Heavenly Hell escrita por Ju Benning


Capítulo 27
The Good, The Bad and the Humans


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo chegando!! Eu sei que demorei de novo, maaaas, temos o que seriam dois capítulos em um (yeey) uma parte mais picante do que o normal, nada que precise aumentar a censura, mas desde de já estão avisados. ;p Mais de Melissa e Gabriel e ainda... uma olhadinha no lar da Feiticeira! Só uma sinopse rápida :D
Espero ter compensado a demora e por favor, me contem o que acharam e tudo mais como sempre.

Boa leitura, Hunters!



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Procurar entender os últimos acontecimentos parecia não fazer sentido algum para Sam. Sua mente fervilhava e tudo parecia ser a respeito da feiticeira, como uma obsessão doentia pelo diferente, pelo único, pela estúpida perfeição dela, que não existia em nenhuma mulher humana. Era inacreditável que aquilo não fosse um tipo de feitiço.

Nascidas para hipnotizar. Ele já havia lido em algum dos livros de Kevin e por experiência própria sabia que era verdade. Perdido entre todas essas confusas referências e memórias, pegou aquele maldito diário, esperando abrir uma daquelas páginas e se deparar com mais uma atrocidade do monstro que habitava aquele corpo frágil, algo que pudesse fazê-lo odiar Catarina.

“ - Estes devem ser tempos de muita luz. – Foi o que Darian me disse logo pela manhã, quando ao acordar sozinha na cama o avistei sorridente na varanda.

— O que te faz sorrir tão cedo, se eu estive dormindo até agora? – Eu falei quando o abracei pelas costas, enrolada no lençol.

Sempre me sinto estúpida reproduzindo nossos diálogos. É só que eu nunca imaginei sentir por qualquer um o que sinto por ele e por ser tão intenso, eu tenho medo que queime rápido, que eu o perca quando menos esperar.

Mas isso não importa. Não vai mesmo acontecer, é só um medo estúpido.

O que escrevo aqui é o milagre que caiu sobre nosso mundo. Mais uma criança feiticeira iluminada. Mais um Coração Azul foi encontrado. O que é absurdamente raro. O pequeno e órfão Alif encontrado pela guarda em treinamento perdido pelos bosques virá para a fortaleza morar conosco. E como a vida é feita de concessões, Darian permitiu que eu trouxesse outra dos pequenos sem pais de nosso povo, que até agora eu havia deixado sobre a guarda de Geórgia. A pequena Elena foi abandonada pelos pais por ter nascido numa lua ruim, história familiar pra mim.

Vamos adotar as duas crianças.

Devem ser mesmo tempos de luz.”

—- Adoção? – Sam engoliu em seco quando fechou o diário e jogou longe e arrastou o cabelos pra trás com as mãos como se quisesse arrancá-los. – Eu queria uma atrocidade e essa droga de livro me vem com... crianças órfãs. –

Xx

O enorme tablado de treinamento já havia começado a ter sua finalidade cumprida.

—- Céus, isso cansa mais do que domar cavalos. – Melissa reclamava ofegante.

—- Eu não me lembro de ter mencionado a palavra “fácil” – Gabriel disse em tom de brincadeira comendo mais um de seus muitos chocolates – Mas eu prometo, que se conseguir fazer essa sequência de maneira que me satisfaça, nós passamos para um pouco de mágica – Ele balançou as mãos de maneira engraçada.

Melissa ofegava, ela sentia como se estivesse treinando por horas intermináveis, mas estava bem longe disso.

—- Olha, Arcanjo Gabriel. – Ela ainda não sabia bem como se dirigir a ele – Eu espero não te ofender com isso nem nada, mas será que não rolaria um lance tipo o Neo do filme Matrix que só enfiou um monte de tipos de luta na mente e – Ela estralou os dedos e deu um pulinho – pronto! Ninja. –

Gabriel revirou os olhos e foi até ela.

—- Primeiro: Pode tirar o Arcanjo, é só Gabriel. – Ele falou enquanto corrigia a postura dela – Segundo: Eu sinto falta do tempo que as pessoas tinham paciência. –

Melissa riu.

—- Gabriel, eu teria toda a paciência, se eu tivesse todo o tempo do mundo! –

Gabriel franziu a testa pra ela.

—- E porque você não teria todo o tempo do mundo? Você deixou todo acampamento, os Winchester e a Feiticeira para trás, querendo uma nova vida. E porque não teria todo o tempo do mundo? – Ele a olhava de um jeito, apenas a poucos centímetros dela, o anjo parecia já saber a resposta, mas queria a verbalização.

—- Não é nada... – Ela mentiu virando as costas para ele e indo alcançar uma espada de madeira caída no chão – Talvez se você pelo menos me deixasse usar uma espada de verdade... –

Gabriel levantou as sobrancelhas para ela.

—- Melissa, olhe pra mim. – A garota obedeceu – Eu posso só ter lhe conhecido pessoalmente há poucas horas, mas eu tenho mantido um olho em você há mais tempo do que imagina. Não minta pra mim, nem mude de assunto. – Ele disse em tom autoritário quando fez a espada de madeira desaparecer.

Melissa cruzou os braços na frente do peito e não tinha uma expressão muito sorridente.

—- Por favor, não vá você também bancar o super protetor! Eu já estou de saco cheio disso. –

—- E quem disse que eu vou? – Gabriel riu – Se eu fosse super protetor você não teria ido parar no inferno e nem teria deixado você com aquele bonitão dos olhos verdes. –

—- Dean. – Ela corrigiu engolindo em seco.

