Acordo com Philip dormindo agarrado em mim. Tento não acordar ele quando saio da cama, terei que contar para ele que nada do que aconteceu ontem foi um pesadelo. Quando saio de seu quarto, desço as escadas e vou para a cozinha. Precisava caçar, estávamos sem carne. 

Termino meu café da manhã e subo para meu quarto. 

"Preciso pensar...O que vou fazer sem meus pais?" 

Precisava de flechas, acabei deixando a aljava no salão. 

" No quarto..." 

Fui de fininho até o sótão. Minha mãe não deixava eu ir sozinha naquele lugar, eu sabia que havia algo que ela não queria que eu visse. Mas agora eu precisava mais que tudo de uma nova aljava de flechas e precisava sustentar meu irmãozinho. Abro a porta e entro, me senti culpada por estar ali sem ela. 

Acabo esbarrando em um baú de madeira. O abro e encontro fotos, livros e mais livro... Mas um me chama a atenção. Ele tinha uma capa bonita, verde escuro e com desenhos em dorado para enfeitar. Abro ele e na primeira página está escrito o nome de meu avô, Rubert Everdeen. Achei que não fosse nada demais, mas na verdade tinha tudo naquele livro. Sobre caças, quais animais eram mais fáceis de pegar, plantas venenosas, amoras mortais, folhas medicinais etc. E tinha pinturas das plantas, amoras e animais em cada página. Pelos traços eram as pinturas de meu pai.  

Não sei porque mamãe nunca havia me mostrado aquele livro. Era tão legal saber sobre tudo aquilo e ainda tinha as melhores dicas! Não fiquei irritada com ela, só não entendia o porque. Guardei os outros livros no baú e o fechei. Coloquei o livro de meu avô em baixo do braço e procurei a aljava de flechas. 

Abri o armário, as gavetas e nada da aljava. Vi que tinha uma sacola preta que envolvia algo, a curiosidade tomou conta de mim e puxei com cuidado a sacola de cima do objeto. 

" É lindo!" 

Era outro arco, preto de porte médio e leve. Nunca tinha visto aquele arco, deveria ser um especial para minha mãe nunca ter usado. Coloquei o arco de volta onde ele estava, minha prioridade era a aljava de flechas. 

" Que droga onde está aquilo?" 

Acabei desistindo. Não achei nenhuma flecha naquele lugar. 

"Vou ver se Gale tem algumas..." 

Saio do sótão e volto para meu quarto. Tomo um banho e visto minha roupa de caça, adorava a jaqueta que mamãe me deu para caçar. Era do vovô. Pego meu arco que por sorte não deixei naquele lugar idiota e desço para a sala. 

– Bom dia, Daisy! - era Madge que falava comigo 

– Bom dia, Madge. - dou um abraço nela, era minha única tia e eu a adorava muito 

– Dormiu bem? - pergunta ela

– É pode se dizer que sim. E você? 

– Acho que sim... - ela me olha como se quisesse ver se eu estou morrendo por dentro ou sei lá 

– Philip já acordou? 

– Sim, está no quarto. Já levei o café para ele, deve estar fazendo os deveres da escola. 

– Ele não vai para a escola hoje. 

– Porque não, ele tem que agir como se nada tivesse acontecido. Se eles estiverem nos vigiando... É arriscado, Daisy! 

– Tudo bem, mas não quero que perguntem para ele o que aconteceu. - começo a ficar irritada 

– Eles não vão perguntar, eu prometo pra você. - ela me da um beijo na testa 

– Certo, quando ele voltar vou ter que explicar tudo para ele. Onde está o Gale? 

– Lá fora. - ela se vira e caminha em direção a cozinha - Tristan está com ele! - ela grita da cozinha 

– Tá. 

Saio de casa e vejo que está tudo normal. 

" Para eles..." 

– Gale? Tristan? - grito 

– Aqui! - Tris grita 

Eles estavam atrás da casa de Haymitch. Vou até eles, estavam treinando arco e flecha. 

