Coração Assombrado escrita por Mrs Crowesdell


Capítulo 6
Capítulo 6




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Fui para cama e fiquei deitada com metade do rosto no travesseiro, deixando as lágrimas rolarem sem muito barulho só.. suspiros. Mas não conseguia entender o por quê.

O que é isso? Estou chorando por medo? Não...

Foram só 4 dias. E no 3º nem nos falamos direito.

Por que então? Por que essas lágrimas?

Mas que droga! Droga, droga, droga! O que está acontecendo comigo?! Será que estou lamentando a “perda” de um amigo?

Amigo...

Mas foram só 4 dias! Que bost...– Fui tirada dos meus pensamentos quando minha mãe entrou no quarto. Esqueci que tinha deixado a porta apenas encostada e ela deve ter ouvido meus suspiros que agora estavam quase incontroláveis igualmente às lágrimas.

– Oi filha... - Falou ela num tom triste se sentando na ponta da cama, a minha frente. Não adiantava mais esconder as lágrimas, mas continuei deitada, agarrando a ponta do travesseiro com muita força. Ela começou a fazer um cafuné. - O que houve? Pode me dizer. Nós... nós atrapalhamos alguma coisa quando chegamos?

– ...Mais ou menos. - Tentei controlar o choro.

– Mais ou menos? Olha, pode me dizer tudo, não vou dar esporro nem brigar, nem nada. Conte-me

– É... é complicado – Falava entre um suspiro e outro.

– Tente. Talvez eu entenda. - Me veio na cabeça a ideia de contar tudo mesmo. Tudo, tudo, tudo. Sobre eu ser uma falsa mediadora, sobre Luccas, sobre Lina...

– Certo... Por favor, não me ache... pirada, ok? - Permaneci deitada, mas tirei meu rosto do travesseiro e tentei limpar as lágrimas para ver melhor seu cabelo loiro preso em um rabo de cavalo e seus olhos verdes. Nem parecia que minha mãe tinha 30 anos.

– Por que eu pensaria isso de você? - Me lembrei do que aconteceu à mãe do Luccas quando tentou contar a ela. Mas no meu caso não tinha nenhuma Lina com uma faca por perto.

– Não sei... só... sei lá.

– Tá, agora respire fundo e me fala: O que está acontecendo?

– É que... aquele garoto, Luccas, ele... eu nunca tinha percebido ele na escola, sabe. Ele... é meio deslocado. Inteligente, mas não fala com ninguém, não interage com ninguém... só com a ex namorada dele. O problema é que a ex namorada dele está... eh...

– Morta? - Me surpreendi quando ela disse isso.

– É-é.

– Ele namorava uma tal de Lina, né? Ouvi nos noticiários na época do acidente. Que menina estranha.

– É. Mãe como você...

– Um dia eu a vi. O seguindo quando ele saia da escola. Ela estava horrível. Nunca vi um espírito daquele jeito.

– Mãe, você... - Arregalei os olhos.

– Sim, também sou uma mediadora. Faço todo o trabalho que você não faz. - Fiquei sem palavras na hora, mas o meio sorriso dela me tranquilizou. Um pouco. Não o bastante. - Tá, mas aí...

– Aí que ela não quer ninguém perto dele, e como ela não conseguia afastar os amigos dele de perto, porque não conseguiam ouvi-la e vê-la, ela os machucava, as vezes matava outras pessoas que se aproximavam também, já matou uma professora e diretora nossa.

– Wau. Essa garota é louca. Ela precisa de tratamento. – E eu também!

– Exatamente! Só que ela não se toca e agora se me ver perto dele de novo ela vai me matar!

– Essa minha filha... por que você não tem essa dedicação nos estudos?

– Mãe!

– Desculpa, desculpa... mas por que depois de 2 anos você foi falar com ele?

– E-eu... primeiro foi curiosidade, principalmente quando eu vi a Lina esperando ele no portão. E segundo porque queria ajuda-lo. Ele... - a tristeza veio novamente, mesmo que ela não tivesse ido totalmente. - é legal.

– Não fica assim, minha linda. Por que você ainda quer falar com ele agora?

– A-agora? Estou preocupada. Não quero me afastar de um amigo.

– Amigo? - Ela arqueou as sobrancelhas - A cena que vi não me pareceu ser só amizade. Filha, o amor...

– Não! Não é amor! Não sinto nada por ele além de amizade, e não é igual ao sentimento que tinha pelos outros 2.

– Você tinha 12 anos, Deborah.

– Tanto faz, não é igual!E como poderia ser em apenas 4 dias?!

– ...Não existe tempo marcado para o amor chegar.

– Não... – Eu voltava a soluçar junto às lágrimas - … é... amor.

– Filha, pense como quiser mas, com o tempo você vai ver, e sentir, que não é só amizade. E sei que não é o mesmo sentimento que os outros, o amor é bem diferente. Tem uma grande diferença entre paixão e amor. - Ela se levantou e se distanciou em direção à porta. Mas parou um instante e se virou para mim com um sorriso triste. - Te conheço bem. Não vai desistir. Não vai deixar que uma ameaça de morte de um fantasma te impeça de...conquista-lo.

