Mama Dean escrita por Lady Padackles


Capítulo 14
A toca real




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Depois de muito caminhar, Dean finalmente avistou a entrada da "toca" real. Era um buraco entre árvores, no coração da floresta. Nada exuberante nem chamativo. O caçador se esgueirou para dentro segurando sua filhinha no colo, e viu-se diante de um túnel escuro e apertado. Prosseguiu convicto.

Conforme foi caminhando, o rapaz reparou que o túnel tornava-se cada vez mais amplo. Ao final, deparou-se com uma feia porta, que parecia feita de pedras. Estava trancada. Dean procurou uma campainha ou algo parecido, mas nada encontrou. Nem mesmo bater palmas ele podia, já que segurava Samantha nos braços.

– Ô de casa! – o caçador chamou em voz alta.

Antes mesmo que chamasse uma segunda vez, ouviu barulho de passos.

– Ei, por favor, preciso conversar com o Rei! – O rapaz gritou para quem quer que fosse.

Ansioso, ele fitou a porta que começou a se abrir lentamente. Uma Bicudin, com aspecto ainda muito jovem, olhou para ele. Era bonita, parecida com Samantha. O bico era vermelho e comprido, e os olhinhos miúdos, redondos e muito verdes. Suas roupas eram sujas e molambentas. Dean imaginou que ela devia ser uma empregada, ou até mesmo uma escrava. A criatura pareceu surpresa e olhou em volta, como se esperasse encontrar mais alguém além de Dean.

– Você veio para cá sozinho? – Ela perguntou confusa.

Dean balançou a cabeça afirmativamente.

– Poxa, esses serviços estão cada vez melhores... Como devo fazer o pagamento?

– Que pagamento? – Dean não estava entendendo mais nada.

– A conta do Disk Rango, que enviou você...

Dean estremeceu. Ele não era nenhum produto enviado pelo Disk Rango. Estava sendo confundido com certeza.

– Não... Espere... Eu... Só vim aqui conversar com o Rei. Eu sou a mãe adotiva dessa criança Bicudin. – O caçador então falou, exibindo a sua pequena monstrinha.

– Ahhh – A Bicudin ficou sem graça. – Desculpa, te confundi com o jantar... – Ela riu sem jeito. Dean não pôde deixar de ficar assustado, afinal ser confundido com o jantar não era bom sinal...

A monstrenga então convidou Dean a entrar e conduziu-o para dentro da toca real. O lugar era bastante grande, parecia um labirinto. O rapaz seguiu a Bicudin, segurando Samantha de encontro ao peito. Respirava ofegante, estava nervoso demais. Dean desejou com todas as suas forças que o rei fosse boa pessoa. Resolveu arriscar uma conversa com a sua anfitriã.

– Você trabalha para o Rei? Ele é bom sujeito? – perguntou o louro.

A mocinha abriu um sorriso bicudo.

– Eu sou filha do Rei. E sim, ele é bom sujeito...

– Filha!? – Dean ficou surpreso. Como uma princesa se vestia daquela maneira. Achou melhor não comentar... Sorriu. - Então você é a princesa que vai completar 15 anos na semana que vem?

– Ah não... Essa é a Mafalda, minha irmã mais nova... Mas nossa, eu não sabia que a notícia da festa dela já tinha se espalhado tanto...

O caçador não respondeu. Não sabia exatamente como contar sua história. Com certeza não poderia confessar o assassinato da mãe de Samantha, ou seu destino haveria de ser trágico.

– Qual é o seu nome? – o rapaz então perguntou, tentando ser simpático.

– Matilda, a maldita! – a Bicudin respondeu orgulhosa. Dean ficou em dúvida se "a maldita" era brincadeira ou não... Suspirou.

– Chegamos! – a monstra falou quando adentraram um salão espaçoso. – Espere aqui um pouquinho que vou chamar meus pais.

Dean ouviu a garota chamando.

– Pai, mãe! Tem uma comida querendo falar com vocês! Eu não sei o que ela quer, mas está se dizendo mãe de uma Bicudin...