—- Que seja. – Gabriel deu ombros – Jaqueta de couro, gosto musical impecável, sempre com a cantada certa na ponta da língua, sem falar no físico correto para o deleite feminino – Ele tinha algo suspeito no tom de voz, como se fosse raiva, talvez – Perigoso. Não é o tipo pra você, mas isso sou eu que acho, nenhuma regra, nem nada. – Ele revirou os olhos e quando tornou a falar estava sério – Mas voltando ao ponto não mude de assunto. Qual a sua urgência? –

Ela hesitou por um tempo, mas decidiu que se não fosse honesta com Gabriel, não havia ponto nenhum de estar ali com ele.

—- Eu não sei bem, é uma questão de orgulho meu, sabe? – Ela se aproximou do Arcanjo mais uma vez – Eu saí daquele acampamento como uma garotinha assustada, enciumada e birrenta. Quando... quando eu mudar, me tornar o que eu nasci pra ser – Ela olhou a marca da Lua na sua mão – eu quero ser vista, quero mostrar quem eu sou. –

Gabriel a fitou com os olhos cerrados.

—- Me prometa que isto não tem nada a ver com Catarina. – A garota o respondeu com um longo silêncio. E Gabriel a pegou pelos dois braços, mas não havia força – O que quer que esteja pensando, tire isso da sua cabeça. Você é maravilhosa Mel, e vai ficar ainda mais quando tudo acabar, mas... –

—- Gabriel, você prometeu que não ia bancar a babá. – Ela falou entre os dentes o interrompendo.

—- E eu não estou! Acontece que suicídio é diferente. – Ele respondeu de imediato, agora apertando um pouco ao redor dos braços dela – Por mais que você cresça, fique longe de Catarina, não a desafie, porque além de muito poder, ela já matou gente o suficiente pra não se importar com mais uma morrendo nas mãos dela. –

—- Você está me subestimando? – Melissa se irritou.

—- Não é nada disso. – Ele falou pausadamente – Eu vou fazer uma analogia. Eu sou um Arcanjo, muito poderoso, como meus outros irmãos, certo? – Ele ficou em silêncio até que Melissa concordasse. – Mas o que aconteceria comigo se eu fosse num mano a mano com Miguel ou Lúcifer? –

Melissa deu as costas e caminhou para longe.

—- Você morre. – Ela respondeu pegando um pedaço de ferro dos escombros que haviam ficado ao redor.

—- Exatamente. – Ele ficou observando-a de longe, sabia que a tinha deixado irritada com o havia dito e por mais que tivesse sido em partes proposital, porque precisava daquela raiva motivacional, também tinha de ter cuidado. Incentivar Melissa a procurar Catarina para algum acerto de contas depois de tudo, era no mínimo arriscar a integridade física da garota.

—- Só que eu não sou você e ela certamente não é Miguel. – Com uma concentração visivelmente dolorosa, a garota transformou a barra de ferro em uma bela e trabalhada espada, muito afiada, peso correto e comprimento perfeito.

—- Bravo, senhorita. – Gabriel aplaudiu sorrindo mais ainda preocupado no fundo – Vamos voltar a trabalhar, meu bem. –

De fato ele ainda se preocupava, em partes por ter observado Melissa de longe por um longo tempo e saber o quão bom era o coração daquela garota, mas também (e principalmente) porque ela estava tristemente certa no que havia dito. Catarina realmente não era Miguel, ela estava mais para o Arcanjo Sombrio.

Xx

—- Eu vi você dançando. – Dean sussurrou entrecortadamente ao ouvido de Catarina em uma das vezes em que distribuía beijos ao longo do pescoço da mulher.

—- Você seguiu a música até o rio? --

—- Quer que eu dance pra você pra você, Caçador? – Ela o olhou fervilhando -- Mas vamos ter de parar o que estamos fazendo agora... – Ela beijou toda a extensão do ombro ao pescoço dele, até mordiscar o lóbulo da orelha.

Os dois mantinham a forma que sempre se relacionaram em outras ocasiões: disputando.

Dean inverteu as posições dos dois, jogando o corpo de Catarina contra o chão, agora com total controle do acontecia entre os dois. Ela riu abertamente e seus olhos brilhavam.

—- Você vai dançar pra mim, Feiticeira. – Ele disse parando de se mover só para irritá-la um pouco e talvez vê-la pedir por mais – Vai fazer muitas coisas pra mim ainda, temos a noite toda e nenhuma pressa, certo? –

—- Nós vamos fazer muitas coisas um para o outro. – Ela parecia corrigi-lo enquanto se mexia maliciosamente, aquele olhar era infalível – Não tenho pressa nenhuma. Me satisfaça e será um prazer dançar pra você. –

A noite foi longa.

Xx

Noite e Castiel, antes sozinhos, agora jogavam cartas tranquilamente junto a Kevin, que por algum motivo havia acordado no meio da noite e havia perdido o sono, partida após partida o Sol despontava no céu tudo parecia normal, pelo menos até Castiel ficar de pé de uma hora para a outra, estragando o jogo todo.

—- Aah! Qual é, Anjo? – Resmungou Noite – Você não sabe mesmo perder, não é? –

—- Droga... – Kevin olhava para o jogo bagunçado – Na próxima rodada eu ia ganhar. –

—- Não diga. – Noite parecia desapontado – Eu não ganho uma... – Comentou terminando de bagunçar o jogo, como um pirralho infantil – O que merda deu em você, Castiel? –

—- Você não sente? – O anjo perguntou olhando ao redor.

—- Sentir o que? – Kevin perguntou também incomodado por ter perdido o jogo.

—- Tem mais um anjo aqui... – Castiel começou a olhar ao redor de si mesmo.

—- À sua direita, Soldado. – Disse uma voz feminina imponente.

—- Geórgia. – Castiel falou fazendo uma espécie de reverência em seguida.

