Coração Assombrado escrita por Mrs Crowesdell


Capítulo 5
Capítulo 5




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Me levantei rápido e a fiquei encarando. Seu rosto não estava com o sorriso da primeira vez que a ví, estava séria e me olhando fixamente.

– Lina, eu... eu... - Tentei falar.

– Fica quieta! - Luccas ainda estava assustado, sentado no sofá. Ela veio na minha direção a cada passo que eu recuava e, como não poderia faltar, ela deu aquele sorriso tentando ser fofa com os olhos bem abertos, ela disse: - Eu... eu pensei que com você seria diferente... - Aquele sorriso malignamente inocente – Pensei que bastasse apenas falar com você, que você me obedeceria, pensei que não precisaria te machucar. - De repente vi aquela faca pontada para mim. - Pelo visto não posso confiar em mais ninguém alem da minha amiga faca. - A faca é amiga dela?!

– Não, Lina. Não. - Foi a vez de Luccas pular do sofá e se pôr entre nós, virado para ela.

– Por que Luccas... por que você a protege? Heim? Você não a ama, você me ama. Nós somos namorados!

– Nós não somos mais namorados! - Ele pegou no pulso dela a fazendo abaixar a faca.

– Claro que somos. Só por que eu morri não significa que terminamos.

– Eu terminei com você antes de você se matar!

– Não, – Ela se aproximou dele quase encostando seus corpos. - você só estava confuso com o nosso amor, pena que só compreendi isso depois de morta. Me perdoa. É que eu quero você todo para mim. Sem mais ninguém para atrapalhar. – ela lançou um olhar para mim mas voltou a olhar para ele, parando de sorrir, quando ele pegou nos ombros dela e a sacudiu.

– Você é louca! Eu nunca te amei assim e isso não é mais amor, isso é obsessão! Não tem como um espírito e um humano ficarem juntos! Não tem! Eu terminei com você antes, estou terminando agora e está tudo acabado! Não é machucando as pessoas, me afastando delas que você vai me convencer a ficar com você...

– Mas... - Ela o encarava com uma cara triste e com os olhos lacrimejantes.

– Mas nada! Eu me afastei sim das pessoas, mas não para ficar com você e sim para que você não as machucasse mais! Entendeu?! Se realmente me ama, o que duvido, você deveria querer me ver feliz, mas você já viu eu dando algum sorriso depois que você se foi? Antes de...

– Antes...? - A esse ponto ela já estava chorando. Eu finalmente me toquei e saí de fininho indo para a mesa, avistei uma tesoura em cima dela que era de um trabalho de recorte que minha mãe estava fazendo. A peguei e, ainda de fininho, fui para atrás dela, dando uma volta no sofá, respirei fundo e me preparei para apunhala-la pelas costas enquanto Luccas ainda a segurava e a distraia.

– Sim, quando se é uma mediadora, mesmo que eu seja uma falsa, você pode machucar os espíritos tanto quando eles podem te machucar.

– Se ela não tivesse virado e apontado aquela maldita faca do demônio para mim tirando a tesoura da minha mão teria dado certo.

– Eu te avisei para ficar longe! - Ela estava chorando demonstrando raiva. Fui me esquivando dos ataques que ela dava com aquela faca entrando no mini-corredor – Se não fosse por você eu e o Luc estaríamos bem, estaríamos juntos como sempre estivemos! Mas você chegou e confundiu mais ainda a cabeça dele! - Senti de leve um raspão da faca na minha mão.

– Ele é... inteligente o suficiente... para saber que... vocês nunca poderiam... ficar juntos!

– O que?! - Caí apoiada com os antebraços no chão, quase no fim do corredor, onde tinha a porta de um lavabo. Olhei para ela de baixo para cima quando ela pôs os joelhos envolta da minha barriga, quase me cagando de medo. Sua aparência ensanguentada, molhada, raivosa e chorosa com a quela faca na mão manchada com sangue, não me deixava mais tranquila. - Se não fosse por você ele não ficaria bravo comigo! Se não fosse por você... - ela chorou mais um pouco e no final deu um sorriso macabro com os olhos bem abertos.

