Metamorfose escrita por Cacau54


Capítulo 4
Capítulo 3 – Surpreendente.


Notas iniciais do capítulo

Olá, muitíssimo obrigada pelos comentários no capítulo anterior, vocês me ajudam a ter motivação. Espero que estejam gostando e que continuem comentando, aos leitores fantasmas, por favor, apareçam!! Boa leitura.



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Surpreendente Fig. Que provoca viva emoção: espetáculo surpreendente. Espantoso, admirável, magnífico.


Por uma insistência complemente absurda da Doutora Swan ainda estou em observação e aquela enfermeira maluca voltou até meu leito e me fez deitar, novamente sob ameaças. Já fiz todos os malditos exames, raio-x e respondi diversas perguntas para todo mundo que veio me ver.


E ela acaba de entrar no ambiente, quarto ou qualquer que seja a forma como chamam este lugar onde estou. Isabella está com um envelope – um pouco maior do que o convencional – nas mãos e eu tenho a total certeza de que são os malditos resultados. Mas ela não veio diretamente em minha direção como eu tinha a certeza de que faria, ou de que deveria fazer. No entanto seu caminho foi desviado até outro leito e ela sorriu e conversou um pouco com outro paciente.

A Swan fez isso com várias pessoas que estavam jogadas por ali, sorrindo e conversando com todos animadamente como se fosse apenas um reencontro com velhos amigos em um parque qualquer. Eles estão com dores, oras! Não é o momento de parar e conversar sobre amenidades com eles, o que eles precisam é de um bom curativo e sedativo, isso sim!

Quando ela, finalmente, se deu ao luxo de voltar sua atenção ao paciente em questão, ou seja, eu, veio em minha direção e sorriu docemente.

– Olá – murmurou sorridente e deu uma nova olhada em meu prontuário – Como foi passar algumas horas aqui?

– Horrível – falei seco, de má vontade – Dá pra acabar logo com isso?

– Calma garotão – ela riu suavemente.

Encarei seu rosto por alguns instantes enquanto a mesma está ocupada demais para perceber meu olhar avaliativo sob si. Sua expressão suave e concentrada, com um pequeno sorriso doce e acolhedor que quase nunca lhe sai dos lábios. Devo admitir que ela é bonita, não só isso, ela exala algo, como se exalasse a própria felicidade.

– Porque você fez aquilo? – a pergunta saiu antes que pudesse contê-la. Isabella ergueu os olhos e me encarou com a expressão confusa, suspirei – Porque passou de leito em leito falando com todos eles?

– Ah – o sorriso dela aumentou ainda mais – Porque não faria?

– Você é paga para cuidar dos pacientes e não para agradá-los – murmurei colocando meu ponto de vista – Não pra ficar de sorrisinhos e conversinhas. Eles precisam de um curativo, de um sedativo que faça a dor parar e principalmente de uma certeza de que iram para casa.

Ela ficou me encarando por longos e incontáveis minutos, como se estivesse, novamente, examinando minha alma. Estou começando a cogitar a ideia de que ela pode mesmo fazer isso, nunca vi ninguém me encarar por tanto tempo e logo depois abrir um sorriso extremamente doce e acolhedor.

Mas dessa vez ela demorou-se mais em meus olhos, como se quisesse encontrar alguma coisa neles, algo que pela expressão que ela fez, encontrou.

– O que você e muitas pessoas têm que entender Edward – ela começou calmamente – É que não é pelo dinheiro. Não interessa o quanto recebo por esse trabalho, é o que eu gosto de fazer, é o que eu escolhi ser.

Ela sorriu docemente e suspirou. Sua expressão ficou estranha, não em um sentido ruim, mas no sentido de que está me passando a impressão de que ela tem mais anos de vida do que realmente aparenta como se fosse uma anciã no corpo de uma mulher jovem e cheia de vida.

Isabella direcionou os olhos para cima, novamente perdida em pensamentos e encarando o teto como se algo muito importante estivesse ali e eu, mais uma vez, segui seu movimento e como da ultima vez não encontrei nada de mais além de um teto branco completamente sem graça.

– Os pacientes sempre estão com o emocional abalado, independente do motivo pelo o qual estejam em um hospital – ela voltou a falar com a voz ainda mais calma, sem desviar os olhos do teto – Eles merecem mais do que curativos externos, porque o interior deles está clamando por algo a mais, por uma atenção, por um ato de carinho.

“Precisam mais do que um simples sedativo, porque não é a dor física que eles querem estancar, mas também a emocional. E não são todos os casos que podemos garantir melhoras e uma possível volta para o lar, ou seja, gosto de dar todo o conforto possível para as pessoas que estão por aqui. Afinal, eles já estão passando por muita coisa para além de tudo ainda ter de enfrentar um profissional ignorante”.

