Metamorfose escrita por Cacau54


Capítulo 2
Capítulo 1 – Estranho.


Notas iniciais do capítulo

A partir daqui até o capítulo dez são os momentos que desencadearam a cena do prólogo, serão narrados pelo Edward e apenas ele. Obrigada Pati Cullen pelo review no capítulo passado *-----* Boa leitura.



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Estranho adj. Incomum, contrário ao uso, à ordem, ao bom senso.


Estou a mais de uma hora tentando concluir meu trabalho sobre Direitos Civis e em momento algum consegui encontrar as palavras certas para uma boa conclusão, esse maldito trabalho pode me render pontos extras na faculdade sem contar que é a última coisa a ser entregue para, enfim, entrar nas merecidas férias.


Talvez se não fosse por gritos extremamente irritantes e infantis eu já estivesse com esse trabalho finalizado, talvez se não fosse por certa desocupada tudo já estaria acabado e apenas talvez se eu morasse em qualquer outro condomínio as coisas poderiam ser diferentes. Mas não, me recuso a mudar de residência só porque tenho uma vizinha completamente pirada. Quer dizer, qualquer lugar existem vizinhos estranhos, mas aquela garota é fora do comum.

Tenho 31 anos de idade, mais da metade desses anos foram desgastantes e infelizes, me tornando nesse homem amargurado que sou hoje. Demorei muito tempo para criar coragem e voltar a fazer minha tão sonhada faculdade de direito que sempre quis, agora que estou no último ano e as coisas estão mais puxadas àquela mulher vêm pra cá.

Parei na sacada e acendi um cigarro, ela está lá embaixo no playground brincando com as crianças. Crianças! Oras. Que tipo de mulher é aquela? Desde que a mesma viera morar no apartamento ao lado, em momento algum a vi com roupas para trabalhar ou com qualquer tipo de material que me prove que ela estuda.

Acabou de cair uma chuva torrencial e a primeira coisa que vi ao chegar à sacada foi a minha vizinha maluca em pé no gramado do condomínio girando o corpo com os braços esticados e a cabeça levemente inclinada para trás como se estivesse gostando daquilo, o grande sorriso nos lábios da mesma me provou que sim, ela realmente estava gostando de tomar uma chuva daquelas!

Assim que a chuva deu alguma trégua várias crianças saíram para brincar com ela. Pulavam nas poças formadas pelo gramado, chutavam água uns nos outros e o mais estranho de tudo, rolaram por todos os lados deixando as roupas completamente imundas. E eles estão nisso faz uma hora! Uma longa e tortuosa hora para alguém como eu.

Gosto de pensar que sou um homem pontual, com uma agenda incrível e que cumpre a risca todos os afazeres ali escritos e com maior orgulho ainda, posso afirmar, que sempre cumpro o tempo pré-estipulado para fazer as coisas. E eu havia me permitido gastar uma hora inteirinha para concluir o maldito trabalho, porém uma hora preciosa de minha vida foi desperdiçada por culpa de uma mulher completamente estranha que resolveu tomar banho de chuva.

Resmunguei coisas incompreensíveis até mesmo pra mim e sentei-me novamente na frente de meu computador, respirei fundo e estralei os dedos, agora eu preciso recuperar o tempo perdido e enviar esse trabalho ainda hoje para aquele professor gordo e ranzinza.


Acordei com um barulho alto e completamente irritante, abri os olhos e em um rompante levantei a cabeça abismado comigo mesmo. Eu realmente dormi em cima do meu notebook? Realmente? Olhei para a tela e respirei fundo tentando me acalmar, me mexi nesse pequeno cochilo e com isso várias letras acabaram sendo digitadas.


Mas algo chamou minha atenção, o barulho. Um som ritmado vem do outro lado da parede e pelo o que dá pra perceber está tão alto que chega a fazer leves tremores por toda a sua extensão. Fechei os olhos e contei até dez, mas isso já é demais pra mim!

Abri a porta do meu apartamento com uma fúria descontrolada e para a minha total surpresa ela minha vizinha completamente maluca parada em frente a minha porta com o braço esticado perto da campainha. Ótimo. Não preciso ir até lá lhe dizer umas poucas e boas, ela mesma se prontificou a vir aqui.

