Sábios que Erram escrita por bioexi


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

As partes em “itálico” indicam que o trecho é uma lembrança do passado.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/40771/chapter/2

Sábios que erram – CAPÍTULO II

 

                Dumbledore olhava a janela distraidamente, aliás, contemplar a paisagem em seus momentos de quietude tornou-se um hábito nesses dias já tão tumultuados. Ele olhou calmamente para sua mão enegrecida, consciente exatamente do que ela significava. Seu tempo estava se esgotando e sua participação nos eventos que viriam estava finalmente chegando ao final. Dumbledore se sentia aliviado em muitos sentidos, mas antes de partir, ele sabia que tinha que deixar tudo encaminhado para as ações finais de Harry Potter e ele tinha certeza que as chances de sucesso eram imensas. Harry tinha toda impetuosidade da juventude e claro, da casa de Grifinória, e apesar de tudo que suportou ao longo dos anos, entre episódios de leve rebeldia e desconfiança generalizada, ele sempre acabava achando forças para fazer o que precisava ser feito e nunca havia perdido sua doçura. Harry era forte à sua maneira e Dumbledore confiava neste rapaz com toda sua fé. Dumbledore tinha consciência da dureza do papel que Harry teria que desempenhar nos momentos finais da batalha que viria, mas sua experiência em analisar o caráter das pessoas, dizia a ele que se alguém estava habilitado a cumprir tal tarefa, esse alguém era Harry Potter. Porém Harry não seria o único a ter que suportar um fardo pesado nos dias que estavam por vir. O menino só tomaria consciência do seu papel, do sacrifício de sua própria vida, nos momentos finais da batalha e até lá, ele teria o conforto de todos aqueles que o conheciam e amavam. Dumbledore sabia perfeitamente que os dias de solidão de Harry tinham ficado para trás e isso faria muita diferença no futuro. Perdido nessas reflexões, o diretor olhou sua janela e avistou logo abaixo o andar apressado e intimidante da figura imponente de Snape. Ele caminhava decididamente, provavelmente em direção aos seus aposentos, com suas vestes negras voando às suas costas, enquanto os alunos que estavam em seu caminho se afastavam apressadamente para não perturbar o seu rigoroso e nada amigável professor. Dumbledore sorriu com uma pontada de melancolia ao lembrar que há alguns anos atrás, nesses mesmos terrenos de Hogwarts, não eram receio e intimidação, os sentimentos que o jovem Snape despertava ao passar. Ele lembrava bem do jovem pálido, de cabelos mal cuidados e magro, que parecia estar sempre carregando livros de um lugar para outro. Seu andar não era confiante como o do seu eu adulto, pelo contrário, ele tinha os ombros sempre um pouco encurvados e seus olhos negros, embora tentassem disfarçar, sempre olhavam de relance os comentários pouco lisonjeiros que sua figura incomum despertava. Dumbledore sempre fora um homem extremamente inteligente e não via razão para não admitir isso para si próprio, mas depois de viver tantos anos, sua inteligência passou de uma pedra preciosa em estado bruto a uma bela jóia cuidadosamente lapidada, por seus amores, por suas experiências e principalmente pelos seus erros. Ele aprendeu que por mais sábio que um homem seja considerado pelos seus pares, ele também vai errar. Severo Snape foi um dos maiores erros do grande Alvo Dumbledore e essa consciência veio para ele aos poucos, à medida que Snape ressurgiu inesperadamente em seu caminho, pedindo ajuda para proteger Lily e se tornando a partir daí um espião.

 

Desde que Snape se passara para o lado da luz, Dumbledore se pôs a recolher lembranças sobre ele, entre as pessoas que o conheceram quando mais jovem. Aqueles que olhavam de fora achavam que ele estava fazendo isso para se assegurar que Snape era realmente confiável, mas Dumbledore, que não tinha a menor dúvida da atual lealdade dele, sabia que a pesquisa que estava fazendo não era sobre o que Snape fizera de errado aos outros, mas sobre o que todos os outros fizeram de errado a Snape, principalmente ele próprio. Em que momento, o menino estudioso tornara-se um comensal da morte?  Em que momento, ele deslizou pelos dedos do diretor em direção a Tom Riddle e sua maldade? Depois de tanto tempo e de tantas lembranças consultadas, Dumbledore não tinha mais dúvidas sobre o exato momento em que perdera Severo para Voldemort.

