Ice Prince Passion escrita por Annie ONeal


Capítulo 15
No Fundo do Poço


Notas iniciais do capítulo

Surpresa!
É, uma postagem mais do que adiantada! Um pequeno agradecimento pelos comentários motivadores, incentivantes e maravilhosos, muito obrigada gente!
Esse foi um dos maiores até agora (considerem isso um bônus!)Me senti muuuuito inspirada hoje! Não tem tanto assim do passado do Allen é verdade, mas tem coisa que nem ele sabe, e ainda vão acontecer coisas pra ele descobrir...

Enfim, chega de falação, vamos ao que interessa. Espero que tenha ficado bom!

Allen's POV



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  Eu estava em pânico. Não conseguia nem mesmo resistir às mãos de aço que me arrastavam pelos corredores e cada vez mais para baixo pelas escadas de pedra do palácio. O calabouço era escuro, frio e cheirava a mofo. Apesar de estar impressionado e ainda um pouco assustado com a notícia os poderes, tentei mais alguma coisa. Mas não sei se por causa das amarras geladas ou do medo, eu não conseguia nem uma fagulha.

  Uma pequena esperança nasceu dentro de mim, podia ser tudo um engano. Wine podia ter feito algum truque para parecer que o fogo tinha vindo de mim. Aquilo já tinha ido longe demais, até onde, meu Deus, ela seria capaz de ir para tentar me controlar?

  Os guardas enfim me soltaram no chão úmido de uma das celas, um cômodo com paredes de pedra escura e barras de ferro enferrujadas. Não havia nenhuma janela então o ar era pesado, e a única iluminação vinha das velas no chão. Sem absolutamente nenhuma delicadeza, (não que eu esperasse alguma) eles soltaram as amarras, e tiraram minha camisa. Comecei a tremer imediatamente, mas não de frio, estava apavorado. Me levantaram e prenderam meus pulsos com grilhões, presos no alto da parede oposta à porta.

  Após se certificar que eu estava bem preso, eles se afastaram e ouvi passos na escada. Quando a fraca iluminação finalmente me permitiu ver quem era, minha respiração ficou presa de repente. Manfred segurava uma espécie de chicote, com uma empunhadura longa e uma grossa tira de couro com cristais de gelo pontiagudos na ponta.

  - Por favor não faça isso. – Sussurrei, implorando.

  - Ah, mas que gracinha. O ratinho de fogo está assustado? – Manfred brandiu o chicote a primeira vez. Eu fechei os olhos com força, mas assim que as pontas de gelo tocaram minha pele, imediatamente derreteram e só agua fria me atingiu. De alguma forma meu corpo tinha criado uma barreira de calor. Isso acabou com as esperanças de eu não ser da guilda de fogo, mas quem sabe eu não fosse sofrer tanto na masmorra.

 Manfred grunhiu e se afastou. Pude ver que ele tinha pego outro chicote, talvez previssem que eu faria isso, e dessa vez, ele passou algum tipo de gel nos cristais cortantes. Eu já tinha começado a me apavorar de novo. Ele se aproximou e rosnou:

   - Nem pense em tentar outro truque sujo. – Dessa vez, eu me preparei para a dor, mas nada, nunca, poderia me prepara para aquilo. Minha boca se abriu contra minha vontade num grito que não parecia meu. Manfred brandiu o chicote novamente e uma terceira vez. Minhas pernas fraquejaram sobrecarregando meus braços presos.

  Senti como se a dor me dividisse em dois, e gritei novamente com o chicote que rasgava minha pele como se fosse uma garra. Eu sentia a parede áspera e fria ás minhas costas e o sangue quente escorrer pelo meu peito. Eu não ia durar muito. Manfred pareceu notar isso também e se afastou e eu pude ver os cristais que antes eram de um azul claro quase transparente tingido de vermelho, meu sangue.

  - Vou parar por aqui por hoje. Não vai ser divertido se você morrer rápido não é? – Antes de sair ele apagou as velas e depois se foi, me deixando sangrando e na mais completa escuridão. Não muito depois eu desmaiei, dominado pela dor e exaustão.

*¨*¨*¨*¨*¨*

  Frio. Neve e vento lá fora. O Allen da lembrança quase apagada tem no máximo quatro anos e olha a neve batendo na janela. Se pergunta pela décima vez no dia por que não conseguiu fazer bolas de neve sem usar as mãos como seus amigos. Por que era tão diferente?

