Sábios que Erram escrita por bioexi


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

As partes em “itálico” indicam que o trecho é uma lembrança do passado.



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Sábios que erram – CAPÍTULO III


         Dumbledore estava sentado no centro da mesa principal do grande salão de Hogwarts junto com seu corpo de professores. Ele olhava com contentamento os risos e as conversas que vinham das mesas das quatro casas, onde os alunos ainda conseguiam motivos para se alegrar mesmo com a sombra de Voldemort pairando sobre suas cabeças. Seus olhos saíram de um plano geral para se fixar na mesa da casa de Sonserina, mais especificamente num rapaz loiro, que parecia anormalmente pálido e que não fazia nenhum tipo de esforço para tocar na comida à sua frente. Draco Malfoy era a nova ferramenta do ódio e da vingança do Tom Riddle, que parecia não conhecer limites quando o assunto era maldade. Ele encarregou Draco de assassinar o diretor como castigo pelas tarefas não cumpridas por seu pai. Dumbledore tinha discutido o assunto com Snape, que compartilhava da preocupação dele com o menino. Ele sabia bem que o que Snape ouvira naquela conversa não era bem o que ele queria ouvir e Dumbledore sentia imensamente ter que forçar Severo até seus últimos limites mais uma vez. Era fundamental para o futuro de Draco e para os planos do próprio diretor, que Severo mantivesse a palavra que deu a ele, mesmo a contragosto, semanas antes. A palavra de cumprir, no lugar do menino Malfoy, o pedido de Riddle.


- Você está pretendendo deixar que Draco o mate? Snape perguntou genuinamente intrigado.


- Certamente que não. Você deverá me matar. Dumbledore acrescentou no mesmo tom casual que tinha usado em toda a atual conversa, a qual girava basicamente em torno da sua morte.


- Quer que eu faça isso agora ou gostaria de uns momentos para compor um epitáfio?


Dumbledore não pôde evitar rir silenciosamente ao recordar a resposta carregada de ironia, disparada por Severo quando seu cérebro processou a informação contida na última frase dita pelo diretor. Ele se perguntava se as outras pessoas conseguiam perceber, como ele percebia, o quanto Snape era espirituoso, qualquer que fosse a situação que estivesse à sua frente. No fundo, ele sabia que não. O diretor voltou sua cabeça para seu lado esquerdo e olhou o mais discretamente possível para seu jovem professor. Ele olhava compenetrado para frente e se Dumbledore arriscasse um palpite, ele diria que uma fração desse olhar caía de tempos em tempos, na mesa da Sonserina, em Draco Malfoy. Snape tinha essa habilidade, fracionar o próprio olhar. Ele podia olhar intensamente para um único ponto ou pessoa como se fosse engoli-lo com os olhos e ao mesmo tempo, olhar para alguma coisa sem realmente olhar, disfarçando seu interesse ou desinteresse com extrema perfeição. Depois de tantos anos de disfarces, Dumbledore não se surpreendia com o fato de Snape ter se tornado um mestre no assunto.


         Nos últimos dias. À luz dos últimos acontecimentos, Dumbledore se pegava pensando cada vez mais cuidadosamente em todos os detalhes do seu plano para derrotar Voldemort. Ele pensava em todos os envolvidos. Ele pensava em Harry. Mas acima de tudo, ele pensava e sentia por Snape. Ele desviou os olhos da direção de seu professor e olhando para frente deixou sua mente divagar pela difícil trajetória de seu atual braço direito. Dumbledore sabia que após sua partida, pelas mãos do próprio Snape, ele não teria mais nenhuma testemunha de sua fidelidade ao lado certo desta guerra. Quando Severo o matasse, ele seria considerado um pária por cada bruxo e bruxa com algum senso de decência. Não haveria mais ninguém que o conhecesse e confiasse nele tão absolutamente como o próprio Dumbledore. Ele estaria novamente sozinho. Ao longo dos anos, o diretor aprendeu que somos responsáveis por nossas atitudes, mas também aprendeu, que atos e palavras mal colocadas podem influenciar pessoas, cimentando seus pés no caminho errado e diminuindo suas possibilidades de mudar suas idéias. Após o incidente em que Snape descobriu sobre o problema de Lupin, Dumbledore viu o jovem sonserino transformar-se num esboço de seguidor de Tom Riddle, mas até depois disso, ele ainda poderia ter voltado atrás. Ele estava magoado, mas não totalmente perdido. Dumbledore havia identificado em suas pesquisas outro ponto de quebra na personalidade de Snape. O fato que o levou a deixar de ser esboço e se tornar verdadeiramente um seguidor de Riddle. Na sua busca para entender Severo, ele havia pedido a James e Lily Potter, pouco antes de suas mortes, algumas de suas lembranças sobre Snape e foi em duas dessas lembranças, uma de cada um dos Potter, que Dumbledore viu Severo segurar a mão de Tom Riddle de vez.


