Broken Flower escrita por Fleur dHiver


Capítulo 29
Eu só quero que você vá embora


Notas iniciais do capítulo

Na madruga boladona, eis que eu apareço. kkkkkkkkkkkkk
Antes que pensem em me matar, não foi proposital, eu fiquei até mais tarde na faculdade e eu estava morta de acabada quando cheguei em casa, não comi, não bebi, não fiz nada. Apaguei e acordei quase 00h e me esqueci da postagem ;x
Perdão de verdade, mas eu lembrei há uma hora atrás, só tava vendo uns bangs aqui.
Cá estamos, por favor, não esperem muito da luta. Espero que gostem uma boa leitura a todos;*



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Abriu os olhos, o barulho da máquina que conferia as suas frequências cardíacas e as do bebê era o único som que propagava pelo quarto. Ela sabia que se algo tivesse acontecido ela teria sentido, se estivessem em risco outra vez ela sentiria, mas ainda assim ela ergueu a cabeça e fitou os números na tela preta. Observando a regularidade nos números no final da tela, uma batida mais rápida que o dela, ele estava bem, o pequeno carocinho que lhe era tão importante estava seguro por hora.

Pensar que ela quase o perdeu... não, não pensar. Não queria pensar nisso.

Estava deitado de lado, para o lado da porta, de frente para o aparelho. Sakura levou uma mão a cabeça, sentia uma leve pressão no lado direito, mas nada muito incomodo, assim como a cólica que ainda lhe dava umas pontadas esporádicas. Os médicos de Suna tinham lhe dito que isso não era totalmente comum, mas no quadro geral dela era até bom. Porque ela só tinha tido as cólicas e elas já estavam enfraquecendo. Torcia para que essa dor fosse embora também, só assim para os riscos diminuírem, apesar de saber que sua gravidez não seria tranquila nunca mais. Desse momento ao nascimento ela teria que ficar de repouso, repouso absoluto.

Não era isso que ela queria, não tinha sido isso que planejara. Sabia que tinha sido uma ideia estupida seguir a diante pelo deserto à noite, onde tempestades de areia aconteciam com mais frequência que durante as tardes. Deveria ter ficado na clareira que encontrou, montado acampamento, esperado o dia raiar. Estava tão desesperada, tanta coisa passando pela cabeça. Temia que Naruto desse com a língua nos dentes, e não o culparia se acabasse contando a Sasuke, ela sabia a pressão que tinha colocado sobre os ombros dele. Só que pensar que Sasuke já poderia estar em seu calcanhar a fez forçar a viagem mais do que deveria, a fez tomar decisões precipitadas e no final ela se viu presa no meio das dunas.

Chegou a pensar que iria morrer sufocada no deserto e que tudo o que tinha feito para proteger seu bebê, tinha sido em vão. Desmaiou antes que visse a pessoa que a resgatou, antes que sequer soubesse que tinha outro alguém por ali. Quando acordou no Hospital seu espanto não poderia ser maior, sabia que não tinha como ter sobrevivido sozinha então contaram a ela que foi salva por um patrulheiro da Vila que tinha ido transmitir as notificações da tempestade. Seu resgate foi por muito pouco, ela não respirava quando ele a tirou do deserto, suas vias obstruídas. Agora estava ali, fadada a uma cama de hospital e mesmo quando saísse, ainda estaria presa a uma outra cama qualquer.

Não poderia ir a diante ou voltar para Konoha. Chegava a parecer um castigo, talvez realmente não devesse ter tentado fugir, deveria ter ficado e enfrentado o que viesse pela frente. Será que faria alguma diferença? Ergueu a mão que estava em sua cabeça, tocando o monitor cardíaco, os números na parte de baixo da tela, o coração dele acelerado e continuo, sua outra mão mantinha repousada em seu ventre, deslizando suavemente

— Eu sinto muito — sua fala foi um sussurro, uma brisa suave.

