Metamorfose escrita por Cacau54


Capítulo 5
Capítulo 4 – Enigma.


Notas iniciais do capítulo

Olá. Muitíssimo obrigada aos reviews do capítulo anterior, vocês são demais ♥



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Enigma Fig. Frase obscura. Coisa difícil de definir, de conhecer a fundo, de compreender.

Uma semana se passou desde que Isabella Swan a vizinha maluca, abusada e surpreendente invadiu meu apartamento. Mas isso não significa que ela tenha sumido, a realidade é outra, ela veio todos os dias tomar café da manhã comigo. Mesmo sendo tratada rudemente por causa do meu mau humor matinal.

Quando soube que estarei de férias a partir da semana que vem, ela ficou um tempo em silêncio e olhando para cima. E para o meu completo espanto ela abriu um sorriso iluminado e sapeca, como se estivesse prestes a aprontar alguma coisa fazendo isso apenas despediu-se e saiu sem nem me deixar questioná-la pela atitude.

Agora estou despedindo-me forçadamente dos “colegas de trabalho” antes de sair para curtir minhas merecidas férias de um mês. Pouco tempo, mas será proveitoso, tenho certeza. E mesmo com todos ao meu redor, desejando-me boas férias e essas chatices todas, a única coisa que consigo pensar é no sorriso de Isabella antes de sair o meu apartamento.

Assim que consegui uma brecha de todos os bajuladores entrei rapidamente no elevador encaminhando-me para o estacionamento. Avistei a Mercedes Benz estacionada a alguns metros e rapidamente encaminhei-me até ela, um carro bom e nunca me deu problemas.

– Estou com o estranho pressentimento de que aquela maluca está aprontando alguma – falei comigo mesmo, respirei fundo e dei partida – Espero que esteja errado.

Abri a porta do meu apartamento e a única coisa que consigo pensar é em um bom banho, último dia antes das férias é sempre o mais desgastante. Mas todos meus pensamentos e desejos foram brutalmente interrompidos quando ouvi um grito estridente dentro do meu apartamento. Do meu apartamento!

Arregalei os olhos assim que braços me agarraram pela cintura e me apertaram em um abraço, desci meus olhos para a figura pendurada em mim e fiquei completamente estático. O que Rosalie está fazendo aqui? Uma gargalhada alta e estrondosa foi ouvida, ainda atônito, elevei meus olhos até a figura majestosa e elegante de Emmett.

Ok. O que Emmett está fazendo aqui?

Faz anos que não os vejo e revê-los assim... do nada, é completamente estranho e surreal. Emmett Cullen meu irmão mais velho, parece mais um armário do que um humano e contem um carisma contagiante que agrada todos ao seu redor. Casou-se com Rosalie Hale, uma mulher loira com o corpo escultural e um coração de ouro, que por ironia do destino ou não é irmã do Jasper, marido de Alice.

– O que estão fazendo aqui? – perguntei confuso sem querer ser indelicado, mas entrar em seu apartamento e dar de cara com pessoas que não vê há anos é completamente estranho.

– Credo Edward – a voz estridente de Alice surgiu no ambiente – Isso é jeito de tratar sua família? Família essa que você não vê há muito tempo? – ela apareceu na porta da cozinha.

– Não quis ser indelicado – murmurei e passei meus braços ao redor de Rosalie correspondendo ao abraço – Mas convenhamos que seja estranho entrar no seu próprio apartamento e dar de cara com pessoas.

– Ah sim! – Alice bateu em sua própria testa, como se tivesse acabado de se lembrar de algo importante – Esqueci-me de lhe avisar que viríamos aqui.

Fiquei encarando meus irmãos parados no meu apartamento, como se nada estivesse acontecendo e da cozinha saiu um Jasper sorridente segurando um garoto de seis anos no colo. Garoto esse de cabelos loiros e olhos verdes, que quando sorri duas covinhas aparecem em suas bochechas, exatamente igual em seu pai.

Cory Hale Cullen, meu sobrinho. Filho do irmão urso com a barbie, como eu costumava chama-los antigamente. Assim que o pequeno colocou os olhos em mim, seu sorriso aumentou.

– Esqueceu-se de me avisar que viriam ao meu apartamento? – a indignação se fez presente em minha voz.

