Darker Than Black escrita por MsRachel22


Capítulo 18
Give Caesar what is Caesar's




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Dê à César o que é de César

¶ [12:29] 9/12 — Agora, Zona 3, Alojamento, Floresta de Nakanocho ¶

  Apoiei a testa no ladrilho magicamente gelado enquanto a água fria caía nas minhas costas, a corrente de água era um luxo inegável em tempos como aquele; fechei os olhos enquanto tentava imaginar se um banho era o suficiente para fazer uma limpeza mental de toda a merda acumulada nos últimos tempos. Bip! ERRO! ERRO! ERRO! Huston, temos um problema!

  Não é assim que as regras da vida real funcionam. Não senhor.

  Os berros do garoto, seus berros de dor e agonia ainda ressonavam na minha cabeça e, por mais que eu tentasse fechar os olhos, esfregá-los com força ou tentar uma auto-hipnose para tirar aquilo da cabeça, eles ainda estavam ali. Os sons de mastigação, a horda de fieis ensandecidos que enfiaram seus dentes na carne dele – aqueles sons eram reais demais.

  Os tremores vieram calmamente, aos poucos tomaram conta do meu corpo conforme as possibilidades se acumulavam na minha cabeça. Um novo quiz de “Eu poderia ter feito” começou – sádico, eu sei. Você poderia ter cuidado dele. Era a sua obrigação, meu rapaz e nada nesse mundinho fodido pode alterar essa merda. Não, não.

  Como você ainda consegue ficar de pé? Não tem vergonha? Ah merda... Um menino morreu e ele tinha o que? Quinze? Dezesseis? Os olhos ardiam com as lágrimas e o remorso – aquele parasita desgraçado – logo me fizeram perder o autocontrole. Não é assim que o jogo funciona, meu amigo destemido. No señor.

— Não é minha culpa! Eu... — respondi à voz, esperando que ela aceitasse minhas débeis desculpas e que isso fosse encerrar o assunto. Mas não é assim que o jogo funciona, certo? Quando uma pessoa inocente morre, é seu dever moral se sentir péssimo por isso.

  Vamos pôr em pratos limpos, sim? Você podia ter feito milhares de coisas, mas não fez. Teve a porra da escolha, como trancar o moleque no carro, mandar Shikamaru ir se chupar e olhar o garoto, mas NÃO! Ele virou o prato principal do buffet demoníaco que você providenciou... Ah, meu bom rapaz...

  Os tremores aumentaram e eu ouvia um choro inconsolável, de uma criança perdida. O peso daquela responsabilidade era enlouquecedor e levou um tempo até eu associar aquele som agonizante à minha própria voz. Levou um bom tempo até que meus gritos e minhas desculpas débeis se transformassem num sussurro e, depois, em silêncio absoluto; eu não conseguia encarar minhas mãos sem imaginá-las mergulhadas em sangue.

  Quando a corrente de água foi interrompida, permaneci parado absorvendo e ponderando cada palavra que criava as chances que podia ter tido e as decisões que poderia ter tomado. Me ative às três regras que haviam me mantido vivo – é, o moleque também as conhecia...  Claro... Pode apostar —, como se aquele mantra pudesse resolver tudo ou amenizar a situação.

  Se recomponha. Era um garoto – está no passado, já foi. Já era. Se recomponha. Respirei fundo e aguardei que aquilo tudo parasse – as palavras acusadoras, as possibilidades, a merda da responsabilidade, a raiva, a angústia, o medo, a dor e a droga da verdade. Os soluços recomeçaram e não pude contê-los, nem as lágrimas, nem o fato de que eu havia falhado com uma pessoa inocente. Uma vida por outra, hã? Que tal assim? Você está aqui. Os fracos não têm chance, não é esse o lema?

  Saí do banheiro com a toalha enrolada no corpo e simplesmente me sentia cansado daquela porcaria toda. Fechei a porta com certa força e suspirei cansado assim que a encarei, a fumaça subia do cigarro preso entre seus dedos e era soprada em seguida.

— Ei.

— Ei maninho. Você enfiou alguma coisa no rabo lá dentro? — ela murmurou, a voz grogue e embargada forçava um tom de bom humor, mas seu olhar estava tão cansado e destruído quanto o resto da Karin. Ela arrastou as pernas até a cama e estendeu o cigarro na minha direção. — Quer dar um trago?

— Essa porcaria vai te matar... — respondi e sentei de costas para ela, não suportava vê-la destruída e não queria que ela me visse daquela forma. Senti a coluna dela encostar na minha e o cheiro do tabaco encheu o quarto.

— Quão ruim está lá fora, hein Naruto?  — ela perguntou de forma quase retórica e fungou em seguida, enfiei as mãos no couro cabeludo e respirei fundo. — Eu não queria ter ido para a creche Naruto, eu não queria mesmo. Pode apostar sua bunda branca nisso, meu chapa.

