Hinata estava lendo na biblioteca da escola quando Naruto apareceu do lado dela, fazendo-a pular da cadeira e receber olhares confusos dos colegas que compartilhavam do mesmo ambiente.

– Já faz duas semanas que Sasuke não vem pra escola. – ele disse, demonstrando frustação em seu tom e face. A morena quis dizer que talvez ele estivesse finalmente em seu processo de luto, que foi adiado por toda a confusão que passaram, mas não falou nada.

– Precisamos falar com a Sakura! Ela deve saber o que está acontecendo. – Naruto continuou, ao ver que não recebeu nenhuma reação da outra.

“Talvez devêssemos dar um tempo para eles.”, ela escreveu por fim, recebendo uma expressão de choque.

– Já se passaram duas semanas!

Hinata pensou que duas semanas não era nem de longe o tempo suficiente para uma pessoa que acabou de perder o irmão voltar aos afazeres normais, mas sabia o quanto Naruto era teimoso e como não entenderia, já que era altamente hiperativo e não conseguia ficar sem fazer nada por mais de algumas horas.

“Tenho certeza de que Sakura vai nos avisar se tiverem algum progresso.”, resolveu escrever para acalmá-lo, mesmo sem acreditar muito naquilo.

– Eu não consigo ficar sem fazer nada. Isso está me deixando louco. – ele falou e ela quis rir. Aquilo era óbvio.

Hinata pensou em coisas que eles podiam fazer a distância, mas não tinha nenhuma ideia, a verdade é que estavam com as mãos atadas ao que Sasuke descobriria. Tudo dependia se Itachi tinha de fato morrido em um acidente de carro ou não.

Convenientemente, Sakura entrou na sala de aula logo após de Ino e sentou-se nas fileiras da frente, como de costume. Ela não encarou Hinata, que fitava os cabelos rosas da outra por trás, com uma expressão confusa.

– Hinata. – Kiba a chamou e ela virou-se para o amigo. – Você anda agindo muito estranho, tem certeza que está tudo bem?

Ela acenou que sim freneticamente. Já fazia alguns dias que Kiba e Shino estavam a interrogando e perguntando-lhe sobre seu estranho comportamento, já que sumia várias vezes e voltava sozinha para casa. Ser amiga de Naruto estava custando-lhe sua sinceridade com os seus amigos, que já estavam começando a se preocupar de verdade.

Kiba simplesmente bufou impaciente e voltou a fazer o que estava fazendo, enquanto Hinata encarava as costas de Sakura, que estava aos cochichos com Ino. Será que ela tinha a substituído? Afinal, a loira seria mais útil em qualquer plano que poderia executar. Elas eram amigas faz tempo, o que a tornava mais confiável. E ela era destemida de uma forma que Hinata nunca seria.

De repente, ela sentiu como se tivesse algo preso em sua garganta e seus olhos estavam prestes a marejar. Ela sempre se sentia extremamente descartável e aquilo só provava o quanto estava certa.

– Hinata? Tudo bem? – Naruto perguntou, vendo a estranha expressão que tinha aparecido no rosto da morena.

Ela só acenou com a cabeça, acostumada a reprimir seus sentimentos como sempre.

– Nem vem, o que está acontecendo? – ele repetiu a pergunta, agora se posicionando na sua frente, com os braços cruzados. Ela sabia que ele não desistiria fácil e corou ao pensar que ele já a conhecia tão bem a ponto de não cair em sua atuação.

– Não é nada. – ela disse baixo o bastante para que ninguém percebesse. Era verdade, era apenas uma paranoia de sua cabeça, não tinha efetivamente nada a deixando chateada. Talvez fosse só a realidade batendo de frente, a lembrando constantemente de quem ela era.

Naruto coçou a cabeça e fitou-a com uma expressão confusa e apreensiva, ele não queria forçar a barra, mas simplesmente sabia que ela não estava bem e se importava. Hinata engoliu seus pensamentos e olhou para a frente, concentrando-se na aula.

Estava se preocupando a toa, sabia disso. Mas uma vida inteira de auto estima baixa fazia aquilo com uma pessoa.

Na hora do intervalo, ela não saiu da sala, sendo abordada por Sakura, que olhava para os lados quando se aproximou. Hinata respirou fundo e encarou os olhos esmeraldas que a fitavam de volta, como poderia competir com aquilo? Como pensou que pudesse ter alguma chance... ?

– Naruto está aqui? – ela perguntou e a morena acenou. Naruto não tinha saído do seu lado, a aula inteira ele ficou tentando fazê-la rir sem sucesso. – Precisamos falar sobre o atestado de óbito. A verdade é que tinham dois. Em um deles, dizia que Itachi não estava embriagado.

Hinata franziu a testa e juntou as sobrancelhas, enquanto Naruto berrava que sabia o tempo todo.

– Sim, eu sei. Também não acreditei. Mas eu chequei, Hinata. De fato, estava escrito que ele sofreu uma contusão na cabeça, mas que não foi isso que o matou. – Sakura murmurou, com um tom indiferente que assustou a outra.

– Eu sabia, eu sabia! – Naruto continuava cantarolando.

– O que... O que foi que o matou? – ela sussurrou gaguejando. Estava assustada demais para pensar nas possibilidades.

– Um tiro. – a outra respondeu, com o olhar firme. Hinata daria tudo para ter aquele olhar, era daquele olhar que Naruto gostava e por ele que ele ainda estava se dedicando até em morte para satisfazer.

A morena colocou as duas mãos na boca, em choque e ficou encarando Sakura com puro terror nos olhos.

