Durante o jantar tudo correu bem, por mais engraçado que pareça, Percy e Annabeth já haviam se acertado. Estavam caminhando pelo acampamento, logo após a refeição, calmamente. Era incrível a forma como um neutralizava o outro, como um conseguia causar tamanho impacto. Pra falar a verdade, quando não estavam brigando, era possível perceber o quanto os dois haviam amadurecido. Depois da discussão mais cedo, resolveram parar com isso. Estava tudo certo, eram amigos, pra valer. O problema é que às vezes, acabavam perto demais e era meio difícil esconder o que se passava na cabeça de ambos, quando isso ocorria.

– Céus, Percy! Então você jogou o celular da sua mãe pela janela? - Annabeth falava agitada, os olhos lacrimejando de tanto rir.

– É, eu era pequeno tá legal? Devia ter uns 5 anos, mas eu levei uns tapinhas. - Ele também ria.

– Uma vez eu coloquei fogo nos projetos do meu pai - Ela estava recuperando o ar - Fui brincar com um isqueiro e sem querer...

Dessa vez ele quem começou a rir pra valer.

– Deuses, Annabeth! O que você tinha na cabeça?

– Eu era criança. - Ela disse num falso tom de quem ficava ofendida.

Continuaram andando, a lua estava tão bonita aquela noite, eles estavam andando em direção os chalés, deram a volta por lá, estavam passando no chalé na frente de Percy quando a graça acabou e Annabeth viu que estava ficando tarde.

– Melhor eu ir! - Ela disse se apressando e virando as costas.

– Espera! - Ele pediu, segurando o braço dela, ela virou-se desconfortável com o toque, ele a soltou.

– Só... fica mais um pouco, é raro a gente rir assim!

Ela corou.

– É... - Concordou tímida - Mas preciso ir, realmente!

– Cuide-se sabidinha. - Ele acenou com a cabeça.

– Cuide-se cabeça de alga!

Ela se afastou e ele sem querer reparou no quanto ela havia mudado, e não estamos falando apenas de rosto. "Ou você me cuida" pensou ele, fechando a boca que havia ficado aberta. Se repreendeu por pensar assim, sentou-se na porta do chalé, mal importava se era tarde. Ficou ali, observando tudo o que sua vista podia abranger, mas de repente perdeu a concentração, na sua cabeça era possível encontrar apenas pensamentos de uma loira de olhos cinzas, lutando com uns 5 campistas de uma vez, na arena. Ela tinha os olhos selvagens, ele riu, ela ficava tão linda quando estava decidida. E isso, era na maioria das vezes, na verdade, Percy desistira de negar, apenas aceitou, a amava e era bom fazê-la sorrir.

O tempo parecia voar, Annabeth e Percy estavam muito próximos, Grover saíra do acampamento para espalhar mensagens sobre a natureza e sobre a morte de Pã, ainda havia muito a se fazer. A amizade do filho de Poseidon com a filha de Atena estava maravilhosamente bem, os dois sofriam menos assim. Agiam feito idiotas, rindo de qualquer piada. Um dia, estavam deitados na grama, Annabeth se contorcia pedindo para Percy parar de fazer cócegas nela.

– Só se você admitir que sou mais inteligente que você! - Dizia ele, aumentando as cócegas.

– Então, infelizmente, Annabeth Chase será encontrada morta de tanto rir. - Ela disse, apertando os olhos, quase sem fôlego.

Ele suspirou, fingindo estar indignado. Parou as cócegas, se levantou e a desafiou:

– Pronta pra comer poeira?

Ela entendeu de imediato, se levantou e se posicionou ao lado dele.

– Já! - Gritaram em uníssono.

Percy saiu na frente, mas Annabeth o alcançou, Percy passou na frente novamente, e ela o alcançou novamente, ele estava na frente agora, então ela teve uma ideia, aumentou a velocidade e se jogou nas costas dele, ele caiu no chão, ela em cima dele.

– Isso não vale, Annie!

– Isso não vale Annie! - Imitou ela, fazendo biquinho.

"Droga, biquinho não" disse sua consciência. Ele a empurrou para o lado, ficando por cima dela. Para sua felicidade (ou não) eles estavam próximos demais, Percy sussurrou no ouvido dela:

– Quem vence agora?