  O silêncio predominou de forma desconfortável e encarei um ponto qualquer na parede enquanto imaginava os passos que Karin havia dado na direção da creche abandonada. Talvez tivesse desenhos pendurados nas paredes – como Jun fazia desde os quatro anos -, talvez mãozinhas de tintas nas paredes – como Jun deixava desde seu primeiro ano de vida -, ou quem sabe móveis pequenos e coloridos.

  Não era a creche que eu imaginava, mas o antigo quarto de Jun. As paredes claras cheias de mãozinhas roxas, azuis, verdes, marcas gorduchas que mostravam como ela estava crescendo. Se recomponha.

(Beat the devil’s tattoo)

— Havia tanto... sangue... E-Eles eram pequenos, sabe? Eram pequenos e mesmo assim — ela soltou uma risada seca em seguida e senti seu corpo estremecer às minhas costas. — O mundo não é um lugar para crianças Naruto. Elas... são inocentes demais pra esse tipo de merda. Quero dizer... Jun... Eu não parei de pensar nela, não parei de pensar que ela pode...

  ...se transformar numa dessas coisas.

— Merda.

— É — concordei num sussurro enquanto a fumaça subia do cigarro e as recordações se misturavam. O garoto e seu pânico invadiam o rosto sorridente e o sorriso largo de Jun aos seis anos; os gritos dele com os de alegria de Jun quando ela vencia alguma brincadeira com meu pai; os sons de mastigação com os jantares em família. — É mesmo uma merda.

— O que é que vamos fazer Naruto? O que vamos fazer aqui?

  Balancei negativamente a cabeça e esperei que as imagens simplesmente sumissem – como o quiz macabro do “Eu poderia ter feito” havia sumido. Se recomponha garoto. Apoiei a cabeça nas mãos e encarei o chão por algum tempo, o torpor ainda era forte o suficiente para transformar as minhas próprias palavras em um murmúrio.

— Jun já te contou como ela sobreviveu na floresta?

  Karin ficou em silêncio automaticamente e senti suas costas tensas, o assombro daquelas palavras pronunciadas por mim foi maior do que esperei.

— O pai dela sumiu, provavelmente foi morto enquanto eles corriam pra fora da cidade... A mesma merda que todo mundo fez, sabe? E então um grupo... a acolheu e eles a abandonaram na floresta com o bebê. Fim. — A voz dela soou extremamente cautelosa e apática, o cheiro de tabaco ficou mais forte quando Karin soprou a fumaça. — Por que?

— Não bate com o que ela me disse, só isso. — Pareceu extremamente casual dizer aquilo; pronunciar aquelas palavras em voz alta era mais tóxico do que eu pensei, mas a grande merda era que eu queria desesperadamente dizê-las.

— Ah não, lá vamos nós de novo com outra teoria illuminati sobre a Jun? — havia cansaço e ironia na voz de Karin, eu me arrisquei a imaginar um sorriso torto em seus lábios e a descrença preenchendo-a. Lá vamos nós de novo. — Qual é Naruto? Essa história já deu e as coisas não saem como você quer ok? O mundo gira em volta de outros umbigos maninho.

— A versão que ela me contou é que esse tempo todo o pai estava com ela — falei e permaneci encarando aquele interessante ponto de tinta monocromática da parede; eu não conseguiria encarar o olhar desapontado de Karin outra vez. — O acampamento foi atacado e ela fugiu com uma mulher, a mãe do bebê... Depois elas se separaram na floresta. Fim.

— Ela não mentiria pra mim... Ela só... confundiu as coisas... Jun precisou lidar com todo tipo de merda nesses tempos e então...

— Então ela mudou Karin. Ela mentiu pra você e provavelmente pra mim também.

— Qual é Naruto? Eu sou a mãe dela — a voz dela vacilou um pouco e eu sabia que ela queria acreditar desesperadamente que Jun ainda era a mesma menina sorridente e de olhos curiosos de antes. Mas ela não é. Não é. — Eu sou a família dela.

— E eu também sou — o amargo gosto da verdade me fez sentir náusea daquele fato por alguns instantes e logo me enraiveceu. Ela não é a Jun. Não é. É um fantasma. — Ela não confundiu porcaria nenhuma e também não é burra. O que quer que tenha acontecido naquela floresta, ela nunca vai nos contar. Nunca. Pode apostar sua pele nisso, mas ela vai continuar mentindo e...

— O que? O que mais Naruto? Ela vai atacar alguém? Você ao menos está se ouvindo? — Karin levantou bruscamente e sua voz soou mais ríspida e trêmula do que antes; outra vez ali estavam os velhos irmãos irracionais, eufóricos por briga e desesperados para se machucarem o máximo possível.