– Não quero conquista-lo!

– Sei, sei... Tente dormir. Boa noite, querida. - Então ela saiu e continuei pensando no dia de hoje antes de ajeitar as coisas para dormir.

Quando já estava de banho tomado, de pijama, deitada e coberta voltei a pensar. Nele. Não parei de chorar um minuto.

Não pode ser amor.

Isso... é idiotice, impossível, ridículo!

...me esqueça, esqueça a Lina, esqueça tudo...”

...Foram só 4 dias, vai ser fácil.”

Não vai ser nada fácil.

...Compreenda que ela não vai me deixar em paz enquanto eu estiver...” vivo. Que merda!

– Ela pensa que a culpa é minha, mas na verdade é dela.

– É...” A culpa... é dela. Não é?

“…boa noite Deborah.” Suas ultimas palavras dirigidas à mim... Como um “boa noite” vindo de um par de olhos verdes e um rosto angelicalmente másculo pôde me doer tanto?

Não. Definitivamente não é amizade. Mas também não é amor.

O que é então?!

Não quero que seja amor!

...Porque eu não quero?

* Aconselho ouvir Distance da Christina Perri*

Adormeci com esses pensamentos e no dia seguinte acordei antes do despertador. O tempo estava estranho, igualmente a mim.

Estava me sentindo mal, pesada, mas mesmo assim resolvi ir à escola. Afinal, mesmo querendo faltar minha mãe não deixaria. Além disso, pensei que a Vivian ou a Layla pudessem tirar Lina e Luccas da cabeça. Pensei que pudessem parar nossas ultimas palavras trocadas de flutuar na minha mente. Aquilo já estava me deixando desnorteada.

Cheguei mais cedo à escola, mas nenhum sinal das minhas amigas. Mas foi só dar um suspiro, subir as escadas, continuar andando pelo corredor de armários que encontrei o olhar que mais queria ver, mas que menos podia ver.

Lucas estava vindo e eu indo.

Fiquei notando todas as suas feições, todos os detalhes possíveis: Sua boca desenhada, a combinação da cor dos olhos em contraste com o cabelo, sua altura, suas roupas... e pousei meu olhar sobre o seu olhar. Pude perceber claramente que me olhava nos olhos também.

Toda nossa troca de olhar se passou em câmera lenta. Queria urgentemente pular num abraço contra ele, mas algo me impedia. O que me impedia me dava uma dor insuportável. E não era a mão do Erick.

E quando me perdia naqueles verdes esmeraldas não conseguia mais achar o caminho de volta. O pior era ver que eles pareciam tristes. E tristes por mim.

Tentei segurar as lágrimas enquanto estávamos nos encarando. Foi quase inevitável.

Finalmente ficamos lado a lado, mas continuei acompanhando o olhar dele.

Quando ele já tinha se afastado um pouco, continuei andando lentamente e num movimento súbito me virei e o vi abaixando a cabeça. Por que precisa ser assim?...Não precisa ser assim!

– Luccas! - De repente me vi gritando, apertando meu fichário contra o meu peito. “Não vai deixar que uma ameaça de morte de um fantasma te impeça de... conquista-lo.”. Como resposta ao meu grito desesperado ele virou para mim com um olhar que demostrava um pouco de surpresa. Não sabia o que pretendia falar quando o chamei, mas... tomei coragem e cara de pau então: - Não vou desistir. Nem esquecer de nada! - Eu o olhava séria pensando que iria ficar irritado com isso, mas não, apenas deu um sorriso triste e disse:

– Apenas vai estar quebrando sua promessa. - O mundo voltou a fazer barulho e as poucas pessoas que estavam lá pararam de prestar atenção na gente quando ele se virou e continuou andando.

Me segurei para não sair correndo e pega-lo por trás. Eu continuei ali parada no corredor vendo ele se afastar cada vez mais, na esperança que ele virasse para trás e voltasse na minha direção dizendo “me desculpe, foi um erro. Nós podemos sim, dar um jeito nisso.” ou então “Haha, você caiu na pegadinha! Vem cá e me dá um abraço!”, mas não foi isso que aconteceu. Quando ele já estava no primeiro degrau da escada eu sabia que ele não iria voltar e senti que as lágrimas começariam a descer. Não queria que ninguém as visse, então fui para a outra escada do outro lado, no outro corredor e segui rapidamente para o banheiro.

Já na sala, não consegui prestar atenção em nenhuma aula. Não tirava as opções do que poderia ter acontecido se nós... Nem percebi, mas eu estava virada para trás o olhando vendo que encarava o vazio da janela novamente.

Fiquei de cara fechada o dia todo, pra dizer a verdade a semana toda e nesse tempo não nos falávamos mais. Tentava me aproximar, mas ele sempre fugia.

Covarde

Recomponha-se. Afinal foram apenas 4 dias... “O amor não tem tempo marcado para chegar”

Cala a boca, mãe!

Não é possível! Eu vou esquecê-lo... espero...