A mulher não usava roupas humanas, mas uma espécie de vestido feito de malha metálica, semelhando a um traje de batalha, mas tinha seu charme. Seus cabelos eram de um ruivo alaranjado soltos em suas ondas largas e um tanto revoltas, seus olhos verde esmeralda olhavam a tudo freneticamente e pareciam ter a precisão dos de uma águia. E ao contrario do que era comum, ela não escondia suas essas, estas eram visíveis, enormes e um tanto amedrontadoras, já que num degrade abrupto do ponto onde nasciam até as pontas, as penas iam do branco a um vermelho sangue.

Kevin pareceu desarmar, seus ombros caíram junto com seu maxilar.

—- Linda... – Ele não se conteve em sussurrar.

A mulher o olhou com o canto do olho, e mexeu as sobrancelhas numa expressão de desdém.

—- Cabeça de fogo. – Noite ficou em pé assim que a viu.

Por um segundo Kevin pode jurar que Noite perderia a cabeça, mas no segundo seguinte a mulher perdeu os ares de estátua e sorriu como se fosse normal, suas asas abrindo como se fosse um sinal adicional de alegria.

—- Bom ver você, Balto! – Os dois se abraçaram por um breve momento – E você pode relaxar, Castiel. O que venho fazer aqui não tem nada com você. –

O anjo suspirou e relaxando, caiu sentado, ao lado de Kevin.

—- Então, o que você faz aqui? Pergunto com todo o respeito é claro. – Castiel ainda a olhava desconfiado.

—- Uou. – Disse a voz de Sam atrás de Geórgia e Noite. O recém chegado tinha uma expressão parecida com a de Kevin, só que estava mais confuso e fincados nas asas enormes dela – Quem é você? --

—- Meu bem, -- Noite falou para a mulher – que acha de guardar as asas, antes que alguns maxilares se desprendam por aqui. –

—- Nem pensar. – Ela respondeu incisiva e com um tipo de violência passiva, que fez com o feiticeiro se calasse – Geórgia, Primeira General Celeste. – Ela respondeu, sem dar muita importância ao homem, ou sequer perguntar seu nome e seguiu com o que tinha a dizer -- Balto, onde está Catarina? --

—- Bem, eu... – Noite parecia ter finalmente percebido que algo sério tinha acontecido – eu não sei, mas não acho que esteja longe. O que houve? Não gosto do seu tom. –

A mulher fitava Sam pelo canto do olho, de forma indecifrável, mas não demorou a responder.

—- Trago uma mensagem urgente de Elena para ela. Problemas graves, de interesse extremamente pessoal. Preciso encontra-la. – Disse Geórgia, com seu ar paradoxal de aparência clássica e personalidade de fera.

Xx

O Sol já havia ganhado seu espaço no céu e mesmo que o protagonista fosse outro, a cachoeira e o rio eram os mesmos. Dean já havia deixado a água, depois de um tempo respirando fundo e relaxando. Agora estava na areia voltado a se vestir.

Catarina por sua vez, ainda nadava tranquilamente, encarando relaxada o céu azul acima de seus olhos.

—- Catarina, sai da água, vamos. Ainda temos de bolar alguma coisa para falar, ou não falar nada. – Disse Dean em tom calmo, sua ansiedade era o reflexo de não estar mais sob o efeito dos olhos da feiticeira.

Mudando o nado rapidamente ela sumiu da superfície, deixando o caçador confuso se ela havia ouvido ou não, mas instantes depois ela reapareceu na margem, deitada de bruços na areia, ainda sem nada cobrindo a pele.

—- Pra você é melhor a segunda opção. – Ela falou num suspiro – Quando seu irmão superar a fixação e estiverem de volta na estrada, você conta. Talvez ele ria de si mesmo. Pelo eu vi na mente de Sam, ele está bem alterado esses dias. – Ela ria.

Dean a olhava tentando usar o pouco conhecimento que tinha para decifrar o que quer que estivesse passando dentro daquela cabecinha ardilosa.

—- Não se sente nenhum pouco mal sabendo que responsável pelo comportamento dele? – Ele franziu a testa, acomodando-se melhor na areia.

—- Dean... – Pra ele ainda era engraçado o jeito que ela pronunciava seu nome – eu errei ao me deixar afeiçoar por todos vocês, tudo teria sido mais fácil. Eu errei ao sentir compaixão pelo que tenho em comum com Sam... essa coisa de lutar contra a escuridão. Eu fui cruel ao usar o modelo de Jéssica, eu errei ao brincar de Kathe, mesmo que ela não seja tão diferente de mim, porque... eu nunca amarei um humano como ele me ama agora. E eu me sinto mal sim, mas o que me resta a agora é esperar que o tempo o cure, como eu sei que vai. -- Ela suspirou -- Seu irmão é um amor, vai encontrar uma boa companheira, alguém que não o esteja usando. E quando eu for embora... tudo vai melhorar num passe de mágica. --

Dean a olhou sem roupa no que parecia ser a última vez e sorriu um pouco, não pela falta de roupas dela, mas por ter conseguido entender o que queria dizer.

—- Pelo que eu entendi você vai sumir agora... então vai nos abandonar e deixar que tudo caia e a Terra queime no Apocalipse? –

Catarina riu sincera, estava leve.

—- Não. – Foi incisiva – São meus dois Arcanjos, é minha responsabilidade. Muito embora eu tenho certeza que você, Sam e Castiel são bons o suficiente para resolverem vocês mesmos. –

—- Acho que isso é um elogio... então, obrigada. – Dean deu de ombros.

—- É um elogio e pode parar com a falsa modéstia. – Ela riu prendendo os cabelos num coque alto, coisa que Dean nunca a havia visto fazer antes... ficava bem igualmente.

—- Posso falar uma coisa de ontem a noite? – Ele perguntou enquanto ela havia ido se olhar no reflexo da água.

—- Fique à vontade. – Respondeu de costas, mas Dean percebeu o riso no meio da fala.

