Heavenly Hell escrita por Ju Benning


Capítulo 23
Untold Truth


Notas iniciais do capítulo

Oi! Amém! Voltei, né??
Depois da derrota desastrosa brasileira, voltei ao trabalho! Desculpem de verdade pela demora.
Muito bem, capítulo novo, acho que esse é bastante emocional, por diversas razões. Enfim... sem mais falação, vamos ao que interessa!
Boa leitura queridos! Espero que gostem.
Bjs



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Ter seus planos caminhando como o esperado sempre servira de calmante desde que não era mais uma criança. E apesar de ser muito segura de si; tinha uma coisa que a assustava mesmo sendo imortal: a morte.

Viver tanto tempo sempre significa perder algumas pessoas, mas no caso dela, significou perder as mais importantes delas.

Por isso se deparar com o desespero de Dean e Melissa quando deixou aquela barraca foi como reviver muitos momentos de seu próprio desespero e mesmo sendo massacrante, sabia que deveria ver o que podia fazer por eles.

Além do que, fazia um longo tempo que não via Noite naquela forma, que particularmente era a sua preferida. Ele era um belo homem e seu melhor amigo, a voz de sua consciência. Nem sempre ouvida, mas certa na maioria das vezes.

—- Há quanto tempo, Balto. – Ela falou baixo no ouvido do homem.

—- Senti falta das minhas mãos, mas não fazia ideia do quanto eu sentia falta de ser chamado assim. – Ele devolveu o sussurro – Como você está, senhorita? – Ele perguntou beijando a mão dela, enquanto ambos se afastavam para falar um pouco.

—- Eu estava bem até ver isto. – Ela indicou a triste cena triste à sua frente – Não me traz memórias boas... – Ela colocou a mão no pescoço à procura do medalhão, mas ele não estava ali.

—- Eu imaginei, -- Ele a olhou por a mão no pescoço – Cadê o medalhão? – Ele perguntou sabendo a importância que aquela peça teria para ela naquele momento.

—- Deve estar no meio das coisas de Sam... Eu não sei... mas a verdade é que eu estou sentindo sufocar sem ele agora. –

—- Se você quiser ir buscar, eu posso dizer a todos que ver você aqui foi apenas uma ilusão do luto. – Ele ainda segurava a mão dela.

—- Eu adoraria fazer isso... – Ela apertava a mão do amigo – Mas não acho que seja conveniente. Além do que, Sam teve uma crise de ciúme, é melhor deixar ele um pouco sozinho... – Embora ela tivesse razão no que dizia, estava visivelmente incomodada -- Não quero magoá-lo com coisas que ele não quer ouvir. --

— Ciúme de quem? – Ele perguntou passando alguns nomes em sua mente.

—- Conversaremos depois – Ela indicou a cena – Vamos parecer muito frios se não formos lá dizer que sentimos muito, não acha? –

—- Sim, claro. É realmente uma pena, Bobby era um bom humano... – Ele balançou a cabeça – Mas, posso perguntar uma coisa? – Noite a olhou com seus olhos verdes esmeralda pidões.

—- Claro que pode. – Ela permitiu, o levando consigo mais uma vez para perto dos outros.

—- Sam teve ciúme de quem? Até onde ele sabe, do que ele sabe? – Ele se agitou um pouco.

—- Eu citei Hanna, mas não falei nada sobre ela. Ele teve um ataque de ciúmes por que falei de Miguel e você sabe como eu fico quando falo dele...–

—- Você fica mesmo uma imbecil... -- Zombou

—- Foi mesmo um amor épico, você sabe! – Ela soou infantil.

—- Deveria flexionar esse verbo no presente. E sei também que você é a rainha dos amores épicos... – Ele continuou zombando -- Eu não preciso citar sua fase obscura, devo? Ou Darian...--

Catarina o acertou com um tapa forte na nuca.

—- Idiota. – Ela falou revirando os olhos, largou o amigo e se aproximou de Dean, pondo a mão em seu ombro e depois de um tempo, falou – Temos nossas diferenças, mas saiba que sinto muito. Eu sei o que é perder um pai. – Ela falou baixo e de maneira sincera.

Dean, que até então estava sozinho, de pé e pensativo, deu atenção ao que ela dizia, com seus olhos vermelhos e úmidos de choro.

— Mas eu tenho um pouquinho mais de estrada que você e tenho certeza absoluta que ele está num lugar maravilhoso, onde ele merece estar. Eu não o conheci como você, mas pelo pouco que vi, já soube o homem íntegro que ele foi. Onde quer que ele esteja, está bem, em paz. Posso lhe provar se isto for lhe deixar mais calmo... – Ela sorriu levemente e aparou uma das lágrimas que escorreram dele.