Assim que ela terminou o discurso mais chocante de toda a minha vida, seus olhos finalmente encontraram os meus e eles brilham de um verde intenso, completamente misterioso e atrevido. Nunca fiquei hipnotizado por alguma mulher e nem em meus maiores devaneios poderia imaginar que isso aconteceria com a vizinha maluca.

Nosso momento foi quebrado quando ela sorriu docemente e desviou sua atenção para os resultados do raio-x, enquanto eu corro meus olhos por todos os pacientes e com uma estranha compreensão percebo que suas expressões realmente melhoram quando ganham a atenção de alguém, mesmo que sejam por meros minutos.

– Bom Edward, você pode ir – ela soltou uma risadinha leve.

– Eu disse que estava bem – murmurei entredentes.

– Porém não poderá ir para casa sozinho – ela deu de ombros ao ver minha expressão indignada – Melhor prevenir do que remediar, eu levo você, meu horário já esta acabando.

E mais uma vez sem esperar por alguma resposta minha, ela saiu.

Respirei fundo quando a água quente desceu por meu corpo, levando consigo os nervos embolados e aquela horrível sensação de que o cheiro de hospital havia ficado impregnado em cada milímetro do meu ser. Minha estadia no hospital fora de longe ao menos agradável, mas apesar disso, as palavras de Isabella ficaram rodando em minha mente.

Como uma pessoa consegue sorrir o tempo todo? Isso parece completamente impossível em meu ponto de vista. Tenho total ciência de que todas as pessoas do mundo passam por constantes problemas durante a vida, então... como alguém consegue sorrir docemente o tempo todo? Isso é um completo absurdo pra mim.

Depois de me vestir e preparar alguma coisa descente para comer – porque as refeições servidas por hospitais nunca são satisfatórias – me encaminhei até minha sacada. Assim que o vento suave tomou meu rosto consegui respirar fundo, completamente aliviado por não estar mais em uma cama de hospital. Antes de fazer minha refeição, prefiro colocar um pouco de nicotina no organismo e não demorei a achar minha carteira de cigarros e o isqueiro.

Como o condomínio é em um lugar bastante requisitado de Portland e para pessoas de classe alta os apartamentos são espaçosos e com os cômodos bem divididos, mas o que me chamou a atenção quando entrei aqui para examiná-lo foi à sacada e a maravilhosa visão que tenho daqui. O último andar, o mais próximo do céu que posso chegar, é o que sempre penso. Daqui tenho uma ampla visão da rua, de alguns prédios pela cidade e principalmente do céu.

O maravilhoso céu.

– Olá – uma voz doce e serena me despertou dos devaneios, me dando o maior susto da história.

– O que diabos está fazendo aqui? – perguntei entredentes.

– Vim lhe fazer uma visita – Isabella deu de ombros e pegou meu sanduíche mordendo um pedaço – Bati algumas vezes e você não atendeu.

– Então resolveu simplesmente ir invadindo? – murmurei irritado e acompanhando com os olhos ela levar o meu sanduiche novamente a boca.

Ela simplesmente deu de ombros e sentou-se na cadeira do outro lado da pequena e redonda mesa que possuo na sacada. Posso sentir uma sobrancelha arqueada, cada dia mais abusada. Isabella nem ao menos percebeu meu olhar indignado sobre si e se percebeu fez total questão de não deixar transparecer.

A Swan ergueu os olhos para o céu concentrada, posso jurar que seus orbes verdes brilharam com uma intensidade nunca vista antes e como se algum imã a estivesse puxando, ela virou seu rosto para mim e concentrou-se em meu rosto, novamente. Já perdi as contas de quantas vezes essa mulher já fez isso.

– Deveria comer – ela disse estendendo o sanduíche em minha direção – Está delicioso.

Claro, porque você comeu metade dele! Era o que eu queria desesperadamente responder, mas surpreendente me mantive quieto e apenas fiquei a observá-la. Percebendo que eu não iria me mexer, ela simplesmente depositou o sanduíche sobre o prato e voltou a encarar o céu.

Novamente estou com a sensação de que ela tem mais idade do que aparenta ter, ou pelo menos, mais sabedoria do que deveria. Seu rosto iluminado pela luz da lua lhe dando um ar jovial e sereno, os cabelos castanhos balançando delicadamente com o vento... Mas os olhos, são eles que, eu querendo ou não, me prendem de uma forma surpreendente.

– Porque me observa tanto? – a voz calma dela encontrou meus ouvidos, me surpreendendo.

– Você é estranha – murmurei sinceramente, não esperava que ela soubesse que estava a observá-la.

– Isso é bom ou ruim? – uma leve risada atravessou seus lábios rosados e sedutores.

