Hinata não reagiu, apenas ficou encarando os olhos azuis de Naruto, como se estivessem prestes a desmentir as palavras ditas com alguma expressão de zombaria, mas nada aconteceu. Tudo o que viu era ternura, timidez e ansiedade.

Namorada? Ela nem sabia quantas vezes tinha apenas sonhado com essa palavra, sem saber realmente o que elas significavam. Não se via assim de jeito nenhum, como a namorada de alguém. Realmente namorando alguém que gostava, ainda mais alguém como Naruto que era tão diferente dela, tão melhor em vários aspectos.

Ela suspirou, ainda incrédula e com a noção de que teria que responder logo, mas não sabendo exatamente o que. Porque é claro que ela queria namorá-lo, queria ficar com ele o tempo todo por quanto tempo lhe fosse possível, mas não sabia como. Não sabia ser a namorada de alguém, não sabia o que fazer, nem como agir. E se ela não fosse o que Naruto queria que ela fosse? E se ele fosse infeliz com ela?

Ele, que era tão alegre e positivo o tempo todo. Determinado, engraçado, prático. O completo e total oposto dela. Como alguém como ela poderia possivelmente fazê-lo feliz?

O olhar de Naruto mudou de ansiedade para aflição em alguns segundos e ela negou com a cabeça, abominando a ideia de que ele pensasse que ela estava o rejeitando, porque nunca faria isso. Então, percebeu que estava negando e começou a falar rapidamente, tropeçando nas letras:

– N-não é isso... Q-quer dizer... Eu... Sim!

Naruto coçou a cabeça sem entender, e pareceu absolutamente adorável enquanto a encarava com sua característica expressão de confusão.

– Eu também quero. – Hinata conseguiu formular por fim, enquanto corava violentamente, sem encará-lo.

Sem saber porque, ela esperou que ele sorrisse abertamente e corresse em euforia, como fez quando estavam na praça, mas sua reação foi infinitamente melhor. Naruto apenas deu um sorriso contido, fora de seu caráter, o que acabava de uma forma peculiar significando muito mais. Então, ele se aproximou lentamente, de uma forma calma e controlada que ela nunca tinha visto antes e que a deixou arrepiada.

Quando ele já estava perto o suficiente para que ela sentisse o calor de sua presença, Hinata fechou os olhos involuntariamente, sabendo o que viria a seguir e deixou-se tomar pela sensação única que já tinha sentido anteriormente quando se beijaram pela primeira vez.

Erroneamente esperou pelo beijo terno que trocaram naquela outra tarde, mas o que recebeu era melhor, muito melhor. O beijo de Naruto parecia ter evoluído desde a última vez, como se desse vez ele não estivesse contido, nem tendo dúvidas ou sendo apreensivo, mas sim insaciável e absolutamente feliz.

E ela não conseguiu fazer mais nada além de acompanhá-lo. De uma forma um pouco desajeitada e inocente, mas igualmente prazerosa para ambos os lados. Quando sentiu que não aguentaria manter seus braços presos no seu corpo, percebeu que era a hora de se separarem. Tinha se esquecido por valiosos segundos que estavam na recepção de um hospital e se condenou por isso, tornando sua face completamente corada novamente.

Com dificuldades e a contragosto, ela o afastou, respirando fundo. Hesitou em fitar os olhos de Naruto, porque sabia que os seus a trairia e mostraria que a última coisa que ela queria era ter se afastado. Conseguia sentir seu rosto queimando e não sabia como conseguiria sua voz de volta, então apenas deu alguns passos para trás e murmurou, sem emoção, como se não quisesse que fosse verdade:

– Estamos em um hospital.

Não quis encarar a expressão que Naruto fez, mas ouviu sua risada maravilhosamente contagiante e sorriu também.

– Desculpa, eu não aguentei. – ele disse em um tom divertido e ela corou ainda mais. Era oficial, ele era realmente o seu namorado. Deixou aquela palavra pairar na sua mente por alguns segundos até que se acostumasse com o fato e finalmente fitou-o.

Os olhos azuis de Naruto estavam acolhedores e divertidos, como sempre foram. Ela sorriu e ele retribuiu, oferecendo-lhe sua mão, a qual ela segurou com anseio e felicidade, completamente satisfeita.