O caçador respirou fundo, mas antes que pudesse falar, Catarina se virou de onde estava, a leveza havia a deixado, ela estava tensa, olhando para dentro da floresta, ou através dela, Dean não soube dizer. Mas quando a mulher se aproximou dele e tocou seu braço percebeu que era algo sério, Catarina estava gelada.

—- O que há de errado? – Ele perguntou instintivamente.

—- Geórgia... – Ela murmurou, mas percebendo que ele não entenderia completou – Ela é uma amiga, um anjo. Não estou triste por sentir que está por perto, mas se veio aqui atrás de mim... não será boa notícia. – Ela olhou para Dean sem medo de aparentar em pânico, porque era isso que sentia.

Se Geórgia estava ali, havia algo de errado com suas crianças, ou seu povo.

Xx

Geórgia olhou a floresta e pareceu relaxar um pouco mais.

—- Tinha razão ela está perto. –

—- Me desculpe perguntar. – Sam se atreveu – Mas o que quer com ela? –

A ruiva ainda o olhava de canto, quando olhando para Castiel, perguntou:

—- Porque ele me lembra Lúcifer? – Ela se referia a Sam.

—- Sam Winchester é o receptáculo dele. – Explicou o anjo – Mas não se preocupe, ele é totalmente confiável, uma boa pessoa. –

—- Vou confiar no seu diagnóstico, Soldado. – Ela sorriu para Castiel, finalmente virando-se para Sam – Uma das crianças de Catarina foi gravemente ferida... não sobreviverá. – Ela contou com pesar.

—- O que você disse, Geórgia? – A voz de Catarina surgiu da saída das árvores.

— Eu sinto muito... – A ruiva disse se aproximando da amiga --você precisa voltar, ele quer vê-la. Elena está destruída, eu não posso acalmá-la e nem ao seu povo sozinha, foge das minhas mãos, ou das de Miguel... –

A cor deixou o rosto da Feiticeira, que olhou para Dean atrás de si e todos ao seu redor, mas seu olhar estava perdido, totalmente fora do real. Noite foi até ela e forçou um abraço.

—- Geórgia o que aconteceu ao Alif? – Foi Noite que teve coragem de perguntar.

—- Uma Caça ao Dragão com um amigo, acabou ferido... –

—- Foi acidental, então? – Noite continuou perguntando enquanto sustentava a amiga.

Dean estava assustado com a presença da mulher alada, nunca havia visto nada parecido em sua vista antes, procurou o olhar do seu irmão por instinto, mas este parecia estar o ignorando e Dean não o recriminou por isso, mas imaginou o quanto tudo seria pior se ele soubesse do que aconteceu durante a noite.

—- Aparentemente. – Confirmou Geórgia – Ele se recusa a falar muito com outras pessoas, sabe que não tem volta para si mesmo. Está guardando energias pra se despedir de você. --

—- Não foi acidental. – Catarina voltou a falar, mas ainda parecia fora de si – Me leve até ele agora. –

—- Como você pode ter certeza que não foi acidental? – Noite questionou.

—- Alif é o melhor Caçador de Dragões que eu já vi. – Ela falou rispidamente – Vamos logo. – Ela soava transtornada.

—- Quem é Alif? Porque ele é tão importante? – Dean perguntou com o cenho franzido.

Catarina engoliu em seco, olhando o Winchester pelo canto do olhos e respiro fundo, não sabia se conseguia explicar, se sentia péssima.

—- Filho adotivo dela. – Sam falou olhando Catarina pela primeira vez, se aproximando dela, de Noite e de seu irmão.

—- Entende o que eu digo agora, Dean? Preciso ir. – Ela falou num suspiro – Mas eu volto pra terminarmos tudo. Prometo. – Ela disse olhando nos olhos dos dois.

Ignorando o mal estar entre os dois, Sam cochichou para o irmão:

—- Confia nisso? –

O mais velho sorriu internamente, talvez se as coisas se mantivessem assim, logo voltariam a ser como eram antes.

—- Eu não sei. – Dean respondeu num sussurro.

Catarina olhou para os dois de maneira um tanto indignada.

—- Que venham junto, então. Não vou gastar mais tempo aqui e arriscar a chegar tarde demais até ele. – Catarina respondeu aos dois que pensavam estar falando em segredo.

Os irmãos Winchester se olharam mais uma vez. Dean preferiu deixar Sam escolher o que fazer, porque o mais velho não tinha problema em ir, mas não sabia se outro ficaria bem na presença da Feiticeira.

—- Ok. – Sam concordou ainda sem olhá-la diretamente.

Catarina o olhou de canto, de um jeito que não dava pra entender e falou com Noite.

—- Balto, fique com Castiel e Kevin até voltarmos, por favor. –

—- Sem problema. – O outro concordou – Diga ao pequeno príncipe que estou com muita saudades dele. – Completou com os olhos cheios de lágrimas e beijando a testa da amiga por um longo tempo, então a largou e foi para junto de Castiel

Geórgia lançou um olhar desconfiado dos humanos para Catarina, que logo respondeu:

—- Está tudo bem, confie em mim. –

Sem dizer mais nada, a Primeira General Celeste os tirou de lá.

Xx

O dia já havia chegado há um tempo, quando Melissa se jogou no chão, agora sim, havia treinado por horas à fio, mas apesar do cansaço físico se sentia bem como a muito tempo não se sentia.

—- Ok. Acho que agora é uma ótima hora para uma pausa, não acha? – Ela falou, jogando a espada que tinha feito para um lado e cobrindo os olhos com as mãos – Treinamento cansa, mas é absurdamente sensacional. – Ela sorria.

—- Isso não aparecia faz tempo... – Gabriel disse puxando-a pela mão, para que se levantasse.

—- Isso o que? -- Ela franziu o cenho e desmanchou o sorriso por um segundo.

—- Seu sorriso. – O Arcanjo usou seus dedos indicadores para forçar um novo sorriso na garota, que ao se esquivar da maluquice acabou voltando a rir de verdade.

