Metamorfose escrita por Cacau54


Capítulo 3
Capítulo 2 – Abusado


Notas iniciais do capítulo

Olá, agradeço de coração todos os reviews do capítulo anterior, muito obrigada mesmo ♥ Boa leitura.



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Abusado Bras. Atrevido, confiado, enxerido, intrometido.


Abri os olhos e meio segundo depois o som do despertador preencheu o quarto, sempre assim, todos os dias. Levantei-me e me espreguicei, olhei para o ambiente ao meu redor e com um sorriso satisfeito percebi que está tudo em ordem, sob controle. Nenhuma roupa fora do lugar e nenhum prato ou copo largados por ai.

Rumei para o banheiro fazer minhas higienes matinais e assim que terminei as mesmas quase corri para a cozinha fazer um café, liguei a TV no jornal da manhã e continuei concentrado nessas duas tarefas, fazer o meu maravilhoso café e prestar atenção nas noticias, porém um grito no corredor me surpreendeu.

Não sou um homem extremamente curioso, mas convenhamos sou humano e por essa razão abri a porta do meu apartamento e parei no corredor. E apenas os céus sabem o quanto estou me arrependendo disso, Isabella está no corredor empurrando um homem moreno alto e forte porta a fora de seu apartamento. Passaram-se alguns dias desde aquele episódio em meu apartamento e nesses dias eu dei graças por não ter encontrado com a mesma.

– Saia daqui Jacob antes que eu arrebente a sua cara! – ela ameaçou completamente fora de si.

– Qual é Belinha, você é médica, vai cuidar de mim depois – o homem disse debochadamente.

– Eu sou médica de humanos e não médica veterinária. E com toda a certeza do mundo você não se encaixa no quesito humano – ela disse entredentes empurrando-o com ainda mais força – Agora suma da minha frente seu cachorro.

– Assim você me ofende Bella – ele olhou pra ela com os olhos arregalados.

– Não estou nem ai, se manda! – ela quase gritou a última palavra o que fez o moreno arregalar ainda mais o olhos – Pegue o elevador antes que eu resolva te empurrar pela escada.

Estou em duvida, não sei se acho tudo isso insanamente engraçado ou apavorante. Além de maluca ela é barraqueira? Mas que falta de classe.

– Ei cara, me ajuda aqui – o homem, Jacob, virou-se para mim com uma expressão implorativa.

– Sai fora – Isabella quase rosnou pra ele.

– Tudo bem. Volto depois pra conversarmos – ele murmurou e rumou para o elevador.

Esse é o exato momento em que devo girar nos calcanhares e adentrar meu apartamento – o qual nem deveria ter saído – e realmente teria feito isso se não fosse pela gargalhada insana que chegou aos meus ouvidos. E advinha quem foi? Sim. Isabella Swan. A mulher está quase se dobrando de tanto rir, com uma das mãos na barriga e eu aqui com cara de tacho.

Quem em sã consciência faz um escândalo desses e depois começa a rir? O normal seria sair por ai quebrando tudo e descontando a raiva em qualquer um pela frente, mas como sempre essa Swan é exceção à regra.

– E ai Edward – ela disse entre risos – Bom dia! – falou novamente quase totalmente recomposta.

– O que foi aquilo? – preciso bater minha cabeça na parede assim que possível por ter deixado essa pergunta sair pelos lábios.

– O Jacob? – ela riu novamente – Meu ex-noivo, ele veio me comunicar que está noivo de outra garota, a propósito é a mulher com a qual me traiu – ela deu de ombros, como se isso não tivesse importância – Mas ele não sabia que eu já estava preparada para toda essa cena.

Voltou a rir e agora estou confuso, essa mulher não deve existir. Eu preciso de um psiquiatra com urgência, só posso estar imaginando tudo isso, afinal de contas que tipo de pessoa iria rir de uma situação dessas? Ninguém!

Minha intenção era passar por minha porta e terminar meu café assistindo ao noticiário, querendo esquecer tudo o que acabou de acontecer aqui fora, porém um pé impediu que minha porta se fechasse totalmente e Isabella colocou o rosto pra dentro com um sorriso gigantesco nos lábios.