Os dedos dela escorregaram pela tela ao ouvir o som da porta sendo aberta, Sakura olhou para lá. Era Gaara, ele parou no vão, a fitou, mas seu olhar não se demorou sobre ela e parou em um ponto as suas costas. Um vinco se formou na testa de Sakura e rapidamente ela se virou, soltando uma exclamação audível. Se não estivesse com seus batimentos sendo registrados poderia jurar que seu coração teria parado, assim como ela, congelada no meio de seu giro, o olhar vidrado na figura as suas costas.

Sasuke estava sentado em uma cadeira ao lado da cama. Imaculado, inflexível, austero. O olhar cravado nela, como aparentemente esteve durante todo o tempo. Os cabelos estavam mais desgrenhados que o normal, sujos, assim como ele, com riscos de poeira e sujeira profundos de quem tinha... lutado? Além de sua roupa sempre tão alinhada estar bagunçada e também suja de terra.

— Sakura, eu vim ver como estava... — o chamado de Gaara a despertou do torpor, mas ela não dava a mínima para o que ele dizia. Terminou de se virar bem devagar, à espreita de seu predador.

— O que faz aqui? — os olhos dela arderam, queimaram, brilharam. Sasuke piscou, nenhuma alteração em sua fisionomia, apático, analítico o que fosse, não passava nada pelo rosto dele.

— Eu vim ver você. — Sakura fechou os olhos, segurou o lateral da cama com ambas as mãos, sua respiração se agitando, pode ouvir o apito da máquina aumentar.

— Sakura, por favor — era Gaara quem falava, estava mais próximo, talvez perto da beira de sua cama.

— Mande-o embora. — ela abriu os olhos e de fato Gaara estava ao lado dela. Ele tocou em seu braço e Sasuke se retesou em seu acento, mas nada fez.

— Você precisa se acalmar — Sakura agarrou o kazekage pelo colarinho com uma das mãos.

— Por favor, mande-o embora, eu não o quero aqui... — Gaara fechou os olhos, crispando os lábios, tentando se afastar do agarre dela — mande-o embora, mande-o embora... — ela repetia incessantemente, sem se importar de Sasuke estar ouvindo o que pedia.

— Ele é seu marido, eu não posso — o lamento em seu tom era nítido, ele de fato sentia não poder fazer mais. Sakura foi soltando-o aos poucos, respirando fundo e fechando os olhos, estava ficando zonza.

— Por que você não me manda embora? — a voz irada, irritada, mas quando Sakura se virou ele se mantinha igual à antes, apenas seu olhar queimando em silêncio. Era um absurdo! Ela quem tinha o direito de estar com raiva, ela quem tinha o direito de demonstrar frustração, não ele.

— Vá embora! — gritou, girando o trono na direção dele. — Eu não o quero aqui, vá embora! Não deveria ter vindo atrás de mim, eu não pedi que viesse, eu não queria que viesse. — ela disse tudo em um folego só, Gaara a segurava, puxando-a para os travesseiros, mas Sakura ainda estava inclinada em direção a Sasuke, se afastando do toque intruso. Seus pulmões queimavam, sua garganta ardia e sua cabeça parecia que ia explodir, mas ela não ligava.

A expressão de Sasuke finalmente se alterou, surpreso, ele não esperava pela explosão dela. Estava petrificado na cadeira. Estagnado, não pelas palavras, mas pela dor tão clara, contida nelas. Gaara conseguiu fazer com que ela se deitasse, ele repetia que ela precisava ficar calma e Sakura sabia disso, mas não dava, não com Sasuke no quarto, não com ele tão perto, não com ele tendo a achado tão rápido. Estava desesperada, em meio as lágrimas continuava a repetir, a pedir que o mandassem embora.

Um mantra, uma suplica, que alguém fizesse isso por ela.