  A Mãe está estranhamente mais carinhosa hoje. Nunca foi muito chegada ao filho, mas hoje está perto dele, afagando seus cabelos negros como piche. “Não se preocupe. Alguns tem mais dificuldade. Uma hora você consegue”. O pequeno Allen quer acreditar. Sente vontade de chorar e a estranha dor nas palmas das mãos e nos braços. A Mãe diz que foi o esforço.

  No dia seguinte ele consegue mover alguns flocos formando uma fina corrente de gelo. A Mãe parece muito aliviada e contente. Os amigos não veem o que há de tão especial nisso. Mas o pequeno Allen está feliz, não é mais tão diferente certo? As mãos e os braços doem muito, mas vale a pena.

*¨*¨*¨*¨*¨*¨*

  Acordei de repente, sendo tirado do fundo das lembranças por um balde de agua fria. Aquilo ardeu nos cortes, mas consegui suportar de boca fechada. Trinquei os dentes e tremi, dessa vez de frio. Quando consegui distinguir o guarda à minha frente fiquei feliz em perceber que não era Manfred. Ele tinha um olhar meio em pânico, e só então notei que meus braços doloridos estavam ao meu lado, não acima de mim. 

  Doíam quase como na lembrança e os mexi só para ver se ainda funcionavam, e o guarda gritou, chamando outros. De repente a cela estava cheia e eles substituíram os grilhões de ferro por gelo, mágico sem dúvida. Só então percebi o que tinha acontecido, chocado olhei para os pedaços de ferro retorcidos no chão. Eu tinha os derretido? Eu não estava nem consciente!

   Preso novamente os guardas foram saindo aos poucos até só sobrar um, que disse: 

  - Você tem visita. – Meu coração bateu mais forte, iluminado pela possibilidade de ser Yell.  Mas a pessoa que me aguardava do lado de fora da cela era ninguém menos que Wine. Mesmo fraco e com dor, consegui revirar os olhos.

  Mas também o que eu esperava? Yell o principezinho mimado descer até o fundo da masmorra pra ver um suposto traidor? Ele devia me odiar agora. Tanto melhor que não viesse, odiaria que ele me visse nessa situação. Wine espera até o guarda sair. Ele reluta um pouco, mas ela apenas o empurra em direção às escadas.

  - Preciso ficar sozinho com ele. Olhe o estado dele, nem que ele quisesse conseguiria me atacar. – Até que, por fim, o guarda se convence e vai, deixando-nos a sós. Não gosto disso, mas não tenho muita escolha. Faço um voto de silêncio para mim mesmo e evito olhar para ela conforme ela entra na cela escura e fria. A luz das velas reflete na seda alaranjada do vestido dela e mantenho meus olhos no chão.

  - Deus, Allen... O que fizeram com você, meu amor? – Ela se aproximou mais e tocou meu rosto com a mão, mas desviei, como pude. Não suportava nem mesmo olhar para ela. Ela recuou um pouco diante do meu movimento brusco, e se afastou. Achei, sentindo um breve alívio que ela já ia embora, mas ela voltou com um frasco na mão.

  Para minha surpresa ela abriu e passou um pouco do liquido na barra da saia do vestido e se aproximou de mim. Me encolhi tentando me afastar dela, mas os grilhões gélidos nos pulsos não me deixavam ir muito longe.

  - Quer ficar parado? Vai infeccionar se eu não limpar isso. – Quando ela tocou em mim com a saia eu jurei que ela era uma bruxa do inferno.

  O liquido parecia queimar, e não consegui reprimir um grito. Ela franziu a testa e comprimiu os lábios, mas não se afastou. Consegui ficar quieto depois disso, e não me mexi muito também. Não tinha mais energia. Fechei os olhos com toda a força, como se não ver oferecesse algum alívio. Como um passe de mágica depois que ela terminou, a dor pareceu diminuir um pouco. 

  - Acho que isso ajuda. É especial para... Pessoas da Guilda de Fogo. – Fiquei quieto. Não precisava ser lembrado da minha situação. – Olha, sei como deve estar se sentindo, mas-...

  - Cale a boca! Você não faz ideia! – Não sabia de onde surgira aquilo, mas as palavras dela tinham me incendiado por dentro. Raiva queimava dentro de mim e percebi que tinha quebrado o voto de silencio que tinha feito menos de dez minutos atrás. Baixei os olhos notando meu sangue na barra do vestido dela. Apesar de falar merda as vezes, ela se importava de verdade comigo.  

  - Certo. Não faço ideia. Mas eu vim por que... Talvez possamos achar uma saída, talvez...