Dean baixou a cabeça por alguns segundos e então voltou a encará-la.

—- Eu esperava ouvir isso de muitas pessoas agora... – Ele olhou ao redor -- ... menos de você, que com todo o respeito, é de quem eu menos gosto dentre os que estão aqui. Mas, eu já não posso dizer que te odeio, até já consigo ver qualidades em você, Catarina – Dean respirava fundo em alguns momentos – Muito obrigada pelo que disse, mesmo. –

—- Eu não disse nada além da verdade, Dean. Já perdi muitos dos que amei na vida, eu sei como dói. E eu entendo que não seja a sua preferida, você também não é meu, mas com certeza não é todo o mal. Já passei por piores. – Ela sorriu um pouco, observando Noite que conversava com Melissa, tentando persuadi-la a largar o corpo de Bobby.

—- Todos nós. – Respondeu Dean, observando a mesma coisa – Me diga uma coisa, Catarina, não há nada na sua magia que possa trazê-lo de volta? –

—- Nada que eu recomende, pelo menos... – Ela deu de ombros.

Melissa, então, levantou a cabeça com uma expressão nada satisfeita e disse entre os dentes.

—- Ele não perguntou se você recomendava, só perguntou se havia alguma coisa! – O tom da garota foi desagradável e vendo o olhar de Catarina se transformar um pouco, Noite interviu.

—- Se Catarina não recomenda, com certeza há uma razão forte, Melissa. –

—- Eu não me importo com razão forte ou fraca, eu só quero o Bobby de volta! – Ela exigiu ficando de pé e indo encarar Catarina de frente – Você não sabe o que é perder dois pais! – A garota se referia à Simon e Bobby – E toda a família. Eu não quero saber de nada, se há um caminho, traga ele de volta. –

—- Não fale do que você não sabe, Melissa. – Mais uma vez, Noite interferiu – Sempre haverá um sofrimento maior que o nosso. – Ele tocou o braço da garota, que num solavanco se soltou.

—- Tecnicamente, você perdeu três pais. – Catarina respondeu ácida, olhando-a de cima – E antes de ser insolente, mal-educada, indiscreta, desrespeitosa, mimada e egoísta. – Ela elaborou a lista contando nos dedos e em tom calmo – Saiba do que está falando. Você não me conhece, Melissa, mas com certeza em outro momento meu, você nem estaria viva, que dirá me encarando dessa maneira, depois dos absurdos que falou. –

—- É egoísmo querer alguém que eu amo de volta? – A garota devolveu ainda em tom alterado.

Catarina fechou os olhos por um momento como se tentasse se acalmar, mas ainda assim deu um tapa forte no rosto da garota.

—- É egoísmo do pior tipo. – Ela falou visivelmente mais calma – Bobby descansa em paz e é assim que deve permanecer, porque não há nenhum meio saudável de trazê-lo de volta. –

Dean se recuperou do choque de assistir ao tapa e puxou Catarina alguns passos para trás.

—- Já chega. – Ele falou, mandando Melissa ficar onde estava, quando esta se recuperou do tapa e dava indícios de que iria revidar.

—- É ela que você vai defender, sério? – Melissa falou ainda irritada.

—- Você precisa se acalmar, voltar a si, pra então poder ter qualquer tipo de conversa com alguém! – Dean respondeu – Porque mesmo que eu tenha várias diferenças com a Feiticeira, eu tenho que ser justo e se ela diz que não é bom, antes de dizer os absurdos que você disse, é preciso pelo menos ouvi-la. – Seu tom não era grosseiro, mas bem firme.

—- Eu não aguento perder mais ninguém! – Ela respirava fundo e Noite conseguiu contê-la e cantarolava algo bem baixinho perto dela, que fez Catarina sorrir e aparentemente acalmou um pouco a garota, que pelo menos voltou a um tom normal de voz.

—- Todos aqui perderam muitas pessoas que amavam, Melissa. Mas, mais do que pensar na nossa dor, temos que pensar nelas, ou estaremos sendo realmente egoístas. – Castiel falou pela primeira vez em muito tempo.

Melissa revirou os olhos e ficou ainda mais incomodada quando Dean se voltou para Catarina.

—- O que há de tão errado em trazer Bobby de volta? –

Catarina suspirou um tanto entediada e começou a explicar.

—- Você sabe bem o que você pagou pra trazer seu irmão de volta à vida, não sabe? – Dean fez sinal positivo com a cabeça e Melissa que estava cada vez mais zen devido à cantoria discreta de Noite ficou calada mesmo estando começando a ficar enciumada. – Então, num pacto você mesmo se prejudica, o que chega até a ser uma atitude altruísta... – Ela maneou a cabeça – Mas em magia é diferente. Primeiro que na magia convencional não há nada capaz de ressuscitar qualquer criatura, já na magia negra é possível. –

—- Então faça de uma vez por todas, nós podemos consertar os danos colaterais! – Melissa argumentou em tom calmo, mas as falas egoístas dela estavam fazendo Catarina ter vontade de lhe dar outro tapa daqueles, mas dessa vez com suas mãos em chamas, talvez fizesse mais efeito.