– Edward, eu faço muitas coisas no dia – Alice começou a ralhar comigo – Não consigo me lembrar de tudo, mas Bella disse que iria lhe avisar.

– Bella? – repeti.

– Sua vizinha, Edward – Rosalie disse afastando-se e revirando os olhos, mas sem deixar o sorriso morrer.

Meu sobrinho correu em minha direção pulando em meu colo, assim que o ergui comecei a arremessa-lo para cima e a gargalhada do pequeno foi contagiante, menos para mim que apenas sorri torto. Essa é uma brincadeira nossa, desde que ele criou idade o suficiente para não vomitar em mim no meio do aviãozinho.

– Vocês todos conhecem ela? – perguntei ofegante assim que coloquei Cory no chão, baguncei lhe os cabelos – Depois brincamos mais, seu tio já está ficando velho e precisa descansar um pouco.

– Tudo bem tio Ed – ele abriu um sorriso com covinhas e correu até o pai.

– Você não a conhece? – Rosalie fez a mesma pergunta que Alice, quando estávamos no hospital.

Não sei o que responder, na verdade, eu a conheço? A resposta é não. Porque desde o início eu estive me empenhando para afastá-la e não para conhecê-la, pelo que conheço de Rosalie e Alice, sei que a pergunta vai muito além do conhecer como vizinhos, pois essa resposta, elas sabem.

Na verdade, as duas querem saber se eu conheço Isabella Swan de forma literal. Não apenas de vista, reconhecendo e sim, como amigos ou talvez até mais do que isso.

– Não. – murmurei, enfim, entrando e fechando a porta de meu apartamento – Mas, porque ela iria me avisar isso?

– Bem... – Alice começou a deu uma risadinha – Foi ela quem nos contou que você iria entrar em férias e que poderíamos vir aqui lhe visitar.

Minha expressão chocada deve ter sido hilária, pois Emmett e Jasper começaram a gargalhar. Desde quando dei intimidade para aquela maluca fazer isso? Quer dizer... Desde quando dei intimidade para ela fazer qualquer coisa que seja em relação a mim?

Completamente abusada. É isso que ela é.

– Pensei que iria gostar da surpresa – a voz calma e serena se fez presente no ambiente, meus olhos desviaram-se para o batente da porta da cozinha.

– Desde quando está ai? – as palavras ásperas e cortantes saíram de minha boca.

– Desde que seus familiares chegaram – ela deu de ombros sem importar-se com meu tom – Pediram-me a chave.

As palavras dela me atingiram devagar e demorei em raciocinar o significado delas.

– Você tem a chave do meu apartamento? – arregalei os olhos quando a vi confirmar com a cabeça – Como?

– Tenho meus truques – uma leve risada escapou por seus lábios.

– Mas, vamos deixar isso pra depois – a voz de Rosalie se fez presente – Prepararemos o jantar, enquanto vocês homens podem jogar conversa fora e depois temos um comunicado a fazer.

– Tenho medo desses comunicados – Emmett murmurou e vi Jasper concordar com a cabeça.

– Cory querido, venha com a mamãe – Rose disse com a voz carinhosa.

– Eu sou homem – ele disse fazendo bico e apontando pra si mesmo – Então fico com os homens.

A atitude do pirralho arrancou risada de todos e conseguiu, novamente, arrancar um sorriso torto meu. Eu sempre soube que uma cria entre Emmett e Rosalie não daria em boa coisa e ai está à prova, Cory é um garoto extrovertido demais e abusado... Mas isso não é de todo o mal, afinal.

As horas passaram rapidamente enquanto os rapazes e eu jogamos conversa fora, Emmett falou que enfim conseguiram tirar férias em família e irão passar metade delas em Portland, na casa de Alice e Jasper.

Mas o ambiente está completamente estranho pra mim, me dando um ar de familiaridade bom demais e uma coisa que eu não sentia há muito tempo, vendo minha irmã e cunhada colocando os pratos e panelas na mesa de jantar, cena esquecida por mim. Mas ao ver Isabella carregando uma panela grande e fumegante, fez meu mundo parar por alguns minutos, fiquei com os olhos focados na imagem.

O sorriso da mesma enquanto ajuda é doce e encantador, como sempre, ela derramou o molho que continha na panela em cima de um assado e logo o cheio tomou conta do apartamento. Semicerrei os olhos com a imagem da mulher de cabelos castanhos amarrados em um coque, com luvas de cozinha nas mãos e um avental ao redor do corpo.

