Sakura,

Não a mais com o que se preocupar, minha presença tão desagradável não será mais um desconforto a você. Provavelmente quando for ler a está carta eu já estarei fora de Suna, a caminho de Konoha. Quem sabe já tenha até cruzado as dunas, pois não a nada que eu deteste mais que o deserto de areia.

Todavia não foi para falar sobre minha viagem de retorno que eu resolvi escrever. Durante nosso curto interlúdio diversas acusações foram feitas por sua parte. Quando eu cheguei já tinha um conhecimento primário das razões de sua fuga, a carta de Gaara estava em minha posse eu ingenuamente me achei pronto para conversar. A verdade é outra, nada tinha me preparado para tudo que ouvi. Não estava pronto para todas as revelações, tão pouco para as suas reações a mim.

No meio do turbilhão que foi o nosso reencontro e tudo que se sucedeu não foi possível não achei minha voz. As razões originais foram postas de lado, me vi na necessidade falar outras coisas e reafirmar o que eu esperava não ser preciso. No fim, nada que eu dissesse surtiria efeito e imagino que o meu silêncio de alguma forma teria sido muito mais apreciado.

Sem dúvida para quem nunca falou, começar agora parece indiferente. Porém ainda assim eu peço que você aceite está carta de mente aberta, que não deixei sua raiva impedi-la de ler o que tenho a dizer.

Eu sei que não existem palavras o suficiente que possam remediar essa situação, ou para demonstrar o quanto eu sinto por tudo isso. Começarei então pela mais singela delas: desculpa. Desculpa por todo o transtorno e sofrimento que eu causei, direta ou indiretamente, a você. Desculpa por ter levado você ao ponto de pensar que o melhor e a única saída viável era uma fuga desenfreada. Desculpa por esta nesse estado agora. Desculpa por ter permitido que as coisas chegassem a esse ponto.

Eu sinto muito, Sakura.

Lidar com pessoas de um modo geral sempre foi uma tarefa difícil para mim, me acomodei a ideias errôneas de que não servem para me justificar de maneira alguma. Em minha mente tola sempre vi que não devia explicações, pois de todos você sempre foi aquela que me conhecia tão bem. Não enxergava que nossas mudanças e o tempo longe tenha gerado inseguranças. Afinal, eu era, em partes um desconhecido conhecido. Eu permiti que seu ciúmes crescesse apenas por não me dar ao trabalho.

A culpa de tudo em minha, mas eu não tenho e nem nunca tive algo com a Karin.

Eu fui cego e tolo. Constantemente Karin me lembrava sobre minhas próprias falhas com você. Como sair em uma missão no dia do nosso casamento, meu distanciamento e por ai vai. Ela dizia que o único culpado pela animosidade entre vocês era eu. Que essas situações geraram uma cisma em você, um conflito justificável e que impedia que mantivessem ou tentassem manter uma boa relação. Eu acreditava, porque fazia sentido.

Eu sabia que ela não era de todo santa, imaginava que podia soltar uma provocação ou outra, principalmente no início. Mas não imaginava que fossem mais do que pequenas coisas, nada sério, nada grave. Nada como o que você, Naruto e Juugo despejaram em mim.

No começo de fato eu pouco dava importância ao seu descontentamento para com ela e para as coisas que possivelmente ela dizia. Eu via como uma certeza você saber que era mentira. Um dos hábitos mais detestáveis que criei no longo desses anos foi de não me incomodar com aquilo que não me afeta diretamente, para mim tudo estava bom, até a nossa primeira briga de verdade. Eu não enxerguei o problema, até ele se chocar contra mim. Eu me fecho ou sempre me fechei e esqueço que a pessoas a minha volta, que a pessoas que não merecem aguentar tudo isso.

Na sala de casa, eu disse a verdade. Eu prometi que não teria outra e não há. Naquele dia eu dei mais importância a suas acusações, eu falei com Karin, mas novamente ela voltou a me garantir que não fazia nada, eu pensei que caso ela fizesse nossa conversa teria servido para para-la. Mas não foi bem assim, não é mesmo?

Juugo me disse que confirmou a você um suposto pedido de casamento que eu fiz a ela, que ele e Suigetsu acreditavam estar fazendo uma brincadeira. Karin disse que estava tentando criar uma amizade com você semelhante com a que tem com Ino, cheia de rivalidades e que isso era apenas uma provocação ligeira. Mas não foi bem assim. Ela fez você acreditar que tinha sido minha segunda escolha, não?

A única pessoa que eu propôs casamento foi você. Não existe, nem nunca existiu outra opção.