  Round um.

— Já parou para pensar só por um minuto que é de uma criança que você está falando? E será que você com sua digna inteligência e sagacidade notou que é da sua sobrinha que você está falando droga?!

— Eu sei disso — murmurei enquanto Karin se aproximava em passos pesados e duros. — Você precisa se afastar dela Karin. Pelo menos enquanto...

— Ah não, não, seu desgraçado filho da mãe! — ela retrucou irada e seu corpo todo tremia. — Você não vai me dizer o que fazer com a minha filha! Você não é o pai dela!

— EU SEI! — levantei de supetão e nos encaramos como antigamente: com ódio. — Eu sei disso! Eu criei aquela menina! Eu a criei, porra! Então me desculpe se a senhorita está ofendida, mas eu sei do que estou falando e eu a conheço!

  Round dois!

Alguma merda aconteceu com essa menina e ela é perigosa, não me interessa se é a minha sobrinha ou não! — retruquei mais raivoso do que antes e estava a centímetros de Karin, ela continuava a tremer, mas seu rosto estava tenso e seu olhar endurecido. — Você não é tão idiota ao ponto de achar que ela está com a cabeça boa, não é?

— Vai se foder seu neurótico de merda! — o sorriso torto reapareceu e aquilo serviu para me enraivecer. — Não desconte a sua culpa da morte daquele garoto pra cima de mim. Eu não vou mais ficar aqui ouvindo as suas conspirações sobre a minha filha. — Karin começou a marchar na direção da porta e comecei a segui-la automaticamente.

— Karin, você tem que se afastar dela. Ela é perigosa porra!

— Prove. Vamos Naruto, estou esperando a merda da prova da sua teoria illuminati! — ela pôs as mãos na cintura e me encarou com o genuíno e desprezível ódio de antes; aquele tipo de olhar que sempre se sobrepunha à qualquer porcaria dita ou feita era mil vezes mais doloroso. — Anda, prova. — O sorriso aumentou, bem como meu desdém. — Ah não... Não pode? Então enfia essa porra dessa ideia no seu cu e me deixa em paz! Eu não preciso que você tome conta da minha vida ou da minha filha, entendeu bem?

  K.O.

— Eu não quero que você se machuque! Escuta! — ela ergueu o dedo do meio pouco antes de escancarar a porta e batê-la com o máximo de força possível. — Porra! — Abri a porta abruptamente e saí. — Karin! Karin!

— Vá se foder!

— Ótimo! Muito adulto da sua parte! — reclamei, mas não obtive resposta nenhuma de Karin. Dei meia volta e entrei no quarto outra vez, bati a porta e realmente considerei que estava ficando paranoico. Nenhuma criança age assim, droga! Nenhuma! — Merda!

  Metas para o dia: acabar com o resto de relacionamento com minha única irmã – confere —; afrontar o líder da Muralha – confere duas vezes, senhor —; falar em voz alta a teoria illuminati de que minha sobrinha é uma psicopata – confere, confere... Mas apesar de tudo, não era a teoria em si que me apavora.

  Não senhor.

  Era Jun. Era o que ela fora capaz de fazer para sobreviver que me aterroriza, porque ela nunca me contaria a verdade; isso era o que me deixava amedrontado. Pra valer.

[15:53] 9/12 — Agora, Zona 4, Muralha, Floresta de Nakanocho

— Está procurando alguém?

  Shikamaru interrompeu seu percurso rapidamente e olhou em volta rapidamente, fingindo que não sabia se a pergunta fora realmente feita para ele e o rosto impassível da enfermeira loira se materializou na sua frente; ela ajeitou uma prancheta entre os braços e um jaleco salpicado de sangue cobria parte de seu corpo.

— Ah... Estou procurando um amigo. Acabamos de chegar de uma busca por suprimentos e ele se machucou um pouco. — A mentira soou tão prática quanto seria possível e mais natural do que ele próprio planejara, um sorriso rápido tomou conta dos seus lábios e o olhar da garota permaneceu da mesma forma entediada de antes.

— Qual é o nome dele?

  Shikamaru olhou em volta devagar e esticou o pescoço um pouco para os lados, mas até agora não havia encontrado Yahiko em canto algum. Aquilo o deixara preocupado e refez os últimos passos do amigo; a enfermeira repetiu a pergunta e ele encarou os dois guardas parados na única porta no final do corredor.

  Avistou a silhueta de Kankuro e sentiu-se alarmado.

— Já achei. Obrigado...

— Ino.

— Obrigado Ino.

