Broken Flower escrita por Fleur dHiver


Capítulo 31
Existe um nós?


Notas iniciais do capítulo

Olha euuuuu!
Gente, desculpa não ter postado na semana passada. Faculdade arrancando meu couro. Passei fim de semana passado tirando foto de caralhocentas só precisava de 10 e foi um sacrificio conseguir e a prof mandou refazer duas, ai que dor. Mas a vida segue e as atualizações também. Vocês viram que não teve nota no capítulo passado e isso foi proposital, eu não queria mesmo.
Mas preciso agradecer e dedicar também esse capítulo as duas lindas Thays e Hingabanaa. *-* Eu amei as recomendações, quando vocês falam que BF mexe com os feels, eu fico mexida asahsuahsuahsua Obrigada, obrigada, obrigada 19, recomendações, quase 900 comentários não poderia estar entrando no final de formais mais linda.
Espero que gostem e uma boa leitura a todos;*



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Fechou os olhos sentindo os raios de Sol tocarem a sua pele. O calor que irradiava era quase uma caricia, ainda mais seguido por uma brisa suave. Essa era uma das melhores sensações do mundo e para alguém que ficou por tanto tempo presa a uma cama de hospital, impedida de ir aos jardins, sendo lembrada que só de caminhar a janela já era um esforço, era um balsamo. Sakura era, naquele fugaz momento, a personificação da serenidade. Estava serena, feliz, tranquila, em paz observando o ir e vir de Suna.

Deslizou a ponta dos dedos pela barriga arredonda, seu bebê também estava em paz. Depois de uma noite de práticas ninja ele tinha se aquietado. Uma criança agitada essa que ela carregava, uma criança saudável apesar de tudo. Não poderia estar mais contente com isso, seu bebê crescia bem. Sorria todas as vezes que um médico ou enfermeira dizia essas palavras, tinha até mesmo vontade de pedir que eles repetissem só para ouvir de novo e de novo e sempre.

Sua gravidez ainda era delicada, claro, seria até o último dia, tinha conhecimento disso. Mas não era mais de alto risco, não podia trabalhar, ou pegar peso, mas podia fazer pequenas e curtas caminhadas. Foi liberada do hospital e agora vivia em uma casa alugada bem perto do centro médico.

Voltar para Konoha ainda era um ponto de conflito. Os médicos diziam que era arriscado, consideravam que: a fadiga; a falta de um local adequado para descanso; a gravidez delicada e já adiantada como pontos negativos a viagem. Mas se ela estivesse muito decidida a ir embora eles autorizavam a partida, contanto que na escolta tivessem no mínimo dois ninjas médicos – sem contar com ela.

Sakura não quis. Já tinha se arriscado demais, seu bebê não precisava de mais essa. Estava bem, estava acomodada, confiava nos profissionais de Suna, era um risco desnecessário. Sentia falta de casa, de seus amigos, mas poderia suportar isso. Temari vinha visitar o irmão com frequência e a visitava também contando as novidades de Konoha. Naruto tinha vindo três vezes, porém com a gravidez adiantada de Hinata eles trocaram as visitas por cartas. Sua decisão de permanecer na Vila foi passada a Konoha e bem aceita ao que tudo indicava. Tudo sobre ela era passado a Konoha.

“Não a procurarei, não perturbarei sua paz.”

Era verdade, haviam se passado meses e nenhum um sinal de Sasuke, as vezes tinha noticia por intermédio de Naruto, o único a ousar citar o nome do Uchiha com Sakura, mas eram coisas escassas, corriqueiras, coisas como: “Sasuke saiu em missão ontem; Sasuke voltou de missão e vai passar aqui em casa mais tarde; treinei ontem com o Sasuke; briguei com o Sasuke”.