  - Não há nenhuma saída. Rei Eli me odeia e eu provavelmente vou morrer aqui. E o pior é que eu não fazia a mínima ideia. Obrigada por ser tão cuidadosa em me contar, aliás.

  - Você não percebe?! Eu estava tentando abrir seus olhos, estava te fazendo um favor! Mas você tinha que ficar todo sentimental e reagir daquela forma, estragar tudo! Se tivesse ficado calmo e me ouvido-...

  - Eu estraguei tudo? – Eu a cortei, sem conseguir ouvir mais nada. Não sabia nem o que replicar. – Chega. Saia daqui. – Ela me olhou em total espanto.

  - Allen, você não faz ideia de quem é, como é poderoso-...

  - Eu disse saia. – Ela apertou os lábios numa linha fina e balançou a cabeça.

  - É, eu aconselho a sair mesmo. – A voz de Manfred de repente estava próxima. Eu não tinha ouvido ele descer as escadas. Tinha um sorriso sombrio e perverso. – Aqui não é um lugar para damas.

  - Eu não vou sair. – A teimosia de Wine ainda ia matá-la.

  - Eu posso fazê-la sair, se assim preferir. – Wine empalideceu e eu rezei para que ela fosse logo. Ele inclinou a cabeça: – Acho que ouvi a princesa Alyss te chamar. – Wine pareceu querer dizer mais alguma coisa, mas fechou a boca e saiu de cabeça baixa.

  Manfred andou pela cela acendendo mais velas. Eu não queria nem saber o que eu ele planejava fazer que precisasse de iluminação. Notei o chicote na mão dele, os cristais azuis envoltos do gel e prontos para me dilacerar. Ele parou a uma certa distância e ficou me olhando algum tempo. Eu não estava gostando nada nada disso.

  - Sabe que... Nunca fui chegado em garotos, mas até que você é bonitinho? Uma barriga definida de quem treina muito... Não tantos músculos como eu, mas mesmo assim acho que vale a pena. – Senti o coração parar. Ah não. Deuses do Gelo, do Fogo, da Terra e do Ar, não. – Hoje fui incumbido de uma tarefa muito especial. – Eu sinceramente não queria saber qual era, mas ele disse mesmo assim, claro.

  - Corre um boato, por mim espalhado, que talvez você tenha sido... Como direi... Desrespeitoso com o príncipe. – Senti a boca ficar seca. Ele tinha que estar blefando. – Então hoje como primeira pergunta do interrogatório... – Ele se aproximou mais e fez um carinho no meu rosto que me deu arrepios. – Você tocou no príncipe? É claro que tocou não é? Ninguém resiste aqueles olhos azuis, e o cabelo dourado... – Tive medo por Yell. – Quem ficava por cima?

  Fiquei em silêncio e tentei não esboçar nenhuma reação. Não ia, nunca, admitir, mas era um péssimo mentiroso. Então escolhi ficar em silencio. Manfred moveu a mão do rosto para meu pescoço e foi descendo, num carinho macabro que parecia arranhar minha pele.

  - Ah, sim esqueci de dizer, para cada mentira ou pergunta não respondida... – Ele recuou um passo e brandiu o chicote com toda força contra mim, arrancando um grito de meus pulmões. – Eu vou te castigar. E sério, eu não vou gostar de acabar com esse lindo corpo...

  Ele se aproximou mais e o calor e proximidade dele faziam que eu pressionasse meu corpo na parede atrás de mim cada vez mais. Só que não tinha mais para onde ir. Ele abaixou a cabeça e deu um beijo leve no meu ombro. Sussurrou a próxima pergunta no meu ouvido;

  - O que planejava se infiltrando aqui?

  - Não me infiltrei... Eu não fazia ideia do que era. – Eu respondi fraco, ofegando. Ele riu.

  - Bom, isso é uma pena. – Recuou novamente e dessa vez, quando as pontas geladas cortam minha pele, não tive energia para gritar. Todo ar parecia ter sido sugado pra fora de mim, e tudo que pude fazer foi fechar os olhos.

  - Ah, não, não desmaie. Não ainda. Nem começou a ficar divertido. Vamos bela adormecida – Manfred se aproximou de novo e dessa vez, beijou minha boca.

  Isso acendeu uma fúria e um asco dentro de mim e tirei forças sabe deus de onde. Minha perna se moveu antes que eu me desse conta e eu queria acertar um chute na área mais sensível, mas o maldito estava alerta. Ele segurou meu joelho e sorriu, com o rosto ainda próximo do meu.