Eu preciso! O tempo vai passando e eu vou o esquecendo.

Vou conseguir, eu vou... Eu não vou conseguir...!

Não me conformava.

Sentia falta dele mas não assumia nem para mim mesma. E a cada dia que passava a saudade das zoações, da sensação confortável que sua presença me dava aumentava. E como aumentavam.

Durante uma semana fiquei extremamente quieta para o gosto das minhas amigas.

– Ei, o que houve? Essa semana você não se encontrou com aquele garoto nem... sorriu mais – Ele roubou meu sorriso. Pensei isso num ataque de drama

– Não é nada não, Layla. São só... alguns problemas em casa. - Estávamos prestes a sentar no fim da ponte igual a todos os dias, mas olhei para minha direita e o pude ver entrando no pátio coberto. Indo para o portão encontra-la?

– Por que não vai até ele? - Vivian me deu esse ultimato enquanto o encarava com a mesma expressão da semana toda. A tristeza era clara no meu rosto.

– Não posso.

– Não pode ou não quer? - Dei um sorriso triste. Querer eu quero muito.

– Deb, por quê você está assim? É por ele? - Layla disse já sentada. Só eu permaneci em pé.

– Não, ela não se apaixonaria por ele em 11 dias! - Vivian disse depois de dar uma mordida no croissant.

– Como não?! Não existe tempo certo para o amor chegar - Encarei Layla com surpresa por ter dito a mesma coisa que minha mãe.

– Você também acredita nisso? - Perguntei me sentando dessa vez ao lado de Vivian, de frente para Layla.

– Claro. E como assim “também”?

– Ah, é que minha mãe disse a mesma coisa. - Puxei minhas pernas e as abracei junto os seios.

No final da aula sabia que não poderia encontra-lo no portão. Então, não aguentei mais esperar, juntei toda a minha coragem e o esperei do lado de fora da sala encostada na parede.

Finalmente ele saiu, me viu mas passou por direto. Fechei os olhos e quando desceu o primeiro degrau da escada, me desencostei da parede e disse:

– Por favor, me escute...

– Não tenho nada para falar, e provavelmente nada para ouvir. - Senti seu tom sério e quando ouvi que ele descia mais alguns degraus, segui em direção a escada e quase gritei:

– Me escuta! - Ele parou imediatamente mais abaixo de mim e olhou para cima sério me encarando com as mãos no bolso. - Olha... eu me sinto mal com essa... distância. - Corei um pouco

– Não deveria. É o melhor a se fazer.

– Mas talvez nós pudíamos dar um jeito nisso, sei que podemos de alguma forma...

– Nisso o que? Acabar com a distância entre nós ou realmente acabar com ela?! Nossa, você realmente é lerda. Não se meta mais. - Ele ameaçou descer mais um degrau mas fui eu quem avancei.

– Ela quase não vem mais! Talvez realmente tenha desistido.

– Lina? Desistir? Do jeito que ela está furiosa e louca duvido muito que ela tenha ido embora.

– Como você sabe, eim?! - Avancei mais um degrau. Nossa distância era de 3 degraus, eu em cima e ele em baixo.

– Ela me assombra por 2 anos e namoramos a 3...

– 2.

– Que seja. Conheço ela muito bem.

– Tá, mas nesse tempo que ela não apareceu, nós poderíamos, sei lá, preparar um exorcismo para expulsa-la e...

– E o que?! Porra! Por que você não entende de uma vez?! Não quero que você morra! Mas se você continuar me perseguindo isso vai acabar acontecendo, então se afasta de uma vez! Aliais, por que você... veio até mim? Afinal eu sou o deslocado, eu sou o nerd, eu sou o maluco... por que ainda insiste nisso? Por que não entente?

Porque te amo.

– Eu não estou te perseguindo e... e... porque tenho pena de você! - Claramente menti corada, mas não sei se era de vergonha ou de raiva.

– Geralmente diria que você fica uma graça vermelhinha mas... - O tom de voz dele mudou, ele baixou o tom de voz mas continuou sério. - Você realmente está me irritando. - Me senti pega de surpresa. - Desiste logo, por favor. Não quero mais uma no meu pé.

Pude ver mais uma vez ele se afastando de mim. Segurei fortemente as lágrimas antes de pegar folego, apertar os olhos e gritar:

– Idiota! Ridículo!

– Medrosa. - Abri os olhos embaçados e vi apenas de longe uma coisa em seu rosto, uma coisa que parecia um meio sorriso. Eu queria estar vendo melhor aquele sorriso, pois eu o amava, tanto o sorriso quando ele, mas não pude porque as malditas lágrimas já tinham invadido meus olhos e transbordado sobre o meu rosto.

Me deixei cair escorada na parede da escada despencando em lágrimas, chorando que nem uma criançona.

Mas foram só 4 diaas... Então porqueee?!

Não sabia que depois daquilo tudo passaria para pior. Ainda me pergunto porquê que eu fui me envolver com isso.

Como a Vivian um dia me disse: A curiosidade matou o gato, mas eu não sou um gato.


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