Ficaram um tempo conversando sobre coisas banais, quando Sakura voltou com alguns sanduíches e sucos de caixinha. Ela preferiu fingir que não tinha visto os dois de mão dadas para não causar maiores constrangimentos, mas conseguia ver no olhar de Hinata que algo tinha acontecido e mal podia esperar para ficarem sozinhas e ouvir tudo. Naruto fez um careta e ela revirou os olhos imediatamente, ralhando:

– Escuta, isso é o melhor que pude achar nesse hospital, a não ser que queira tentar roubar a comida de Sasuke, o que eu não seria completamente contra... Apesar de achar que já causamos problemas o suficiente aqui.

Mas a expressão de Naruto já tinha mudado antes dela completar a frase.

– Vamos. – ele disse imediatamente. – Sasuke não vai se importar, ele é super fresco com comida.

Sakura colocou a mão na testa, condenando-se por ter tido a ideia e suspirou. Em um instante, tudo estava igual ao que sempre foi, quando faziam besteiras juntos, sem se preocupar com as consequências, quando eram apenas os três contra o mundo. Ela ainda não tinha se acostumado com Naruto estar de volta, mas certamente sentia-se como se tivesse voltado para casa, para a sua zona de conforto, da qual nunca quis ter saído.

Os dias que se passaram a seguir foram calmos e perfeitos para os quatro absorverem tudo o que aconteceu antes de terem que voltar a rotina da escola. Quando Naruto finalmente pôde voltar para as aulas, os três já esperavam ansiosos na porta da sua casa, sabendo que ele precisaria de todo o apoio possível.

Mas ele já estava pronto, nem tinha ficado nervoso ou pensando em toda a atenção que receberia, na verdade, estava até esperando por isso. Queria contar a sua história de sobrevivência para todos, com os maiores detalhes possíveis, ser herói, corajoso e mostrar o seu valor.

Ele estava extremamente excitado quando apareceu na porta e viu os três. Sasuke perfeitamente indiferente, como sempre, Sakura com uma expressão de apreensão e gentileza no rosto e Hinata apenas o encarava com admiração. Naruto sorriu e eles foram juntos para a escola.

Agora, Hinata já não se sentia tão intrusa quanto antes, ela estava se sentindo maravilhosamente bem, enquanto Naruto segurava sua mão e andavam juntos de forma que ela nunca imaginaria que seria tão bom. O calor que exalava dele quando era fantasma nem se comparava ao de agora. Ele parecia uma estrela prestes a explodir, e ela amava isso, porque era completamente o oposto dela.

Quando chegaram na escola, foram novamente bombardeados de perguntas, teorias e suposições, muitas delas envolvendo Hinata como uma feiticeira e Sasuke como chefe da máfia. Nenhum deles estava preparado para desmentir todos os boatos, a não ser Naruto, que fazia questão de corrigir todas as suposições erradas sobre os seus amigos.

No primeiro intervalo, cada um foi conversar com os seus outros amigos, afim de esclarecer as coisas. Hinata devia isso a Shino e Kiba, que a trataram tão bem durante os últimos dias, mesmo com o comportamento estranho dela e Sakura definitivamente teria problemas com Ino.

– Você pode explicar como exatamente Naruto acabou de voltar a vida e vocês já estão namorando? – Kiba perguntava incansavelmente. – E o que isso tem a ver com os Uchihas? É verdade que Sakura tinha um caso com Itachi?

Hinata acharia graça se realmente soubesse uma resposta plausível para cada uma daquelas perguntas. A verdade era que nunca conseguiria explicar como se metera naquela história do nada, afinal, ela nunca fora amiga de Sakura ou Sasuke.

– Sakura... Hm... – tentou, odiando mentir. – Me pediu ajuda com algumas coisas... Eu acabei me envolvendo e... É...

Kiba revirou os olhos.

– Tudo bem, tudo bem. Não precisa explicar. – ele revirou os olhos. – Mas eu não acredito que você gosta daquela babão, ele é tão... Tão...

– Vocês são bem parecidos, na verdade, Kiba. – Hinata disse com um sorriso, sabendo que ele não iria entender errado, já que o amor deles era completamente fraternal.

– Que?! Não fala isso! Eu não pareço com aquele...

– Ela tem razão. – Shino murmurou e Kiba parecia prestes a explodir.

