Sally exclamou e abriu um sorriso:

– Sabia que você voltaria!

– É mãe, mas só falei pra poder te adiantar, vou ficar mais uma semana aqui, vou na terça que vem, ok?

O sorriso do rosto da mulher desapareceu.

– Tudo bem então!

O dia foi normal, para falar a verdade, Percy dormiu a tarde toda, adorava ser mimado pela mãe. Paul chegou de noite, os três jantaram e foram se deitar. Como havia descansado durante a tarde, Percy não pegou logo no sono. Sentou-se em frente à janela, que era bem baixa e ficou observando lá embaixo o movimento da cidade. Ele estava se sentindo completamente idiota, covarde e burro! Não sabia como voltaria ao acampamento. "Oi Quíron, eu saí do nada, demorei duas semanas, mas voltei! Ah,que patético." ele sabia que precisaria voltar, tanto por Annabeth quanto por Grover. Sentiu o sono chegar, encostou a janela e foi dormir.

                                                   Ψ

– Annabeth? - Era Quíron acordando a garota - Annabeth?

Ela abriu os olhos devagar, o Sol estava forte, esfregou as mãos no rosto, e falou com a voz sonolenta:

– Oi Quíron, oi!

Ele sorriu satisfeito.

– Acha que está melhor?

– Claro, posso quebrar as costelas do Percy quando ele chegar!

– Não faça isso, criança!

– Fala sério, o que ele pensa?

– Acalme-se, se ficar acordada nas próximas horas, receberá alta hoje.

Ela forçou um sorriso.

– Ótimo, obrigada!

Realmente, ela ficou acordada durante o tempo seguinte, recebeu alta e voltou ao chalé. Estava comendo um biscoito recheado que havia escondido dentro do pacote em sua gaveta, quando Louis chegou:

– Eu...queria me desculpar! - Ele falou olhando para o chão - Você me desculparia?

Ela estava corada.

– Ora Louis, está tudo bem, só não faça isso da próxima!

Ele sorriu largamente.

– Certamente não! Agora, preciso ir, eu e Luana vamos para a casa, chega de acampamento por esse ano, nos vemos quem sabe, ano que vem!

– Cuide-se! - Ela disse num tom amigável.

O dia transcorreu normalmente, na hora do jantar todos fizeram suas ofertas e ela olhou para o lado, procurando ver o que Percy ofertaria hoje, mas se lembrou de que ele não estava lá.

– Estúpido! - Ela ergueu a maior parte da sua carne, jogou no fogo - Atena! - Sussurrou - Por favor, traga aquele idiota logo, pra eu poder jogá-lo morro abaixo!

O fogo brilhou em tom de advertência, ela riu com muita ironia e voltou para a mesa. Os dias correram normalmente, já era domingo quando Annabeth estava sentada na varanda da casa grande, falando com Quíron.

– Preocupada com o Percy, criança?

– Ô! - Ela respondeu com maldade, enquanto mascava com muita força um chiclete.

– Não brigue com ele!

Ela riu.

– Eu? Brigar? Magina, apenas vou fazer ele engolir peixes! Onde já se viu, sair sem avisar.

Quíron suspirou.

– Ahhh... o amor!

Ela ergueu uma sobrancelha pra ele.

– Você também não, hem!

Ela se levantou e foi para o lugar onde praticavam escaladas, sentou-se nas arquibancadas, batendo os pés nervosamente no chão.

– Ei, Annie! Tudo bem?

– Claro, Grover, por que não?

Ele baixou a voz.

– Você sabe... o Percy!

– Aquele idiota está bem!

Grover a repreendeu:

– Pare com isso, mal parece que se sentia culpada!

Ela fez cara de inocente.

– Culpada? Eu? Não, imagina querido!

Ele gargalhou.

– Que foi? - Perguntou ela.

– Ironia não faz seu tipo.

Dessa vez ele se segurou para não rir e acabar apanhando. Terça-feira chegou logo, Sally saiu cedo de casa com Percy, eram mais ou menos 8:00 quando o carro parou próximo ao acampamento, Sally encarou o filho.

– Fique bem, sim?

Percy sorriu timidamente.

– Vou ficar!

Ela o abraçou.

– Te amo, filho!

– Também te amo.