 

- Mas eles tentaram me matar!  O jovem Snape insistia pela terceira vez, parado em frente ao diretor com um olhar de incredulidade no rosto arranhado. – Era um lobisomem, lá. Black sabia disso. Ele queria que eu morresse!

 

- Não seja dramático, Ranhoso!  Desdenhou um igualmente jovem Sirius Black, enquanto ajeitava as vestes em sinal de impaciência. –Tudo isso foi culpa sua, que não cansa de meter seu nariz enorme no que não é da sua conta!  Concluiu Black com desprezo.

 

- Sirius...não. A voz de James Potter tinha uma nota de advertência ao seu amigo, como se ele visse uma gravidade na situação em que estavam metidos, que Sirius simplesmente não conseguia ver.

 

- Isso é suficiente. Disse um Dumbledore mais novo, sem alterar a voz, mas com firmeza suficiente para fazer os jovens se calarem. Após alguns instantes de silêncio, ele falou com uma expressão dura em seu rosto.

 

-Potter e Black, você ficam e vamos discutir sua punição.

 

Então se dirigiu a Snape que o olhava com expectativa.

 

- Severo, você deve ir à enfermaria verificar esses ferimentos e fazer certo de que ficará bem; E lembre-se de não repetir nada do que viu hoje, a ninguém.

 

A essas palavras, Snape pareceu empalidecer e teve que segurar a borda da mesa do diretor para manter seu equilíbrio. Ele parecia lutar para articular alguma frase coerente e sua boca ficou ligeiramente aberta, mas sem emitir nenhum som, durante algum tempo, antes de finalmente conseguir argumentar em voz baixa.

 

- O quê?...você ..que punição? Só existe uma punição para isso. Eles vão ser expulsos, junto com aquele lobisomem. Eu poderia estar morto! Eu quase...

 

Snape não conseguiu dizer mais, ele sacudia as mãos nervosamente à sua frente como se lutasse para fazer Dumbledore entender o que para ele parecia tão óbvio e claro.

 

- Severo, eu entendo a gravidade da situação, mas o silêncio que peço a você é por um único motivo. Dumbledore falou suavemente. – Se alguém do Ministério souber o que houve aqui hoje, Hogwarts será fechada sem contemplação por um bom tempo e todos aqueles alunos, que tem a escola como único refúgio seguro estarão entregues à própria sorte. Se algo sair desta sala, a escola estará condenada. Você entende?

 

Snape fechou os olhos por um momento e respirou profundamente como se tentasse deixar as palavras do diretor se acomodarem em sua mente. Quando ele abriu os olhos novamente, Dumbledore pôde perceber uma mistura de emoções em seu rosto. Seu queixo tremeu um pouco e por um momento, Dumbledore achou que ele estava parecendo uma criança pequena momentos antes de cair no choro. Mas Snape não chorou e em segundos, sua face estava dura e seus olhos pareciam mais velhos que seu corpo. Ele olhou para Potter e Black, seu rosto ainda impassível e em seguida encarou Dumbledore, olhando-o firmemente.

 

- Será como você quer, Diretor.

 

E sem esperar por mais nada, saiu fechando a porta atrás de si.

 

Dumbledore não avaliou na época o dano que Snape havia sofrido aquela noite, mas depois de examinar essa lembrança várias e várias vezes, ele sabia que Severo tinha achado que sua vida tinha tão pouca importância para qualquer um, que nem a ameaça de sua morte era motivo suficiente para a punição adequada daqueles que o tratavam com tanto desprezo. Dumbledore sabia que ali tinha perdido aquele menino e que naquele momento, quem deixara sua sala fora um esboço de um futuro comensal da morte.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sábios que Erram" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.