Ela prendeu a respiração, estremeceu imediatamente ao sentir a voz dele tão perto de sua pele. Ela estava nervosa, mordeu o lábio inferior. "Ela tem que parar com isso, ela tem" Percy implorava por pensamento. Nesse momento a encarou, uma onda de sentimentos o invadiu, Annabeth parecia paralisada, os olhos verdes daquele garoto tinham um poder sobre ela, que nem ela mesma sabia. Aquele olhar por mais inesperado que fosse, acabava de mudar tudo. Foi aí que perceberam o quanto precisavam um do outro. Percy aproximou seu rosto do rosto dela, não se importava com estivesse vendo, acariciou o rosto dela com o polegar, os narizes se roçaram.

– Percy, achei você!

Eles se afastaram imediatamente, de tão assustado que ficou Percy caiu de lado, "Maldito Grover!" Grover vinha saltitando, todo animado, parecera nem perceber o que iria acontecer, bem, melhor ainda!

– Oi cara! - Ele disse desconcertado.

–Oi! - Grover dizia com uma expressão animada no rosto - Pera aí... - Ele disse olhando como quem soma 2 com 2 - O que estão fazendo deitados na grama, uma hora dessa? Huuuum...

Annabeth, mesmo deitada, esticou a perna e meteu um chute no traseiro de Grover.

– Au! Isso machuca! - Ele disse com uma expressão indignada.

– É pra machucar! - Ela disse com uma expressão divertida.

– Anda gente, melhor arrumarmos as malas, as férias de julho estão acabando, amanhã mesmo iremos embora!

Ao falar isso, Percy sentiu um aperto, iria ficar longe dela e isso, ele não aceitaria.

– Você quer dizer, vocês vão arrumar, porque eu não vou! - Grover advertiu!

– Desculpe-me, esqueci! - Avisou Percy.

Quando era manhã, o acampamento estava agitado, campistas correndo aqui e ali, com mochilas nas costas, ou malas se arrastando. Era hora de voltar para casa, se bem que para Percy, seu verdadeiro lar era no acampamento. Estavam todos na colina, partindo, Percy e Annabeth ficaram para trás, quando todos haviam ido. Ele a encarou, era um dia bonito de sol, e ela estava absolutamente maravilhosa.

– Vejo você, cabeça de alga? - Ela perguntou num tom triste.

– Claro que sim! - Ele afirmou, sorrindo.

– Só ano que vem, depois que as aulas acabarem não virei, tenho coisas pra fazer, enfim, só te vejo ano que vem!

Ele engoliu em seco, ela parecia aflita e automaticamente mordeu os lábios.

– Você precisa parar com isso!

– Isso o que? - Ela questionou, com um ar totalmente confuso.

"Isso, seu idiota, entrega tudo"

– Ah... - Ele ia gaguejar - De me chamar de cabeça de alga! É, isso aí!

Ela o observou, estava óbvio que não havia acreditado em uma palavra sequer, mas preferiu não encrencar.

– Nunca na minha vida! - Ela disse o desafiando, mas logo em seguida disse em um tom mais sério - Preciso ir!

Ele olhou para baixo, como criança emburrada, mas logo despertou quando sentiu um corpo bater contra o seu, sentiu um cheiro de limão, provavelmente dos cabelos dela, quase deixou um suspiro escapar, passou os braços em volta da cintura dela, a abraçando forte.

– Vou sentir saudade, cabeça de alga! - Ela fungou, com a cabeça enterrada no peito dele.

– Eu também sabidinha! - Ele apreciava o cheiro que vinha do cabelo dela.

– Se for salvar o mundo, pode me chamar? - Ela falou, ainda abraçada.

– Ah claro, não poderia ficar sem minha estrategista favorita!

Eles se afastaram, ela olhou mais uma vez para aqueles olhos verdes, que tanto amava. Ele encarou aqueles olhos misteriosos, cinzas e profundamente convidativos. Um ano, era isso, não a veria por um ano, enquanto isso, tentaria sobreviver na nova escola, isso realmente seria bom! Acenou para ela, que respondeu com um sorriso, e desapareceu, entrando no carro de seu pai, que a esperava. Esperou, um tempo depois sua mãe chegou, ele entrou no automóvel decidido, tentaria se esforçar para não ser expulso, logo começaria uma faculdade, embora ele nem soubesse do que. Tentaria não morrer de saudades, o que era quase impossível. Era isso, era inevitável, ela era tudo o que ele tinha, e se dependesse do mesmo, sempre seria!