– Vamos tomar café da manhã juntos? – ela perguntou alegremente.

– Não – falei seco e mesmo assim ouvi um leve riso da parte de Isabella – Não fiz o café – murmurei apenas para ela não pensar que estou a evitando e essa é uma verdade, ainda não tive tempo de terminar o café.

– Ah sem problemas! – Isabella abriu mais a porta dando espaço para seu corpo passar e adentrou, pela segunda vez, sem ser chamada em meu apartamento – Eu faço! Onde é a cozinha? Esquece. Eu acho.

Ela falou tudo tão rápido e embolado que levei vários segundos a mais do que o normal pra entender, pisquei várias vezes seguidas e assustado me apressei para chegar à cozinha. Sabe-se lá o que essa pirada pode colocar no café e principalmente o que ela pode fazer com o meu santuário, vulgo apartamento, pois ela é a maluca que corre para a tempestade ao invés de correr tempestade.

Mas Isabella está apenas paralisada no meio do ambiente olhando pra cima, tão concentrada que parece ter algo muito interessante para se observar ali... Mas assim que elevei meus olhos, não tem nada, nada além do teto branco. Franzi o cenho. Essa mulher nunca vai parar de me espantar e surpreender?

– Vai ficar ai parado igual a um idiota? – a voz dela me despertou do transe – Me diga onde está o pó do café – Isabella falou de forma divertida.

– Você é louca? – perguntei antes de conseguir guardar a língua dentro da boca.

– Não. Mostre-me onde está o café, por favor – e mais um de seus muitos sorrisos doce.

Agora, definitivamente, posso me esfaquear por ter simplesmente apontado o armário onde deixo meu café. Isabella Swan me deixa tão confuso que faço as coisas sem pensar nas consequências, como isso, por exemplo, nunca deixei ninguém fazer meu café pelo simples motivo de que nenhuma mulher, nunca, conseguiu acertar o meu gosto.

Suspirei frustrado. Minha ultima semana antes de minhas férias – mais do que merecidas, devo ressaltar – do trabalho e como começarei a semana? Irritadíssimo! Porque tenho uma lunática folgada como vizinha que está fazendo o meu café.

Bem, agora o estrago já está feito, ela já está metendo a mão onde não é chamada e já está cantarolando enquanto prepara a mesa. Cantarolando. Em uma segunda-feira de manhã! Se eu ainda tinha alguma dúvida da sanidade dessa mulher, agora, todas elas foram sanadas.

– Está pronto! – ela falou calmamente já se sentando em uma das cadeiras.

– Você é muito abusada – murmurei irritado e me encaminhei para a cadeira mais distante dela.

– Eu fiz o café e arrumei tudo na mesa – ela falou calmamente e mordiscou um pão de queijo – Acho que mereço uma recompensa por isso – e piscou pra mim.

Resmunguei qualquer coisa e posso jurar que ela deu uma risadinha, respirei fundo criando coragem suficiente para colocar o café na boca e conseguir engoli-lo. Não é só porque não vou muito com a cara dessa mulher, que vá cuspir tudo em sua face, se bem que... Não é uma má ideia.

Mas o que tive de engolir foi o meu julgamento, ela conseguiu acertar o café! Não está fraco, nem meloso. Ou seja, um café bom o suficiente para acordar e sem aquele desagradável gosto de açúcar no final. Minha expressão espantada olhando a xícara deve ter me entregado, pois ela ficou me olhando por alguns segundos até um sorriso encantador tomar conta de seus lábios.

– Perdoe se o café ficou muito forte pro seu gosto – ela murmurou divertida – Mas sou acostumada a tomar café forte e não consigo e nem quero mudar esse habito.