—- Como eu dizia, Dean... – Catarina retomou a fala ignorando a garota – A magia negra tem um caminho, mas assim como o pacto ela tem um preço. –

—- Pra quem faz a magia? – Castiel questionou.

—- Normalmente, também, já que só as Feiticeiras nascidas na Lua Negra tem domínio da magia negra sem consequências para si, mas isso não importa. Porque sempre há um preço para a alma que é trazida de volta, sempre. – Ela falou ficando com pena da expressão de Dean – É Bobby quem vai sofrer de alguma maneira se vocês insistirem em me pedir pra trazê-lo de volta. –

—- Mas que merda! – Dean xingou, levando as mãos à cabeça mais uma vez.

—- Então qualquer feiticeira pode fazer magia negra? – Perguntou a garota.

—- tecnicamente, sim. – Catarina respondeu rispidamente a ela e voltou a falar com Dean -- Você acha que eu não teria devolvido a vida daqueles que eu amo se pudesse, se fosse ser bom? –

—- O que pode acontecer com ele? – O anjo perguntou.

—- Muitas coisas. Desde ter breves minutos de vida e morrer de novo, até ficar demente, ou em letargia, ou com algum transtorno de personalidade, ou na melhor das hipóteses perder alguns dos movimentos... – Ela deu de ombros em seguida.

—- Por que as coisas não podem ser simplesmente fáceis? – Dean resmungou.

—- Porque você está vivendo e não sonhando. – Noite respondeu, pegando Bobby nos braços – É melhor fazermos uma pira digna pra ele – Com seus passos descomunalmente rápidos, Noite se afastou sendo seguido por Castiel. Melissa que se afastou rapidamente também, tomou um rumo diferente, que assim como ela pretendia, ninguém notou.

—- Ele tem razão... – Dean falou com a voz entrecortada, começando a se mexer, porem completamente perdido.

—- Hey, vai devagar. – Catarina pegou ele pelo braço – Você não precisa ser de aço o tempo todo. Se dê um tempo pra sentir a dor de perder Bobby. – Ela falou olhando nos olhos dele – Ou quem vai acabar morrendo é você, Caçador. Sentir as coisas não é uma fraqueza, muito pelo contrário... – Ela tentava acalmá-lo, pois via nele muito de si mesma quando estava em sofrimento, queria sempre mostrar que estava tudo bem. Era curioso como aqueles irmãos tinham coisas com as quais ela podia se identificar.

E daquele momento Catarina esperava muitas coisas, mas não esperava ser abraçada.

—- Obrigada. – Dean resmungou – E não comece a ficar convencida, eu não vou te agradecer por tudo. –

—- Se você tivesse parado no “obrigado” teria sido bem melhor. – Ela respondeu retribuindo o gesto.

Xx

—- Eu não estou chocado. – Afirmou Sam, embora se sentisse balançado – Ela vingou a morte da filha... e pessoalmente eu teria feito o mesmo. – Ele não mentia e na verdade o que balançava em sua voz era ter finalmente uma dimensão do quanto de poder que ela tinha. Um anjo não é fácil, 1.700 deles, então... É muita coisa.

—- Eu imagino que esteja pensando o quão fraco você é... Mas o que você estava esperando? Que fossem o par perfeito? Longe disso... – Lúcifer ria enquanto caminhava sendo seguido por Sam em um longo corredor.

Pararam em frente a uma suntuosa porta branca com um brasão muito bem trabalhado com um C no centro, cravado na madeira.

— Acho que este é o melhor lugar para conversamos, não acha? – Ele olhou o homem de esguelha e a porta se abriu, revelando um quarto digno da realeza, era tudo muito refinado, rebuscado e apesar das cores serem claras, havia alguma coisa nos detalhes que deixava o ambiente sombrio.

—- Era aqui que ela ficava? – Sam deu a volta em torno de si para olhar ao redor e localizou em uma parede algo que provavelmente era a pintura de uma paisagem, mas não parecia.

A imagem tinha uma profundidade incrível e se movia. A grama dourada balançava devagar, a água levemente prateada de um rio largo corria tranquila, separando dois territórios que apesar de terem a mesma terra, o mesmo céu aberto e alaranjado, com o mesmo Sol branco se pondo; aparentavam não ter nada em comum. Um parecia mais místico, com uma edificação que parecia de cristal, o outro impactava pela força que transmitia e da maneira natural como aquela energia fluía pelos quatro elementos que se identificavam facilmente na fortificação suntuosa que se erguia no fundo da imagem.