– Olá – ela disse sorridente e surpresa ao mesmo tempo – Bom, sou sua nova vizinha. Não tão nova assim se formos contar o fato de que já faz quase um mês que me mudei pra cá – ela deu uma risadinha – Sou Isabella Swan e você deve ser Edward Cullen, muito prazer – ela estendeu a mão pra mim.

– O que faz aqui? – meu tom de voz foi completamente normal e indiferente, ignorei totalmente sua mão estendida em minha direção. Mas por mais estranho que possa parecer, o sorriso dela não sofreu alteração nenhuma.

– Primeiramente eu iria vir pra saber se o som está incomodando – ela parou por um momento e olhou pra cima, pensativa – Pelo que estou ouvindo ele está realmente incomodando, que chatice. E bem... Meus amigos começaram a ter umas ideias malucas e resolvi dar um tempo deles.

Ela deu de ombros como se tudo fosse completamente normal para ela, ou talvez realmente fosse, afinal essa garota não segue os padrões da sociedade e muito menos da normalidade básica. Por Deus, ela está usando uma meia pink até os joelhos e um chinelo de dedo, uma regata larga e um shorts desbotado e manchado enquanto tem uma festa ocorrendo em seu apartamento. Que tipo de mulher é essa?

– Se você não se importa, vou passar um tempinho aqui com você – ela disse entrando em meu apartamento sem nem ao menos ser convidada.

Continuei parado segurando a porta igual um idiota, a encarei com uma sobrancelha arqueada. Além de completamente maluca ela é folgada?

– Senhorita Swan, não quero ser indelicado, mas não quero visitas aqui há essas horas – falei calmamente tentando manter a compostura.

– Credo – ela quase gritou e eu arregalei os olhos – Que apartamento mais apagado, você deveria colorir um pouco mais o ambiente Edward, dá mais alegria – ela sorriu docemente pra mim – E você sempre fala com as pessoas tão formalmente assim?

– Geralmente sim, boas maneiras – murmurei dando de ombros, porque estou dando explicações a ela?

A gargalhada dela foi alta e gostosa de ouvir, pelo menos isso devo admitir, o som de sua risada é bom e contagiante. Não que eu vá falar isso pra ela, isso não mesmo!

– Você tem amigos? – ela perguntou curiosa.

– Sim – ergui uma sobrancelha confuso, porque essa pergunta?

– E você fala com eles de uma forma tão formal? – ela perguntou e logo depois riu novamente – Essa pergunta ficou estranha, mas com seu intelecto tenho certeza que conseguiu entender.

– Claro, eles são do mesmo nível social que eu – respondi como se fosse obvio.

Ela me examinou dos pés a cabeça, encontrando calças jeans escuras e uma camiseta preta e a sobrancelha dela ergueu levemente. Semicerrei os olhos, nunca foi difícil desvendar uma mulher e principalmente, nunca recebi um olhar avaliativo igual o dela. Com toda a certeza, essa Isabella é estranha.

Enfim seus olhos chegaram ao meu rosto, provavelmente sem expressão nenhuma e ela fez uma careta. Típico. Aproximou-se alguns passos e me examinou mais de perto, isso está começando a me irritar.

– Eu pensei que ele fosse diferente – murmurou pra si mesma, mas mesmo assim consegui ouvir – Bom Edward, sinto muito lhe informar mas você realmente não sabe o que é viver.

– Como assim? – perguntei confuso. Claro que sei, tenho uma vida muito boa, obrigado!

– Você não se diverte, não ri, não tem cores em sua vida – ela disse decidida me encarando nos olhos – Veste-se sempre de preto, ou branco, ou cinza. Quase nunca demonstra uma expressão e se demonstra são raiva e desprezo. Você é completamente rígido com tudo, principalmente com sua vida – ela concluiu dando um leve sorriso.

Minha boca completamente escancara demonstra o quão surpreso estou com as constatações que ela fez, estou ainda mais espantado com o fato dela ter acertado em tudo o que disse. Ela não pode ter desvendado tudo isso apenas me examinando por um minuto, pode? Claro que não. Ela é uma maluca que deve ficar me espionando por ai e juntando informações.

