

—- Ok. Isso é muito bom. – Ela comentou rindo – Principalmente depois daquele maldita sequência, aquilo acabou com as minhas pernas. –

—- E eu falei que ia haver uma recompensa, não falei? – Ele retrucou bem humorado.

—- Falou sim. – Ela respondeu suspirando – Mas eu ainda estou esperando a minha história. –

—- Tudo bem! Não vou mais enrolar, prometo. – Gabriel falou se livrando dos potes de mousse vazios – Primeiro – Ele começou – Eu fui embora no meio daquela confusão de Lúcifer e Miguel brigando, eu odiei aquilo, meus irmãos mais velhos se odiando, um jogando o outro porta a fora e eu sem poder fazer nada... – A tristeza na voz dele era palpável.

—- E quanto a Rafael? – Ela perguntou começando deslizar os dedos pelo braço do anjo, já se importava com ele o suficiente pra não se sentir bem em vê-lo triste.

—- Rafael era um louco. Conservador, puritano, hipócrita. – A raiva se transformou em desprezo – Ele era o padrinho da mãe de Catarina e quem a persuadiu a odiar a filha por ter nascido numa Lua Negra e querê-la morta depois do que acidente que tirou a vida do pai de Catarina, que era um grande amigo meu. Rafael é o responsável inicial por toda a bagunça que é a vida dela agora, tudo porque era um babaca preconceituoso... –

Melissa observava cada palavra do anjo atentamente.

—- Quem mais ele machucou? – A garota não resistiu em perguntar – Você não me parece ter sido próximo de Catarina, mas ao mesmo tempo sua raiva de Rafael soa tão pessoal... –

—- Não, nós não somos próximos como ela é de Miguel, claro que não. – Ele riu como se fosse absurdo – Nem muito menos como ela é de Lúcifer, mas eu a conheci na época que ela estava mais perto de ficar bem, a conheci na Terra, que foi também quando encontrei meu irmão Miguel mais uma vez, mas essa parte vem depois, não vou misturar as coisas... – Ele parecia organizar seus pensamentos – Bem, voltando a sua pergunta... ele machucou alguém a quem eu tenho um apreço inestimável, que é minha melhor amiga e quem me ajudou muito quando eu sumi do Céu. –

—- Uma humana? – Melissa estranhou e seu tom de voz pareceu ligeiramente incomodado.

—- Não, meu bem. – Ele negou rapidamente – Quando eu sai do Céu, eu não vim direto para a Terra. Pelo contrário, eu me refugiei no território mais distante dentro dimensão mágica, de onde você vem. O lar dos Guardiões. Foi lá que conheci Noite e saiba que fui eu que o mandei para Catarina quando ela mal falava o próprio nome. –

Melissa maneou a cabeça.

—- Interessante. – Ela ainda tocava a pele do anjo. – Conte mais. –

—- E foi lá, na terra dos Guardiões, onde eu conheci essa amiga, que Rafael machucou da pior forma que alguém pode machucar um anjo. –

—- Hum... e o que foi que teve com ela? –

Gabriel a olhou de canto e riu, seu tom de voz era engraçado.

—- Zoey é o nome dela. -- Gabriel falou – Já a havia visto voando pelo Céu, ela trabalhava na hoste de Miguel e... bem, ela nunca fala muito sobre o motivo real de tudo, mas sei que envolve corações partidos, alguém que se aproveitou de sua fraqueza, ela ficou sabendo de mais coisas do que deveria, e, finalmente, o maior vilão de todos: Rafael. –

—- E você ainda não disse o que foi que ele fez... –

—- Arrancou as asas dela, literalmente. E a jogou enquanto sangrava e gritava através de um portal aleatório, esperando que ela caísse em alguma dimensão inóspita e morresse de hemorragia e dor... mas para o azar dele, ela caiu com os Guardiões e eles a ajudaram, cuidaram dela como se fosse uma deles... –

—- E você caiu de amores por ela? – Supôs Melissa revirando os olhos.