—- Sim, estamos no quarto dela. – Falou o Arcanjo se aproximando da parede que Sam olhava e tocando a pintura com a mão, falou com certo encanto na voz – Foi ela quem fez isso, é o lar dela. – Lúcifer explicou – Do lado direito do rio, a edificação de cristal é onde estão as Feiticeiras da Lua, aquelas com uma marca na mão, benção e tudo mais. – Ele falava entediado – Do lado esquerdo do rio os, na minha opinião, realmente interessantes: Feiticeiros Elementais. Sabe por que nenhum Arcanjo os abençoa? – Lúcifer perguntou de sobrancelhas arqueadas.

—- Porque eles estão extintos. – Sam afirmou – Catarina disse que seu pai foi o último dos feiticeiros desse tipo. –

Lúcifer gargalhou se afastando da imagem e se sentando em uma das poltronas brancas que haviam no ambiente.

—- É claro que ela falou... –Ponderou sozinho – Saiba que é mentira. Eles existem até hoje. Em número bem menor, é verdade, mas ainda existem e aquela dimensão – Ele apontou a pintura -- apenas é fiel a ela ainda, por causa deles, os Elementais... E nenhum Arcanjo os abençoa, ou abençoou, porque eles não precisam de nós, nem de ninguém. São Admiráveis. – Não havia dissimulação naquela fala.

—- Porque eu ao menos deveria acreditar que eles estão vivos? Nada me garante que você esteja falando a verdade. – Sam disse ignorando parte da fala de Lúcifer e ainda encarando a imagem que se movia com extrema naturalidade, como se aquela parede fosse uma janela.

—- Você é bom fingindo, mas nós dois sabemos que quer me ouvir... e que acredita que eu não tenho nenhum motivo pra mentir... que não preciso. – Ele desdenhava mexendo em alguns dos objetos que estavam ao seu alcance, parecia saudoso.

Sam franziu o cenho e percebeu que não sairia dali antes que Lúcifer dissesse o que queria.

—- Então vá logo adiante... termine o que tem pra dizer e me mande pra casa. – Falou sentando-se na poltrona à frente.

Lúcifer riu desdenhoso mais uma vez.

—- Muito bem, vamos começar... – Ele ainda ria, quando uma bandeja prateada materializou-se com uma taça cheia de um líquido vermelho, que o Arcanjo não esboçou vontade dividir, e bebia elegantemente. Sam apenas sentia o cheiro metálico do líquido denso – Ela contou que o pai dela foi morto por um demônio, não contou? –

Sam confirmou, apoiando os cotovelos nos joelho e olhando o outro com forçado desinteresse.

—- Ela contou quem foi acusado pela morte? –

—- Você quer dizer o nome do demônio? – Sam questionou.

—- Não. – Ele riu de escárnio – Eu quero dizer o acusado como mandante. – Reafirmou.

—- Bem, ela não me falou nenhum dos dois, então não faz diferença. –

—- O demônio nunca foi à Terra para o bem de vocês. Mas a acusada foi a sua doce amada, Catarina. Ela tem o sangue do pai nas mãos... – Ele balançou a cabeça em negativa, mas sorriu no final da expressão de Sam.

—- Você tem que estar brincando, que realmente acha que eu vou acreditar nisso. – O homem riu de lado – Além do que, existe uma enorme diferença entre ser acusado e culpado. --

—- Sam, Sam, Sam... – Lúcifer suspirou e apontou a edificação de cristal na imagem – Catarina morava ali naquele lugar estonteante, com o prestígio de ser a feiticeira com combinação de poderes mais completa e mais rara, ela era venerada! Como você acha que alguém assim veio parar aqui comigo? – Ele construía seu raciocínio – Certo, ela é uma das minhas feiticeiras, mas ser uma das minhas é uma maldição... afinal de contas, eu sou o Diabo! – Ele falou a última frase rindo genuinamente.

Sam ficou em silêncio por um tempo se lembrando de como ela havia dito que era muito pequena quando o pai morreu e que nem se lembrava dele... Não queria acreditar no que ouvia, mas a lábia do Diabo era de fato tentadora.

—- O que mais? – Ele falou por fim.

Xx

Melissa, apesar de incomodada com a recente aproximação de Dean com Catarina, não podia perder tempo. Em breve Bobby seria cremado e ela acreditava precisar do corpo intacto para fazer aquele tipo de magia, por isso correu até a barraca de Kevin esperando que ele estivesse em qualquer outro lugar menos ali.

Para sua decepção ele estava ali, mas sempre há um lado bom de algo, e o lado bom daquela vez era que o garoto dormia e a julgar pela maneira como o garoto o fazia, Melissa julgou que ele tivesse o sono pesado. Mais um ponto positivo para si.