Nada diretamente ligado a ela. E isso era cansativo, por falta de uma palavra melhor. Mesmo Naruto que não era alguém cauteloso, se tornava perante o seu casamento. Nunca soube se Sasuke comentou com ele que deixou uma carta para ela, mas se comentou Naruto nunca deixou transparecer seu conhecimento. Ninguém disse: “Venha, Sakura. Venha desabafar.” E como isso era frustrante.

Sakura enfiou uma das mãos na bolsinha de armas que carregava mais por costume do que por necessidade. Porém não chegou a puxar o pedaço de papel que procurava, pois um ruído próximo a distraiu da ação.

— Encontrei você — a voz de Gaara a fez virar a cabeça, com um sorriso mínimo ela deu espaço para ele no banco em que estava sentada — Imaginei que estivesse aqui no parque quando não a encontrei em casa.

— Eu vim dar uma volta, arejar as ideias. Aconteceu alguma coisa? — o kazekage se sentou ao lado dela, balançando a cabeça em negação para tranquiliza-la.

Gaara puxou de dentro de sua capa de kage um pacote pardo, endereçado a ela. Sakura o virou em suas mãos, não era pesado, colado na parte de cima vinha uma carta que ela logo reconheceu a caligrafia despojada

— É de Naruto. — o sorriso dela se alargou e em dois tempos já estava soltando carta do amigo do resto do pacote.

— Sim, por isso corri para te procurar. Achei que estaria sedenta por notícias de casa — Sakura tocou gentilmente o ombro dele, mas sua atenção já não pertencia mais a Gaara.

— Obrigada.

O coração chegava bater um tantinho mais rápido ao ter a carta do amigo em mãos. Leu com afobação. Naruto falou por alto sobre como estava a vida do pessoal em Konoha, sobre Ino que iria casar com Sai, que estava ligeiramente menos travado, mas ainda assim irritante. Contou como pela primeira vez na vida ele viu Hinata irritada ao chegar em casa e encontrar as paredes do quarto do bebê pintadas de azul e laranja e principalmente:

— Nasceu! O bebê de Hinata nasceu. É um menino — Naruto não parou de falar sobre o filho, linha por linha, transcrevendo em palavras todo o carinho que sentia. Falou dos choros, das noites que começavam a ser mal-dormidas, sobre o menininho que já mostrava sinais de que seria bem agitado e de como Boruto só se acalmava nos braços de Hinata

“(...) mas também, quem não se acalmaria nos braços dela?

Eu nunca senti algo como isso. É indescritível a sensação de tê-lo em meus braços. Ele me reconhece, sabe? Mal fica acordado, mas sabe quando sou eu que fala com ele, fica me olhando com os olhos vidrados. Logo mais vai ser você contando para mim sobre como está realizada.

Estou com saudades

Ps.: Sasuke pediu para que eu encaminhasse junto com a carta os papéis do divórcio e para avisar que ele já assinou, só falta você”

Sakura fitou o pacote que tinha deixado de lado para ler as palavras de seu melhor amigo. Nem tinha reparado que enquanto lia a carta de Naruto tocava a própria barriga, era quente e bom tê-lo falando do bebê, mas a quentura acabou, se esvaiu na última frase. Soltou um longo suspiro, dobrando o papel com cuidado.

O divórcio.

Passou a mão pelo pacote pardo, subitamente se recordando da outra carta que carregava consigo. Ele continuava mantendo sua palavra. O último encontro deles foi no hospital, conturbado, confuso, sufocante. Precisava de espaço, necessitava de isso. Porque não era só Sasuke quem pesava naquele momento, era tudo. Estava sensível pelo ocorrido na viagem, se as coisas ficariam bem com o bebê, o descuido dela pesando em seus ombros. Coisa demais para suportar além de Sasuke. Naquele momento ela estava com tanta raiva, com tanta magoa e dor e culpa que não podia sequer olhar para Sasuke sem sentir que iria desabar. Não o queria por perto de maneira alguma. Naruto não insistiu para que o visse outra vez. Ninguém insistiu.