– Um pouco dos dois – essa resposta surpreendeu a ela e a mim.

– E qual o lado ruim? – seus olhos, enfim, encontraram os meus.

Continuei a encará-la por longos minutos, assim como ela fez comigo incontáveis vezes, porém a expressão da mesma não se alterou em momento algum. Ela continua serena e calma, como se nada a abalasse, nem mesmo meu olhar meticuloso sobre si. Mas o que me surpreendeu mesmo foi como nossos rostos estão próximos. Próximos demais. Como eu não percebi isso antes?

De perto a pele de Isabella parece ainda mais macia e delicada, seu lábio inferior levemente maior que o superior a deixando com um ar ainda mais sedutor, o nariz reto e um pouco empinado dando-lhe um toque a mais de delicadeza. As maças do rosto bem trabalhadas e erguidas. Mas seus olhos são definitivamente, os melhores. De perto tem mais intensidade, mais brilho e consigo reparar em duas pequenas e discretas pintinhas pretas ao lado de suas pupilas.

– O lado ruim – comecei ainda perdido na visão da mulher a minha frente – É que você é completamente imprevisível e irritante – murmurei a ultima parte olhando diretamente em seus olhos.

– Isso é bom, então – ela sorriu abertamente – Não gosto de ser previsível.

– Mas você não segue os padrões! – exclamei completamente chocado com sua resposta.

E mais uma vez estou sendo alvo dos olhos dela, novamente como se estivesse procurando por alguma coisa em meu ser. Um sorriso travesso surgiu em seus lábios.

– Os padrões da sociedade são distorcidos – ela deu de ombros – Muitas regras, não se pode mais ser feliz e espontâneo no mundo, pois já o estarão julgando louco e fora dos padrões – ela soltou uma suave risada.

– Você é feliz? – fui traído por minha língua mais uma vez. É como se Isabella Swan fizesse algo com meu corpo quando está por perto.

– Claro, porque não seria? – o sorriso dela se alargou ainda mais e sua atenção voltou-se para o céu novamente.

Qualquer pessoa com neurônios conseguiria perceber que essa foi uma pergunta retórica, mas isso me deixa cada vez mais curioso sobre a vizinha maluca que apareceu como mágica em minha vida. Afinal, suas respostas sempre são completamente surpreendentes e diretas.

– Porque tanto olha para o céu? – e novamente as palavras saíram sem permissão, recebi um olhar confuso de Isabella e suspirei – Quero dizer, várias vezes vi você olhando pra cima enquanto está respondendo algo ou pensando.

– Várias vezes você viu? – um sorriso torto cresceu nos lábios dela – Quer dizer então que fica reparando na vizinha maluca?

Antes que eu pudesse responder qualquer coisa ou expressar minha indignação com a resposta dela e principalmente minha surpresa, ouvi um suspiro e fiquei quieto apenas esperando as próximas palavras da mesma.

– Olhe para cima – ela disse e assim o fiz, encontrando um céu limpo e cheio de estrelas – Sempre quando quiser pensar em alguma resposta, ou tirar um tempo de tudo ao seu redor, olhe para cima. Mesmo que encontre um teto em cima de sua cabeça.

– Percebe o quanto isso é confuso e sem lógica? – perguntei sem desviar meus olhos das estrelas, ouvi uma risadinha da Swan.

– Não interessa quantas paredes, tetos, andares, pessoas e problemas existam – ela começou com a voz suave e serena – Sempre existirá um céu acima de nós, não importa quantas nuvens estejam tapando o sol ou a lua, elas passam e tudo fica claro novamente. Você só precisa imaginar o céu, apenas isso.

Assim que a última palavra lhe atravessou os lábios, ela lentamente afastou sua cadeira e colocou-se em pé. Meus olhos desviaram-se para a figura ao meu lado, ela está com um vestido solto cheio de flores dando-lhe um ar mais infantil e isso me fez semicerrar os olhos por alguns segundos, mas isso não passou despercebido por ela.

– Olhe para cima – ela disse se aproximando do meu ouvido e sussurrou – Continue olhando para cima, não se esqueça disso.

Um estranho arrepio passou por minha coluna quando o hálito dela encostou-se a meu pescoço, ouvi seus passos afastarem-se e mesmo depois de ouvir a porta ser fechada continuo encarando a imensidão negra acima com pequenos pontos brilhantes espalhados por toda a sua extensão.

Um imperceptível sorriso formou-se em meus lábios, coisa que não acontecia há anos, mais uma constatação sobre essa mulher, ela é surpreendente.


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Notas finais do capítulo

A partir desse capítulo as coisas começam a melhorar um pouco, afinal são apenas doze capítulos, incluindo prólogo e epílogo. Até o próximo capítulo.



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