Antes de sair de Konoha eu a confrontei, pois Naruto tinha me dito que você não apenas desconfiava, mas tinha certeza de nosso caso. Obviamente tinha a carta de Gaara para corroborar, mas ela não era uma prova, apenas uma insinuação. Conclui que sua postura só poderia vir por algo que ela continuou a dizer. Ela não admitiu abertamente que andou alimentando sua desconfiança, mas que fez apenas comentários pequenos e que você tinha deturpado tudo.

Você falou sobre um pulseira/bracelete. “Sempre juntos”.

Nada disso faz sentido para mim. Eu nunca comprei presentes para Karin, ou mandei fazer qualquer coisa do tipo. Não sei como isso ocorreu, de onde surgiu essa ideia que eu a presenteie de alguma forma. Quando eu disse a você que tinha uma surpresa, eu de fato tinha, mas não era para ela. Era para você. Não acho que tenha qualquer tipo de serventia comenta-las agora, mas parte dos planos que Kakashi te entregou aquele dia faziam parte

A culpa me levou a cometer erros terríveis. Eu não percebi que manter Karin por perto causaria tantos danos. Eu apenas via que não poderia afasta-la por um todo. Ela tinha se sacrificado por mim mesmo eu quase tendo a matado, que mal haveria eu dar o pouco que ela queria? Atenção e apenas atenção. Supostamente eu pensava que tinha pedido a você em casamento por culpa, mas vejo agora que talvez não tenha sido esse sentimento a me guiar afinal.

Eu nunca pensei em me casar com Karin porque nunca coube a ela esse espaço em minha vida. Foi uma reparação, eu desejava reparar outro mal que eu fiz. Então deixei que ela continuasse por perto. Não pretendo mais cometer esse mesmo equívoco.

Nego veemente meu suposto caso com Karin, com tudo, não posso negar a garota da viela que eu sequer tive conhecimento do nome. Gaara salientou que eu a visitava frequentemente, mas isso não é verdade. No dia que você me pediu o divórcio, eu me tornei consciente de fatores que eu não tinha me dado conta até então. Você não queria mais me ouvir, eu não a culpo, nossa discussão tomou caminhos que eu não desejava, tudo foi de mal a pior e eu sai.

Bebi mais do que deveria naquela noite e por mais, absurdo e irreal que possa vir a parecer. Durante a neblina do álcool, eu achava que ela era você. Vi uma similaridade inexistente causada pela luz opaca na rua e minha bebedeira. Então sim, eu a trai naquela noite, mas só ali, eu não voltei a reencontra-la, mal completei o ato e ainda assim me arrependo amargamente.

Quando me questionou sobre as traições e pensamos em recomeçar daquele ponto achei que não valeria contar, que ela não tinha importância, você me perguntou se era a única em minha vida. De fato você era, essa garota foi quase uma poeira, eu não queria que você falasse em divórcio e temia, como nunca antes, que caso eu falasse sobre esse episódio o tópico separação voltaria a nos atormentar. Então deixei esse assunto de canto. E eu peço perdão por isso. Você não é obrigada a acreditar em minhas palavras, mas garanto que essa é a mais pura verdade.

Não é de agora que eu vejo todos os erros que cometi. Eu tenho há um tempo ciência deles, mas ao mesmo tempo que via a necessidade de corrigi-los. Não queria desenterra-los porque achava que a verdade estragaria mais do que arrumaria. Eu pensei que realmente nós conseguiríamos recomeçar e quando tudo estivesse encaminhado, eu poderia revelar esses pontos torpes que não interfeririam em nossas vidas.

Eu vou lhe dar o divórcio, darei entrada na papelada assim que chegar a Konoha e pedirei que Tsunade envie a você depois que todos os tramites legais rolarem. Não pretendo mantê-la presa a essa relação que tanto te faz mal. Eu não mais me envolverei em seu caminho em suas escolhas. Porém eu quero meu filho comigo, perto de mim.

Um filho não estava em meus projetos recentes, apesar de saber que eventualmente nós poderíamos vir a ter. Foi-se o tempo em que isso era um objetivo em minha vida, não me imaginava mais sendo o responsável pela criação e educação de uma vida. Não atormentado como estava. Ainda assim garanto a você que farei o possível para essa criança só venha a ter orgulho de mim. Nada vai faltar a ela, ou a você.

Não vou me aprofundar na sua relação com o kazekage, mas Sakura, eu quero meu filho em Konoha, quando você e ele forem capazes de se deslocar sem riscos. Conversaremos sobre sua nova residência e como vai ficar minha situação para visita-lo quando você estiver de volta.

Sinto por ter sido o causador de tantos estragos, por ter feito esses meses e os piores possíveis para você. Não a procurarei, não perturbarei sua paz. Com a relação à gravidez os médicos de Suna me enviarão relatórios semanais sobre o estado de vocês. Não precisa se preocupar.

Melhoras.

Uchiha Sasuke.

...

Página: Fleur D'Hiver