  Seus passos continuaram acompanhados com o som da borracha da sola sendo arrastada sobre cerâmica e Shikamaru avançou a distância até Kankuro rapidamente, outro sorriso no estilo relações públicas emoldurou seu rosto assim que um médico apareceu e, após algumas perguntas rotineiras à Kankuro, se afastou.

— Eles disseram que eu não posso fumar aqui dentro, como se fossem a porra da vigilância sanitária da cidade... — o resmungo foi acompanhado de um balanço negativo de cabeça e Kankuro encarou o Nara. — Também disseram que levei umas boas porradas e preciso tomar uns remédios que vão me deixar chapado até a dor passar.

— Você vai sobreviver — o outro retrucou e apoiou as mãos nos quadris. — Seu irmão quebrou seu maxilar?

— Aquele desgraçado não teria força pra isso nem que quisesse. O gancho de direita dele é bom, mas não forte entende? — ele murmurou e a risada nervosa de Shikamaru o fez estreitar os olhos rapidamente. — Deixa eu adivinhar, muita atenção por aqui amigo?

— Eu não gosto desse tipo de atenção médica — os dois riram como se fosse uma piada interna e Kankuro espiou por cima do ombro rapidamente, não se surpreendeu ao ver que a enfermeira loira continuava bem ali, fingindo anotar algo na prancheta. — Mas dessa médica aqui...

— Engraçadinho... — Sakura resmungou enquanto se aproximava e deu um soco no braço do Nara, os dois rapazes riram outra vez e ela suspirou. — Como foi a busca? Encontraram mais remédios?

— Nada disso doutora. Voltamos tão fodidos como saímos daqui — a voz de Shikamaru forçava um tom descontraído enquanto seus olhos encaravam-na num pedido de ajuda desesperado. — A mesma merda dos últimos tempos... Yahiko sumiu... Nada de novo... — aquelas palavras foram sussurrada enquanto o Nara encarava as unhas das mãos e depois os próprios pés.

— Bom rapazes, vou ver se posso fazer alguma coisa por vocês... Mas você... — um sorriso relações públicas iluminou o rosto de Sakura por alguns instantes enquanto ela e Shikamaru trocavam um breve olhar, depois ela fingiu analisar minuciosamente os curativos no rosto de Kankuro.

— Foi tudo armado — Kankuro sussurrou e Sakura meneou a cabeça, confirmando silenciosamente. — Pouca comida, poucos veículos e gente demais daqui por perto — ele virou a cabeça conforme os dedos da Haruno o guiavam. — As rotas eram de uma creche e de um manicômio Sakura... O desgraçado queria nos abalar...

— Aparentemente ele conseguiu isso, não foi? — ela sussurrou de volta e se afastou quando sentiu que toda aquela inspeção minuciosa estava demorando demais. — Parece que você levou uma bela surra, hein? Mas você vai sobreviver.

— Foi isso o que eu disse — Shikamaru interveio rapidamente e respirou fundo, girou o corpo e pegou a prancheta instalada com as informações relevantes ao outro na cabeceira da maca; folheou as duas únicas páginas amareladas preenchidas e Sakura se aproximou dele. — Yahiko foi verificar o que tinha atrás daquela porta com os guardas.

— Os remédios estão lá Shikamaru — Sakura respondeu e pigarreou ao tomar a prancheta das mãos do Nara e lhe lançou outro sorriso de flerte; Ino permanecia bem onde estava e levanta os olhos na direção do trio de tempos em tempos. — Tem outra coisa acontecendo?

— Um infectado apareceu no treinamento das crianças outro dia; Naruto e eu achamos que eles estão trazendo esses desgraçados... — ele murmurou e riu em seguida quando o choque tomou conta da expressão de Sakura, empurrou-a com gentileza e balançou negativamente a cabeça.

— Se recomponha garota, eles vão notar... — Kankuro avisou e girou lentamente o ombro direito e depois o esquerdo. — Yahiko foi ver o que eles guardam não é? E sumiu.

— Isso aí... — os olhos de Shikamaru estavam concentrados na folha de papel e o sorriso continuava em seu rosto, ele desviou sua atenção para Sakura e o sorriso aumentou consideravelmente. — Vocês médicos... Ninguém entende essas abreviações e esses termos todos, olha que nem vou fazer piada sobre a sua letra... É parte da grade escolar de vocês escrever mal pra caramba?

— Engraçadinho — a palavra foi sussurrada e Sakura tomou a prancheta das mãos de Shikamaru. — Depois eu vou ver como está o seu maxilar Kankuro e... — ele balançou a cabeça positivamente e Sakura massageou a nuca; aquela quantidade de informação foi suficiente para norteá-la e deixar seu corpo todo em estado de alerta. — ...bata o outro cara com mais força da próxima.