– E agora? – ela ousou perguntar, com a voz tremendo.

– E agora que Sasuke tem certeza de que foi assassinato e está criando planos idiotas para tentar descobrir a verdade. – Sakura respondeu com descaso, demonstrando sua insatisfação perante tudo. – Eu não queria te arrastar para tudo isso, Hinata...

– Porque sou um estorvo. – a morena completou a frase e Sakura franziu a testa.

– Não! Claro que não! – se apressou em negar. – Não queria te arrastar para tudo isso porque é perigoso e desnecessário! Você nem conhecia Itachi e... Enfim. Eu não queria, mas precisamos de Naruto e eu sei que ele só vai nos ajudar se você estiver junto.

Hinata respirou fundo, sabia que ela estava falando aquilo só para fazê-la sentir-se melhor, mas sorriu, porque talvez a última parte fosse verdade. Naruto acenava com a cabeça, sem de fato estar ouvindo nada e tinha um sorriso estampado em seu rosto por nenhum motivo. Talvez só estivesse feliz por estar certo.

– Tudo bem, qual é o próximo passo? – ela perguntou cabisbaixa.

– Vamos para a agência funerária perguntar porque existem dois atestados de óbito. A ideia era que Naruto revirasse os arquivos enquanto nós tentamos tirar algumas respostas do forjador, que obviamente vai mentir.

– Tô dentro! – o loiro exclamou rapidamente, batendo na mesa. – Eu tinha certeza que tinha alguma coisa de errado com isso. – completou, virando-se para a Hinata, que apenas conteve em acenar com a cabeça.

– Naruto concordou. – a morena disse, fazendo Sakura sorrir.

– Claro que sim.

– Quando? – ele perguntou, fitando Sakura diretamente, como se tivesse a esperança de que se tornasse visível de repente.

– Ok, vamos no fim de semana. – ela respondeu Naruto sem perceber. – A gente se encontra na Mansão Uchiha depois do almoço.

Hinata acenou com a cabeça e Naruto sorriu, entusiasmado.

Sakura sorriu de volta e virou as costas, andando em direção a porta, deixando-os sozinhos.

– Finalmente! - Naruto exclamou quando ela já não estava mais na sala de aula. – Vamos poder fazer alguma coisa.

Ela acenou, preocupada. Chegar mais perto do real motivo da morte de Itachi, significava chegar mais perto do momento em que teria que falar com Sakura sobre Naruto ter algum assunto pendente. E isso queria dizer que cada vez mais, ela estava a um passo de perdê-lo para sempre.

O mundo fazia mais sentido com Naruto, tudo era mais colorido. Sua presença ironicamente calorosa completava a frieza que Hinata tinha adquirido conforme os anos passaram e sua timidez a impedia de fazer coisas que realmente queria fazer. Ela se sentia invencível com ele do lado, não podia perdê-lo agora.

– O que há com você? Sério? – ele perguntou novamente, agora com um tom mais preocupado. – Nem vem falar nada, eu reconheço uma cara triste em qualquer lugar!

Hinata sabia que ele não iria desistir e não entendia se ele estava realmente preocupado ou só estava sendo teimoso, como sempre, mas resolveu falar a verdade. Primeiro, porque não tinha nada a perder, segundo, porque era apenas com ele que ela se sentia tão confortável a ponto de falar o que realmente estava sentindo e não reprimir, como sempre fazia.

– Eu... Eu me sinto como se... – ela hesitou, corando. Não conseguia encarar os olhos azuis profundos que a fitavam como se quisessem ler a sua alma.

Naruto se sentou na cadeira da frente e esperou pacientemente para que ela completasse o raciocínio.

– Sou uma intrusa. Vocês são amigos desde sempre e eu sinto que só estou atrapalhando e... – Hinata murmurou baixinho, com os olhos presos no chão.

Então, Naruto começou a gargalhar e ela parou de falar. Ele ficou alguns minutos rindo de seu jeito expansivo, enquanto ela o encarava com confusão nos olhos. Ele estava rindo da sua vulnerabilidade?

– Eu sou muito idiota! – ele exclamou, rindo de si mesmo. – Achei que você estivesse brava comigo.

– Por... Por que? Por que eu estaria brava com você? – Hinata perguntou, incrédula, levantando-se, agora apreensiva e realmente preocupada.

– Eu não sei! – Naruto respondeu, ainda rindo. – Mas Hinata, você não é uma intrusa! Sakura gosta de você, e Sasuke nunca deixaria você pisar na casa dele se não te considerasse no mínimo confiável e isso é dizer muito.

Ela suspirou, não era exatamente isso o que ela quis dizer.

– Você é minha amiga também! Podemos não se conhecer desde sempre, mas você é a única que consegue me ver e ouvir, isso já significa alguma coisa, né?! – ele exclamou com um sorriso no rosto, tornando impossível que ela não soltasse um também.

– É... Eu acho que sim... Eu...

– Não se preocupa, Hinata! Você não atrapalha, só me ajuda. O que eu seria sem você? – acrescentou, sorrindo e ela estremeceu. O que ela seria sem ele?

Naruto pegou sua mão e a apertou.

– Vamos, temos que nos prepara para o fim de semana. – ele falou, enquanto saia da sala, ignorando o fato de que ela ainda tinha aula o resto do dia inteiro.

Por um segundo, ela se importou. Pensou em suas notas e em tudo o que tinha conquistado para ser uma aluna perfeita, mas então olhou para os cabelos loiros de Naruto e não ligou para mais nada. Era ele. Só tinha ele a quem inspirar e ser inspirada. Ele a completava.