Kevin tinha um grande volume de livros empilhados por toda a parte e já desvendara uma boa parte do idioma complicado das feiticeiras, por isso a garota tinha um plano: Achar algum livro de magia negra no meio daqueles tantos e decifrar uma magia que pudesse ajudar Bobby a voltar. Os efeitos colaterais ficaram pra depois.

Dentre aquele monte de livros havia apenas um bem macabro mesmo, a capa e o interior de aspecto queimado, a letra vermelha, as ilustrações, tudo era estranho. Naquele momento, Melissa, agradecendo à todo àquele clichê, pegou o livro, os papeis das traduções de Kevin e saiu para o lugar mais distante que conseguiu, sem ninguém ao seu redor.

Xx

—- Pra quem não se interessava... – Lúcifer brincou.

—- Só me diga quantos anos ela tinha quando foi acusada? – Sam não resistiu à curiosidade.

—- Ela tinha só seis anos, era uma menininha, talvez nem se lembre de como aconteceu tudo, nem da morte, nem do julgamento, nada... 2.994 anos depois, eu até entendo... – Lúcifer riu.

Pelo menos não havia mentira em alguma coisa do que ela havia dito.

—- Mas eu garanto que ela lembra do segundo julgamento, lembra muito bem de ser condenada a passar um certo tempo na Terra, que ela tanto odiava, acompanhada de perto pelo guarda costas/fiscal, Miguel Arcanjo. – Lúcifer suspirou ironicamente, levantando-se para pegar um objeto no interior de um dos móveis. Era uma caixa de vidro, com base dourada entalhada e que trazia algo inesperado em seu interior – Foram anos emocionantes estes antes da condenação dela: guerra, amantes mortos... – Ele soava teatral, enquanto Sam apenas olhava o que havia no interior da caixa de vidro: Um coração, de estranho tom azulado, porém em perfeito estado e batendo como se ainda bombeasse sangue pra algum lugar, era bizarro – Irmã, matando irmã... – Lúcifer continuou chamando a atenção de Sam, que o olhou de cenho franzido – Você mataria seu irmão, Sam? –

—- Não. – O homem engoliu em seco.

—- Mais uma diferença entre você e sua amada. – Ele riu, percebendo que Sam observava o coração azulado batendo dentro da caixa – Ah, não. Mas este não é o coração de Ava, irmã de Catarina, esse coração pertence a outra, ou melhor, outro... – Lúcifer o olhou em silêncio por mais alguns segundos, repetindo uma de suas frases anteriores – “Amantes mortos...” – Riu em seguida.

—- Onde você quer chegar? – Sam perguntou um tanto tenso.

—- Eu quero dizer que você se acha muito especial, mas não é... você não é, ela não ama você e em contrapartida já amou tantos outros; você não é importante. – Ele falava com certeza absoluta na voz – Ela nunca eternizaria seu coração, pra te ouvir quando fechasse os olhos – Ele pareceu ligeiramente emocionado por um segundo, como se estivesse se lembrando de alguma coisa – Catarina nunca vai ter um filho seu, porque Miguel já lhe deu uma menina linda, que mesmo morta, será pra sempre o amor da vida dela. E você jamais será capaz de acalmar o coração dela como aquela joia que ela usa no pescoço. Você era útil e ela sentiu compaixão quando te conheceu, o afeto dela por você se resume a isto.  – Ele sorria no final daquela fala – Você nem ao menos foi o primeiro humano na cama dela, porque eu acho que preciso te lembrar que ela dormiu com seu irmão antes de você! – Ele usava todo seu veneno enquanto falava – E não venha me dizer que acredita que ela dormiu com ele só para distraí-lo, por favor... ligue os pontos! Você é meu receptáculo e se parece comigo, logo, Dean parece com quem? – Ele ria maldoso com os olhos – Exatamente. Miguel. –

—- Você é idiota se acha que eu estou acreditando ou qualquer outra coisa, no que você está dizendo. – Sam falou, embora sua expressão denunciasse o contrário.

Lúcifer gargalhou, tudo aquilo parecia extremamente divertido para ele.

—- Me decepciona sua habilidade em mentir, Sammy. – Suspirou – Tenho certeza que você me entendeu. Que entendeu, que você não é especial, que você não está seguro em relação à nada. Não houve nada entre vocês desde que ela deixou de ser Kathe, certo? -- Era uma pergunta retórica -- Você foi só mais um que ela está aproveitou, é legal e tudo mais, mas não é algo épico – Ele apontou a caixa – Nem nunca vai ser... Céus, Sam, você é humano, tem prazo de validade. Onde você está com a cabeça? Seja menos arrogante. – Ele balançava a cabeça em negativa.