— Anotado doutora. Já posso sair daqui? — ele inclinou o corpo para frente e diminuiu a voz ao falar dessa vez. — Nós vamos olhar lá fora, tome cuidado aqui. — Seu corpo estalou quando ergueu os braços e um gemido de dor escapou, Shikamaru lançou um olhar de advertência à Haruno e colocou as mãos atrás da cabeça.

— Claro, desde que Shikamaru escolte você em segurança, donzela... — sua voz soou histérica aos próprios ouvidos, mas sua voz estava mais apática do que pensava e dispensou os dois com um aceno rápido.

  Sakura respirou fundo e ergueu os olhos rapidamente, o olhar constrangido da enfermeira loira foi rápido e seu rosto recuperou a mesma expressão indiferente de antes; Sakura caminhou lentamente na direção dela, os olhos fixos na prancheta e a mão livre tateava o bolso da calça jeans à procura de uma caneta.

  Ela ergueu brevemente os olhos e apressou o passo quando a loira começou a se afastar em direção aos guardas, os balbucios de pedidos de desculpas começaram quando Sakura se jogou contra a outra e quase estapeou-lhe os braços, fazendo com que os papéis e pranchetas que carregava caíssem no chão.

  As duas se ajoelharam com poucos segundos de diferença e Sakura espalhava os papéis o máximo que podia, constantemente o pedido de desculpas era pronunciado e seus olhos tentavam localizar qualquer informação relevante, qualquer uma que pudesse ajudá-la a entender e assimilar o que diabos estava acontecendo.

— Desculpe, eu sou mesmo desastrada...

— Não, tudo bem.

  Ino manuseava os papéis com incrível cautela e lentidão, seus olhos caçavam as fichas intituladas em letras garrafais com YAHIKO MANAO – 7HC e HANABI HYUUGA – 9HC em meio à papelada que jazia no chão de cerâmica, mas uma parte em si queria que Sakura encontrasse aquelas fichas e iniciasse um interrogatório, queria que os gritos por ajuda do garoto abandonassem sua cabeça e que o olhar moribundo dele desaparecesse de sua memória de uma vez por todas.

  Ela viu a ficha de Yahiko mais à sua esquerda e empurrou-a delicadamente na direção da médica de cabelos róseos, resmungou alguma coisa em resposta às desculpas dela e um sorriso de alívio surgiu em seu rosto quando os dedos dela pararam em cima da ficha 7HC e a cabeça dela se inclinou um pouco mais.

  Aos poucos Ino terminou se recolher a papelada e se levantou, ajeitou melhor os papéis em seus braços e viu que Sakura abraçava a prancheta e ajeitava as folhas com calma; ambas se encararam e a boa e velha expressão de sua mãe, a senhora Yamanaka, tomou conta de seu rosto como uma confortável máscara.

  Retomou seu caminho na direção dos guardas e não ousou olhar para trás, estava feito agora e não podia dar meia volta e tomar das mãos dela a ficha de Yahiko. Ele era educado. A mão invisível da culpa retorceu seu estômago quando lembrou dos tremores e da forma espasmódica em que o corpo dele se retorceu naquelas horas.

  Os guardas inclinaram os corpos para permitir que ela passasse; um médico lhe acenou, indicando que ela podia assumir seu posto. Nunca a indiferença lhe fora tão necessária.

  Enquanto Ino se acomodava com os gritos de agonia e com os ângulos antinaturais que um adolescente infectado pelo vírus apresentava, Sakura forçava as pernas a manterem o mesmo ritmo enquanto seu cérebro parecia que ia entrar em pane daqui a pouco.

  YAHIKO MANAO – 7HC numa letra caprichosa e sublinhado algumas vezes e, mais abaixo, apenas abreviações trêmulas seguidas do diagnóstico: DESCARTADO.

[16:43] 9/12 — Agora, Zona 1, Muralha, Floresta de Nakanocho

  A bala perfurou o centro do alvo pintado sobre a lata de lixo, o som de metal estalando foi alto e ecoou pelo campo de treinamento; não havia conversa ali, somente o barulho contínuo dos disparos efetuados por crianças. A temperatura amena começava a abaixar e as nuvens ganham tons cinzentos, proporcionais à mudança climática.

  A fumaça subiu do cano da semi automática .22 de Jun, mas sua cabeça tentava calcular o dano daquela arma em carne fresca, pulsante e cheia de nervos, artérias e sangue. O último treinamento continuava sendo contado e recontado pelas crianças de forma fervorosa, os rostos cada vez mais abatidos demonstravam medo dessa vez.

  Fracos... São todos fracos... Ela empunhou a arma outra vez e disparou novamente, expandiu o buraco na lata de lixo em mais alguns centímetros e ponderou o estrago que faria em um ser humano. Imaginou o guincho de sangue, a curva vermelha que faria no ar, os gritos que viriam a seguir e em quanto tempo atiçaria a atenção dos infectados que ladeavam os muros e aqueles que estavam trancafiados dentro deles.