- Como você foi no exame, Ranhoso. Perguntou James a um jovem Severo caído no chão vítima de um feitiço lançado por Sirius Black pouco antes.


- O nariz dele estava tocando o pergaminho. Deve ter marcas de óleo na prova inteira, eles não vão conseguir ler nem uma palavra. Foi a resposta maldosa de Sirius.


A esta altura, ainda sob o efeito do feitiço e das risadas das pessoas, que pararam para ver o exibicionismo de Potter e Black, Snape parecia furioso e ofegando conseguiu dizer.


- Você... você não perde por esperar. Você vai ver!


-Esperar pelo quê? O que você vai fazer, Ranhoso, assuar seu nariz na gente? Black falou com desprezo.


Nesse momento, Snape tentava se defender só para sofrer novas azarações de Sirius e James, até que Lily resolveu intervir.


- Deixe-o em paz. O que ele fez pra você? Perguntou ela furiosa a um Potter que parecia estar se divertindo.


- Bem, é mais o fato que ele existe, se é que você me entende. Respondeu James em tom de piada para o divertimento de sua platéia


Enquanto Lily discutia com Potter, Snape ia se libertando do último feitiço que o segurava ao chão e ao conseguir pegar sua varinha, liberou um feitiço que cortou o rosto de James.


Dumbledore lembrou de ter ficado impressionado que alguém tão novo e sob pressão conseguisse executar um feitiço não verbal e sofisticado como aquele. Aparentemente Snape controlou a intensidade de sua azaração, pois Dumbledore sabia que o que ele lançou em James foi o Sectumsempra, que ele próprio havia inventado e que em sua intensidade máxima poderia matar. Snape pareceu vacilar um pouco após lançar o feitiço, como se fascinado pelo seu próprio feito e isso foi o suficiente para Potter revidar, pendurando-o de cabeça para baixo e expondo ridiculamente sua roupa de baixo para quem quisesse ver. Lily continuou exigindo que Potter deixasse Snape em paz e ele finalmente cedeu e disse.


- Você teve sorte da Evans estar aqui, Ranhoso...


Mas antes que James tivesse a chance de concluir, Snape cego demais pela fúria e pela humilhação que havia sofrido, disparou.


- Eu não preciso da ajuda de sangues-ruins imundos como ela.


Dumbledore soube como Snape se arrependeu daquela frase, pela lembrança que Lily cedeu para ele.


- Me desculpe. Dizia um Snape ansioso a uma Lily aborrecida na frente da sala comunal da Grifnória. –Nunca quis lhe chamar de sangue ruim, simplesmente me...


- Escapou? Disse Lily, interrompendo-o sem contemplação. –É tarde demais. Há anos dou desculpas para o que você faz. Nenhum dos meus amigos consegue entender sequer por que falo com você. Você e seus preciosos amiguinhos comensais da morte. Está vendo, você nem nega! Nem nega que é isso que vocês pretendem ser! Você mal pode esperar para se unir a Você sabe quem, não é?


Snape não conseguiu retrucar.


-Não posso mais fingir. Você escolheu seu caminho, eu escolhi o meu.


Dumbledore voltou de suas lembranças com um profundo suspiro. Ele sabia que Snape só havia feito sua escolha definitiva após a passagem da torre de Grifinória fechar-se a sua frente, separando-o definitivamente de Lily Evans. E sabia também que na cerimônia que deve ter havido para marcar Snape com a marca negra de comensal da morte, se houvesse convidados de honra, ele próprio, James Potter e Sirius Black poderiam ter direito de sentar na primeira fila. A decisão de se tornar comensal e seguir Riddle, sem dúvida fora de Snape, mas nenhum deles tinha feito nada, para provar a ele que valia a pena ver outras opções e a última a abandonar o pequeno barco que mantinha a vida dele na superfície, foi Lily. E para essa perda, Severo não estava preparado. Então, ele caiu na água e afundou.


 


 


 


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