Não gostei disso, Senhor.

– Ela elevou as mãos e segurou a faca com elas se inclinando em cima de mim.

– Me enganei quando pensei que apenas falar com você ia bastar, pelo visto você foi um pequeno incomodo para nós em tão pouco tempo. Desculpa, mas isso doerá um pouco. Se não fosse por você... não estaríamos nessa situação.

Quando pensei que estava tudo acabado para mim, Luccas surgiu atrás dela e segurou as mão dela evitando que a faca me atingisse a centímetros do meu crânio. Tentando puxar a mão dela para cima a erguendo também sobre mim e parecendo fazer um grande esforço, tanto que dava para ver as veias no músculos, claro, puxar uma garota de mais ou menos 1, 50 e alguma coisa de altura e... sei lá de largura, pela mão não deve ser fácil, ele falou:

– Se não fosse por ela... eu continuaria sem sorrir! - E já levantados tirou a faca da mão dela que por sua vez gritou um claro e alto “Não” junto com o som do raio. Ela tentou se livrar das mãos dele, mas ele era mais forte. Ele deu um meio sorriso, aquele sorriso, e disse para ela: - Há tanto tempo que eu queria fazer isso. - a segurou só com uma mão e com a outra livre pegou impulso e “PA!” na cara dela!

Me encolhi perto da escada apenas vendo aquela cena. Ela chegou a virar a cara de tão forte que foi o tapa. Ficou com um olhar perdido por um tempo mas depois me encarou e começou a se debater

– Me deixe! Me deixe matar ela, me deixe fazer o que deveria ter feito a primeira vez que a vi!

– Nem pense em tocar nela!

– Por que faz isso?! Ela só vai atrapalhar nosso romance! Por que a protege?!

– Porque.... - ele me olhou de canto e me mandou um sorriso – Por que ela foi a única que teve coragem de me fez sorrir nesses 2 anos sem você. E mais uma coisa: – Virou o olhar novamente para ela – se você tivesse se tocado mais cedo, nós não estaríamos nessa situação. Por que você não vai embora?

– Porque eu te amo! - Ela continuava presa nas mãos de Luccas, ainda chorando

– Não. – Agora ele já falava mais calmamente – Ainda não entendeu que isso já não é mais amor? Por favor, vai embora. Não te suporto mais. Se não fizer isso por si ou pelos outros, faça por mim, por quem você tanto diz que ama.

Se fosse eu já teria obedecido a essa voz delici... por que eu to pensando isso?

Por que que eu tô vermelha?!

– Eu vou... - Ahá!

– Obrigado – Ele se inclinou ainda a segurando e beijou sua bochecha. A não rasgada, óbvio. Mesmo sabendo que ele nunca ficaria com ela, também por ser fantasma, mas mais por ser uma louca, senti uma pontada no estomago; foi uma sensação estranha, me deu uma vontade de voar encima dela e mete-lhe uns belos tapas, e nele também! Por tê-la... beijado... essa não. Não pode ser ciúme. Ela falou alguma coisa no seu ouvido que eu não pude ouvir e então desapareceu, e eu me atrevi a perguntar:

– A-acabou? - Ele, sério, veio na minha direção e com um sorriso de canto estendeu a mão para me levantar.

– Por enquanto sim. - Me segurei na mão dele, quase chorando de tanto medo, me levantado lentamente, quando senti que me deu uma leve puxada e pôs seus braços envolta de mim. - Só não faça mais isso, ok? - Ainda abalada, sentindo o calor do corpo acolhedor dele envolta do meu, o abracei pela cintura e libertei minhas lágrimas presas, mas tentando não fazer muito barulho. Por mais confortável que o abraço dele podia ser, dava para ver o que o futebol fazia com os seus músculos. Pareciam bem definido, pelo menos foi o que pensei ao sentir suas costas e peito. - Minha medrosinha.