  Jun girou o corpo lentamente, o dedo posicionado no gatilho e mirou em uma menina que mantinha os braços trêmulos estendidos à frente do corpo miúdo. Fracos... São todos... A adrenalina que percorreu seu corpo era diferente, aquela dosagem de energia era completamente diferente de antes e sentiu a hesitação se aproximando.

  São todos fracos, Jun... A voz do pai entoou o mantra em sua cabeça e Jun sentiu que ele apareceria a qualquer momento, não com um sorriso malicioso nos lábios e os olhos astutos, não, ele retornaria dos mortos, retornaria com a pele esticada e mordida, haveria um buraco na bochecha esquerda, a carne crua do músculo e as veias daquela parte penderiam como fios soltos. Ele retornaria como um fracote e iria pegá-la. São todos fracos. Todos eles são fracos e...

  Seu dedo era tão leve sobre o gatilho, era ridiculamente suave ao toque e o metal curvo parecia ser uma extensão desconhecida de seu próprio corpo. A menina continuava em sua mira e Jun imaginou a bala atravessando a pele fina da garganta, pensou nos sons de engasgo; ou quem sabe, uma explosão de carne, sangue e roupa aconteceria se ela acertasse o joelho, no melhor estilo de filme de ação. Ela sorriu com a expectativa. Puxe puxe puxe puxe é só apertar aperte aperte aperte

— Jun!

  A voz estridente de Hanabi Hyuuga deixou a outra totalmente paralisada enquanto ela se aproximava, os pés afundaram conforme a distância era encurtada e a frustração brotava. Pirralha intrometida. Pirralha pirralha pirralha!

— O que foi? — a voz contida de Jun contrastava com os lábios apertados e os olhos enraivecidos, ela abaixou os braços e girou o corpo na direção da outra. — Aconteceu alguma coisa?

— Ah... Seu tio voltou. Sua mãe também Jun, todos estão bem e... — Hanabi continuou falando, mas a mente de Jun mal registrava o que era dito ali. Tudo o que importava era que seu tio estava vivo e bem, pelo menos de acordo com Hanabi, mas sua mãe continuava respirando.

  Ela ergueu os olhos e sinceramente não via a diferença entre as coisas que rosnavam e as pessoas que moravam naqueles muros, salvo ela própria e seu tio. Então por que se dar ao trabalho de alimentá-los, aquecê-los, dar-lhes água e conforto quando podiam se jogar às hordas ou receberem um tiro na testa?

  Será que era pedir muito que alguém pensasse naquilo? Só por um instante, não passava pela cabeça de ninguém que todos ali eram um monte de carne fresca e inútil?

  Não, criança. Esse é seu dever. Eles são gado, você que é o pastor, a voz arrastada do pai ainda estava ali. Ela encarou Hanabi por um bom tempo e desviou o olhar para as crianças trêmulas que atiravam aleatoriamente, observou os homens armados que andavam de um lado para o outro e fitou os portões com a mesma nostalgia de dias atrás.

— ...contaminados não puderam voltar, foi o que a minha irmã disse. Eu sei que... eles só estão doentes, como meu pai ficou. É só isso, não é Jun? É só uma doença, né? — aquele tom infantil de desespero e esperança irritou-a, os olhos marejados de Hanabi a deixavam profundamente irritada e ela sentiu vontade de esbofeteá-la. — É como... como uma gripe?

— Mais ou menos Hanabi... — ela murmurou e as palavras a deixaram perplexa com a constatação, resumia em partes o mantra de Suigetsu. Ela desviou o olhar até os cubículos de interrogatório do qual um infectado brotou no horizonte tempos atrás e foi saudado por uma bala na testa.

  Deveria haver mais dentro daqueles muros e estavam cozinhando à fogo brando aquele tempo todo. Ela arregalou os olhos e seus pés vacilaram para frente, quase magnetizados pela possibilidade que havia surgido em sua cabeça. Eles mantiveram um infectado esse tempo todo... Um de quantos? Dez? Cem?

— Jun... E-Eles só precisam de ajuda não é? — a voz insegura de Hanabi cutucou a raiva e Jun encarou-a como se fosse um animal enjaulado e assustado com a própria sombra. Hanabi juntou as mãos em frente ao corpo, como se isso a blindasse dos males que a verdade trazia consigo.

  Você é o pastor, criança.

— Isso mesmo Hanabi... Todos eles precisam de uma ajudinha, só isso... — o olhar dela estava fixo nos cubículos de metal espalhados na área mais aberta da Muralha e sentiu que havia encontrado seu propósito dentro daqueles muros.