—- Você deve ser maluco. – Ela brincou – Ai, eu daria tudo pela minha casa aqui e o meu quarto e o meu banheiro! Tinha uma banheira meio antiga que mantinha a água quentinha por muito tempo e o chuveiro! Céus! – Melissa parecia eletricamente nostálgica e Gabriel a olhava segurando o riso.

—- Devia ser uma casa maravilhosa, Mel. – Ele falou cruzando o braços – Por acaso parecida com aquela ali? – Ela indicou algo atrás da garota, que se virou animadamente.

—- Oh meu Deus! – Ela exclamou ao ver atrás de si sua casa de pé novamente – Eu fiz isso? – Ela indagou sem acreditar.

—- Não. – Ele riu guiando-a para dentro -- Mel, você está indo bem, mas temos um longo caminho ainda... fui eu que fiz isso pra você. –

—- Ai, você é o melhor! – Melissa apertou as bochechas dele e disparou escada acima.

Gabriel ficou observando a garota que parecia recuperar seus pedaços quebrados aos poucos, como nascida na lua dele, o Arcanjo se sentia um responsável por colocar as coisas da vida dela de volta no lugar.

Sozinha no andar de cima, tinha a impressão instintiva de que ouviria sua irmã gritando para que ela abaixasse o som, ou que sua mãe a chamaria para ajudar no café da manhã a qualquer momento. Ali, de volta em sua casa, a garota percebeu que não havia tido direito a nenhum momento de luto por sua família. O impulso de chorar lhe tomou por um momento, mas o meio tempo que se passara desde a tragédia do Rancho Solar a havia transformado, Melissa finalmente se deu conta que não mais aquela menina, havia crescido e precisava começar a agir como uma mulher e também não como um modelo copiado de alguém que tinha todos os motivos para odiar e sim aquela que sua mãe e irmã se orgulhariam de que ela se tornasse.

A garota não fazia ideia se reconstruir sua casa havia sido algo premeditado por Gabriel, mas os fantasmas que habitavam aquela casa. Todas as suas memórias. Se revelaram para Melissa serem exatamente o que ela precisava pra se encontrar, suas raízes eram o segredo oculto da sua salvação.

Depois de um longo banho de banheira e de vestir suas próprias roupas, que estavam todas ali também, ela desceu as escadas se sentindo absolutamente nova e pronta para mais o que quer que fosse que Gabriel inventasse. Quando chegou ao térreo sentiu o cheiro maravilhoso de comida no fogo e acelerou o passo até a cozinha. Lá, como se estivesse tentando fazê-la rir o tempo todo, estava o anjo, vestido com um avental, um daqueles chapéus de cozinheiro e bigodinho no estilo chefe de cozinha francês.

—- Com fome, mon cher? – Ele brincou, indicando a mesa cheia das coisas que ela mais adora comer.

—- Aaarrgh! Morrendo de fome. – Ela ria enquanto sentou na mesa e começou a devorar toda aquela comida maravilhosa -- Você cozinha bem. – Comentou de boca cheia.

Xx

Boquiabertos. Foi como ficaram Sam e Dean assim que puderam olhar ao seu redor e ver do que se tratava a terra da Feiticeira.

Dean não tinha nenhuma referência prévia, mas para Sam, que já havia visto uma pintura daquele lugar no Inferno foi como se estivesse realmente dentro daquele quadro, pois era idêntico.

O rio de águas prateadas, a grama dourada reluzindo sem incomodar aos olhos dos espectadores, o Sol que brilhava branco, mas não queimava, as nuvens que pareciam sempre ter o ton de fim de tarde. As duas fortalezas que havia visto estavam bem ali também, uma de cada lado do rio. O que ele não conhecia através da pintura, mas que era igualmente agradável era a brisa confortável que parecia correr incessantemente. De ambos os lados do rio as árvores era curiosas nenhuma igual a outra, o tronco, as folhas, as frutas, todas diferentes, até estranhas às vezes. O lugar era fascinante como alguma coisa saída de um sonho.

Dean não se conseguiu manter o maxilar no devido lugar, fazia uma imagem diferente do mundo da feiticeira, talvez estivesse confundindo realidade com pornô novamente. E mesmo que todas aquelas mulheres que iam e vinham por toda a parte fossem maravilhosas e de fato andassem com aquelas roupas esvoaçantes praticamente seminuas, não havia vulgaridade. Era natural... elas conversavam e sorriam, algumas delas sempre acompanhadas por algum animal. Haviam homens também, igualmente bem humorados, igualmente incomuns, se divertiam fazendo suas mágicas.

Haviam alguns casais que se divertiam ou simplesmente caminhavam de mão dadas, haviam jovens mandando corações encantados uns para outros . E, claro, haviam crianças mágicas correndo por todo lado, sem medo de nada, perseguindo o que pareciam ser minúsculos passarinhos de asas em chamas, outras subiam nas árvores e comiam as frutas exóticas direto do pé. Aquelas crianças mal pareciam reais.

Por um momento Dean se perguntou como Catarina era quando criança e não conseguiu evitar de imaginar Melissa ali entre aquelas jovens feiticeiras, finalmente havia entendido que o que via de incomum na garota, era toda a mágica daquele lugar que ela carregava dentro de si.

—- Sejam bem-vindos ao meu mundo, irmãos Winchester. – Catarina disse os trazendo de seu profundo devaneio.

E quando os dois perceberam já estavam um pouco para trás, Geórgia já voava pelo céu, distante, parecia um pássaro. E Catarina mais adiante, olhando tudo ao seu redor, as roupas brancas voando na brisa e um dos minúsculos passarinhos de asas em chamas pousado em seu dedo indicador, ela sorria para o animal que roçava o bico no nariz dela. Finalmente aquela criatura incomum e bizarramente perfeita fazia sentido. Naquele lugar dos sonhos ela se encaixava.