Sasuke tentou se acalmar, tentou respirar fundo, mas não conseguia. Porque as palavras incessantes martelavam e ecoavam dentro dele, golpeando-o sem parar. Ele não poderia ser assim tão repulsivo. Explodiu, quando não deveria, quando não queria. Quando tentava a todo custo não extravasar toda a sua fúria, dor e magoa. Ergueu-se como uma fera que tinha acabado de se soltar de suas amarras, caindo sobre a cama de Sakura e a agarrando pelo ombro.

Gaara tentou afasta-lo, empurrando-o com a mão. Mas Sasuke repeliu o contato com um tapa no braço dele e quando o kazekage tentou uma segunda vez levou um soco debaixo para cima que acertou em cheio o seu nariz.

— Por que? Por que quer tanto que eu vá embora? — Sakura o empurrou, tentando se soltar do agarre.

— Porque você fez isso comigo! — berrou a plenos pulmões, as lágrimas embaçando a sua visão — Porque eu fui embora por sua causa, porque amar você faz com que eu me sinta doente! — a voz dela era estridente, aguda, perfurante, mas fatal que mil chidoris — Porque eu não aguento mais, porque eu me joguei no meio do deserto, no meio de uma tempestade para fugir de você. Porque você não tem e nunca teve a menor consideração por mim, porque você mente, porque você me traiu! — os gritos dela trouxeram os enfermeiros que vieram todos desesperados pelo barulho. — Porque eu não sei que diabos você faz comigo se prefere a Karin, se dá presentes a ela!

— Presentes? Sakura, você precisa me ouvir — ele tentou chegar perto da cama, mas dois enfermeiros o afastaram dela.

— Senhor, ela precisa se acalmar.

— Não! Eu estou cansada. Eu não preciso ouvir mais nada do que você tenha dizer, eu não vou mais acreditar nos seus joguinhos estúpidos, nas suas promessas, nessas histórias que me fazem pensar que existe um algo uma razão. Eu tenho uma surpresa para você, era uma presente para aquela maldita vagabunda, — ela inclinou o corpo para frente, se apoiando no braço de uma enfermeira, o rosto rubro de raiva — eu vi, antes que ela me mostrasse. Sempre juntos, meu deus, como eu fui patética em acreditar que era para mim. Sempre juntos — ela riu, só para voltar a chorar outra vez enquanto um enfermeiro tentava deita-la a todo custo, dessa vez ela não resistiu.

— Senhora Uchiha — nunca doeu tanto ser chamada assim —, nós teremos que medica-la, a senhora precisa ficar calma, pelo bebê. — Sakura ouvia, mas não conseguia se fixar na mulher, na fala dela, na razão, só conseguia sentir.

— Ela disse que você tinha outra, além de nós duas, eu não quis acreditar. Ela disse que você tinha pedido ela em casamento primeiro que você a amava e a burra aqui não quis enxergar. — ela sentiu o pico, já não gritava mais, já não tinha mais animo ou vontade para isso — Eu sempre soube que você mentia, eu só fechei os olhos... — ela sentiu a lágrima escorrer pelo canto do olho, mas estava cansada demais para secar. Sasuke estava de volta ao lado da cama, uma estátua entre os enfermeiros ágeis, ela ergueu a vista, prendendo-se na escuridão absoluta que sempre foram os olhos dele — eu senti o cheiro, senti o cheiro do perfume barato e ainda assim eu não fui embora. Eu deixei você fazer amor comigo — ela riu, uma risada vazia, perdida —, fazer amor... eu achei que era, achei que era isso que a gente estava fazendo. Eu ouvi as suas promessas e eu acreditei nelas... porque eu te amo desse jeito e olha onde isso nos trouxe. Eu não quero perder o meu bebê, então por favor vá embora... só — ela ergueu a mão na direção dele, mas foi um movimento fraco, estava grogue demais já. Foi apagando antes que conseguisse terminar a frase, sua mão caiu mole em cima do braço dele e Sasuke a segurou, a apertou.