Tem uma "comida" querendo falar com vocês... Então era isso que ele era: "comida". Nada mais, nada menos. Que medo! Dean tremeu nas bases. Se não conseguisse ser bastante convincente estaria morto em muito pouco tempo.

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Enquanto isso, no esconderijo dos homens das letras, Hilary Homes conversava com um de seus detetives, enquanto Sam, do outro lado da porta, prestava atenção à conversa.

– Encontrei um caminhoneiro que parece ter visto o fugitivo, Sra. Homes. O homem disse ter dado carona a um rapaz chamado Dean e com as características físicas do rapaz que procuramos. Ele disse, entretanto, que Dean não levava uma criança consigo, e sim um papagaio.

– Papagaio? Que estranho... E ele estava indo para onde? Ele disse?

– Disse que deixou o homem em uma área florestal, no Estado do Arizona. Meus homens já estão no local vasculhando.

– E o caminhoneiro não perguntou o que o tal Dean iria fazer no meio da floresta com um papagaio?

– Bem... – o detetive titubeou – Larry, o caminhoneiro, disse que o fugitivo estava indo levar a ave para visitar a família...

Hilary balançou a cabeça com ar de reprovação.

– Esse pobre caminhoneiro pelo jeito é doido, Dr. Tompson... Essa história não faz o menos sentido...

O detetive deu um sorriso amarelo. Ele também duvidava um pouco daquela informação. De qualquer forma, precisava averiguar. Não tinha nenhuma boa pista do paradeiro do rapaz. Não havia sido visto em nenhuma hospedaria ou restaurante.

– Por favor, Dr. Tompson, faça o que for preciso para encontrá-lo. O irmão dele é doente, e está precisando dele aqui.

O detetive concordou e se despediu prometendo fazer o possível para intensificar as investigações.

Hilary voltou para a cozinha.

– Cass, vem ajudar a vovó! – chamou.

O anjo apareceu já vestido de avental e pronto para ajudar no que fosse preciso.

– Você é um bom menino, Castiel. Obrigada! – exclamou a velha. O anjo enrubesceu quando Hilary lhe tascou um beijo na testa.

Enquanto isso, no quarto, Sam lembrava-se da conversa que acabara de ouvir. Então era para lá que Dean havia ido... Procurar a toca da mãe Bicudin. Precisava ir até lá depressa, ou seu irmão viraria a janta daqueles monstros. Isso se a própria Samantha já não tivesse devorado todo o seu sangue...

Sam começou a arrumar sua mala depressa, envolto em seus pensamentos. Tinha que partir imediatamente. Já estava cansado de esperar por Castiel, que pelo jeito não iria mesmo ajudá-lo. Iria ter que regatar Dean sozinho.

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Pouco tempo depois Matilda surgiu acompanhada de seus pais e irmã. O rei era um monstrengo baixote e atarracado, de bico amarronzado, que arrastava uma capa esquisita, feita de palha. A rainha era maior, e bem mais gorda. Tinha o bico largo e vermelho, e os olhos muito redondos de uma cor alaranjada. A filha caçula, Mafalda, era uma versão menor e mais magra da mãe. Todos muito mal vestidos, sujos e esfarrapados. Pelo jeito a moda da realeza Bicudin não era das melhores.

– Esse é meu pai, o Rei Bucudão – disse Matilda – E essas são minha mãe, a rainha Bicudaça, e minha irmã, a princesa Mafalda, a malvada...

Dean sorriu, "encantado" com a família real.

– Muito bem, Comida, o que você quer? – perguntou a rainha sem muita paciência.

– Eu vim aqui pedir asilo... Estou criando essa bela criança Bicudin, a Samantha. – Ele disse, exibindo a filha. – Eu a encontrei perdida na floresta – justificou-se.

– Você quer morar aqui com a gente? – Matilda perguntou incrédula.

– Bem... Pois é... – respondeu o caçador titubeante. – É que eu não tenho muita prática em cuidar de bebês, ainda mais Bicudins... Eu estou com dificuldade em amamentá-la, meu sangue não está sendo suficiente... Além disso, as pessoas de minha espécie não a vêm com bons olhos... Samantha estava sendo discriminada...