Ele desceu do carro, mandou um beijo pra ela e entrou nas extensões do lugar. Quase ninguém estava acordado, ele rumou para a a casa grande, onde Quíron estava sentado, na forma de humano, jogando xadrez sozinho. Ele viu Percy e abriu um sorriso.

– Meu garoto! Que bom que voltou, sente-se.

– É, não ficou zangado né?

– Eu não... mas Annabeth!

– Qual é? Ela tava beijando o outro!

– Deixem as D.R's pra lá.

Percy o encarou, curioso.

– Olha o Quíron, pegando as gírias...

Quíron fez uma careta engraçada.

– Eu conheço muitas coisas dos mortais, aliás, aprendi xadrez com eles! Quer jogar?

Percy fez que não.

– Imaginei, bom... acho melhor ir para o chalé, mas vejo que já está com a camiseta do acampamento, sinta-se em casa, talvez porque aqui seja sua casa!

Percy acenou e caminhou lentamente pelo local, sentia saudades dali. Estava ansioso para vê-la, mas ao mesmo tempo, pronto para brigar! Chegou na arena, treinou com um grande boneco de palha, o tempo parecia se arrastar, tão devagar que lhe causava ânsia. Ele foi para o seu chalé, dormiu, ou melhor, descansou um pouco. Quando acordou, ouvia o barulho dos movimentos ao redor do acampamento, se levantou com cara de preguiçoso e calculou que devia estar na hora do café. Dirigiu-se ao pavilhão de refeições, quando chegou lá sentiu todos os olhares se virando para ele, fingiu não se incomodar. Sentou-se na mesa de Poseidon e Grover veio correndo sentar-se junto dele.

– Cara, como você some assim? Graças à Zeus, estive preocupado, mas Quíron disse que você deveria ter ido pensar e me acalmei.

– Tá tudo ok Grover! Cadê...

– Annabeth? - Grover completou.

– É!

– Deve estar chegando, acho que tem mania de acordar e conferir se não perdeu nenhum livro! Agora, preciso ir, Juníper me espera!

– Vai lá!

Percy estava se sentindo bem, os olhares se desviaram dele, mesmo que as pessoas fizessem comentários, sussurrando, ele não se incomodou.

Annabeth foi a última a sair do chalé 6, mal olhou para a mesa de Poseidon quando chegou, viu que os irmãos cochichavam e perguntou curiosa:

– O que foi?

– Ele voltou... - Dizia uma garota baixa, que devia ter uns 13 anos.

– Quem?

Mas no momento em que iam responder para ela, Percy percebeu sua presença, caminhou até a mesa de Atena, estava com um ar desafiador, por mais que a amasse, sentia uma adrenalina imensa quando a via.

– Eu, voltei!

Ela ouviu aquela voz e estremeceu, recuperando-se disse em um tom amargo.

– Já salvou o mundo, Percy Jackson?

Ela se levantou de modo a encará-lo, no fundo sentia-se aliviada, quase desabou ao ver os olhos verdes dele, mas por fora, queria matá-lo. Até porque, descobrira recentemente, pelas ninfas, que ele andou conversando com Luana, na beira do lago, quando já estava de noite.

– Salvei sim, curtiu bastante a minha ausência?

Seu coração saltava no peito, ela parecia estar dez vezes mais bonita, e só de vê-la, quase teve um ataque, sentira saudades, mas ela estava se agarrando com outro!

– Tudo que é bom dura pouco, agora se me dá licença...

Ela saiu da mesa e andou duro em direção à arena, Percy a seguiu. Quando ela entrou no lugar, ele também entrou.

– Não tente se aproximar! - Ela advertiu-o, sem ao menos se virar para trás.

– Fugindo? - Desafiou ele.

– Claro, sou eu a garota que foge, enquanto o amigo está numa cama de enfermaria.

– Pois saiba, que se não fosse eu - Ele apontou para si mesmo - Você poderia ter morrido!

– Vai se gabar? - Os olhos cinzas dela, estavam quase pegando fogo.

– Não preciso disso, aliás você é quem devia se gabar, pois estava se enroscando por aí com o filho de Ares!

Ela riu sarcasticamente.

– Ha-ha-ha! Enroscando? Eu não estava na beira do lago, de noite, com a irmã dele!

– E isso te importa? - Ele disparou, pensando "Malditas Ninfas".

– Digo o mesmo!

– Ótimo, então pare de agir como se fosse minha... namorada!

– Credo, Zeus me livre de ser!