Como se fossemos todos... uma família. Como se eu tivesse uma família novamente. E não posso negar que esses pensamentos me causam dor no coração, perder alguém é sempre difícil e doloroso, a superação demora a chegar. Mas perder tantas pessoas importantes, como eu perdi, acaba deixando a pessoa amargurada.

– Meninos – Alice chamou – O Jantar está servido.

Como se fossemos um bando de adolescentes mortos de fome, praticamente corremos até a mesa de jantar. Meio duvidoso das habilidades da Swan na cozinha peguei a comida com certo receio e o olhar dela sobre mim é divertido como se soubesse exatamente o que está passando por minha cabeça.

Assim que levei a primeira garfada a boca, uma explosão de sabores invadiu meu paladar e eu tenho que admitir mais uma vez que Isabella me fez engolir meus próprios julgamentos. Ela é boa na cozinha, diferente de Tania.

Uma conversa amistosa tomou conta de todo o jantar, com algumas gracinhas de Cory pra cima da Swan que respondia tudo com o seu super sorriso e sua gentileza.

– E então... – Emmett pigarreou assim que seus olhos depararam-se com a minha expressão incomodada – Qual o comunicado?

– Ah – os olhos de Alice se iluminaram, trocou um rápido olhar com Rosalie que assentiu.

– Estou grávida – falaram em uníssono.

O silêncio caiu sobre a mesa e logo depois Emmett e Jasper começaram a falar ao mesmo tempo, as mulheres riram e se abraçaram, incluindo Isabella que parabenizou as duas. Sorri de canto e parabenizei os futuros papais.

Disfarçadamente afastei-me dos casais felizes enquanto os mesmos tentam explicar para um pequeno e confuso Cory que logo terá um irmãozinho ou irmãzinha. Suspirei assim que cheguei à sacada e deparei-me com o vento revoltoso, meus olhos instintivamente foram em direção à rua.

– Olhe para cima – a voz dela surgiu as minhas costas, calma, como sempre.

Continuei na mesma posição em que me encontrava antes da mesma chegar até mim, qual o problema dessa mulher? Eu estou sempre a tratando mal e ela continua aqui, por perto, querendo me enlouquecer.

– O que você quer? – perguntei entredentes querendo disfarçar minha voz embargada.

– Primeiramente, quero saber o que te aflige – ela disse e aproximou-se ficando do meu lado – Depois, quero que olhe para cima.

– O que te faz pensar que eu contaria algo pra você? – nem ao menos desviei meus olhos da rua para perguntar.

– Intuição – com a visão periférica pude perceber um leve mexer de ombros da parte dela.

Ergui a cabeça aos poucos e encarei os prédios ao longe, com algumas luzes acesas dando um brilho a mais na cidade. O vento bateu em meu rosto me fazendo regular a respiração, que eu nem havia percebido estar desregulada, por fim olhei para a mulher ao meu lado.

E como sempre, sua expressão está serena encarando o céu, pensativa. Ela está apoiando as duas mãos na grade de proteção que chega até sua cintura, uma das pernas relaxadas e flexionadas para trás. O vento ricocheteando seus cabelos, agora soltos, para todos os lados.

– Eu perdi minha esposa – murmurei calmamente e ela desviou os olhos para meu rosto – Ela estava grávida.

– Como era o nome dela? – Isabella perguntou calmamente, encarando-me nos olhos.

– Tania Denali – resmunguei fechando os olhos por um tempo – Ela pediu para que eu diminuísse a velocidade, mas quando tentei fazer isso, já era tarde demais. O carro derrapou na pista e colidiu com um caminhão, fomos arrastados por alguns metros e esmagados contra um poste.

“Quando acordei já estava no hospital, meus irmãos estavam lá, menos Tania. Quem eu mais queria e precisava ver não estava lá, então veio à notícia, fiquei pouco mais de um mês em coma. Mas o pior ainda estava por vir, afinal sem me darem tempo pra digerir uma informação, logo me jogaram a bomba, esposa e filho mortos. Por imprudência minha”.

– De quantos meses ela estava? – a voz serena de Isabella me fez abrir os olhos.

– Sete, quase oito, se não me engano – murmurei ressentido.