—- Pode me mandar pra casa agora? Ou seu teatro ainda não terminou? – Ele soou mal-humorado.

—- Claro, você vai pra casa imediatamente! – Lúcifer falou com certa urgência – Entendo, precisa estar presente antes que ela se canse de resguardar seus sentimentos e se jogue de volta aos braços do seu irmão, que ao menos se parece com o marido dela, -- Lúcifer fingiu que havia falado demais -- e que como homem, claro, enxerga os atributos físicos de Catarina...  Quem não enxerga, afinal? -- – Ele provocou por último, antes de estalar os dedos.

A visão de Sam se perdeu por um momento e quando retornou, ele enxergou finalmente sua barraca, o cheiro dela voltou a estar ali. Porém daquela vez ele não o inspirou, apenas saiu de lá, arrastando uma garrafa de whiskey, à procura de ar fresco pra respirar.

Xx

—- Na nossa casa também queimamos os mortos. – Noite falou quando finalmente colocou Bobby sobre uma pira pobre em quantidade de madeira – Acho uma pena que não tenhamos mais madeira, porque lá, quanto maior o feiticeiro, maior a pira, é como uma honraria. –

—- Pensei que fossem imortais. – Disse Castiel observando tristemente o corpo de Bobby.

—- Em geral sim, depende da classe, mas na verdade muitas das criaturas ditas imortais têm sempre algum jeito de acabar com elas. – Noite deu de ombros – Queria fazer algo maior pra ele... –

—- Isso não vai ser problema, absolutamente. Se Bobby Singer merece uma cremação de realeza, ele vai ter. – Catarina chegava logo atrás de Dean – Mas acho que você deve chamar Sam, nem sei se ele sabe do que aconteceu. – Catarina fitou Dean.

—- Mas que merda... – Dean bagunçou os cabelos – Feiticeira, dá uma força? –

—- Não acho que ele vá querer me ver, Caçador... – Ela deu de ombros, passando as mãos pela madeira da pira, que se multiplicou e organizou de maneira impressionantemente rápida. Ao final, tornou-se alta e a madeira tornou-se branca. Ervas aromáticas cresceram entre as toras, fazendo pequenas tranças que decoravam a pira. – Acho que só fiz duas piras mais bonitas do que essa. Mas foi o melhor que eu pude. – Catarina riu para Noite e foi até ele.

—- Realmente. – Ele concordou – Onde está Melissa? –

—- Tentando fazer magia negra, em algum lugar por aqui, Balto... – Catarina falou rindo um pouco.

—- Balto? – Dean estranhou franzindo o cenho.

—- É meu nome de verdade. – Noite deu ombros – É horrível, eu sei, por isso me chamam de Noite. – Explicou – Melissa fazendo magia negra, isso é sério? E você fala isso tranquila? –

Dean levou as mãos ao rosto, não acreditava que ela realmente estava tentando aquilo.

—- Você deve estar de brincadeira, Catarina. –

—- Não, eu não estou não. – Ela riu – Mas não se preocupem, Kevin não tem nenhum livro desse tipo. Ela julgou um exemplar pela capa e na verdade apenas pegou um diário antigo meu, que além de tudo, é bem difícil de decifrar. – Continuava rindo – Nem eu me lembrava de fazer tanto mistério na hora de escrever... –

—- Você está na mente dela? – Dean perguntou.

—- Sim. – A mulher respondeu – Não se preocupe, ela está bem. Vai se frustrar em breve, mas nada além disso. –

Dean suspirou.

—- Catarina, vem comigo buscar Sam, eu não sei como dizer pra ele nada disso e mesmo que Sam não queira te ver, ele pode ouvir e você fala mais bonito do que eu. Por favor. – O homem insistiu – Ele ama você, vai ser importante. –

Catarina parou por alguns segundos, tinha bastante afeto pelo caçula Winchester, mas aquela coisa de amor estava deixando-a incomodada.

—- Tudo bem, eu vou com você. – Deu de ombros, tinha a obrigação de lidar com a sua bagunça.

Xx

Os dois caminhavam juntos num silêncio absoluto, a verdade era que não eram os melhores amigos e carregavam bastante receio mútuo, mas se acostumavam com a presença um do outro vagarosamente. O que já permitia ao menos, uma convivência pacífica.

—- Catarina, você está com raiva da Mel? – Ele quebrou o silêncio.