Hinata riu, tinha sentido falta dos seus amigos apesar de tudo, eles sempre estiveram lá por ela, mesmo antes de toda a loucura na qual tinha se envolvido. Devia ter os tratado com mais tolerância durante os dias em que passou ausente ou com Sakura e Sasuke, mas agora era tarde demais. O máximo que podia fazer era agradecê-los e não se afastar novamente.

Depois do que foi um dia extremamente cansativo, os quatro se encontraram na entrada.

– Isso foi exaustivo, vamos cair o fora daqui. – Sasuke foi o primeiro a se pronunciar e todos concordaram.

Enquanto andavam de volta para casa, o silêncio pairou e Hinata começou a notar as folhas secas que caiam das árvores e o barulho peculiar que faziam ao bater no chão. Pensou em tudo o que acontecera nos últimos meses e como a tinham afetado de forma que nunca poderia ser capaz de ser afetada.

Ela encarou Naruto de lado e viu seus traços tão definidos, seus olhos azuis energéticos e seus cabelos loiros bagunçados. Apesar de sua incontestável beleza, o que a mais atraia nele sempre fora sua perseverança e a sua determinação de nunca desistir em tentar achar o que o mantinha preso na terra, não importando quantas vezes tentaram. O seu otimismo que o tornava feliz e carismático o tempo todo, não importando as milhares de coisas ruins que acontecia em sua vida.

Hinata agradeceu aos céus pela sorte que teve ao se quer conhecê-lo e agora, por ter seu amor também. Porque não havia nada mais que poderia desejar além do que já tinha: alguém que a inspirasse a ser o melhor que ela poderia ser o tempo todo. Porque fora por ele que ela enfrentou o seu pai e Neji, e é claro que por ela mesma também, mas nada teria acontecido se não fosse Naruto.

Ficou pensando em quão patético ele soava quando a agradecia todo dia por tê-lo ajudado, quando pra ela o mais óbvio era o contrário. Como ele não percebia que fora ele quem a ajudara desde o começo? Desde que ela caiu da bicicleta e pensou estar louca, quando ele mudou a sua percepção de mundo ao dizer que estava morto ou quando ele mostrou que a vida era mais que fazer o que os seus pais mandavam e estudar o tempo todo.

No fim, a vida era confiar, se aventurar, ter amigos com os quais pode-se contar. Se apaixonar, mentir de vez em quanto, se meter em encrencas maiores do que se espera. A vida é se preocupar, andar sem rumo, às vezes até falar o que não deve e se perdoar antes de pedir perdão...

– Ei, você está me ouvindo? – Naruto perguntou de repente, fazendo-a acordar de seus devaneios.

Ela corou.

– Desculpa, estava sonhando acordada. – se explicou, tímida e ele sorriu.

– No que estava pensando? – ela o encarou e tentou pensar em um jeito de dizer exatamente o que pensava, mas não conseguiu, qualquer coisa que dissesse parecia pouco perto da realidade e do que realmente sentia.

– Na vida. – Hinata respondeu inutilmente, só para não deixá-lo sem resposta.

Naruto deu uma gargalhada e ela o encarou sem entender o que era tão engraçado.

– É que a gente só pensava na morte quando eu estava morto e agora ficamos pensando na vida... É engraçado. – ele explicou e ela não mudou sua expressão de dúvida. – Quando eu era um fantasma, eu só conseguia pensar em tudo o que eu não tinha feito em vida e porque eu estava preso naquela forma. Me arrependi de varias coisas que eu deixei de fazer e dizer. Eu achava horrível e a pior coisa que tinha me acontecido.

Hinata acenou, o encorajando a continuar, não era sempre que ele resolvia ser sério e pensativo.

– E agora que eu voltei a vida e tenho tudo o que eu preciso, eu não consigo parar de pensar em como ser um fantasma não era tão ruim assim... – Naruto concluiu, mas Hinata ainda estava confusa.

Ele desviou o olhar e murmurou baixinho:

– Porque eu tinha você, Hina.

Hinata corou imediatamente e continuou o encarando, mesmo sem ele retribuir seu olhar. A única coisa que ela conseguiu responder, que era a verdade mais absoluta e irrefutável que conseguia pensar foi:

– Você ainda me tem, Naruto. Hoje e sempre.

Em um silêncio que dizia tudo o que precisavam, ele apertou a mão dela com um pouco mais de força e eles continuaram andando. Dessa vez o destino deles era o futuro.