*Naruto*

Os dias pareciam mais divertidos, o que de certo modo deixava-me mais contente. Pelo visto, Hinata havia aceitado meu conselho e resolveu viver intensamente. Ela não escondia mais suas emoções, ou as histórias de quando vivia no Canadá. Durante nossos passeios, que haviam se tornado algo rotineiro, sempre conversávamos sobre o tempo passado, aquele que normalmente não era citado.

E cá estávamos novamente. Sentados em frente ao píer observando o sol se pôr e uma coloração alaranjada refletir-se no céu de setembro. Hinata tinha encostado sua cabeça em meu ombro e eu havia colocado a minha próxima a seus cabelos, aproveitando para guardar na memória este momento, desde a cena magnifica que vislumbrava nossos olhos até o cheiro doce de madressilvas que fluíam dos cabelos negros da Hyuuga.

― Hoje foi muito divertido. ― sussurrou Hinata. De fato, havia sido incrivelmente divertido. Enquanto nós caminhávamos pelo parque central de uma cidadezinha no sul de Tóquio, podíamos imaginar que o local havia parado no tempo. Um homem vestido em um macacão azul entregava garrafas de leite nas portas, um casal de jovens namorados estava conversando numa toalha de piquenique enquanto os pais observavam a distância, idosos jogavam xadrez e dominó. Parecia que estávamos em um filme antigo, no qual todos haviam esquecido que era uma segunda-feira. ― Obrigada pelo convite.

― Não precisa agradecer. ― murmurei rapidamente. ― Eu adoro estar com você. ― afirmei e senti ela balançar a cabeça como se estivesse confirmando. As mãos pequenas entrelaçando os dedos as minhas. O calor sendo passado de uma para outra. ― Está ficando tarde... Não seria melhor voltarmos para a cidade?

― Claro... ― balbuciou Hinata erguendo-se da grama, onde estávamos sentados, e ficando em minha frente. ― Tem certeza que não queria ter ido embora mais cedo? Já está um pouco tarde para viajarmos.

― Está tudo bem. ― sussurrei ficando de frente para ela. Hinata observou minha informação com um pouco de dúvida. ― Não se preocupe. Vai ficar tudo bem... Eu já viajei várias vezes nesse horário, creio que não teremos problemas.

― Então tudo bem. ― disse a morena dando-se por vencida. Deixei um mínimo sorriso escapar por meus lábios e puxei-a em minha direção. Ela arregalara os olhos em um misto de confusão e medo. ― Naruto... ― repreendeu-me. ― Por favor, não.

― Está bem. ― respondi simplesmente. Não importava o quanto havíamos nos tornado próximos, todas as vezes que eu ultrapassava um pouco os limites, ela sempre dizia “não” ao mínimo sinal de um beijo. ― Vamos.

Meu carro estava estacionado na frente de uma lanchonete vegetariana quando entramos e ela prendera o cinto de segurança. Liguei o motor e logo pude ouvir o suspiro aliviado da máquina, como se quisesse a muito ser ligada. Prendi meu cinto de segurança e partimos em direção a autoestrada. Ora ou outra, Hinata soltava um mínimo suspiro, com toda a certeza, ela não sabia o que pensar sobre o modo como eu agira. Certo, que quando começamos a sair, ela fizera questão de pedir-me que fossemos devagar, principalmente quando disse-me que estava confusa e não sabia como agir.

O silêncio de quinze minutos estava se tornando incomodo para mim. Eu detestava ficar calado, e mesmo que eu quisesse dizer alguma coisa, eu não sabia por onde começar. Soltei um suspiro um pouco mais alto que o necessário e acabei atraindo a atenção dela

― Desculpe. ― murmurei vendo-a, por canto de olho, abaixar os olhos para o próprio colo. Aparentemente, ela deveria achar sua calça jeans mais atrativa e interessante do que meu pedido de desculpas. ― Eu sei que você pediu para irmos devagar. Simplesmente aconteceu, então... Desculpas.