—- Não... nós nos tornamos grandes amigos... e eu me condoo tanto com Zoey porque, eu sei que na Terra anjos não mostram suas asas, mas nós nos orgulhamos muito do que temos, Mel. Muito mesmo. Zoey manteve boa parte dos poderes, mas seu orgulho e auto estima se extinguiram quando Rafael arrancou as asas dela. Isso é a pior coisa, talvez, que se possa fazer com um de nós. –

—- Entendo... – Melissa suspirou.

—- Bem, o tempo na dimensão mágica é algo curioso, você não sente quando ele passa, eu passei mais tempo lá do que deveria... lutei algumas batalhas, fiz mais amigos... foi divertido, mas eu e Zoey ficamos sabendo da morte de Ava e que Rafael tinha recebido o coração da amada dentro de uma caixa de péssima qualidade, mandada por Catarina que o tinha arrancado com as próprias mãos e que agora ela e Miguel estavam na Terra por alguma decorrência do julgamento da morte da vadia Ava e então senti que tinha de ir até lá! – Gabriel ria espontâneo.

—- E o que vocês eram? Um clubinho de eu odeio Rafael? – Melissa brincou.

—- Quase isso, Mel, quase isso. – Ele ainda ria – Já havíamos superado muitas das nossas feridas, eu e Zoey. E apesar da relutância dela em encontrar o antigo chefe, Miguel, nós fomos até a Terra nos encontramos com meu irmão e Catarina e tudo foi muito lindo e legal, todos amigos... –

Melissa sentou-se na rede de uma só vez.

—- Até que... – Estava muito interessada.

—- Paciência, pequena Padawan. – Gabriel a olhou pelo canto do olho – Estava tudo muito bem até que Zoey e Catarina se desentenderam. –

—- Por sua causa? – Melissa ergueu as sobrancelhas.

—- Não. – Ele ergueu as mãos em rendição – Estou completamente limpo nessa – Culpa de Miguel, quer dizer, nem foi culpa dele... ele gostava de Catarina, ela se fazia de viúva difícil por causa de Darian, Zoey sempre teve os dois olhos em cima do chefe e aí já viu... Haviam outros motivos também... Catarina andava fazendo algumas coisas que não devia e Zoey descobriu, mas em resumo, foi isso. Minha amiga saiu perdendo, Miguel ficou com Catarina. –

—- E você consolou Zoey prontamente, como o galanteador que é... – Melissa supôs.

—- Eu? Galanteador? Impressão sua, linda Melissa. – O anjo brincou.

—- Claro que sim... – Melissa resmungou em resposta.

—- Ela e eu somos só amigos, ou melhor, éramos amigos... nessa época, havia uma outra feiticeira andando por aqui pela terra, seu nome é Elena. Me envolvi com ela. -- Ele falou rápido – E me dei mal, a garota é um problema que anda, filha adotiva de Catarina. A história é comprida demais pra falar agora, mas, acabou por nos expor a toda a comunidade humana... depois do que aconteceu não tinha mais como fingir que éramos como eles.

Zoey foi prejudicada de novo, mais uma vez teve haver com Rafael e dessa vez por minha culpa, logo ela não queria mais me ver nem pintado em ouro. Catarina queria a minha pele e se ela queria a minha pele, todo o povo do lugar onde estávamos também queria... –

—- Como assim, ela os enfeitiçou? – Melissa franziu o cenho.

—- Não. Não era necessário, Mel. Catarina sabe jogar muito bem, ela é política. Em cinco passos simples ela fez aquela comunidade idolatrá-la como a uma deusa... –

Melissa suspirou e voltou a se deitar, Gabriel era um boa companhia.

—- E foi então que você sumiu pela segunda vez... – Ela supôs.

—- Exatamente. Eu fiquei sozinho, ainda pensando em Elena, sem amigo nenhum. Confesso que passei a me divertir com os humanos, pregava uma peça aqui e outra ali e fui vivendo assim até hoje... – Ele contou por fim.

—- Gostaria de conhecer essa Elena... ela é como a mãe adotiva? –

—- Fisicamente elas se parecem um pouco... e com o tempo Elena passou a imitar o jeito de Catarina. Quando a conheci ela aparentava ter a sua idade, talvez ainda aparente... Vocês duas são jovens feiticeiras –

—- Isso é um elogio? – Melissa cerrou os olhos.