—- Se não quiserem me seguir, fiquem à vontade para andar por aí, é um lugar lindo... – Ela falou de onde estava – Eu vou ver meu menino. –Ela falou começando a se afastar – Não se assustem com os animais, são inofensivos boa parte do tempo. – Ela olhou de canto quando o passarinho voou de seu dedo.

—- Medo dessa coisinha é que eu não tenho... – Debochou Dean, fazendo o irmão rir.

—- Olhe, Dean. – Sam indicou Catarina mais uma vez, agora rodeada por seu povo, pareciam extremamente felizes em vê-la. Logo perderam a conta de quantos abraços recebeu, já haviam posto flores em seu cabelos e colares de pedras em seu pescoço, o barulho só aumentava quando mais criaturas mágicas a notavam ali – Pelo jeito ela não mentiu quando disse que era importante. – O outro falou suspirando.

—- Tem razão. – Dean respondeu desejando que seu irmão não o perguntasse pela noite anterior, por isso emendou um assunto – Acho melhor não a perdermos de vista, esse lugar é lindo, mas aposto que não tem meus hamburgers. –

Os dois passaram a seguir a Feiticeira de longe até a grande e aberta fortaleza que se erguia no meio da grama macia.

—- Então resolveram me seguir? – Catarina falou quando depois de dissipar o alvoroço de seu povo seguia só pelos corredor internos do fortificação.

—- Preferimos assegurar que não fosse nos deixar aqui... – Dean respondeu.

Ela gargalhou.

—- Relaxem, não vou deixa-los aqui. –

Os irmãos se sobressaltaram quando alguém passou entre os dois, como se houvesse nada ali e abraçou Catarina, como se fosse sua vida dependesse disso. Era uma moça, de aparentes vinte anos, os cabelos loiros amanteigados e roupas quase idênticas as da outras.

—- Que bom que você veio. –Disse a loira.

—- Minha querida. – Catarina se virou de frente para a outra e lhe beijou a bochecha – Onde ele está? –

—- No quarto, venha. – Respondeu a loira com certa urgência, puxando Catarina pela mão.

—- Alguma ideia de quem é essa? Nem deu pra ver o rosto... – Dean falou para o irmão.

—- Aposto que seja a tal Elena. – Respondeu Sam vendo as duas se afastarem – Vamos logo ou vamos perde-las. –

Aquele lugar era cheio de corredores, curvas e pinturas enormes de mulheres e poucos homens em trajes e situações diferentes. Sam parou em frente a entrada de um salão repleto dessas pinturas, algo havia chamado sua atenção.

—- Venha logo, Sam. – Chamou Dean.

—- Esse lugar é interessante. – A intuição do mais novo o dizia para entrar, aquelas obras pareciam contar uma história, ou algo assim – Vá atrás delas e não tire os olhos de nada, eu vou ficar aqui. – Falou Sam mandando o outro ir.

Dean resmungou, mas obedeceu, queria ver no que ia dar toda aquela história, sua intuição dizia que muita coisa estava oculta na história do acidente de Alif.

Poucos metros depois, viu as duas entrarem uma porta, que se fechou no segundo seguinte.

—- Merda. – Xingou o caçador que encostou-se na parede ao lado, não dava para escutar nada.

Dean não sabe por quanto tempo ficou do lado de fora daquele quarto, a sensação da passagem de tempo era tão diferente ali, era quase como se não existisse.

Depois de uma espera de tempo indeterminado a porta voltou a se escancarar, Catarina saiu de lá chorando como uma criança com uma fragilidade palpável, que mesmo nos momentos em que mais havia se aberto na Terra, não se comparava àquilo. Dean pensou em andar até ela, quando um homem alto saiu do quarto também e tocou o ombro da Feiticeira, que num movimento brusco e virou o abraçou apertado, um ato de pura confiança.

Dean piscou os olhos algumas vezes, aquele homem parecia Sam, mas não era. Seu irmão jamais usaria aquela coisa que terno branco. A moça loira veio logo atrás, a cabeça baixa, seus cabelos ainda cobrindo seu rosto, mas seu corpo parecia bastante o da outra.

Catarina continuava com a cabeça afundada no ombro do homem de terno branco, este a apertava com força, num gesto bastante protetor.

—- Eu juro que não tive nada a ver com isso. – Falou a moça para Catarina. Esta levantou a cabeça do ombro do homem.

—- Alif e Otto estavam disputando aquele Dragão por você. Era uma disputa por você. – A Feiticeira respondeu entre os dentes.

—- Mãe, eu amei Alif demais! Otto é louco! Eu nunca tive nada com ele! – A loira exclamou.

Então esta é realmente Elena. Pensou Dean

—- Como se atreve a mentir na minha presença, menina? – Perguntou o homem, com a fala calma, mas de um sutil tom venenoso – Nenhuma mentira passa despercebida por mim, com exceção da sua mãe. – Ele mexeu nos cabelos da Feiticeira que ainda chorava consigo – Você amava Alif, verdade. Mas se ver disputada por dois rapazes, de ótima linhagem... é claro que você escolheria o Coração Azul, você não é burra e imita sua mãe de criação no que pode... – O homem continuava a falar, enquanto Elena baixava a cabeça cada vez mais – Mas você, Elena, nunca amou Alif, como Catarina amava Darian. Otto é louco e você sabe que ele seria capaz de tudo para ter você inclusive armar uma emboscada para Alif... – O homem falava sem olhar para a moça, mas esta parecia se ferir com cada palavra, como se aquele que falava fosse importante demais para si.

Depois de um tempo de silêncio, Catarina voltou a falar.

—- Se você amava tanto o meu menino quando você diz, – Ela fez uma pausa para respirar fundo e não ser atropelada por seus próprios soluços -- tenha a decência de pelo menos preparar o corpo dele para a cremação... – Catarina soltou-se do abraço do outro, havia uma fúria passiva na sua nova postura – Porque agora eu tenho que arrumar a bagunça que você fez. –

—- Farei o que diz... – Elena obedeceu.