Mas Sakura não esperava encontrar aquela carta em uma tarde qualquer, deixada ali de forma tão simples e despojada que quase enganava, fazia parecer que o conteúdo dela era tão simples quanto sua presença. Mas aquilo era uma bomba letal, destruição em massa era o que ela proporcionava. Cada linha, cada palavra uma facada, uma maneira nova de perturba-la e desestabiliza-la.

Sakura teve tanta raiva dele, tanta raiva daquelas palavras. Assim que a leu quis queima-la, pôr um fim. Queria gritar, quebrar alguma coisa, exigir que ele aparecesse e dizer que ele não tinha o direito de depois de tudo dizer aquelas coisas. Ousa falar daquela forma. Teve ódio por ele ter escrito e não tido a decência de encara-la para dizer tudo. Ela não foi sedada, mas pediu um calmante, porque ela própria sabia que estava agitada demais que tinha mexido demais com ela.

Quando voltou a acordar ficou sabendo pelos enfermeiros que ele partiu mesmo, junto com Naruto. Deixou a carta de lado, alimentando sua raiva, sua magoa. Sempre mentiras. Não a guardou a manteve em seu criado-mudo, não a tocava e não deixava que ninguém a tocasse, era um lembrete, uma tortura, um foco.

Depois de tanto encarar aquele pedaço de papel a racionalidade voltou, sabia que não tinha como ele se explicar de uma outra maneira, que ela não queria ouvi-lo de forma alguma e mesmo depois de se acalmar. Nada nunca seria como aquela carta, então a releu. Mas as partes de Karin ainda mexiam demais com ela, então passou a pula-las, lendo outros pontos, outros cantos, lendo a culpa dele. Idealizando a culpa que ele sentia, se é que ela era real, se é que valia a pena acreditar no que ele dizia.

Por que se esforçar tanto para tentar desestabiliza-la?

Talvez fosse muito importante para Sasuke ter a razão.

Era isso, ele precisava estar certo. Precisava sair por cima.

Sakura releu aquela carta até o papel se tornar fino, as marcas das dobras visíveis e cortadas em alguns pontos. Releu até não precisar mais, poderia recitar se quisesse e as vezes do nada uma linha ou outra pipocava em sua cabeça. Ela buscou conectar o que ele dizia com a vida deles, buscar as falhas, as mentiras, os desencaixes, para ficar mais fácil ter raiva de Sasuke, mas a verdade é que o tempo tirou isso dela. Tirou a raiva, deixou a decepção, o ressentimento que dia-sim-dia-não queimava pela falta de notícias dele. Por não ter sido procurada nenhuma vez sequer para discutir.

Tudo que ela pedia Sasuke prontamente atendia e outras pessoas informavam isso a ela. Pediu que o dinheiro dela fosse transferido para cá, ele fez sem estresse, pediu para ficar, pediu que alguma de suas coisas fossem enviadas para melhor comodidade. Ele não aparentou ficar perturbado ou interessado com nada do que ela fez desde então.

“Não pretendo mantê-la presa a essa relação que tanto te faz mal”

— Ele explica o que é o pacote? — Sakura virou a cabeça para Gaara, aquiescendo. Ela tinha se desligado completamente da presença dele ao seu lado, chegou a corar por isso.

— Sim. É a papelada do meu divórcio — a expressão de Gaara se alterou ligeiramente e ele se ajeitou no acento, a cabeça inclinada e o olhar atento em Sakura.

— Entendo. — ele engoliu em seco, buscando as palavras certas para serem ditas naquele momento tão particular — Sakura...

— Como tudo ocorreu de forma tão inesperada, acabou que a gente nunca conversou sobre a razão de eu ter vindo para cá. — ela o interrompeu sem perceber, dizia sem fita-lo, a voz calma, quase um sopro — Eu li a sua carta. Foram as coisas que você falou nela que me motivaram a ir embora. — ele respirou fundo, tentando não transparecer seu nervosismo ao ouvir aquilo.