—- Considerando que acho você muito melhor em vários sentidos... sim. –

Melissa usou o apoio das mãos para erguer o tronco e ficou perto do anjo, rindo um tanto convencida.

—- Gosto de pensar que serei a preferida do mestre. – Ela o abraçou por um momento e se levantou da rede – Agora, se não se importa, eu vou tirar um cochilo e matar a saudade da minha cama... – Ela se espreguiçou.

—- Fique a vontade, Mel. Voltamos a treinar no fim da tarde. – Gabriel falou tranquilamente.

—- Sem problema. – Ela saiu em direção a sala – Foi uma ótima história. – Então sumiu das vistas do Arcanjo, que ficou fitando o horizonte, procurando não pensar em nada exatamente.

Xx

Dean seguiu a pequena luz até a ponto mais alto da fortaleza até que deu de cara com uma enorme porta muito bem trabalhada, a luz flutuou até a mão do Arcanjo Miguel, que muito simplesmente se encontrava sentado nos pés da porta fechada às suas costas, ele tinha uma expressão preocupada, quando ergueu os olhos para seu receptáculo e fez sinal para que sentasse.

—- O que faz aqui fora? – Dean perguntou se juntando ao anjo, era estranho a forma como se sentia à vontade perto do outro, talvez fosse o jeito simples com que o Arcanjo se portava – Há algo de errado com ela? –

—- Está tudo bem. – Ele respondeu calmamente – Eles estão cuidando dela, fazendo todos os rituais daqui, de limpeza, cura, purificação... coisas do povo mágico. Preferi esperar aqui fora do que ficar no tumulto lá dentro, quando estiver tudo acabado, eles saem e nós entramos. –

—- Nós? – Dean espantou-se – Não achei que fosse querer que eu entrasse... –

—- E porque não? Você é quem tem mantido os olhos sobre ela nessa estadia de Catarina na Terra. Ela simpatiza com você, percebo que está preocupado com ela igualmente. Não a motivos para que eu lhe impeça de entrar. – Ele sorriu – Zoey mandou você aqui? –

—- Sim. Ela levou meu irmão e me mandou pra cá, pra não ficar perambulando por aí. – Dean respondeu sem tirar os olhos da porta.

—- Seu irmão está em boas mãos. Logo estará de pé e novo em folha. Zoey é ótima. –

—- Se você diz... – Dean comentou – E quanto aos que estão aí dentro? Não há risco nenhum? –

—- Claro que não, fique tranquilo. Eles a amam como a uma deusa. – Miguel revirou os olhos – Ainda mais porque pra eles, Catarina é a figura do heroísmo, é a força, a justiça. – Ele ria – Aqui, matar um Coração Azul, que é um feiticeiro ou feiticeira abençoado, puro e bom, é sempre punível com pena capital. Não há perdão. E ela representa a justiça deles quando executa essa pena com tanta passionalidade, que também é comum ao povo mágico. –

—- Ela dá a eles tudo que precisam, não é? –

—- Isso e muito mais. Paz, prosperidade, liberdade e ao mesmo tempo segurança, regras. Eles vivem em bem sob o comando dela ou de quem ela comanda. –

—- Então ela é uma rainha? – Dean franziu o cenho.

—- Não. Ela odeia esse nome, embora seja bem semelhante. Aqui, normalmente, a melhor linhagem cuida do povo. No caso é a dela. – Miguel fitou a forma como o humano encarava a porta – É engraçado como os sentimentos humanos se transformam, não é mesmo? –

—- O que? – Dean voltou a dar atenção ao Arcanjo.

—- Você a perseguiu com todo o ódio que havia em você – Miguel apontou a porta, indicando que se referia a Catarina – e ao mesmo tempo, e apesar das inconveniências, da outra moça e de Sam, você a desejava e obviamente não a vê como uma amiga. Talvez sua conexão comigo, como meu receptáculo tenha alguma influência no que anda sentindo por ela... assim como a conexão de seu irmão com Lúcifer seja responsável pela obsessão que o rapaz anda sentindo. –

O Caçador engoliu em seco, abaixou os olhos e refletia sobre as palavras do Arcanjo. Ele e Miguel ficaram de pé. Um dos seis se dirigiu aos dois.