Ele não poderia sair dali. Não tinha como. Manteve-se agarrado a mão dela por horas, parado no mesmo lugar. Vendo enfermeiro após enfermeiro entrar para checa-la, sem dirigir a palavra a nenhum, como eles também não dirigiam a palavra a ele. Eventualmente Sasuke teve que se retirar, teve que solta-la. Um médico o carregou para fora, praticamente. Sasuke estava em um estado quase catatônico.

O jorro de acusações, de palavras, de dor tinha deixado ele perplexo demais. Quando saiu da casa de Karin ele tinha certeza que estava pronto para lidar com as mentiras que ela tinha contado, mas não estava, longe disso, não poderia estar mais despreparado para ouvir tudo aquilo. Sua chegada a Suna foi uma sequência direta de golpes incessantes, um atrás do outro.

O encontro com Gaara no centro da Vila tinha sido o estopim, sua paciência chegando ao ápice e ali no centro da casa do Sabaku, ele lutou. Esquecendo quem ele era e a posição que ocupava, a única coisa que Sasuke enxergava era o autor daquela carta infame, o homem que tinha não só cercado sua esposa como a beijado, se declarado, corrido atrás e difamado. Naquele momento ele não ligava para qualquer tipo de retaliação que pudesse sofrer.

Partiu para o ataque sem pensar duas vezes. Uma sequência de taijutsu somada a sua velocidade que deu uma vantagem inicial a Sasuke, mas Gaara ainda tinha sua areia que até podia não ser tão rápida, mas o protegia dos golpes mais fortes, mais intensos. Sasuke teve que recuar quando o líder de Suna veio para cima, ativando o seu susanoo para se proteger de uma investida, mas pesada. No entanto não usou sua armadura por muito tempo. Voltou a ataca-lo e eles ficaram nessa por um tempo, foi só quando sacou sua kusanagi e de fato pensou em usar o chidori que Sasuke percebeu que estava disposto a matar, Gaara.

Ele mataria o líder de uma Vila ninja pelo motivo mais inimaginável possível. Entre todas as razões que poderia ter para se iniciar uma guerra, ciúmes nunca passado por sua cabeça. Mas lá estava ele, a ponto de desferir um ataque fatal, que mesmo que não o acertasse, seria claramente uma tentativa. Suna entenderia isso.   

— Eu vou queimar Suna por inteiro se não me disser onde está minha esposa. Eu vou transformar esse lugar em poeira — ele vociferou e se não o tivesse, talvez ainda estivessem lutando, talvez tivesse tomado a pior decisão que poderia. Gaara conhecia o poder do Amaterasu e reconheceu o estado de Sasuke e sua própria posição, não poderia pagar para ver por despeito.

Não foi uma rendição, grande parte do contingente ninja os rodeava, todos prontos para acabar com Sasuke caso ele fizesse algo. Não foi preciso, Gaara os despachou e levou Sasuke para onde ele queria.

— Não a forçarei a vê-lo, se ela não quiser...

— Ela é minha esposa e você não tem absolutamente nada a ver com isso.

O primeiro golpe veio quando o lugar que foi levado não era uma casa escondida, ou um aposento na casa do kazekage. O Hospital de Suna surgiu a frente deles e Sasuke tentou não se preocupar, não pensar. Sakura era proativa, deveria estar ajudando quem lhe deu abrigo, ela faria algo assim como retribuição, podia imagina-la nos corredores, matando-se por aquelas pessoas, mas não era isso. Ela não era médica ali, era uma paciente.

Tempestade de areia, perda de consciência, quase um minuto sem oxigênio, gravidez de risco. Ambos vivos por muito pouco, repouso absoluto, complicações, o parto ainda pode ser problemático. Tudo contado, tudo o acertando.

Ele veio para leva-la para casa e teria que deixa-la ali, pois nas condições que estava uma viagem para poderia custar a vida do bebê e se o quadro gerasse uma hemorragia a dela também. Mesmo Sakura sendo médica, não tinha como. Seu filho teria que nascer em Suna, se Sakura conseguisse manter a gravidez, se nada de novo acontecesse e forçasse um aborto.