— Eu cheguei a pensar que o Naruto não tinha entregue, passou bastante tempo desde que a escrevi — ela concordou, abraçando a si mesma, coçando a parte de trás de seu ombro esquerdo.

— Ele entregou sim, eu só estava bem com Sasuke na época. Não queria ler a carta porque poderia ser algo sobre aquele beijo, sobre sentimentos que eu não queria ter conhecimento, mesmo que fosse um pedido de desculpas. — Gaara tinha parado de fita-la, aquela conversa não estava caminhando como ele imaginava — E depois eu realmente me esqueci dela, quando a reencontrei estava em um mal momento e bem, agora estou aqui.

— Por que um mal momento?

—Nós tínhamos brigado, ele tinha dito umas coisas, eu estava confusa — Sakura suspirou, balançando a cabeça e dando de ombros —, então eu li e tudo ficou ainda pior.

— Eu não menti — pela primeira vez desde que aquele assunto surgiu Sakura o encarou e sorriu.

— Eu sei que não. Ele me contou recentemente, apesar de não ter sido da mesma forma como estava descrita na carta. — Gaara se empertigou, passando as mãos pela calça branca.

— O que tinha de diferente?

— Bem, ele falou que a garota da viela foi só uma vez, na noite que você viu, que não era algo recorrente, que ele não a conhecia, nem tinha um caso com ela. Assim como não tem, nem nunca teve um caso com Karin. — o silêncio perdurou entre eles, não tinham muito o que falar após isso. Shikamaru tinha alertado que a garota poderia estar mentindo, mas ele preferiu tentar a sorte, escreveu apenas o que ouviu.

— Você acreditou? Acreditou nele? — a pergunta de Gaara foi quase um sussurro. Sakura umedeceu os lábios fitando os joelhos. Um tempo atrás ela queria dizer não, depois por orgulho e ressentimento teria dito não, agora ela conseguia enxergar verdade no que Sasuke dizia.

Conseguia acreditar nele e enxergava os pontos de conexão que ele dizia, enxergava a tudo. Podia até mesmo ver com clareza quando ele dizia não se importar e fazer pouco caso. Ela sentiu a mudança dele, o curto e feliz momento que eles tiveram juntos, onde tudo parecia tão encaixado. Todos os momentos que Karin se aproximou eram isolados, sussurrados. Nada as claras, só entre elas.

— Sim, eu acredito.

— E o que isso muda para nós? — a pergunta a surpreendeu, Sakura o fitou meio sobressaltada. Nós. Ela não esperava por isso, não esperava por essa pergunta, por essa colocação. Gaara deu um meio sorriso, fitando a praça a frente deles. — Entendi, tudo bem.

Não disseram mais nada, ele não correu como uma criança acanhada e ressentida pela rejeição evidente. Sempre soube a verdade, mesmo se não estivesse mais com o Sasuke. Quais as chances de Sakura ficar com ele? Nulas e inexistentes. Permaneceram sentados no banco, fitando algumas crianças que saiam da academia de Suna correrem para os brinquedos.

— Gaara, obrigada, por tudo.

Sakura voltou para casa no fim de tarde. Gaara permaneceu com ela a maior parte do tempo, tendo que se retirar apenas quando foi chamado por um de seus assistentes do gabinete. Largou o pacote com os papeis do divórcio em cima da bancada da cozinha, enquanto enchia a chaleira para preparar o seu chá da tarde.

O envelope parecia exercer uma força atrativa, pois ela não conseguia ficar sem encara-lo, mesmo enquanto fazia outras coisas, sentia a presença dele clara a sua volta. Mas não queria pensar nele agora. Quando terminou de preparar sua bebida, se sentou em frente ao pacote, bebericando seu chá, sem tirar os olhos da papelada. Por fim resolveu abrir, só para ver se tinha algo a mais que os papeis para assinar, sacudiu o pacote pardo e nada, nenhuma nota, nenhuma uma palavra.