—- Ela pediu que entrassem. –

—- Obrigado. – Disse Miguel e o grupo se retirou

O lado de dentro da porta se revelou ser o quarto maior e mais suntuoso que Dean já havia visto em toda a sua vida e na verdade, nunca seria capaz de imaginar aquilo sozinho.

—- Ver vocês dois junto é um tanto perturbador. – A voz de Catarina tomou a atenção do caçador para si. E Dean não conseguiu evitar de deixar o queixo cair.

A feiticeira usava um vestido, de frente única e decote profundo, que ia até a altura do joelho a cor era marfim, quase se confundido com a pele da mulher. Seus cabelos longos e cheios estavam presos numa trança que caia por um dos ombros, alguns fios dourados se misturavam com a trança; ela usava na cabeça e pescoço joias feitas com pedras que Dean nunca sequer havia imaginado que existiam, nos pés não haviam sapatos, mas algumas correntes douradas e prateadas que se prendiam em um dos dedos do pé, se ligavam ao tornozelo e se desenhavam por toda a perna até perto de onde terminava o vestido.

Sua boca estava pintada ainda mais vermelha do que já era naturalmente, com algo que lhe dava a cor de vinho mais intensa, seus olhos e cílios já muito marcados por natureza continuavam como sempre foram, mudando de cor, porém de forma mais calma naquela ocasião. Ela se encontrava sentada confortavelmente na gigantesca cama, Khan deitado perto dela enquanto Catarina deslizava seus dedos cheio de anéis através do pelo do animal que parecia um gatinho inofensivo brincando com uma parte do lençol.

—- Joias demais, não é? – Catarina falou mais uma vez, voltando a chamar a atenção do Caçador – São os trajes daqui, é natural estranhar... – Ela arqueou as sobrancelhas, enquanto cumprimentou longamente o anjo que sentou ao seu lado.

—- Não, claro que não. Imagina. – Dean falou suspirando meio sem jeito, ela estava de fato deslumbrante e bem como o caçador nunca havia visto antes – Você está ótima... como sempre. – Ele ainda parecia sem jeito.

Catarina riu jogando a cabeça para trás.

—- Não fique aí em pé, sente. – Ela bateu com a mão no colchão e Dean obedeceu. – Como está Sam? Eu me lembro que eu quebrei as coisas e ele estava lá, espero não ter machucado ele tanto. – O olhar da mulher era sincero.

Miguel que já estava perto dele, colocou uma de suas mãos na cintura dela e se aproximou dela falando em seu ouvido no idioma que Dean não entendia. Catarina fez sinal positivo com a cabeça e sorriu um pouco. O Anjo então se levantou de onde estava lhe beijou a bochecha e indo até a grande varanda do lado esquerdo, subiu no parapeito voltou a mostrar suas asa e pulou de onde estava, sumindo da vista dos outros dois por um tempo e voltando aparecer depois subindo rápido em direção ao Céu.

—- É bonito esse voo, não é? – Catarina comentou tocando a mão de Dean – Eu morria de medo disso... até que voei nos braços dele pela primeira vez – Ela voltou ao assunto, enquanto ainda mimava seu felino -- Mas, me conte de seu irmão... --

—- Ele se feriu com os vidros, mas uma tal de Zoey o levou até a enfermaria e como não deixou que eu o acompanhasse, me mandou para cá.

—- Zoey... – Catarina revirou os olhos – Às vezes até esqueço que dei abrigo a ela... mas desentendimentos pessoais à parte, ela é muito boa. E claro, se você quiser, depois que eu resolver uma última coisinha eu te levo comigo até onde ele está... – Ela deu de ombros.

Dean ainda a olhava incansavelmente, talvez fosse por não conseguir descrever o quão bonita ela estava naquele momento.

—- Claro, claro. – Dean falou balançando a cabeça.

—- O que foi? Você está bem? – Ela segurou o rosto dele com uma das mãos.