Finalmente a loira virou na direção de Dean, o que serviu apenas para assustá-lo. Elena aparentava ser mais nova que Catarina não mais que quatro anos. tinha os mesmos olhos de sua mãe adotiva, a mesma malícia, o mesmo encanto. A despeito da cor do cabelo, eram a cópia uma da outra. Assustador.

Ao vê-lo, Elena chamou Catarina, mostrando-o do outro lado do corredor. A Feiticeira olhou em sua direção, assim como o homem que a acompanhava, nesse momento Dean assustou-se de verdade, os três o fitavam com as íris furtacores.

Mas havia algo errado, a maneira como Catarina o olhava, tinha um quê de culpa que o fez franzir o cenho.

Catarina ainda o olhava e quando começou a se afastar por um outro corredor à direita.

—- Aonde você vai? – Dean perguntou.

—- Vingar meu filho. – Falou num sussurro quando desapareceu pelo corredor, a última imagem que o Caçador guardou foram as amedrontadoras íris brancas dela, que nunca significavam boa coisa.

O Caçador fez menção se segui-la, mas Elena andou até ele e pousando a mão em seu ombro, falou:

—- Fique aqui, Dean Winchester. – A voz dela era mansa e aparentemente inofensiva – Não vai querer ver o que acontece a seguir. – Ela virou-se para o homem que sorria com o canto da boca – Vou cuidar do corpo de Alif, você ficará em boa companhia. – Deixando que sua mão descesse levemente pelo ombro de Dean, Elena se afastou, caminhando exatamente como Catarina caminharia, e voltou ao quarto de onde havia saído.

—- Finalmente nos conhecemos, Dean. – O homem de terno branco falou parado onde estava.

—- Quem diabos é você? – A intuição do caçador não indicava nada de bom.

O homem gargalhou

—- Veja só a ironia da sua fala, Dean... – Ele se aproximou com tranquilidade – Eu sou diabo. – Dean engoliu em seco quando viu o homem estender a mão na sua direção – Muito prazer, me chame de Lúcifer. –

Dean se recusou a dar mão ao diabo que a abaixou com riso de escárnio.

—- Pensei que não pudesse sair do Inferno... –

Lúcifer riu mais uma vez.

—- Eu não posso ir a Terra e nem a nenhum outro lugar... mas aqui? – Ele abriu os braços olhando ao redor – Eu apadrinho Catarina, esta é a terra dela, da minha predileta. Eu tenho passe livre aqui, Dean. –

O Caçador engoliu em seco. Aquilo não podia ser bom.

Xx

Sam estava perdido entre as imagens do salão há bastante tempo. Como ele havia imaginado, aquelas pinturas contavam uma história, uma das longas. Desde a avó paterna de Cataria, seu pai, o tal Darian – Que tinha a pele morena como a de um mouro, seus cabelos lisos, nariz afilado e olhos muito verdes, lembravam um italiano – e finalmente Catarina, sua história em pinturas, todas as suas fazes. Uma criança risonha de olhar expressivo e inocente nos braços do pai. Depois no início da adolescência, sentada no Trono de Ossos de Lúcifer a quem Sam já havia visto pessoalmente, ela tinha uma expressão ameaçadora e perturbada, trazia uma taça na mão com o mesmo líquido vermelho que já vira o Próprio Arcanjo Sombrio beber. As outras já eram como ela se parecia hoje, mas em tempos totalmente diferentes: Com Darian, sozinha, Elena e Alif, em traje de batalha ao lado de Noite (os dois sorriam), O Arcanjo Miguel aparecia em algumas. Algumas Sam julgou serem na Terra, grávida em uma destas.

Mas a que passou mais tempo observando era a que ela deitada num enorme felino que lembrava um tigre siberiano na grama dourada. A fera e ela olhavam nos olhos de quem olhava a pintura, os dois pareciam ter olhos de vidro, era incrível.

—- Também é minha favorita. – A voz de Catarina disse às suas costas e se ele tivesse prestado um pouco mais de atenção teria percebido algo de errado naquele tom.

Sam virou desarmado, mas o susto que tomou foi tanto que cambaleou para trás. Catarina usava as mesma roupas de antes, mas o branco estava tingido de sangue, assim como seus braços até próximos aos cotovelos e onde mais ela tivesse passados as mãos involuntariamente.

Aquilo parecia um dejavu de morte de Ava que Sam havia lido nos diários.

—- Aliás, é a nossa, não é querido? – Ela falou ao mesmo tempo que Sam ouviu um rugido suave, o felino da pintura surgiu atrás Catarina e ele era maior do que Sam esperava e tinha o canto da boca suja de sangue assim como suas patas que manchavam o chão por onde passava.

—- O que você fez? – Sam engoliu em seco,

Ela começou a andar, com a mesma expressão perturbada da pintura do Trono de Ossos, sua fera atrás de si.

—- Meu menino foi emboscado, Sam. Ele guardou suas últimas palavras pra mim... e ele era tão bom e tão puro. Um Coração Azul... eles são assim. – Ela passou o olhar pela imagem de Darian – E me parece sua bondade será sempre seu algoz, sempre emboscados... –

—- E pelo jeito você sempre estará aqui para vinga-los com muito sangue... – Sam engoliu em seco.

—- E você não faria a mesma coisa? Se tivesse o meu poder não teria destroçado o assassino da sua mãe, de Jéssica... Teria feito sim, Sam. Qualquer um faria, ainda mais alguém como eu... – Ela disse a última palavra esfregando a mão pelo rosto, manchando-o de sangue.

Sam foi até ela e a segurou pelos dois braços, recebendo um rugido do felino.