– E quanto tempo faz desde que isso aconteceu? – ela perguntou franzindo o cenho, pude perceber algum tipo de dor nos olhos verdes dela.

– Quatro anos.

– Sinto muito – ela sussurrou e colocou a mão em meu ombro.

Por um momento me senti amparado, como se o simples toque fizesse toda a dor em meu peito sumir. Nunca contei isso para outras pessoas, fora os que me conheciam na época e conheciam minha história com Tania, ninguém jamais soube de tudo isso, afinal proibi qualquer um de contar. E aqui estou eu, abrindo parte de minha vida para uma completa maluca que não respeita regras.

E com esse pensamento me lembrei do porque de não gostar dela, foi por não respeitar regras que acabei com a vida de minha esposa e do meu filho. Foi por não respeitar regras que sou um homem amargurado e ainda mais infeliz.

– Quem sente muito sou eu – falei ríspido e afastei a mão dela do meu ombro – Foi por não seguir as regras que estraguei com a minha vida, perdi pessoas importantes pra mim, de novo.

– Eu sei que... – ela começou a falar, mas a cortei.

– Não sabe de nada – minha voz ergueu-se algumas oitavas – Você não sabe o que é perder pessoas que ama, não sabe o que é viver com a culpa lhe rasgando o peito por anos. Você não sabe de nada Isabella Swan – as palavras saíram de forma amarga, para ferir.

Mas diferente do que eu imaginava a expressão de Isabella não mudou em momento algum, ela continuou serena. Teria caído nessa, se ela não tivesse engolido em seco e se não tivesse semicerrados os olhos rapidamente. Sua atenção foi desviada para o céu novamente, ela engoliu em seco mais algumas vezes e seu típico sorriso doce já não está mais habitando seus lábios.

Estou esperando por algum tipo de surto de sua parte, qualquer coisa que expresse indignação por minhas palavras, qualquer reação plausível, alguma coisa que uma pessoa normal faria. Mas ela não, é claro que não, porque ela não é uma pessoa normal.

– Apenas... – a voz dela não passou de um sussurro – Olhe para cima.

Sem deixar-me responder saiu apressada, ouvi-a dar uma desculpa qualquer aos presentes na sala e o som da porta ser fechada. Trintei o maxilar com força.

– Você está errado Edward – Alice disse atrás de mim – Isabella já perdeu pessoas importantes para ela e diferente do que você pensa, ela convive com a culpa até hoje – a voz de minha irmã está cheia de mágoa – Não deveria descontar suas frustrações em pessoas que querem apenas lhe ajudar.

– Porque ela é assim? – a pergunta saiu em um sussurro.

– Assim como? – minha irmã postou-se ao meu lado, exatamente onde instantes antes minha vizinha estava.

– Ela é diferente e um completo enigma – olhei nos olhos de Alice.

– Responda-me maninho – ela deu-me um sorriso enorme – Isabella é um enigma que você quer desvendar?

– Talvez – a incerteza em minha voz mostra o quão confuso estou com tudo isso.

– Então peça desculpas a ela.

Alice colocou-se na ponta dos pés depositando um beijo em minha bochecha e murmurou um “até mais” para logo depois ouvir os outros presentes gritarem em despedida, saindo apressados do apartamento. Estranhamente meus olhos foram em direção ao céu, fazendo minha cabeça inclinar-se um pouco para trás.

A culpa está rondando meu corpo nesse momento, quando me tornei esse homem mesquinho e completamente frio? Quando foi, exatamente, que perdi o prazer pela vida? Para nenhuma das perguntas eu sei a resposta, afinal, perdi alguém ainda mais importante antes de Tania, alguém que se eu não tivesse perdido, com toda certeza, teria poupado a vida da Denali. Talvez, tenha me tornado assim, quando perdi aquela pessoa.

Fechei os olhos e suspirei, fui completamente injusto e só Alice Cullen para me fazer pensar em sobre isso. A Swan apenas me ajudou desde que apareceu em minha porta para fugir de uma festa em seu apartamento, nessa uma semana e meia que ela não sai do meu pé, apenas fez coisas boas por mim.

E eu nem ao menos sei quantos anos ela tem! Esse pensamento me chocou. Ela é um completo enigma e agora, estou mais do que disposto em desvendá-la... Mas antes, preciso desculpar-me.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado e comentem!! Até o próximo.