Novamente tudo o que fiz foi soltar um resmungo incompreensível para ela e a mesma apenas balançou a cabeça achando graça da situação. E percebi que, pela primeira vez em anos, estou sentado à mesa tomando café da manhã. Minha rotina não é assim, sempre tomo apenas café e vou para o trabalho, então a primeira coisa que coloco no estômago é o almoço. E aqui estou eu, sentado, comendo no café da manhã e com a agradável – ênfase no agradável com uma conotação sarcástica – companhia de Isabella Swan.

E antes que qualquer diálogo possa ser iniciado, por ela é claro, seu celular tocou. Nunca pensei que veria uma mulher correr tão rápido, imagino que seja igual àquelas patricinhas adolescentes vendo uma liquidação no shopping. Percebi que ela havia deixado o celular em cima do balcão um tanto quanto longe da mesa e quando, enfim, conseguiu atende-lo algumas palavras foi o suficiente pra ela recuperar o fôlego, desligar o aparelho e me encarar.

– Preciso ir agora – disse enquanto já se encaminha para a porta – Nos vemos em breve Edward. – e depois disso o som da porta sendo batida.

– Não conto com isso – murmurei pra mim mesmo, enchendo minha xícara novamente com o café.


Hoje, realmente, não é meu dia! Primeiro a maldita vizinha invade meu apartamento e faz o meu café e o pior de tudo é que estava exatamente no ponto, isso está me deixando cada vez mais irritado, afinal ela não deveria saber fazer uma coisa que eu gosto porque isso me impede de odiá-la ainda mais.

E para piorar ainda mais meu estado de nervos, um infeliz estava carregando uma bandeja cheia de copos transbordando cafezinhos e com isso ele não viu que a minha pessoa caminhava para a sua direção com uma pilha de livros grossos e papéis nos braços, sem conseguir enxergá-lo. Depois disso, tudo o que senti foi meu corpo sendo trombado com outro, meus livros arremessados para cima e vários copos com café vindo em minha direção me queimando o abdômen e molhando minha camisa social branca. Branca! Mas com certeza o pior de tudo foi perder o equilíbrio e bater com a cabeça na quina de uma das muitas mesas pelo escritório.

Como perdi a consciência e fiquei completamente inerte jogado no chão todos os imbecis que tenho o desprazer de chamar de “colegas de trabalho” simplesmente começaram a fazer um alvoroço tremendo e acabaram por chamar uma ambulância.

E agora estou aqui, sentado em uma maca de hospital, dividindo o ambiente com vários outros moribundos deitados em outras macas, esse foi um completo exagero, afinal todos que estão por aqui parecem ter apenas fraturas expostas e posso jurar ter visto um ferimento por arma branca*, com a arma ainda cravada em sua carne, porém virei meu rosto rápido demais para ter certeza de minha ultima constatação.

É nesses momentos que me pergunto como alguém consegue trabalhar em um ambiente como esse, onde parece que a morte está à espreita. O cheiro de sangue e boldo misturado com produtos fortes de limpeza para fazer a esterilização dos leitos e quartos recém-liberados. Um local detestável para mim, que estou aqui apenas por ter sido severamente ameaçado por uma enfermeira maluca de que não deveria nem ao menos me mexer, caso contrário me sedaria.

– Onde ele está? – ouvi a voz quase histérica de Alice atrás de mim e não contive o impulso de revirar os olhos – Edward – falou alto assim que me encontrou.

– Alice, você está em um hospital, pare de gritar – ouvi a voz de Jasper ao se aproximarem de minha maca.

– É Alice, fique quieta – murmurei assim que os vi em minha frente.

Alice Cullen, minha irmã, adotiva. E bem, não foi ela a adotada. Ela é uma boa irmã apesar de sempre ter sido muito hiperativa e quase deixar as pessoas ao redor doidas. Seus cabelos curtos, repicados e arrepiados sempre lhe deram um ar mais rebelde e moleca apesar da mesma já ter 28 anos, tanto que é casada com Jasper Hale há quatro anos. De início não fui muito com a cara do loiro magricelo, afinal sou o irmão ciumento e completamente protetor, mas depois me acostumei e por fim o amor venceu.

Revirei os olhos com esse pensamento.

