*Naruto*

― Vocês demoraram. ― sussurrou Sakura para nós dois quando nos aproximamos da fogueira. ― Aconteceu algo?

― Não. ― murmurou Hinata enquanto arrumava uma mecha de cabelo atrás da orelha. ― Não aconteceu nada.

― Naruto... ― chamou-me o Uchiha. Olhei para Sasuke que mantinha uma expressão confusa em seu rosto. ― Você está bem?

― Sim. ― sussurrei baixinho enquanto sentava-me em uma pedra grande.

A noite foi regrada a piadas, histórias e alguns risos soltos de qualquer lugar. A pequena Harumi ainda cantarolou algumas músicas de acampamento que aprendera com Sakura. Aos poucos, o silêncio fora novamente tomando conta do ambiente. Harumi já dormia no colo de Sasuke, que a levou para casa assim que Sakura murmurou estar muito cansada. Temari e Shikamaru também foram deitar-se. Suigetsu e Karin resolveram dar uma volta novamente pelos arredores antes de dormir, deixando assim somente eu e Hinata na frente de uma pequena brasa que teimava em manter-se acessa.

Eu poderia simplesmente fingir que não havia acontecido nada e que isso fora apenas fruto da minha imaginação. Mas o silêncio atormentador que seguia entre nós apenas mostrava-me que não fora um pesadelo. E mesmo que Hinata tivesse me dito ser apenas uma consequência da doença, eu não conseguia acreditar.

― Não se preocupe com isso, Naruto. ― murmurou a Hyuuga tirando-me do meu eixo de pensamentos. ― Eu sei que deve ser difícil aceitar algo assim. Teve um tempo em que eu não conseguia também. Mas depois de algumas tentativas falhas, você aprende a como sobreviver com isso.

― Eu não sabia que estava tão avançado assim. ― sussurrei baixinho. ― O que os médicos te disseram quando você descobriu?

― Foi há dois anos, mas ainda me lembro da fala deles. ― entonou a morena com uma grande naturalidade. ― Eles disseram que eu estava com leucemia em estágio III. Disseram-me que as chances de algum tratamento dar certo eram mínimas, mas eu agarrei nessa chance por um bom tempo. Como eu te falei naquele dia... Eu tentei várias formas de tratamento, quimioterapia e radioterapia, até mesmo remédios naturais e drogas sintéticas. ― murmurou enquanto pisava com a sola da bota na brasa. ― Durante minhas tentativas, a leucemia reduziu por um tempo, mas quando fiz novamente o exame dois meses antes de voltar para o Japão, eu descobri que ela havia voltado a ficar como era quando eu descobri.

― Hinata... ― sussurrei seu nome baixinho. O olhar perolado da Hyuuga ergueu-se para observar as estrelas. Ela parecia pensar sobre alguma coisa, algo antigo e doloroso. Hinata deixou um suspiro escapar por seus lábios antes de prosseguir.

― Eu sei que talvez eu não tenha muito tempo restante... ― murmurou ― Mas alguns dias atrás, um certo loiro disse-me que eu não deveria temer. Disse-me que tudo o que eu precisava era passar um tempo com meus amigos e minha família. Eu não sei bem o porquê, mas estou seguindo o conselho dele.

Um mínimo sorriso formara-se em meu rosto enquanto a Hyuuga levantava. Ela suspirou novamente e olhou sorrindo para mim. Um sorriso que simplesmente arrebatava meu coração e dava-me forças que eu talvez não soubesse que existiam. Ela estendeu sua mão para que eu a segurasse.

― Acho melhor entrarmos. ― resmungou Hinata. ― Teremos uma longa viagem pela manhã.

― Está bem. ― respondi para a morena e segurei sua mão.

[...]

O dia estava extremamente calmo. O sol raiava, os pássaros cantarolavam, a brisa soava fazendo meus fios loiros esvoaçarem a medida que eu caminhava com as malas na mão e colocava-as na sala de estar da casa de Hinata.