  Basta guiá-los e eles vão seguir seu curso. Todos seguem no final... Todos eles.

[19:26] 9/12 — Agora, Zona 3, Alojamento, Muralha, Floresta de Nakanocho

  O barulho das batidas na porta interrompeu os pensamentos conspiratórios que ocupavam a minha cabeça nas últimas horas, levantei do chão e senti as costas estalarem, caminhei até a porta e imaginei Karin do outro lado.

  Respirei fundo quando as batidas continuaram e escancarei a porta dizendo:

— Olha aqui Karin, se...

— Onde estão as suas roupas? — a pergunta surpresa de Hinata me fez calar a boca automaticamente e encarei a toalha ainda presa à cintura. Bati a porta com força e vesti as primeiras peças que encontrei na cômoda; por alguns instantes senti as bochechas ardendo. — Posso entrar agora?

— Pode — murmurei e abri a porta novamente, Hinata sorriu meio irônica e me observou de cima à baixo. — Ou prefere que eu tire tudo outra vez? — aquela ousadia de flerte, que há anos eu não sabia mais o que era, soou convidativa e abri os braços rapidamente; ela balançou a cabeça brevemente e começou a rir.

  Ah merda.

  Me parecia o som mais feliz do mundo. Ah merda...

— Eu traria vinho se soubesse, mas você me pegou desprevenida Naruto — ela respondeu e ri com ela enquanto o ardor nas bochechas retornava com mais força. — Na verdade eu vim agradecer por ter me ajudado lá fora. Obrigada por ter cuidado de mim.

— Disponha.

  Ela enfiou as mãos nos bolsos de trás da calça jeans e cruzei os braços, nos encaramos e calculei quantos passos seriam necessários para acabar com a distância totalmente e, por mais de uma vez, me vi abraçando-a novamente.

  Dessa vez o silêncio era incômodo e eu não conseguia desviar meus olhos dela, da forma como ajeitava o cabelo várias vezes e dava passos incertos na minha direção e desviava o olhar frequentemente para os lados. Eu não conseguia parar de observá-la ou de me encantar com seus sorrisos fáceis e descontraídos e, ah merda senhoras e senhores, eu não conseguia parar de ficar vermelho.

 Como um adolescente. Como um adolescente apaixonado, que solta suspiros e escreve o próprio nome com a da garota amada numa árvore.

  Ela deu mais alguns passos na minha direção e fiz o mesmo, ela ergueu a mão esquerda e a estendeu na minha direção; parecia que ela sabia exatamente o que eu estava pensando ou o que queria dizer naquele instante, parecia que ela sabia que eu não queria mais me afastar dela.

  O toque da mão dela no meu rosto foi reconfortante e confortavelmente demorado, descruzei os braços e pus as mãos no rosto dela, nos encaramos outra vez e nossos rostos se aproximaram. Ah merda... Ah merda... Abri a boca algumas vezes, mas parecia que qualquer coisa que eu dissesse acabaria com tudo aquilo.

— Naruto...

— Eu...

  A voz de Hinata e a minha eram apenas sussurros desesperados, soaram baixas e urgentes; afaguei o rosto dela e a mão dela deslizou até a minha nuca. Me inclinei um pouco mais e sentia sua respiração acelerada e ofegante, igual à minha.

— Naru... Ah merda, eu... — a voz desconcertada de Shikamaru. AH MERDA! Franzi o cenho automaticamente e encarei-o por cima da cabeça de Hinata que estava imóvel em meus braços. Eu vou te matar, pronunciei as palavras sem emitir qualquer som e Shikamaru não conseguia desviar o olhar. — Eu devia voltar...

— Devia. — Tentei soar o mais enfático possível, mas a irritação foi maior. Hinata se afastou de repente e um sorriso maníaco repuxou meus lábios. Ah, seu filho da puta imoral! — Mas já que você...

(Little black submarines)

— Eu não sabia que vocês... Eu juro... Eu sinto muito ter... Hã, sabe... — ele murmurou e soltou o ar de forma exagerada, com certo choque talvez, respirou fundo e fechou a porta. — Eu não vi nada, sério. De qualquer forma, é bom que eu tenha encontrado os dois. Estamos com um problema.

  A preocupação tomou conta da atmosfera, toda a calmaria e aquela sensação de entorpecimento foram deixadas de lado com rapidez e aquilo me incomodou. Se Shikamaru não tivesse aparecido... O que? Vocês iam se beijar? Você ia falar como se sente? Talvez. Respirei fundo e escorei o corpo próximo à parede.

— Alguém sumiu por acaso? — perguntei irônico e o rosto de Shikamaru empalideceu visivelmente, todo seu autocontrole desmoronou e diante de mim estava um homem totalmente desamparado e retorcido em culpa.