  - Nem tente. – Sem mais opções, cuspi no rosto dele. Ele saltou para trás como se eu tivesse cuspido fogo, e provavelmente eu tinha, por que ele limpou rápido e me olhou com fúria.

  - O que é isso, você parafina liquida na boca?! – O chicote veio antes que eu pudesse registrar o que ele tinha dito. A dor lancinante percorreu meu corpo e eu sentia o sangue escorrer a cada golpe. Deuses, eu ia morrer. Ia morrer logo.  Ele continuou a brandir o chicote contra mim, mas eu não sentia mais. Meus olhos arderam e eu jurei não chorar enquanto o mundo a minha volta escurecia. A inconsciência cheia de lembranças me levava mais uma vez.

*¨*¨*¨*¨*¨*

  Dessa vez Allen está com seus 15 anos. Um jovem crescido que treina esgrima todos os dias. O que mais quer é entrar para a Guarda Real, servir ao Rei, lutar em batalhas épicas e perigosas. A Mãe o apoia, quer que ele vá o quanto antes. Talvez esteja preocupada com os constantes e inexplicáveis incêndios que vem destruindo a pequena vila. Sua noiva, Wine, não está tão feliz com sua partida. Mas agora ele controla a neve um pouco melhor, consegue fazer agua virar gelo e até bolas de neve. As palmas das mãos e os braços ardem, mas como Mãe insiste em dizer, é o esforço. “Você está mais do que pronto. Só não se esforce demais. Conheça seus limites.”

  Conselhos sábios. Mãe parece culpada e preocupada no dia da partida, quer conversar. “Você é muito especial. Mas as pessoas não podem saber entende? Elas não gostam de pessoas especiais por aqui.” Allen não sabe por que é especial, mas ela não o deixa perguntar. O beija na testa e diz que vai escrever. Allen vai, em direção a um futuro promissor e com o coração cheio de sonhos. A Mãe chora, mas ele já foi, não pode ver.

*¨*¨*¨*¨*

  Dessa vez, acordei da lembrança em agonia. Minha mãe sabia? Devia saber. Por que nunca tinha me contado? Por que? Me senti traído, sufocado. Era difícil respirar, literalmente, os cortes profundo doíam e cada inspiração parecia me rasgar mais.

  A quanto tempo estava ali embaixo? Horas, dias? Sem comida e sem agua eu estava além da fraqueza. Quando Manfred chegou a única coisa que consegui pensar foi que aquele dia era o dia final, eu não duraria mais. Ele ia fazer comigo o que quisesse e depois ia me matar. Rezei por piedade e me perguntei o que eu tinha feito pra acabar assim.

  Ele se aproximou e comecei a pensar se conseguiria perder a consciência antes que ele abaixasse minhas calças. Ele sussurrou roucamente.

  - Pronto pra morrer?

  - Se você conseguir fazer isso de maneira rápida, vá em frente. – E eu estava falando sério. Não aguentava mais. Ele deu um risinho e acariciou meu rosto.

  -Ah, não. Eu não faria isso rápido. Não iria ter graça nenhuma. Eu gastaria um bom tempo com você. Mas ao que parece vou ter que ser paciente, por que infelizmente o rei marcou sua execução para amanhã. – Senti medo. Apesar de saber que morreria, estar assim tão próximo do fim da existência me assustava. – No pátio do palácio. Acho que vai ser uma morte bem humilhante.

  Manfred deu mais um beijo e dessa vez, eu não tinha forças nem para cuspir. Senti a mão dele descer pelo meu peito e barriga lacerados e chegar no cós da minha calça, e eu sabia onde isso ia levar.

  - N-Não... – Consegui dizer, baixinho e fracamente. Mas ele escutou. Riu.

  - Quer morrer virgem? Prometo ser carinhoso. – Me senti enjoado a ponto de vomitar, mesmo sem ter comigo nada em dias. Mas por algum milagre, ele resolveu atender minha súplica. – Então tá. Como quiser. Te vejo amanhã então. Se eu tiver sorte, o rei me escolhe para decapitar você.

  E se eu tiver sorte morro antes. Eu não achava que ia durar mais um dia inteiro. Manfred saiu, e eu apaguei, dessa vez, sem mais lembranças.              

      

      


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Notas finais do capítulo

Esse foi um dos mais difíceis, eu queria passar muita agonia xD
Deu certo?

Comentários são necessários hein gente =3

Muito obrigada pelo apoio mais uma vez e até o próximo!