Quando ela acordou ele queria ter dito que estava ali, queria ter estendido junto a mão e tocado no monitor que ele mesmo tinha passado a noite inteira observando, os batimentos dos dois marcados em um ritmo constante. Ele também sentia muito, sentia demais e agora sentia ainda mais. Cada palavra de Sakura foi um golpe novo, uma evidência nova, sal na ferida que ele abriu, que ele fez, que ele criou. Sua automutilação exposta a todos.

— A situação de sua esposa é bem séria e eventos como o de agora devem ser evitado a todo custo. Ela teve um pequeno sangramento, além das cólicas, todo o estresse dos últimos dias à podem leva-la à beira de um trabalho de parto prematuro. — Sasuke ergueu a cabeça, observando o homem grisalho a sua frente.

— Trabalho de parto? Mas ela está no que? Terceiro mês? Quarto mês?

— Por ai, mas os sintomas que ela teve indicam isso. Nós a estamos medicando para impedir qualquer progresso porque a criança não tem chances de vingar se nascer agora, chance nenhuma. Mas para que nossos esforços deem certo ela precisa de repouso e tranquilidade absoluta.

Mais um golpe, mais uma porrada que ele não estava preparado. O médico o deixou no corredor e ali ele ficou, incapaz de ir para outro lugar, incapaz de se afastar mais do que o necessário para ela não se estressar. Sentou-se em uma cadeira e ficou, a espera, Sakura acordou, era cuidada, tratada, ele sabia que ela estava bem, mas ainda assim não queria de forma algum vê-lo. Pedia para que fosse embora e os enfermeiros pararam de falar dele para ela.

Quando Naruto apareceu, Sasuke já estava em seu quarto dia acampado a porta do quarto de Sakura. O Uzumaki parou fitando o estado do amigo que não tinha saído dali, momento algum. Aproximou-se cauteloso, assim que o notou Sasuke se levantou e agarrou os braços do amigo quase um irmão.

— Você precisa entrar e falar com ela — a voz em um tom desesperado que Naruto nunca tinha ouvido antes —, eu preciso vê-la, ela precisa deixar que eu fale com ela.

— Sasuke.

— Eu não posso entrar, não posso forçar minha presença. — Sasuke balançou a cabeça, Naruto se soltou e não houve resistência — O bebê está em risco, então eu só vou entra quando eu souber que ela quer, que ela não vai se estressar...

— Sasuke.

— Mas eu falo com as enfermeiras e ela ainda não quer, ela se agita. Ela precisa me ouvir, Naruto. Sakura, precisa me deixar explicar. Eu disse a você que eu a deixava ir, eu deixo! Mas primeiro ela precisa me ouvir, precisa me dar essa chance.

Gaara estava errado. Em sua mensagem ele dizia: Sakura está internada, Sasuke está aqui. E mesmo ciente de que sua esposa está gravida, talvez você devesse vir para cá.

Não era talvez, Naruto tinha que ter ido mesmo, era uma urgência ele estar ali. Nunca tinha visto Sasuke naquele estado, a ponto de um colapso nervoso, estressado, quase vulnerável. Nem mesmo quando invadiu a casa dele aos berros, ou o socou, ou em qualquer outro momento que se sucedeu.

— Tudo bem, tudo bem. Eu vou entrar, eu vou falar com Sakura. Mas você vai sair daqui. — Sasuke o fitou como se Naruto tivesse acabado de apunha-lo pelas costas.

— Você não está me escutando?

— Eu estou, mas eu acho, meu amigo, que você não andou se olhando no espelho, nem tomando banho. — Tentou fazer uma piada, mas o humor não caiu bem para aquela plateia — Seu estado pode deixa-la agitada, caso ela tope falar com você. O melhor é ir a alguma pensão, tomar um banho, comer algo, talvez dormir um pouco enquanto eu converso com Sakura. — Sasuke olhou para a própria roupa, a mesma que usava desde que chegou a Vila, a mesma que usava quando partiu de Konoha. Naruto estava certo, ele estava um caco.