— Eu tive raiva mais cedo, ainda tenho um pouco agora, mas estou mais com pena no momento – Catarina passava as mãos pelo tecido fino de sua roupa – Ela é muito nova, Dean. Nós dois, cada uma a sua maneira, já fomos como ela um dia: teimosos, cheios da razão. Ela só está desesperada, a Melissa de verdade não é assim, é uma boa menina, ainda é... só está confusa com tudo que aconteceu... – A mulher gesticulava, brincando com uma bolinha de fogo que conjurara – E você como está se sentindo? –

—- Eu acho que não posso avaliar muita coisa agora... minha ficha não caiu ainda sobre nada. Mas eu confesso que não esperava ouvir aquilo de Melissa hoje, aquela não era a garota que eu salvei, foi estranho... não sei realmente explicar nada. Minha cabeça tá uma merda, hoje. – O caçador deu de ombros.

—- Acho que nós todos estamos uma merda hoje, Dean. – Catarina respondeu.

Dean começou a rir do nada.

—- Que é que foi? – Ela perguntou mal-humorada.

—- Você tem sotaque? – Dean perguntou ainda rindo.

—- Não. Porque? – Ela não entendeu.

—- Você fala meu nome engraçado. – Ele observou.

—- É porque eu quase nunca falo seu nome e honestamente você é o primeiro Dean que eu conheço. É uma palavra nova! E afinal de contas, é como se eu fosse estrangeira. – Ela deu de ombros e os dois começaram a rir da besteira que falavam.

—- Que lindo! Estão se dando bem! – Era a voz de Sam, vindo do canto direito.

—- Sammy, que bom que encontramos você, a gente precisa conversar, cara. – Disse Dean.

—- Não, imagina, eu não quero atrapalhar ninguém, aliás, se eu fosse falar com alguém seria com ela – Ele apontou Catarina – Mentirosa. –

Dean e Catarina se olharam.

—- Do que diabos você está falando? – Dean perguntou.

—- Quando você ia dizer que o demônio que matou seu pai estava sob às suas ordens? – Ele a acusou.

Catarina levou as mãos aos cabelos.

—- As minhas ordens? Eu tinha seis anos de idade. Nem sabia que podia fazer magia negra. Que erva você andou consumindo? Porque eu já usei muita coisa, mas nunca fiquei assim! – Catarina reagiu e recebeu um olhar engraçado de Dean – O que foi? –

—- Erva? – Ele perguntou.

Catarina revirou os olhos e não respondeu.

—- Quando você ia me falar que teve uma filha assassinada: Hanna! E que você matou as hostes de Rafael por ela? 1.700 anjos de uma só vez? – Sam continuou a falar – Quando você ia me contar que matou a sua própria irmã... quando você ia me falar que além de uma filha com outro, você ainda guarda, literalmente, o coração de um dos seus amantes? – Ele seguiu falando, quando Dean percebeu a garrafa de whiskey além da metade em uma das mãos dele. No entanto não falou nada, aquela conversa estava interessante. – O que eu significo pra você, afinal? Um brinquedinho de carne humana? –

—- Sam, cala essa maldita boca! – Ela gritou – Você quer saber de uma coisa? Tudo isso que falou é verdade sim. Mas eu não ia lhe contar nada disso, nunca, eu receio... – Dean se surpreendeu com a sinceridade da resposta dela – E não é porque eu sou uma mentirosa compulsiva, nem porque tenho vergonha da nada... é apenas porque não interessa! Tudo isso tem pelo menos 1.000 anos ou mais, não interessa, passou. Porque eu ficar falando, dando satisfações, nada disso me faz bem lembrar. – Ela fez uma pausa respirando fundo – Lúcifer deve ter falado com você de alguma forma... só ele sabe de tudo isso e seria capaz de contar... Mas já que você ficou sabendo provavelmente de maneira distorcida, eu vou ser curta e direta quando ao que aconteceu... –

—- Eu não quero ouvir! – Sam a interpelou – Eu não quero saber de nada mais hoje... eu estou confuso demais e me perguntando o que realmente sente por mim? Esteve mais próxima de mim porque realmente quer  ou se foi porque não conseguiu meu irmão –- Ele apontou Dean com a mão que segurava a garrafa – Afinal é ele que se parece com seu Arcanjo, não é? –

—- Porra Sammy, escuta a merda que você tá falando! Céus, foi o diabo que conversou com você! Não pode ser verdade que você tenha caído na lábia dele como um idiota! –

—- Cala a boca você também! – Sam voltou-se para Dean – Eu conheço você! Sei como você é com as mulheres, Dean e eu sei também como é dormir com ela – Ele fitou Catarina por alguns segundos – e afinal de contas, mesmo que tenha acontecido no corpo de Melissa eu sei que você também sabe como é a sensação. – Catarina escutava incrédula – Não pense que eu esqueci da conversa que tivemos na casa de Bobby, você assumiu que estava com raiva por estar confuso, por ter gostado tanto do sexo que tinha feito e saber que não havia sido que com a garota por quem você estava apaixonado! – Sam gesticulava – Aposto que você ficou ainda mais sedento por ela quando viu Catarina na embalagem original, mil vezes melhor. –

—- Pra mim já chega. – Catarina deu as costas e começou a se afastar – Eu não vou ouvir mais nenhuma palavra. – Ela saiu fumegando, literalmente, o caminho feito por ela, deixava a grama queimada -- Humanos são mesmo porcos. -- Ela sussurrou.