– Bem, como dizer? Eu tenho meio que um sensor para acabar com climas.

– Eu afastei minha cara do peito dele e o olhei de baixo para cima, já que sou mais baixa que ele.

– Como assim “minha”?! - Ele deu aquele sorriso que me faz derreter. Só acho que fiquei mais vermelha quando ele deu um sorriso maior ainda.

– Já te disse que você fica muito fofa com vergonha? - Continuamos abraçados...

– Já. E eu não sou medrosa!

– Não, imagina. - Ele tirou uma mecha de cabelo do meu rosto de a pôs para trás da minha orelha.

– Eu to falando sério!

– Eu também. Você tinha que ver a sua cara quando ela te atacou. - Ele ameaçou dar uma risada

– E você ri?! E porque não me salvou mais cedo?! Você agiu um pouco atrasado, não acha?! Aé, você também tem medo dela.

– Eu disse que achava que tinha. E sim, fui um pouco atrasado. Me perdoe por isso, mas é que eu estava nervoso e assustado tanto quanto você.- Por que ele não para de sorrir? Por acaso se diverte com a minha desgraça sempre?! Mas que bosta de sorriso lindo!

– Tá, mas como você acha que eu iria reagir com aquela... aquela assombração de vadia apontando uma faca para mim?! Eueim, a reação mais comum é sentir um medo do caralho!

– Você teme a morte? - Ele disse tentando imitar o carinha dos Piratas do Caribe. Nós dois demos um riso.

– Você é ridículo. - Dei um batida nas costas dele, já que minha mão ainda estavam o abraçando. Por algum motivo não queria solta-lo nem tão cedo.

– Olha... - Ele foi me largando devagar e conforme ia se afastando de mim um frio e um vazio foi tomando conta do meu corpo. Delicadamente me levou pela mão até o sofá. Percebi que o papo ia ser sério quando o sorriso mais lindo do mundo sumiu. - Vamos falar sério agora. - Não disse?!

– Pode falar. - Ele levantou os olhos e olhou nos meus. Pude ver novamente o quão penetrantes são aqueles verdes esmeraldas.

Que olhos...

Me adiantei a falar:

– A-a Lina se foi, não é? Não precisa mais fazer essa cara...né? - Olhei com uma cara de cãozinho abandonado.

– É exatamente sobre isso. Não, ela não foi embora “totalmente”.

– Mas.. o que?! Ela disse...

– Disse que iria, mas para mim disse que voltaria, não disse quando... Não estava tão preocupado, mas agora a situação mudou completamente. Você se meteu demais.

– Mudou?

– Você ainda pergunta?!

– De-desculpa. É que eu ainda tô meia... zonza com tudo. - Falei piscando os olhos.

– Te entendo, mas para que isso não aconteça mais é melhor mesmo nos afastarmos. Continuar como... como estávamos antes. Quando você nem me notava. - Fiquei em silêncio e ele continuou: - Ela vai voltar, e quando ela voltar se te ver comigo de novo... não tenho duvidas que ela vai te matar. Estávamos bem quando separados, por que mudaria?

– “Por que”?!Deve ser porque agora eu sei que a Lina é uma louca a te perseguir, só por isso! Meu estereotipo não vai deixar você sozinho com ela, eu me conheço! Ainda nós podemos dar um jeito nisso...Talvez...

– Não. Você...você realmente não é uma boa mediadora. - O olhei torto, mas ele continuava a me olhar com tristeza e ao mesmo tempo com ternura.

– O que que isso tem a ver?

– Tem tudo a ver, Deborah! Caramba, entenda! Um espírito fica na terra por algum motivo que o prende aqui! - De repente me veio a imagem dela gritando “não” para faca tomada da mão dela.

– A faca! Temos que destruir, destroçar, derre...

– Não! - Ele respirou fundo fechando os olhos. – Não é a faca. - Quando finalmente me toquei disse:

– É você.