Enquanto Dean proferia tais palavras, direcionadas ao rei, com dificuldade e emoção, reparou que o monarca mal olhava para ele. Toda a sua atenção estava em uma pequena borboleta, que não se sabe como, entrara pelo aposento, e agora voejava desesperada tentando fugir. O rei Bicudão abria e fechava a bicanca real tentando interceptar o pobre do inseto.

A rainha parecia pensativa. Pelo jeito era ela quem tomava as decisões por ali. Quem se pronunciou, entretanto, cortando o silêncio, foi a princesa caçula.

– Gostei dele, mãe... É grande e bonito! – exclamou Mafalda.

A rainha Bicudaça olhou para a filha surpresa mas satisfeita. Lançou às duas princesas um olhar cúmplice e sorriu.

– Pode ficar então... – respondeu a gorda monarca. - Nós lhe daremos um quarto, e alimentação para você e sua filha. Mas você não me parece nada saudável, Comida... Posso ver que está anêmico e mal alimentado... Nós cuidaremos de você, não se preocupe. – Ela sorriu arreganhando sua enorme bicanca vermelha. Parecia de fato uma Bicudin muito amável agora.

Dean estava agradecido. Ficou muito feliz ao perceber o quanto os Bicudins eram bons e acolhedores, ao contrário dos de sua própria espécie. Apenas não gostava de ser tratado por Comida...

– Muito obrigado, majestade. Mas peço, por favor, que não me chamem mais de Comida. O meu nome é Dean.

A rainha Bicudaça sorriu.

– Tudo bem. – ela disse. - Matilda, por favor, leve Dinner e sua filha para o quarto de hóspedes, e peça a cozinheira para preparar algo para comerem.

– É Dean... – O caçador falou com voz fraca, mas foi ignorado. Rei Bicudão havia finalmente caçado a pobre borboleta que agora debatia-se alvoroçada dentro de seu grande bico.

– Pare de beliscar, Bicudão, ou vai perder o apetite para o jantar! – ralhou a rainha, vendo seu marido devorar o pequeno inseto.

Mafalda, a malvada, olhava para Dean, e o rapaz podia jurar que ela estava salivando. Tratou de se esconder atrás de Matilda, a maldita, que finalmente conduziu-o até seus aposentos.

– Dinner, vocês podem dormir aqui... – Ela disse entrando em um quarto espaçoso, e apontando com a asa para um ninho esquisito. – Daqui a pouco lhes trago o jantar.

– Obrigado, o caçador respondeu. - Passado o nervosismo, sentia-se agora muito fraco e cansado. Não tinha nem mais energia para reclamar do "apelido". Tudo o que queria era mesmo poder comer e dormir.

Deitou-se com Samantha no ninho e esperou que a comida chegasse. Seu estômago roncava.

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– Onde você pensa que vai, Sammy, querido? – Perguntou Hilary exaltada ao ver um de seus protegidos se esgueirando com uma mala para fora de casa.

– Salvar meu irmão, enquanto você e Castiel se divertem na cozinha... – respondeu o rapaz mal humorado. Não fosse por Hilary, Cass já teria trazido seu irmão de volta, poupando-lhe assim todo o trabalho de ir buscá-lo.

– Você não pode sair sozinho por esse mundo cruel... – retrucou a velha preocupada.

– Ao contrário do que você pensa, vovó, eu não sou mais criança... Sei me virar muito bem sozinho. – respondeu irritado. - Sou um exímio caçador, e meu irmão está em perigo. Nem adianta tentar me convencer.

Nessa hora Castiel apareceu alarmado.

– Sam, você não pode ir! Deus não quer! Mandou que ficássemos aqui esperando, que Dean voltaria são e salvo. Não foi, vovó?

– Isso mesmo, Cass... Ele disse que se um de vocês saísse de casa poderia se machucar – olhou para Sam, esperançosa.

– Não tenho medo de me machucar. Tchau, fui...

Sam andou em direção à porta, mas foi detido por Castiel, que segurou seu braço com força.

– Desculpa, Sam, mas eu não deixarei você ir...

Hilary estremeceu. Castiel era menor que Sam, não teria como impedi-lo usando apenas a força bruta.


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