– Não sei o que você tem haver com a minha vida – falei com a voz transbordando desdém e a encarando dos pés a cabeça.

– Tem razão, eu não tenho nada a ver com a sua vida – ela deu uma risadinha e parou os olhos em meu notebook – Trabalho?

– Sim, falando nisso aquele seu showzinho lá embaixo com as crianças me atrapalhou – falei irritado e bati a porta com força.

– Deveria ter se juntado a nós – ela falou alegremente e se encaminhou até meu notebook – Me deixa dar uma olhada nisso.

Abri a boca para protestar e ao mesmo tempo ela ergueu um dedo no ar como se para me calar, resmunguei irritado, quem ela pensa que é? Entra em meu apartamento, me diz coisas realmente ultrajantes e ainda por cima quer me fazer ficar calado?

Fora do normal, com toda a certeza, é isso que ela é.

Espantei-me ao ouvir o som do teclado, voltei minha atenção para ela e arregalei os olhos ao perceber que a mesma está digitando alguma coisa no meu trabalho! Trabalho esse que demorei praticamente uma semana toda pesquisando e encontrando fontes realmente confiáveis, agora ali está a minha – completamente maluca e estranha – vizinha digitando.

– O que pensa que está fazendo? – perguntei quase rosnando.

Fechei minhas mãos em punhos quando ela, novamente, ergueu um dedo em sinal para que eu espere. Odeio receber ordens, odeio qualquer coisa que seja fora do normal e como castigo divino, carma ou qualquer coisa desse tipo, me aparece uma Isabella Swan em minha vida.

– Dei uma pequena arrumada em sua conclusão – ela disse calmamente enquanto digitava mais alguma coisa – Depois você apenas dá uma incrementada para se moldar ainda mais ao assunto abordado como tema.

– Você está dando uma pequena arrumada na conclusão do meu trabalho? – não tem como disfarçar o deboche em minha voz – Acha que pode arrumar qualquer coisa em minha vida? Quem você pensa que é? Não trabalha e nem ao menos estuda, porque acha que tem qualificação suficiente para arrumar um trabalho?

Despejei tudo de uma vez e ela desviou a atenção da tela por um instante e me olhou no fundo dos olhos – como se pudesse enxergar minha alma – e sorriu. Um sorriso doce e carregado de desapontamento, voltou os olhos para o notebook e digitou mais algumas coisas e por fim parou. Pelo movimento de seus olhos ela leu tudo o que havia escrito e com um sorriso satisfeito levantou-se e passou por mim em direção à porta.

– Não que você precise saber, mas eu faço faculdade de medicina e trabalho no hospital da cidade – ela disse perto de mim, mas como está as minhas costas não consegue ver minha expressão de espanto – E pode me agradecer pela conclusão mais tarde, se preferir.

Com essas palavras ouvi seus passos se afastarem e o som da porta ser batida levemente, suspirei irritado. Não me importa se ela faz faculdade e se trabalha, o fato dela ser completamente maluca e estranha por si só já me faz querer que ela fique o mais longe possível de mim.

Mas uma coisa tenho que admitir o que ela escreveu na conclusão ficou impecável e admirável, completamente ao nível de uma nota máxima. E seguindo o conselho da mesma digitei algumas coisas a mais para completar a conclusão e por fim enviei para o professor, não sei por que fiz isso, estou colocando um trabalho nas mãos de uma lunática. Deveria ter apagado todas as palavras digitadas pela mesma e ter feito eu mesmo, mas sei que nunca teria ficado ao nível do dela.

Suspirei cansado. Comecei a tirar minhas roupas e liguei o chuveiro no quente, quando a água fervente encostou-se a minha pele foi como um choque térmico mas por fim meu corpo se acostumou e começou a relaxar. E mesmo assim a imagem da mulher de cabelos castanhos e olhos verdes não sai de minha mente, sua risada contagiante e sua audácia ao falar tudo o que pensa.

Por fim o que posso concluir é que Isabella Swan é mais estranha do que aparenta.


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