—- Vocês tá diferente, Catie. Eles fizeram muito bem a você nessa coisa de cura. –

—- Às vezes a gente só precisa voltar pra casa e se deixar ser cuidado, Dean. E tudo se resolve. – Ela sorriu serena. – É claro que eu também estou um pouco dopada, mas nada que me impeça de raciocinar, nem me deixe confusa, só afasta a dor. Já usei esse método antes, é bastante eficaz nos primeiros dias da perda, depois a gente tem de se acostumar a viver normalmente de novo. –

Dean pegou a mão dela que tocava seu rosto e beijou, passando a segurá-la.

—- Eu não sei o que dizer, mas eu sinto muito pelo Alif. E saiba que eu não lhe julgo pelo que fez com o rapaz que o emboscou, faria o mesmo. –

—- Que bom que me entende... – Ela respondeu com os olhos levemente sonolentos e soltou-se das mãos do caçador.

Os dois ficaram se olhando até que, dessa vez, a sombra de dois pares de asas cobriu os dois. Miguel e Geórgia estavam de pé um em cada ponta da sacada da varanda.

—- Eles estão todos aqui, prontos para lhe ouvir. – Geórgia chamou a atenção da amiga.

—- Sim, farei isso agora. – Catarina sorriu e se moveu – Khan, me entregue o coração. – Ela disse à fera que obedeceu descendo da cama e indo buscar alguma coisa.

—- O que vai fazer? – Dean ficou em pé também.

—- Vou falar para a multidão que o assassino do nosso Coração Azul foi pego e morto... – Enquanto ela disse isso Khan lhe entregou um coração de verdade nas mãos – E vou dar ao povo o coração do criminoso. – Ela piscou para Dean – Eles adoram isso. Venha ver. –

Dean acompanhou um pouco de longe, mas foi certamente bizarro o grito da multidão quando ela pode ser vista do alto, parecia um filme. Ela fez um discurso não muito longo, mas inspirado e o momento alto, claro, foi quando ela atirou o coração ao povo. Os dois anjos voaram para evitar maiores alvoroços e ela se retirou da varanda.

—- O que achou? – Ela perguntou um tanto animada.

—- Foi incrível. – Estava sendo sincero.

—- Vê a importância de eu estar ligeiramente dopada? Jamais seria capaz de fazer o que eu fiz agora do jeito que estava. – Ela sentou-se em frente ao espelho e soltou os cabelos, tirou alguns dos anéis e colares assim como todas as correntinhas das pernas e o batom. – bem melhor. – Comentou estralando o pescoço.

—- Acho que a única coisa que não muda muito em lugar nenhum é a política. – Dean comentou se aproximando.

—- Nisso você tem razão Dean, é tão importante quanto uma necessidade básica na maioria das vezes. As criaturas precisam de um certo controle e ao mesmo tempo de liberdade, precisam amar e temer. Isso é um jogo. – Ela virou-se para ele – E cansa demais. –

—- Eu imagino. – Ele arqueou as sobrancelhas.

—- Vamos visitar o Sammy, eu ainda tenho de ver se Elena fez a cremação como se deve, antes de voltar à Terra com vocês. – Ela ficou de pé bem em frente a ele.

—- Por falar nisso, eu encontrei Lúcifer... nós conversamos e ele disse algumas coisas que eu acho que deveríamos falar a respeito, Catie. – Dean estava sério.

—- O que houve? -- Ela engoliu em seco, voltando a se sentar na cama.

—- Ele disse que sabe que temos a Espada e que pouco acredita que você vá usá-la. Mas que está adorando ver o que acontece... e eu preciso que seja sincera comigo, eu vi o quanto ele é importante pra você. E eu sei que você já tinha falado antes e que eu não acreditei muito, mas agora é sério, você consegue levar nosso plano até o fim? – Ele falou calmo, até preocupado, se sentando ao lado dela.

—- Dean... eu já falei que seria difícil e sei também que ele veio hoje em parte com sinceridade, mas também para olhar nos meus olhos como quem diz “Você vai ter coragem? Depois de tudo, de tanto anos...” – Ela olhava nos olhos de Dean – E eu fraquejei. Por isso eu preciso de você agora mais do que precisava antes... porque, eu tenho um plano b, já que não acho que tenha coragem de mata-lo. Então eu vou contar a você e como tenho certeza que você é mais justo do que eu, deixarei que escolha qual o melhor a se fazer. –

Dean respirou fundo, não queria magoá-la mas não gostava da ideia.