Depois de tanto tempo ele poderia ter perguntado de novo, poderia ter pedido a Naruto para saber se ela aceitava conversar ou não:

“Eu disse que te daria o divórcio, mas não sei se você ainda quer. Podemos discutir isso? E a minha carta?”

Qualquer coisa era melhor que o silêncio absoluto. Sabia porque ele fazia isso, porque Sasuke era assim e se ele disse que ia se afastar, ia se afastar. Mas mesmo assim ela queria, um virgula, uma palavra, não queria ser ela a tomar a iniciativa para um novo diálogo entre eles. Assim como Gaara, Sasuke também citou um “você e o Kazekage”. Queria xinga-lo por fazer esse tipo de insinuação. Essa era a parte que mais detestava de toda a carta, o tom fazia parecer que ela alguma vez tinha demonstrado qualquer inclinação real.

Até Juugo tinha mandado uma carta nesse meio tempo. A mais triste na opinião dela. Ele pedia desculpas pela participação no teatro de Karin e informava que ele Suigetsu iram partir. Não viveriam mais em Konoha e quando ela voltasse eles não estariam mais lá.

“A Karin foi embora, partiu um pouco depois do retorno do Sasuke. Nós fomos visita-lo e eles tiveram uma discussão terrível. Nós não sabíamos que ela tinha feito tudo o que Sasuke a acusou. O clima de hostilidade era palpável, Sasuke simplesmente fingia que não a enxergava mesmo que ela estivesse berrando ao lado dele. Ela não quis continuar a morar em Konoha e nós ficamos, mas sei lá, não faz muito sentido permanecermos aqui sem ela, mesmo ciente de todo o mal que ela causou. Suigetsu está inquieto também, quer ir atrás de Karin. Acha que ela pode estar aprontando alguma por ai e precisa de nós, ao menos é isso o que ele diz.

Enfim eu sinto muito, de verdade, Sakura. E espero que acredite quando eu digo que vou sentir muita a sua falta.”

Ela acreditava e também sentiria muita a falta dele e de Suigetsu, mas talvez fosse melhor assim. Ambos não ficariam confortáveis sem Karin e a última coisa que ela queria era essa garota ainda na vida dela. Dizem que o tempo cura todas as mágoas, em partes ela acreditava nisso, mas o que sentia com relação a Karin nunca iria mudar.

(...)

A máquina apitava, as batidinhas em pura agitação, a médica que operava a ultra, sorriu, deslizando o aparelho pelo baixo ventre de Sakura:

— Posso dizer com certeza absoluta que você está esperando uma menininha — dizia a médica enquanto no monitor os traços embaçados do bebê aparecia —, nas ultimas não dava para ter certeza, mas é sim uma garota, agora não restam dúvidas. E ela está com um ótimo tamanho e já começou a virar, está vendo? — simpática ela apontou para a tela, mostrando onde estava a cabeça de sua filha. Sakura estava em êxtase vendo e ouvido o coração de seu bebê. Não tinha uma sensação mais gratificante que essa, poderia começar a escrever para Naruto que ela já sentia a magia e encanto brotar só nesses momentos.

A médica tirou aparelho da barriga de Sakura, limpou o gel, mas a imagem de sua menininha continuava congelada na tela. Continuou deitada absorvendo e gravando em sua cabeça as forminhas. A doutora retirou uma fita da máquina e Sakura franziu o cenho, não tinha pedido para gravar, na verdade nem foi questionada sobre isso. Foi então que ela compreendeu, aquilo não era para ela. Seu estômago deu um ligeiro embrulho e sua boca ficou seca só de observa-la encapar o objeto.

— Eu posso... — parou, a médica se virou para ela com a fita em mãos, se preparando para sair do quarto. — eu queria enviar uma carta junto com a fita. Isso é possível? — desconcertada a médica fitou do objeto em suas mãos e em seguida a porta. Trocando o peso de uma perna a outra. Parecia ponderar o que iria dizer — Se não puder tudo bem, ou se você precisar falar com alguém, eu espero, mas eu queria mesmo escrever um bilhete.