– Como você está? Sente alguma dor? – minha querida irmã perguntou rapidamente sem nem ao menos respirar.

– Calma eu... – e não tive tempo para responder por que logo uma voz irritantemente conhecida me cortou.

– Ora, não sabia que viria me visitar hoje Edward – uma risadinha suave foi ouvida atrás de mim – E não imaginei que fosse na condição de paciente.

Assim que Isabella se posicionou em minha frente estreitei os olhos, ela está com os longos cabelos castanhos presos em um coque firme no topo da cabeça, um estetoscópio em volta do pescoço e vestida inteiramente de branco – um impecável branco, devo admitir – e um jaleco por cima. O que me impressionou mesmo foram os sorrisos e os comprimentos que ela distribuiu para os pacientes ao redor, como se eles estivessem mesmo preocupados em receber um misero sorriso.

– Você vai ser a médica que irá me atender? – perguntei acidamente.

– Sim – respondeu simplesmente voltando sua atenção para meu prontuário médico em suas mãos.

– E porque você? – a pergunta saiu entredentes.

– Porque sou a única disponível – ela deu de ombros, como isso fosse irrelevante.

– Qual é Edward a Bella é uma das melhores – Alice disse rindo alto e levando um beliscão da minha – infelizmente – médica e vizinha.

Arregalei os olhos. Bella? E ela deu um beliscão em minha irmã? Espera um pouco ai. O que está acontecendo aqui?

– Alice quantas vezes eu vou ter que lhe avisar que isso aqui é um hospital e não pode sair gritando por ai? – a maluca da Swan ralhou com Alice, que por sua vez apenas deu de ombros.

– Vocês se conhecem? – perguntei incrédulo sem conter a expressão de surpresa.

– Sim, você não? – minha irmã respondeu e olhou sugestivamente para Isabella que apenas deu de ombros como se estivesse fugindo do assunto.

Estranho. Nunca pensei que Isabella Swan, a vizinha maluca estranha e abusada iria querer fugir de algum assunto. E nesse exato momento quero rir de minha própria burrice, desde quando penso em qualquer coisa relacionada a essa mulher? Bem, não posso negar a mim mesmo que ela vem ocupando espaço demais em minha mente, mas pelo simples fato de querer xingá-la a todos os momentos.

Isabella pegou um objeto com uma luzinha na ponta e apontou diretamente em um dos meus olhos e repetiu o processo no outro e logo depois anotou alguma coisa no prontuário. Fez vários tipos de perguntas e algumas que eu achei realmente desnecessárias, como por exemplo, quantos anos eu tenho.

– Posso ir embora agora? – suspirei resignado.

– Não, vou pedir para tirarem um raio-x de sua cabeça – ela respondeu simplesmente enquanto anota mais coisas na folha.

– Mas eu já estou me sentindo ótimo, posso ir embora – murmurei mais irritado ainda.

– Não pode não. – ela ergueu os olhos e me encarou demoradamente – Ficará aqui até que os resultados do raio-x saiam.

– Quem você pensa que é pra tentar mandar assim? – perguntei erguendo a voz um pouco – Está pensando que está falando com quem?

Um sorriso cresceu em seus lábios e agora eu tenho a certeza absoluta de que essa mulher veio para perturbar minha vida. E mais certeza ainda de que ela simplesmente adora me atormentar.

– Eu sou a médica – respondeu dando de ombros e começou a andar, porém parou antes de se afastar totalmente da minha cama – E estou falando com um paciente.

Sem mais nenhuma outra palavra e sem esperar por alguma resposta ela se foi, simples assim. Ergui uma sobrancelha ao perceber que, sim, ela é realmente muito abusada.


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Notas finais do capítulo

* Arma Branca é o nome utilizado em armas como facões, machados, agulhas e derivados.

Reparem que estou deixando alguns pontos sem nó, mas é para ficar um mistério mesmo e para que vocês tentem adivinhar o que acontecerá, ok? kkkkk Espero que tenham gostado e logo postarei o próximo!!



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