—- Catie, eu não sei se plano b, é o ideal pra qualquer um de nós. Pra você principalmente... –

—- Vou discordar de você Caçador. – O olhar dela aos poucos se tornava triste – O plano b é melhor pra mim, pra minha consciência, mas não o mais justo com todos vocês e todas as outras pessoas. – Ela tinha a cabeça baixa – Veja, Bobby não era seu pai de sangue, mas criou você e seu irmão. Mesmo se ele fosse ruim, você teria coragem de tirar a vida dele? Sabendo que do jeito dele, ele o amava, você o mataria? – Ela falou sem olhar Dean e este, finalmente entendendo do que se tratava, trouxe Catarina para perto de si e a abraçou apertado.

—- Não. – Respondeu baixinho enquanto a abraçava, a mulher retribuiu o gesto – Me conte do que se trata esse plano b. –

—- Vou contar, mas desde já: obrigada por me ouvir, Caçador. – Ela falou no meio do abraço.

—- Não tem que agradecer. – Dean respondeu beijando o ombro dela, sem soltá-la.

Khan os observava com seus olhos de vidro e através dos olhos da fera ele podia ver o reflexo dele e da Feiticeira, ficou perdido naquele reflexo enquanto ela se mantinha em silêncio, abraçada a ele.

Xx

Apesar de não haver analgesia Sam não sentiu uma dor sequer desde que os curandeiros começaram seu trabalho. Na verdade já estava com o joelho enfaixado, lendo alguma coisa que havia achado na cabeceira da cama onde estava, pelo jeito o líquido que Catarina havia lhe dado tinha efeito prolongado.

—- Você teve muita sorte. – A voz de Zoey chamou a atenção de Sam – A enfermaria está vazia hoje, normalmente o movimento é maior. –

Sam ergueu a cabeça para olhar pra ela. A mulher era alta, tinha os cabelos cacheados e dourados como ouro, seus olhos lilases eram brilhantes e ativos, tinha um sinal pequeno perto da boca, sua pele tinha um cor bronzeada discreta e o corpo bem naturalmente trabalhado, como alguém que se exercita com frequência.

Ela trazia consigo uma bandeja.

—- Sorte mesmo seria não ter me machucado. – Ele brincou se sentando. – Isso é pra mim? – Apontou a bandeja.

—- Exatamente. – Ela colocou o objeto no colo dele – Coma tudo, vai ajudar a ficar completamente sarado em poucas horas. –

—- Você cozinha também? – Sam perguntou dando a primeira colherada naquela coisa que não sabia o que era, mas era delicioso.

Zoey havia ficado presente durante todo o processo, ela era bastante falante e parecia ter o talento de deixar as pessoas a vontade perto dela.

—- Não. – Ela foi veemente – Mas todos, e quando eu digo todos são todos mesmo, foram ouvir o pronunciamento de Catarina e ela também provavelmente já lhes entregou o coração do assassino... –

—- Entregou o coração do assassino? – Sam franziu o cenho, estranhando.

—- É um costume antigo, raramente quebrado... – Ela sentou-se na ponta da cama – Enfim, pelo que vi, a cremação de Alif também já se encerrou, não tem mais fumaça no Céu. Todos eles devem estar na praça comemorando a morte do traidor e homenageando o Coração Azul. –

—- Parece bastante folclórico... – Sam falou concentrado em comer -- E porque não está lá com seu povo? –

—- Primeiro porque eu não sou uma feiticeira, segundo porque é até bonitinho de ver, mas não faz meu tipo de evento favorito. – Ela riu.

—- O que você é, então? – Sam perguntou interessado.

—- Eu sou, eu era, um anjo. – Ela disse virando as costas para Sam.

Este deu um pequeno pulo na cama, ao perceber as duas protuberâncias, irregularmente cortadas, que surgiam nas costas dela.

—- Costumavam ser as minhas asas. – Ela falou voltando a ficar de frente para Sam.