— Ok. Eu vou, mas não vou dormir. Vou voltar. — o Uzumaki aquiesceu, erguendo ambas as mãos em desistência, não queria brigar.

— Tudo bem, faça o que achar melhor, mas a dê um jeito na sua aparência, se recomponha. — Naruto viu o amigo se afastar, ainda de um jeito inimaginável para ele. E ele só conseguia pensar que se Sasuke estava assim... fitou a porta as suas costas, respirando fundo.

— Olá...

O quarto estava escuro e ela estava virada para o lado oposto ao da porta, ergueu a cabeça assim que reconheceu a voz, sorrindo logo em seguida, um sorriso fraco.

— Naruto, não acredito que te tiraram de casa. — ele sorriu, coçando a nunca e se aproximando do leito da amiga.

Você deveria ter me tirado de casa, quando tudo isso aconteceu. — apontou para ela na cama, balançando a cabeça com um ar de pesar — Ah, Sakura...

— É, eu sei. — Sakura deu uma risada breve, ficando de barriga para cima e se ajeitando na cama. — Como a Hina está?

— Bem, mas preocupada com você. Não poderia ser diferente — ela aquiesceu com a cabeça baixa, as mãos juntas em cima do colo.

— Eu não queria preocupar nenhum dos dois. As coisas não deveriam ter acontecido desse jeito. — Naruto fez um breve cafuné nela, fazendo com que ela erguesse a cabeça — Pediram para que viesse?

— Não, não chegaram a pedir. Gaara falou mais ou menos que você não estava bem, precisava ficar de cama e que talvez fosse bom eu aparecer. — ele deu de ombros, pegando em uma das mãos da amiga.

— Ele deveria dito apenas: Venha! — ela sorriu ao ouvir aquilo. Gaara não deveria ter dito nada na verdade.

— Por que? Eu sei que você ficaria muito preocupado comigo, mas tem a Hinata e ela está grávida também. Precisa de todo o seu apoio — Naruto concordou e essa foi a vez dele não encara-la.

— Eu vi o Sasuke — ela parou de sorrir, remexendo-se na cama e puxando a coberta para cima.

— Eu também vi.

— Viu?

Ela concordou com um aceno, Naruto a sondou, mas o rosto de Sakura era uma massa cansada. Não dava para dizer qual foi o efeito desse encontro nela.

— E ai?

— E ai, nada — ela deu de ombros, forçando outra risada — O que tenho para te dizer? Foi confuso, doloroso, eu não estava pronta. Eu chorei, não queria ter chorado.

— Ele achou as coisas do bebê, achou a carta de Gaara — Sakura ergueu a cabeça fitando Naruto —, bateu na minha porta cheio de acusações, válidas, todas elas. Eu o trai não é mesmo — ele ainda segurava a mão dela e Sakura a apertou, tentando de alguma forma remediar o inconveniente — Deduziu sozinho para onde você tinha vindo e nada o pararia. Sakura, acho que ele se importa — ela abanou a cabeça, decidida, resoluta.

— Você não percebe? Ele achou a carta. Ele teve tempo para formular todas as desculpas, todas as mentiras. Não é uma preocupação genuína, ao menos não comigo. — Naruto negou com a cabeça, tão convicto quanto ela.

 — Você não o viu lá fora, não viu o estado dele. Sasuke está sentindo de verdade tudo isso. — Sakura suspirou, desconfortável.

— Você chegou a dizer algo quando ele te procurou?

— Disse. Falei que você tinha ido embora porque ele tinha um caso com a Karin. — Sakura ficou surpresa ao ouvir aquilo, umedeceu os lábios.

— Ele não negou o caso, negou?

— Não, mas também não confirmou nada. — emendou depressa dando uma palmadinha na mão dela — Estava muito surpreso, muito abalado. Ele... quer que você o escute

— Não.