– Acabou?

– Não, tem mais: quem você pensa que é pra sair por aí, sem avisar, preocupando todo mundo! - Ela começou a dar sermão, mesmo que estivesse com saudades, sempre jogaria na cara dele que ele era uma criança.

– Agora deu de se importar? - Disse ele, em tom de deboche.

– Dei, por que? Infelizmente, não tenho o dom de ter bons amigos.

Ele jogou as mãos no alto, em sinal de indignação.

– Percy Jackson, a má companhia!

Ela se aproximou.

– Eu te odeio!

Ele a encarou.

– Já falou!

Dessa vez, Percy quem se aproximou.

– Vou repetir! Seu idiota irresponsável!

– Sua sabidinha, está sempre certa.

Ela estava com tanto ódio, que explodiria. Deu mais um passo, ficando bem na frente dele.

– Diferente de você, eu não abandono os amigos!

Ele se aproximou, e estava centímetros perto dela.

– Ótimo, vou providenciar de me afastar... ah, desculpa, mas não posso, não devo deixar os amigos.

– Ainda bem que você sabe! - Ela cuspiu aquelas palavras.

– Eu sei mesmo, eu deveria estar com o Grover, ele não tenta parecer minha mãe.

– Preocupado com a forma que eu ajo? Ótimo, me mata! - Ela disse, sabendo que conseguiria vencer a discussão com aquilo.

Eles se encaravam, estavam muito perto um do outro, cada vez iam ficando mais, a tensão que estava ali a segundos antes sumira, Percy estava mais alto que ele nesse verão, olhou para os lábios dela, era como se o mundo pouco importasse, ela acordou do transe e se afastou andando furiosa pra fora.

– Passar bem, cabeça de alga!

Ela o deixou ali sozinho, engolindo em seco, quase o beijara. No fim da tarde, Grover estava sentado perto de uma árvore, Annabeth ao seu lado (esquerdo) lendo furiosamente um livro, Percy ao lado direito, jogando pedrinhas na água. Os dois estavam com cara de criança emburrada, Grover suspirou.

– Vão ficar assim por quanto tempo?

– Pergunta pra dona da verdade! - Ele disparou, muito mal-humorado.

– Pergunta pro herói!

Grover se levantou.

– Eu aguentei a tarde toda, vocês com essas graças, ou se desculpem agora ou quem vai sair sou eu!

Percy pensou, não iria perder Grover.

– Desculpa! - Ele disse em encará-la.

Ela odiava pedir desculpas, mas...

– Desculpas!

– Muito bem, se abracem.

– Não! - Disse ela ofendida - Não somos crianças!

Grover riu.

– Tava brincando, mas bem, se os jovens não se importam, preciso falar com Juníper.

Ele saiu depressa, deixando os dois ali, sentados na árvore. Percy continou jogando pedrinhas no lago. Não valia a pena ficar brigado, ele queria abraçá-la ali mesmo, mas não se daria por vencido.

– Esse barulho de pedra batendo na água, tá atrapalhando!

– Muda de lugar!

– Não! Mudando de assunto... percebeu o quanto foi idiota?

– Sim - Ele disse sem vontade

– Ótimo, agora poderia me ajudar?

Ele olhou espantado.

– Você é bipolar!

Ela bufou.

– Você também!

– Quer ajuda com o que?

– Eu tô fazendo uma pesquisa, sobre arquitetura aquática, queria pedir pra você levar uma madeira lá e permanecer por 15 minutos, quando voltar, quero ver o quanto ela estará encharcada.

– Tudo bem, mas preciso de sua ajuda.

Ela revirou os olhos.

– O que é?

– Bem, como sabe, pretendo entrar na faculdade, depois do ano que vem, pois esse é o meu segundo ano do ensino médio, graças aos deuses não fui expulso, antes de sairmos de férias a professora pediu um trabalho de... - ele coçou a cabeça - de... como se diz? Arquitetura através dos séculos, e não sou bom nisso...

– Quer que eu faça pra você?

– Tipo isso...

– Nunca! O máximo será uma introdução, fim.

– Melhor do que nada!

Eles estavam em tom de implicância ainda, saíram andando em direção aos chalés, de lá da casa grande Quíron falava sozinho com seu jogo de xadrez, moveu um peão de modo que capturou o peão do time adversário e suspirou:

–Crianças... Afrodite que os ajude!