Havíamos saído cedo e um pouco antes de Sasuke. A manhã fora agitada enquanto arrumávamos a mala e nem dera tempo suficiente para tomarmos café da manhã na casa da fazenda. Hinata deixou um suspiro cansado escapar por seus lábios quando entrou na cozinha e remexeu nos armários por alguns segundos.

― Quer comer alguma coisa? ― perguntou-me rapidamente enquanto eu sentava em uma das cadeiras. Ela saiu de trás dos armários com farinha, ovos, leite e um sorriso frágil estampado em seu rosto. ― Que tal um pouco de panquecas?

― Claro... ― sussurrei brevemente ― Quer ajuda?

― Não precisa. ― balbuciou. ― Mas você poderia ir comprar umas frutas para mim? Assim poderemos fazer um suco para tomar com as panquecas. Tem uma mercearia no final da rua.

― Está bem. Voltarei em poucos minutos. ― murmurei saindo pela porta da casa.

[...]

Quando abri a porta da casa da morena, eu tive certeza que nunca havia sentido um cheiro tão delicioso em toda a minha vida. Hinata estava virando panquecas com grandiosa maestria. Os cabelos longos e levemente azulados estavam presos em um rabo de cavalo. Um avental florido estava preso em si e um par de luvas antitérmicas envolvia suas mãos.

Ela era a mulher mais bela que eu já pude conhecer. A Hyuuga levou um breve susto ao virar-se em minha direção, mas logo um sorriso estampou seu rosto. Ela colocou um prato lotado de panquecas sobre a mesa e retirou as luvas e avental.

― Naruto... ― sussurrou meu nome. ― Por que não avisou que havia chegado? Eu quase tenho um infarto pelo susto.

― Desculpe. ― balbuciei. Eu estava praticamente hipnotizado pelo seu pequeno, mas sincero sorriso. Pisquei algumas vezes para voltar a realidade e ergui a sacola em minha mão. ― Comprei algumas frutas.

― Ótimo! ―exclamou Hinata. ― Dê-me algumas laranjas para que eu possa fazer o suco.

― Não senhora... ― resmunguei aproximando-me dela. Hinata franziu o cenho em confusão. ― Eu faço. Já não basta eu me sentir um inútil depois de não ter ajudado nas panquecas, agora é minha vez de mostrar meus dotes culinários.

― Está bem... ― murmurou Hinata sorrindo e sentando-se em uma cadeira. ― Vejamos se o famoso e bem sucedido arquiteto Naruto Uzumaki realmente sabe fazer uma jarra de suco de laranja.

― Espere e verá.

*Hinata*

Era algo irônico estar sentada enquanto Naruto espremia laranjas. Até divertido de fato. Eu perdi a conta de quantas risadas eu dei e de quantas vezes o espremedor ganhara de Naruto.

― Tem certeza que está tudo bem? Não precisa de ajuda? ― perguntei enquanto tentava ao máximo segurar o riso. O loiro olhou repreendedor para mim, mas pude identificar um sorriso divertido em seus lábios. ― Está bem... Não está mais aqui quem falou.

― Eu posso muito bem espremer laranjas, Hyuuga. ― resmungou Naruto dando-me novamente as costas e voltando a trabalhar com as frutas. ― Só preciso de um tempo para acostumar-me com esse espremedor.

― Não sabe usá-lo?

― Claro que sei... ― resmungou rapidamente. Tão rápido que eu soube que ele estava mentindo. E isso fora o bastante para que eu voltasse a rir. ― Para de rir.

― Desculpa! Desculpa. ― falei ainda rindo. Levantei da cadeira e aproximei-me do loiro. Ele tentava inutilmente espremer uma laranja com o lado errado do espremedor. Ele bufou rapidamente quando eu tomei o objeto de suas mãos. ― Nunca vai conseguir usando o espremedor do lado errado. ― murmurei enquanto trocava a posição da peça. ― Prontinho.

― Eu sabia que estava errado. ― retrucou o loiro deixando claro que estava sem graça. ― Só fiz isso para divertir você.

― Eu sei... ― murmurei com um sorriso no rosto. ― Acho que não me divertia assim há tempos. Obrigada!