— Sakura.

— Não, Naruto. Olha para mim? — ela se agitou como Sasuke tinha alertado que ocorria todas as vezes que sua aproximação era citada — Eu estou vulnerável em uma cama, eu só quero que ele vá embora, que me deixe em paz. Porque eu me sinto sufocada com ele aqui. — Naruto segurava a mão de Sakura e a acariciava bem leve.

— Ele também está vulnerável, acredite em mim.

— Sasuke vulnerável? Ele sabe esconder suas dores.

— Não dessa vez. Talvez se você ouvi-lo — ela balançou a cabeça, mas Naruto se agitou —, me escuta, eu posso propor algo a ele. Dizer que você só aceita ouvi-lo se ele prometer que vai embora, caso você peça outra vez, que vai deixa-la tranquila e em paz como você quer — Sakura comprimiu os lábios em uma linha, ponderando, mas ainda assim temerosa — Sakura, pode parecer injusto pedir isso a você. Mas ele precisa mesmo entrar aqui e vê-la e se certificar por ele mesmo que você está bem. Você não viu o estado em que ele estava quando eu cheguei. Ele não saiu da frente da porta do seu quarto desde o dia que pôs os pés aqui. Acho que não dormiu e nem sequer comeu. O Sasuke aqui é uma tortura para os dois, então seja você a primeira por um fim nela.

Ela permitiu a entrada de Sasuke, com a condição de Naruto, que ele fosse embora depois. Ainda estava meio grogue, talvez fosse isso, talvez os medicamentos a tenham deixado mais branda, preferia pensar nisso do que qualquer outra razão a tenha feito sucumbir.

Sasuke realmente não dormiu, apenas tomou um banho, trocou de roupa e comeu alguma coisa. Se ver no espelho fez com que concordasse com Naruto. Estava péssimo, com olheiras obvias, mas não conseguia ficar naquele quarto. Voltar para o Hospital e ouvir a proposta não foi fácil, mas ele aceito. Era isso ou nada no momento.

Quando ele entrou no quarto, ela olhou de relance para porta, mexia na pulseira de internação e mantinha toda a sua atenção nela. Não o fitou mais do que aqueles breves segundos. Sasuke caminhou em direção a cama, incerto da distância que deveria manter, se aproximou do leito, mas não da cabeceira, a um passo da cama, na altura do quadril de Sakura.

— Naruto, me disse que você aceitou me ouvir — ela concordou com um aceno, ainda brincando com o punho —, mas eu tenho por mim que nada do que eu diga vai surtir qualquer efeito em você, que não está de fato disposta a ouvir minhas palavras. — ele ouviu um ligeiro som, talvez uma risada breve, mas não teve como diagnosticar.

— Eu tenho alguma razão para estar? — Sasuke suspirou, tirando os olhos de cima dela.

— Não, não tem. Quando eu cheguei você me fez diversas acusações — ele umedeceu os lábios, balançando a cabeça —, bem mais do que eu esperava ouvir. Eu lhe devo algumas justificativas. — Sakura soltou um longo suspiro largando a pulseira.

— Não, não deve. — ergueu a cabeça o encarando — Não me deve explicações e justificativas agora que a verdade veio à tona.

— Que verdade? Aquela carta infame? — o tom dele saiu mais irritado do que pretendia, respirou fundo antes de continuar — Ela é uma mentira, Sakura.

— Por que você nunca me traiu, não é mesmo? — o deboche o incomodou, mas ele ignorou.

— Não como está descrito.

— Sasuke, por favor. — Sakura coçou ambas as sobrancelhas, agitando-se e ele estendeu as mãos, sem toca-la.

— Eu não quero brigar, eu não quero irrita-la.

— Então vá embora. Você não consegue entender a que ponto chegamos para que eu esteja querendo que você vá... — ele ajeitou a postura, encarando o olhar dela.