— Não é isso, não é uma questão de permissão. É que — ela engoliu em seco, encolhendo os ombros — eu não vou enviar, vou entregar em mãos — Sakura franziu o cenho, a primeira conclusão que chegou foi que ela iria a Konoha, mas se fosse isso poderia levar a carta, mas então... arregalou os olhos, sentando na cama.

— Ele está aqui? Sasuke está aqui? — a médica tratou de se adiantar em direção a ela, tocando o braço de Sakura com um afago gentil. Queria acalma-la, conte-la, Sakura podia perceber, mas não precisava ser acalmada.

— Sim, ninguém queria aborrece-la. Sabemos que não quer vê-lo, ele também. Chegou um pouco depois de você, só quer a fita, fique tranquila. Ele não vai chegar perto daqui, nem sabe onde você está — Sakura balançou a cabeça em negação, ela não estava irritada, nem com medo de Sasuke.

— Tudo bem, eu só... eu posso entregar a fita? — a médica a fitou com espanto, mas não rejeitou seu pedido.

— Ele está no térreo. Sala 2-A. — Sakura sorriu, tirou a roupa de proteção que tinha posto e vestiu a sua própria.

Enquanto se trocava e em seguida ia ao encontro dele, milhares de coisas passavam pela cabeça de Sakura. Sobre o que diria; como diria; como ele reagiria ao vê-la; ainda queria bater nele, mas era uma vontade letárgica, ficou lá por tanto tempo que se tornou habitual, não era algo intenso e necessário. Uma lembrança de um tempo de raiva.

Ela parou em frente a porta, incerta, confusa, nervosa, agitada. Fazia tanto tempo que não o via que não sabia direito como seria para ela também. Ela acreditava nele, mas o que isso significava? Gaara tinha feito essa pergunta, com outro sentido e por outra razão, mas essa parte, o significado tinha perdurado na cabeça dela. O que significava acreditar em Sasuke? O que mudava agora que ela de fato levava aquela carta a sério?

Girou a maçaneta, Sasuke estava de costas para a porta, lendo alguma coisa, não se virou para recepcionar a pessoa que trouxe a fita para ele e obviamente não imaginaria que pudesse ser ela. Isso com certeza não tinha passado pela cabeça dele.

— Vim entregar sua fita — assim que ele ouviu a voz de Sakura, se agitou, fechou o pergaminho que tinha em mãos, erguendo-se de uma vez. Os olhos negros cravados nela com a mesma intensidade vibrante de sempre. O objeto em questão estava estendido em direção a ele, mas Sasuke pesou antes de se adiantar e pegar, observando a postura e expressão de Sakura com atenção.

— Obrigado.

— Não tem de que, a propósito, é uma menina. — ela se acomodou em uma cadeira próximo a porta sem vislumbrar o efeito que suas palavras causaram nele, quando ergueu a cabeça, Sasuke estava de costas para ela, puxava sua bolsa de viagem, ele fitou de relance um aparelho de fita no final da sala, mas não se moveu em direção a ele. — Você pode assistir se quiser, não vai me incomodar.

— Está tudo bem — ele disse virando o rosto, abriu a mochila e começou a enrolar o pergaminho com deliberada lentidão.

— Sasuke, o que faz aqui?

— Eu sabia do dia que você faria a ultra, estava voltando de missão, resolvi passar para pegar o relatório pessoalmente.

— Você já fez isso antes? — ele a fitou de esguelha.

— Já.

Esteve um Suna e não a procurou. Sakura respirou fundo enquanto o observava arrumar a maldita mochila de viagem. Estava se agitando e não era bem isso o que ela desejava. Fitou o teto branco e alto do aposento buscando se acalmar.