― Não precisa se desculpar, Naruto. ― balbuciou a Hyuuga olhando as florestas pela janela. A voz calma e baixa. Os olhos vidrados nos movimentos das árvores ou nas listras brancas do acostamento que passavam como um flash por nós. ― Eu lhe agradeço por respeitar minha opinião, de verdade, mesmo que esteja sendo difícil para você. Entretanto, eu ainda não sei o que pensar sobre o tipo de relacionamento que estamos tendo. Eu tenho muita coisa na cabeça por enquanto. ― sussurrou. As palavras saindo amarguradas de sua garganta. Os olhos marejados como se ela evitasse um choro. Ela deixou o suspiro escapar por seus lábios novamente antes de virar seu rosto em minha direção. ― Sei que posso estar pedindo demais, mas... Será que você poderia esperar um pouco?

Um sorriso simplesmente escapou por meus lábios. Não havia como não rir dessa declaração inocente de Hinata. Suas bochechas adquiriram uma coloração avermelhada devido ao meu acesso de riso e ela tampou os lábios a fim de evitar a própria risada.

― Está bem, está bem! ― exclamei rapidamente tentando me recompor. ― Esse foi um pedido engraçado, então eu tentarei de verdade esperar...

*Hinata*

Espreguicei-me assim que Naruto parou o carro na frente de minha casa. Eu morava em uma grande casa de dois andares na saída leste da cidade. De onde eu estava, podia ver claramente a luz da lua sendo refletida na grandiosa janela de vidro no segundo andar. Naruto aproximou-se de mim com um sorriso alegre nos lábios.

Certo que havíamos nos aproximado. Porém, eu ainda não sabia o que pensar e nem ao menos conseguia descrever o tipo de relacionamento que havíamos desenvolvido. Sempre havia sido apaixonada por Naruto, mas quando descobri o câncer, todas as minhas certezas se desfizeram e eu acabei esquecendo como era bom os momentos ao lado do Uzumaki. Senti sua mão encostar em meu braço e no mesmo instante pude ter certeza que os pelos do meu antebraço se arrepiaram e meu coração dera a volta completa ao redor do sol.

Normalmente era essa a sensação que o toque de Naruto provocava em mim. Como se eu estivesse acordado de um transe, pude ver o loiro olhar-me preocupado e só então percebi que eu havia esquecido o tempo presente novamente. Abri um mínimo sorriso para ele e pude vê-lo retribuir sem nenhum tipo de barreira.

― Obrigada pelo dia maravilhoso, Naruto. ― murmurei de forma singela. Naruto ergueu mais ainda seu sorriso, o que fez meu rosto querer aquecer. ― Nos vemos depois, então...

― Sim, claro. ― sussurrou o loiro. Seus olhos azuis pareciam desbravar minha alma a cada nova fixada de olhares. O vento frio fazia meus cabelos esvoaçarem e minha pele ainda formigava no local onde sua mão estivera alguns segundos atrás. ― Boa noite, Hinata.

― Boa noite. ― balbuciei enquanto o via entrar no carro novamente e sair pelas ruas.

E novamente senti aquela solidão instaurar-se em meu coração. Entrei em casa e caminhei diretamente para meu quarto. Eu não havia comido nada a tarde inteira, mas mesmo assim ainda não tinha fome. Meu corpo tombou sobre a cama enquanto as lembranças de nós dois em uma cidade onde o tempo parara fizera um mínimo sorriso transparecer e meu coração acelerar rapidamente.

A quem eu queria enganar? Não havia motivos para pedir um tempo a Naruto, se nem mesmo meu coração aguentava ficar longe dele. Em minha mente, a única coisa que dava-me forças e vontade de persistir era o Uzumaki. De algum modo, a única coisa que me mantinha de cabeça erguida para enfrentar a doença e não dar-me por vencida era o amor que eu sempre havia nutrido por ele.

No momento em que minhas pálpebras fecharam, eu finalmente entendi. Eu tinha que dizer o que sentia e como ele me confortava nos momentos mais difíceis. Eu precisava que o loiro soubesse o quanto ele era especial para mim, o quanto eu o amava. Queria que ele soubesse que eu nunca mais iria desistir dele. Afinal, Naruto era o sol que mantinha a chama da minha vida acessa.