– Infelizmente. Por que você acha que ela pode ir onde eu vou? - Abaixei o olhar. Realmente me sentia triste por algum motivo que não compreendia. Quer dizer, compreendia, mas... não queria entender... eu acho.

Então não podemos nos falar, nos ver, nem podemos ser amigos... Que droga! Isso não é justo! Não aceito isso! Ela que é louca e a gente que paga?!

Com uma das suas mãos tocou a minha mão que estava sobre a minha perna e com a outra levantou meu rosto triste pondo a mão no queixo, então, acrescentou:

– Não fique assim, por favor. Compreenda que ela não vai me deixar em paz enquanto eu estiver... aqui. E bem, – ele deu um sorriso triste – no estado que você a deixou, é provável que mate quem vier ao meu encontro.

– Ela pensa que a culpa é minha, mas na verdade é dela, não é? - Falei que nem uma criança tentando segurar o choro. Por favor diz que é. Se não...

– É. - Ele olhou para as minhas mãos – Não quero que você se machuque mais. - Nem tinha percebido, mas alguns pontos das minhas mãos tinham pequenos arranhões por causa dos ataque com a faca dela. Tentei sorrir e dizer:

– Está preocupado comigo, é? Ridículo.

– E porque não estaria? Medrosa. - Ele retribuiu com um sorriso triste

– Sinto muito. Agora tenho a impressão que isso tudo realmente foi culpa minha. Se eu não tivesse me intrometido, se eu...

– Se não fosse você, eu não teria caído na real. A qualquer momento isso ia acontecer. Eu teria que dar o fora nela novamente com você se intrometendo ou não. Você só acelerou o processo. Não se preocupe com isso, você não me notava nesses dois anos e vivia nos seus mundinho com suas amigas, então volte para ele e me esqueça, esqueça a Lina, esqueça tudo, ok? Promete? Foram só 4 dias, vai ser fácil.

– Vou tentar. Sabe, é meio traumático ter um espírito tentando te matar, não sei se consigo esquecer... - ele sorriu tristemente – mas vou tentar... eu prometo. - Só notei que estava chorando quando ele limpou minhas lágrimas com o dedão da mão que estava no meu queixo. Ficamos nos encarando por um tempo nos aproximando mais... Ok, não vou negar que estávamos determinados a nos beijar, mas fomos lerdos de mais e então...

– Filha! Deborah, está aí?! Nossa aqui também está escuro. O transito estava de matar por causa do... - Meus pais chegaram pela porta de trás e nós nos afastamos rapidamente. Demorei para virar para ela por estar limpando as lágrimas, mas depois virei para o corredor ao lado do sofá onde estava parada e a encarei tentando sorrir.

– Oi mãe. Demorou.

– É... foi o apagão que confundiu os guardas de trânsito e os semáforos. - Ela disse pausadamente, tentando enxergar o Luccas atrás de mim.

– Ah, mãe, esse aqui é o Luccas, – levantamos e ela se aproximou para cumprimenta-lo. Olhei para ele e completei – um amigo meu. Luccas Meducci. Ele...ele já estava de saída

– É verdade. - Luccas disse enquanto apertava a mão da minha mãe que chegou à sala aos tropeços no escuro. Nós já tinhamos nos acostumados com o escuro, ela ainda não.

– Não, jante conosco, já que é um amigo da Deborah. - É. um amigo...

– Melhor não, obrigado – Respondeu. Estou atrasado para... para um encontro. - A expressão da minha mãe mudou para surpresa e duvida ao mesmo tempo. Deu para perceber seu espanto até mesmo no escuro.

– Então ta...

– Vou indo mesmo. Boa noite senhora, boa noite senhor – até esqueci que o meu pai estava nos encarando do corredor - … boa noite Deborah.

Aquele boa noite me pesou tanto. Naquela hora não sabia o que estava acontecendo comigo. Conosco.

Só me lembro de ter subido correndo depois que levei ele à porta antes que minha mãe visse as novas lágrimas que desciam e se formavam cada vez em maior quantidade nos meus olhos.


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