— Você não nasceu assim, assim como eu não nasci com sangue demônio em mim... – Ele indicou a imagem da menina inocente nos braços do pai – Você só é distorcida e quebrada há muitos e muitos anos. E, sim, eu faria o que fez com Azazel. Mas eu tenho de me controlar, Catie, todos nós temos... –

A mulher voltou a sorrir.

—- Você tem toda a razão, Sammy. – Ela tocou o nariz do homem com o seu e olhou nos olhos dele – Só que eu não quero. – Ao final da frase Catarina gritou e o som ecoou forte pelo cômodo, fazendo com que todas as pinturas fossem despencando de onde estavam, as janelas estilhaçassem. Todos aqueles pedaços caindo na direção deles.

O felino correu pra se proteger e Sam jogou-se no chão. Catarina continuou de pé, todo o vidro estilhaçado caído num círculo perfeito ao seu redor, nenhum a havia atingido.

Xx

Mas é claro que, por mais que tivesse afastado aquilo o mais rápido que conseguiu, aquela situação de café da manhã lhe lembrara de Dean.

—- Antes que você afunde em depressão lembrando-se de Dean Winchester... – Gabriel parecia estar dentro da mente dela e Melissa se sentiu corar.

—- Como você... sabe disso? – Ela questionou de olhos arregalados.

Gabriel piscou para a menina.

—- Vou te ensinar o truque de vasculhar a mente alheia, menina. É um dos mais úteis. – Ele se gabava.

Melissa riu.

—- Olha, se você não se importar, da próxima vez que formos comer, eu cozinho... – Ela falou maneado a cabeça.

—- Mas você disse que eu fazia isso bem! – Gabriel protestou indignado.

—- E você faz, eu juro! – Ela beijou os dedos indicadores cruzados – É só que esse ovo mexido está mais ceco que o deserto do Saara! Eu posso te mostrar como fazer um de maneira descente. – Ela se levantou da mesa com uma xícara de café da manhã e se debruçou na bancada da cozinha, perto do Arcanjo – Sabe, uma forma de retribuir, você tem me ensinado tanto... o mínimo que eu posso fazer é te retribuir ensinando como fazer ovos fritos descentes. – Ela revirou os olhos.

O anjo riu.

—- Sabe... – Gabriel começou – Falta pra você uma coisa da nossa tradição... uma que eu acho que você vai adorar. –

—- Que seria? – A garota se animou.

Na sua terra, as feiticeira tem uma ligação muito forte com a natureza em geral... e por conta disso, ao longe do tempo, construiu-se a tradição de que o Arcanjo presentearia suas melhores afilhadas com o mascote julgasse que parecia mais com ela. –

—- Achei interessante, continue... – A garota não tirava seus olhos de Gabriel.

—- E você com certeza é uma das minhas afilhadas mais preciosas... –

—- E por que não a mais preciosa? – Brincou a garota.

Gabriel a lançou um olhar crítico e ela ergueu as mãos imitando uma rendição, os dois acabaram rindo.

—- Tudo bem. Você é a minha mais preciosa afilhada. – Melissa fez um gesto de comemoração e Gabriel riu mais uma vez.

—- Então vai me dar um mascote? – Os olhos dela brilharam de repente – Mas, espera, esse mascote não ganha forma humana e começa a falar e vai embora dando razão a sua inimiga não, né? – Ela falou revirando os olhos sem rir.

—- Não. – Gabriel falou paciente – Noite não era um mascote. Ele é o que chamamos de Guardião, feiticeiros que tem também uma forma animal e Balto sempre foi o Guardião de Catarina, estava com você porque ela estava dentro do seu corpo.. – Ele a olhou de forma engraçada. -- Os Mascotes são animais mágicos, mas só animais mesmo, não vão conversar com você, nem mudar de forma, mas são absolutamente leais. –

Melissa balançou a cabeça positivamente, havia entendido tudo.

—- Então, qual animal o senhor vai me dar, Arcanjo? – Ela falou terminando a xícara de café.

—- Feche os seus olhos...—Gabriel pediu e Melissa obedeceu.

Depois de um longo momento de suspense, Melissa já saltitava de curiosidade.

—- Paciência. – Disse o Arcanjo e depois de mais algum tempo, falou – Pode abrir os olhos, espero que goste. –

Melissa abriu os olhos e abafou um grito ao encarar a criatura magnífica em frente aos seus olhos. Sua respiração acelerou e ela sorria involuntariamente e quando estendeu a mão para o animal, este esfregou sua cabeça na mão de Melissa e fez uma barulho engraçado. Mas apesar de carinhoso, o animal era imponente, lindo e maravilhoso.

—- Achei poeticamente apropriado... Gostou? –

Melissa ainda sorria quando respondeu.

—- Seu eu gostei? Céus, Gabriel, eu amei... não poderia amar mais. – Ela observava as cores lindas da criatura a sua frente – Como eu poderia não amar uma Fênix? –

Num movimento gracioso, a ave voejou até pousar no ombro da dona e fez seu som forte e característico. Melissa não conseguiu não sentir muito orgulho daquilo.

Estava começando a construir uma imagem nova de si mesma e estava amando o que via.

—- Ainda vamos fazer muitas coisas juntos... – Ela falou tocando a mão de Gabriel com uma mão e com a outra a cabeça da ave que tinha lindas de penas cor de vinho e dourado fosco, com os olhos de um azul intenso. – O mundo todo verá. – Completou Melissa sorrindo de canto.


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Notas finais do capítulo

hey!! Espero que tenham gostado, achei importante mostrar o mundo delas pra que vocês entendam mais o que Catarina sempre foi e o que Mel está se tornando, porque a nossa mocinha vai ganhar cada vez mais poder e espaço. Estava com saudades de escrevê-la assim! kkkkkk
Me contem o que acharam de tudo!

Beijos Hunter, até a próxima ;P



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