—- Como as perdeu? –

—- Me foram brutalmente arrancadas com uma espécie de machado cego. – Ela falou desviando o olhar rapidamente – Me lembro da dor e do sangue quente escorrendo até hoje... –

—- Quem fez isso com você? –

—- Alguém que felizmente sofreu horrores pra morrer. – Ela sorriu de escárnio – E modéstia a parte as minhas asas era lindas... douradas como o meu cabelo. – Suspirou nostálgica.

—- Engraçado você falar disso com tanta naturalidade, ainda mais com alguém que mal conhece. – Sam falou, sem conseguir disfarçar o estarrecimento com o que havia sobrado das asas dela.

Ela riu sincera.

—- Eu tenho esse defeito de me abrir com estranhos... mas também eu acredito que a melhor maneira de se livrar de um trauma é falando sobre ele! – Comentou agitando a bebida que estava na bandeja de Sam – Além do que temos mais em comum... –

Sam interessou-se e cruzando os braços de forma engraçada, franziu o cenho.

—- Ah é? O que nós temos em comum? –

Zoey olhou nos olhos dele e disse sorrindo.

—- O coração partido. –

Xx

—- Mel. – Gabriel repetia calmamente – É completamente normal que você sinta alguma dificuldade com isso! Na sua terra vocês tem contato com magia desde a concepção! Você vai completar vinte e está dando os primeiros passos agora. –

—- Isso é horrível! – Ela resmungava estressada – Eu consegui abrir algemas mágicas uma vez! –

—- E você conseguiu fazer uma espada magnífica ontem, mas hoje está mais difícil, é normal! – Ele insistia chegando mais perto dela – O que você não pode é se irritar e desistir porque nós vamos terminar não indo a lugar nenhum com isso. –

—- Eu sei! – Ela parou de andar de um lado pra outro e respirou fundo – Me desculpa, é que eu estou com a pior concentração do mundo hoje. –

Gabriel a segurou pelos braços levemente.

—- Calma, respire. – Ela o obedecia – E o que deu em você, teve um pesadelo durante o cochilo? – Ele brincou sorrindo para ela.

—- Não, não foi pesadelo... – Ela ficou vermelha – Eu nem sonhei com nada, é só que... eu to com vontade da fazer uma coisa, mas não sei se posso, nem se é apropriado... –

—- O que é, Mel? – Gabriel se preocupou.

—- É que chega ser até meio clichê... – Ela revirou os olhos fugindo do assunto.

—- O que é clichê Melissa? – Ele voltou a perguntar.

Ela ficou um momento em silêncio e então respirou fundo:

—- Isso! – Num rompante ela jogou os braços ao redor do pescoço do anjo e o beijou por um tempo, até que Gabriel a afastou – Droga, desculpa. – Melissa voltou a ficar vermelha e abaixou o rosto triste.

—- Não me entenda mal, apenas está errado, não sinto isso por você, e... –

—- E... – Ela levantou a cabeça pra ele.

—- Não faça isso pra esquecer Dean. – Gabriel falou de maneira séria e triste ao mesmo tempo.

Melissa riu sem humor e olhou nos olhos dele.

—- Eu não estou fazendo... eu não estou, isso não tem nada com Dean, nem com que tive com ele, nem com esquecer...- Ela respondeu um tanto nervosa.

—- E então o que é? –

—- Isso tem haver com uma garota atraída por um cara mais velho, puramente isso, sem terceiros envolvidos. – Ela engoliu em seco.

Os olhos de whisky dele chegaram perto dos dela e a garota sorriu.

—- Você achar alguém legal, Mel. Só não sou eu. -- Ele a abraçou -- Quero ajudar você porque é minha aprendiz, você é uma garota e tem muito o que viver, tenha calma... --

—- Gabriel? – Uma segunda voz feminina disse e parecia ofendida – O está acontecendo? –

Os dois se viraram para a recém chegada e para Melissa foi ainda mais estranho, não conhecia aquela moça, mas ela lhe lembrava Catarina, porém loira, mais frágil e com a pele menos a mostra.

—- Elena... – Gabriel perdeu as palavras – O que está fazendo aqui? –

—- Eu fugi... – A garota respondeu.

To be continued ;p


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Notas finais do capítulo

E aí? Contem-me tudo não me escondam nada.
Amo vcs e seus comentários e tudo mais.
Bjs de hunter para hunter
Até bem breve!



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