— Eu li a sua carta — a frase dela foi um sussurro que Sakura chegou a pensar não ter sido ouvido, mas Sasuke parou o que fazia, soltando um longo suspiro. — Isso importa?

— Importa.

— Então por que não está me questionando sobre? Por que não quer saber minha opinião? Por que você vem aqui e nem ao menos me procura? — ele tinha se virado parcialmente, preocupado com o estado dela.

— Não perguntar não é mesmo que não querer saber. Eu prometi espaço, não prometi? — ela assentiu, sem encara-lo — Então...

— Mas eu quero falar sobre ela. — ele parou a arrumação de sua bolsa, que agora parecia mais enrolação do que de fato uma organização excessiva. Desde quando Sasuke era zoneado para precisar dar tanta atenção a uma bolsa? Ele se sentou na cadeira em frente a dela, na extremidade oposta da sala.

— O que quer falar sobre ela?

— Não foi justo da sua parte simplesmente despejar tudo aquilo em cima de mim e ir embora. Você tem noção de como eu fiquei? De todas as dúvidas e questões que surgiram que só você podia sanar, mas você tinha ido embora e não perguntou uma vez sequer se poderia falar comigo nesse meio tempo. Se eu queria conversar com você, se a gente podia discutir essa situação.

— Eu não queria me impor.

— Mas você se impôs! Você enviou os papeis do divórcio para que eu assinasse, sua assinatura lá está lá. Isso não é tomar uma decisão unilateral?

— Não.

— Como não?

— Se você não assinar nós não nos divorciamos — ela soltou o ar com exasperação, mas ele continuou. — Você queria o divórcio, Sakura. Você me pediu, eu neguei e eu briguei. Eu estou fazendo a sua vontade mesmo que tardia, não te procurei pela mesma razão e por não querer estressa-la, não agora. Nós iriamos conversar quando você quisesse, quando você estivesse pronta para isso em todos os sentidos não só no emocional.

— Eu queria conversar com você.

— Era só ter dito.

— E o que aconteceria?

— Eu viria conversar com você. Eu estou aqui — Sakura negou com um aceno de cabeça.

— Não por minha causa. Nem sobre a minha permanência em Suna você se pronunciou. O que você espera de mim com tudo isso?

— Sinceramente você acha que eu não estou aqui por sua causa? — ela não o respondeu, mas ele não se incomodou com isso — Eu não estou esperando nada de você. A falha é minha, você ter ficado acamada, os problemas quem causaram foi eu. — Sasuke soltou um longo suspiro, parecia cansado, exausto melhor dizendo, ele ajeitou a postura observando a janela as suas costas — Às vezes eu penso que se tivesse dito a você, claramente, qualquer uma das coisas que Karin dizia a mim, nada disso teria acontecido — ele fitava a arvore em frene a eles o corpo de lado, longe, parecia que ele realmente tinha pensando nisso e não dizia apenas da boca para fora, só para convence-la e era engraçado que as vezes ela também pensava assim.

— O que me mata é você não ter me contado sobre a garota do beco — ele suspirou, abaixando a cabeça.

— Eu sei. Eu sinto muito.

 — Nunca houve Karin? — Sasuke a fitou, os olhos negros queimando intensamente.

— Nunca.

— Não houve um pedido de casamento a ela? — um toque sutil transpassou a expressão dele, quase um deboche.

— Consegue me imaginar pedindo alguém em casamento e em seguida partindo para fazer um outro pedido? — Não, sempre pensou que quando o Sasuke fizesse, seria único, sem estepe, sem outra pessoa em vista, mas isso era antes. Quando achava que o conhecia, como ele mesmo disse, eles mudaram. Não o respondeu. — Não, eu só pedi você em casamento.

— O bracelete estava nas suas coisas. — Sasuke coçou o olho, concordando com um aceno.