– Ótimo, preciso de flechas! - falo 

– Toma. - Tristan me entrega um aljava com 12 flechas ao todo 

– Tenho que caçar. Você vem comigo, Tris? 

– Posso, pai? 

– Claro. Vão logo! - Gale diz sorrindo. Não gostei nada daquele sorriso, ele ia fazer alguma coisa que eu não poderia saber 

– Vamos. - puxo Tris

Depois de um tempo chegamos na campina, uma parte antes da floresta. Antigamente como disse minha mãe, tinha cerca elétrica. Não tem mais, era liberado caçar já que o Prego se foi e precisávamos para sobreviver. Eu e Tristan pegamos 2 coelhos, 3 esquilos, 1 cervo e colhemos morangos. Enquanto caçava consegui dar algumas boas risadas com Tristan. Tive uma ideia não muito boa, mas era importante. 

– Tris... - estávamos sentados na beira do lago comendo maças 

– Que foi?- ele olha pra mim com curiosidade 

– Preciso voltar naquele lugar. E hoje - olho para ele na esperança que ele me entenda e que me acompanhe 

– VOCÊ FICOU MALUCA, DAISY? - ele grita comigo 

– EI GAROTO, ABAIXA O TOM DE VOZ! - grito de volta para ele 

– Desculpe... - ele fala entre os dentes 

– Por favor, Tristan! Eu quero ver o que fizeram com os corpos, com Haymitch... Talvez eu ache alguma pista de onde a Capital está agora! 

– Mas... Se os pacificadores ainda estiverem lá? - ele olha para mim com tristeza 

– Olha - chego mais perto dele- eu preciso ir lá, tá bem? Meus pais sumiram, eu tenho que contar tudo o que não deveria contar antes dos 14 anos de Philip, estou cansada, não sei como a Capital voltou... - começo a chorar e ele me abraça 

Só Tristan conseguia me acalmar nessas horas. Quer dizer, ele era mais do que especial eu o amava muito, ele era meu melhor amigo desde sempre. Meu único amigo também, mas isso não vem ao caso. 

– Você vem? - pergunto ainda em seus braços 

– O que eu não faço por você? - ele olha pra mim e seca uma lágrima que escorreu pelo meu rosto e vai chegando mais perto, e mais perto e mais perto...  

" Não, não e não hoje não!" 

Viro meu rosto antes dele conseguir beijar minha boca. Não quero isso, não ainda... 

– Vamos então?- me levanto como se nada tivesse acontecido a meio segundo atrás. Sei que ele ficou chateado...   

– Tá - ele se levanta e pega o arco e a aljava dele 

– Ninguém pode saber que fomos lá. 

– Eu sei. 

O caminho não é muito longe. Estávamos escondidos em alguns arbustos na frente do salão. Foi quando eu vi aquele que começou tudo... O homem de branco!  

– Ele... - falou Tris 

– É. Agora fique quieto e observe. 

O homem estava falando com alguém, acho que era outro pacificador, e vi que do outro lado haviam outros. Estavam recolhendo os corpos do salão, vi Haymitch ser o último. 

" Pra onde estão levando ele?" 

Eu não avistei Annie e Finnick nos corpos mortos. E isso me deu um alivio muito grande, mas vi Jefrey e fiquei chateada. Pobre homem... 

– Abaixa!- sussurrou Tris 

– O que foi?- sussurro de volta 

– Acho que ele nos viu. 

– Fala sério, vamos dar o fora daqui! 

Vamos engatinhando até um ponto em que possamos nos levantar e correr. Voltamos para minha casa e vi que ficamos fora por bastante tempo e que Phil já estava em casa. 

– Oi mana! - ele corre e me abraça 

– Oi Phil! Já tomou banho? 

– Já sim! 

– Okay, vem preciso conversar com você... 

– Tá bem, você viu a mamãe e o papai? Não vejo eles desde ontem de noite. - Phil olha para mim e vejo que ele realmente não entende o que aconteceu. Um menininho de 10 anos confuso e perdido... 

– Philip, os nossos pais não vão voltar tão cedo.