—- Não esqueça disso! – Sam jogou o medalhão aos pés dela – Deve acalmar seu coração melhor do qualquer um de nós dois. –

A feiticeira apenas apanhou a joia do chão e pendurou no pescoço, continuando a caminhar.

—- A única certeza que eu tenho, é que quando você acordar desse porre ridículo amanhã, você vai se arrepender de tudo que falou! E fique ciente desde agora, que você pode ter perdido qualquer chance com a mulher que você ama tanto quanto amou a Jéssica. Não venha chorar depois, porque eu vou te socar. – Dean falou com dedo em riste também se afastando.

Sam ficou de pé sozinho, observando os dois se afastarem, tinha a mente inebriada por vários motivos, mas tomar como água meia garrafa de bebida, era o maior responsável pela situação.

—- Sam, -- chamou a voz chorosa de Melissa às costas dele – por favor, me fala que o que eu ouvi aqui é brincadeira. –

O homem, mesmo alterado, virou-se com pena, não pretendia que ela ouvisse nada daquela discussão, muito menos a última parte.

Xx

Catarina voltou até onde estava a pira e abraçou Noite muito apertado, seu coração estava em muitos pedaços, não só pelo que tinha ouvido, mas principalmente por todas as lembranças que Sam trouxe à tona em sua mente.

—- Que bom que você está aqui hoje, amigo. – Ela sussurrou no ouvido dele, Noite não respondeu, apenas a sustentou por algum tempo.

—- O que houve? – Perguntou Castiel.

—- Longa história, anjinho. – Ela voltou-se para Castiel – Mas saiba que acertei tudo com Crowley, partiremos amanhã pela manhã e estaremos de volta muito rápido, porque aquela espada vai estar nas minhas mãos e eu não vou mais me importar se eu tiver de cortar algumas gargantas pra isso... na verdade, vai ser até terapia, eu vou agradecer se eu tiver o que matar amanhã. – Ela estralou o pescoço.

—- Eu acho que perdi alguma coisa... – Noite olhava do anjo para a feiticeira.

—- Não se preocupe, lhe contarei no caminho, mas você com certeza você vai comigo. – Ela bateu no ombro dele.

Dean se aproximou de onde estavam todos.

—- Catarina eu sinto muito por tudo que aconteceu agora... – Ele começou.

—- Não se desculpe. – Ela o interrompeu – Não foi proveitoso ter tudo aquilo jogado em mim, me fazendo lembrar dos piores momentos da minha vida, mas já passei por coisa pior. -- Ela sorriu fracamente.

—- Eu acredito. – O caçador falou mais para si mesmo – Você pode acender a pira... não acho que virá mais ninguém.

Castiel, Dean e Noite se sentaram encostados a um tronco de árvore caído ali perto e assistiram Catarina fazer uma cerimônia de cremação ao estilo do povo dela. Era bonito de observar, era triste, mas não melancólico e pela tradução que Noite fazia, era algo que mais festejava o que ele havia feito em vida, do que lamentava o desastre da morte.

Porém o que Dean observou foi o jeito triste dela em tudo que fazia, Catarina parecia estar o tempo todo se lembrando de algo desagradável e tentando passar tranquilidade e normalidade.

Dean queria poder perguntar a ela sobre tudo que Sam havia dito, queria saber com ela havia passado por tudo aquilo, já que ele mesmo havia feito coisas horríveis no Inferno e que também escondia de todo o mundo e nem pretendia contar, porque como ela mesma havia dito: não interessava. Dean viu que tinham algo em comum, que existia esperança na amizade dos dois.

Castiel também observava Catarina de maneira engraçada. Conhecia as duas opiniões extremistas sobre aquela mulher, mas conviver com Catarina era bem diferente dos dois pontos de vistas que conhecia até então. Ela era uma figura interessante de se observar e apesar da beleza impossível que tinha, seus olhos eram tristes boa parte do tempo. Catarina aparentava guardar muita coisa para si.

Enfim, naquele momento todos adorariam saber a verdade por trás daqueles olhos furtacores.


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Notas finais do capítulo

Por favor, não me deixem sem saber o que acharam, de verdade. Mais do que com os caps anteriores com esse eu to muito curiosa.
Enfim, até o próximo, que eu j u r o, que sai semana que vem!
Bjs
P.s.: E se, por acaso, alguém também lê a minha outra fic, também tem cap essa semana ainda! :D



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