— Eu nunca quis o seu mal. Nem agora, nem antes. Posso não ter me importado da forma devida durante muito tempo, mas eu não quis o seu mal, eu não quis que você sofresse. Porque eu... — ele parou, os olhos dela estavam cravados nele e os negros de Sasuke brilhavam como ela nunca tinha visto brilhar antes. Cintilantes como os dela já tinham estado.

— Eu não sinto, eu não vejo, não faz parte da nossa vida esse sentimento que você nem ao menos consegue falar. E é até bom que não consiga, pois seriam apenas palavras ao vento.

— Não, não seriam — Sasuke inclinou o corpo para frente as mãos estendidas para tocar os braços dela, mas ele não chegou a fazer. — Sakura, eu realmente, eu...

— Aquele dia no banheiro você disse, você disse a verdade e eu não quis ouvir. Eu nunca quis ouvir. — Sakura tocou o rosto o dele em uma caricia suave e ele fechou os olhos — Se é culpa eu te libero. Eu te perdoo, você pode ir. Eu não te odeio. Não precisava ter casado comigo por isso. — uma lágrima solitária escorreu e ele beijou o ponto quente e úmido no rosto dela — Agora, por favor, eu quero que você vá. Porque eu quero esquecer. — o sussurro dela era o pior que todo o resto.

— Mas eu não quero que você esqueça!

— Sasuke.

— Sakura.

— Eu estou cansada, eu quero dormir... se você ainda tem alguma consideração por mim, ou pela criança que eu carrego então não insista mais.

A porta daquele quarto não foi mais aberta para ele. Mesmo que ele dissesse a Naruto que não tinha dito o que precisava, que ainda tinha muito a explicar. Sakura não deixou que ele voltasse a vê-la. Naruto a acompanhou durante alguns exames e foi esse mesmo Naruto que insistiu incessantemente para que fossem embora.

— Não quero, não posso.

— Deve. Sua presença aqui é ruim para os três. Sakura precisa desse espaço, teme. Dê a ela. Volte daqui há um mês, espere ela querer conversar. Não tem como ela ir para outro lugar, você sabe onde ela está. — Sim, na casa de Gaara praticamente. Naruto não enxergava que Sakura estava na toca do lobo e não a nada que pudesse fazer para tira-la dali.

Mas ele concordou com o melhor amigo. Um dia inteiro trancado no quarto da hospedagem que alugaram foi o tempo que tomou para decidir o que fazer com relação ao caos que sua vida tinha se tornado. Partiu 10 dias depois de ter chegado a Suna, deixando Sakura para trás com uma carta repousada em seu criado-mudo no hospital, ao lado de um lírio branco, à espera de seu despertar.

Página: Fleur D'Hiver

 


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Notas finais do capítulo

Falei para não esperarem muito da luta, sou uma tragédia, acho que brigas passionais de socos e chutes eu até sou melhor, mas nessas horas de jutsus eu fico com medo de fazer merda. Mas no drama eu manjo, tenho certeza que esse capítulo foi um tiro.
E para quem estava esperando as verdades jogadas na cara, elas foram. Uma a uma, só tabefe, ficou nada para trás. Sakura só bateu no Sasuke. Tá sofrendo o cão arrependido.
Partiu e deixou uma carta. TCHAMTCHAMTCHAM!
Nós estamos muito perto do final, essa carta foi uma das primeiras coisas que escrevi em BF. Algumas coisas serão alteradas, mas em suma ela está praticamente pronta. O que nos leva um possivel, capítulo extra. Mas veja bem não é certo (foquem nessa frase) eu tenho o extra DL para fazer e as outras postagens, como a carta é um cap mais curto, acho injusto um mês por mil palavras então eu vou tentar. MAS NÃO É UMA PROMESSA. Nada de criar muita expectativa, gente.
Enfim, é isso. Eu fiquei janeiro sem responder comentário porque estava sem note, mas essa semana mesmo já volto a responde-los. Não deixem de me dizer o que acharam e até mais;*