— O bracelete, é, eu finalmente ouvi falar sobre ele. Corrija-me se eu estiver enganado, mas você notou sua gravidez durante um almoço com Naruto e Hinata, mais o Time Hebi, não? — ela assentiu e Sasuke concordou, o corpo inclinado para frente, as mãos apoiadas nas pernas. — Pois é, Karin também. Ela notou sua mudança na mesa de jantar, um olhar trocado com Hinata, algo assim. Depois ouviu quando eu falei da surpresa e achava que se você visse que ela também tinha “uma surpresa”, iria me expulsar ou sair de casa e eu ficaria com ódio por você estar me tirando um filho, que seria o fim definitivo. — Sakura respirou fundo, era de fato algo bem destoante da personalidade de Sasuke aquele bracelete e foi mesmo o fim. Ela conseguiu o que queria. Sakura coçou o braço, observando o próprio colo. Sasuke engoliu em seco, encarando-a sem pestanejar, mal respirava — Você acredita? Acredita quando eu digo essas coisas? Acredita no que eu escrevi? — o tom dele não era persuasivo, mas tinha um toque frágil, incomum a alguém que era sempre tão inabalável.

— Acredito. Eu acredito em você. — ele abaixou a cabeça na hora que um meio sorriso pareceu se formar em seus lábios.

— Eu posso me aproximar? Posso me sentar ao seu lado — ela apertou o antebraço, fitando o local vazio, concordou com um aceno de cabeça. Respirou fundo quando ele ocupou o acento, Sasuke se voltou para ela — Posso... tocar? — foi um sussurro e Sakura se remexeu inquieta, fitando a mão dele estendia para sua barriga, aquiesceu.

Durante todo esse tempo tinha imaginado que seria estranho senti-lo toca-la outra vez, mas não era nada disso, era familiar comum. A respiração de Sasuke baia em seu braço e a mão dele deslizava em uma caricia muito suave, não teria um chute, Sakura sabia disso, seu bebê só era agitado a noite.

— Ela se mexe muito? — ele falava baixo, tão baixo.

— Sim, mas está calma agora.

— Hum. Uma pena. — Sakura encarou o rosto dele, Sasuke não a fitava, estava calmo, tranquilo. Ela fechou o seu punho, querendo sentar em cima de sua mão.

— Se eu tomar água gelada ela se agita. — Sasuke a fitou com uma ponta de divertimento dançando nos olhos negros.

— Por que?

— Acho que é o mesmo efeito em nós, de tomar algo gelado e dar uma pontada na cabeça — deu de ombros, vendo-o voltar a se inclinar em direção a barriga de Sakura.

— Não, não vou fazer isso com o meu bebê. — Meu bebê, Sakura respirou fundo — Deixa ela quietinha. — sem perceber Sakura ergueu uma das mãos e tocou o círculo escuro embaixo dos olhos dele, assim de perto Sasuke não parecia maltratado ou descuidado, apenas mais apático, um pouco mais magro talvez.

— Não tem dormido direito? — Sasuke pegou a mão dela juntando com as suas

— Foi só a missão. — ela concordou e ele fitou a mão que segurava, ela olhou para esse ponto também. Queria e não queria que ele a soltasse — Sakura, depois de tudo, ainda existe possibilidade para um nós?

Página: Fleur D'Hiver

 


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Notas finais do capítulo

Ai meu pai, aguenta coração que o próximo capítulo é o último!! EU NÃO ESTOU PRONTA PARA ME DESPEDIR, COMO FAZ??
Eu to feliz e na bad ao mesmo tempo só de pensar que está acabando, longo anos nessa caminhada de idas e vindas e vai se encerrar nosso drama mexicano de cada dia çç
Vamos todos segurar o feel.
Muito obrigada pelo carinho, as meninas que estão sempre lá na página me acolhendo e entendo meus atrasos, vocês são dez, aos comentários maravilhosos de vocês. Estou entrando nesse clima de despedida e eu não sei lidar, quero chorar.
Deixem-me ir, até a próxima e não deixem de me contar o que acharam do capítulo