— Yahiko. Eles o pegaram. — A voz dele ficou trêmula e ele me encarou como se o que eu dissesse a seguir pudesse salvá-lo de alguma punição eterna. — Eles o infectaram Naruto... E-Eles o pegaram.

  Soava como uma história de terror, do tipo que se conta em acampamentos ou em noites do pijama; parecia que alguém estava me dizendo que de agora em diante a vida se resumia em fugir de seres contaminados com um vírus que te fazia virar um animal irracional, extremamente faminto por carne fresca e irrigada em sangue. Ha-ha. A ironia é uma vadia!

  O rosto de Shikamaru – com aquele fiozinho de esperança – era mais surreal ainda, ele balbuciara as palavras como se estivesse num confessionário e senti que minhas pernas fraquejariam a qualquer instante. Não, não. É um erro. Eu queria dizer que a viagem fora cansativa, que aquilo era uma piada de mau gosto, mas não era.

— Nós estávamos certo, e-eles têm infectados aqui dentro Naruto. Não tem como explicar como diabos Yahiko foi infectado, mas ele foi! Ele foi, Naruto. E... Ele se foi agora. E-Ele...

  Ele era uma criança. Um moleque de dezessete anos que era caixa de supermercado quando a merda bateu no ventilador e sujou o mundo.

— Eles o pegaram Naruto e agora... Agora faz sentido... — ele exasperou e seus ombros caíram, seu rosto se tornou mais abatido ainda e sua voz parecia um sussurro; a voz chorosa e desesperada de Shikamaru me fez sentir tonto e totalmente perdido.

  A Muralha não é um lugar para os fortes, não senhor...

— Aquelas brigas todas, os lugares sem sentido para fazer revistas, as rotas de busca... Esse tempo todo nós estamos sendo testados emocionalmente e fisicamente e os nossos limites estão sendo anotados meu amigo... — aqueles olhos astuciosos transbordavam desespero. — Nós caímos direitinho cara, nós demos tudo o que eles precisavam para nos catalogar.

  A Muralha não é um forte para se refugiar dos infectados. Ela é um contêiner deles.

— Nós precisamos fazer alguma coisa Naruto, antes que eles nos peguem — encarei-o como se ele soubesse quando iria acontecer, de que forma suas expectativas seriam preenchidas, mas tudo o que dominava Shikamaru era a dura verdade de que nosso pequeno grupo era apenas um mosquito comparado à Muralha.

  As palavras seguintes faziam parte da nossa queda, mas quem diria? Quem saberia que a solução suicida de Shikamaru custaria tão caro? Ninguém amigo. Ninguém.

— Nós precisamos lutar.


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Notas finais do capítulo

YOOOOOO!
Antes de qualquer coisa: este capítulo e o anterior são um no meu arquivo word, entretanto fica muita informação de uma vez, daí a postagem dupla. As próximas postagens serão nesse estilo, dois capítulos com poucos dias de diferença.
Admito que estou mais empolgada em escrever essa nova fase da Muralha e já lhes adianto que os próximos capítulos terão porrada, tiroteio, correria, tortura, sangue, etc, etc, mas sobretudo romance. O romance (que eu pessoalmente não sou fã de escrever) vai rolar a lá DTB.
O núcleo central dos personagens vai enxugar devido aos acontecimentos que planejei na minha cabeça e estou lapidando há semanas e semanas, especialmente com outras personagens do grupo do Naruto.
Spoiler a parte (uma personagem central será responsável pela morte de duas personagens do grupo do Uzumaki), agradeço muitíssimo a todos os comentários, críticas e por acompanharem a fic. É gratificante demais, então obrigada de novo.
Explicações adicionais:
— A Muralha não passa de um grande oásis no meio do deserto; ela ainda é um forte militar para fins de pesquisa científica e biomédica, no qual pessoas saudáveis ainda são usadas como cobaias para o vírus;
— a Hanabi, como tantos outros personagens, não conseguem deixar de ver o vírus como uma doença simples, sem danos colaterais significativos, já que a pessoa contaminada não morre necessariamente por conta do vírus;
— o argumento da Jun e do Suigestu é de que os contaminados são bombas relógio ambulantes esperando para explodir e causar o máximo de dano possível, essas pessoas falharam de alguma forma, seja moral ou fisicamente, e merecem ser abatidas antes que contaminem mais alguém;
— o Naruto está se apaixonando pela Hinata;
— a Hinata está se apaixonando pelo Naruto.
O romance NaruHina é mais lento, sim... Minha muleta: é o fim do mundo. Mas vou dar um gás nessa parte. ^-^'''' No mais, é isso aí.
Recado de praxe do dúvidas, sugestões e afins permanece firme e forte. O mesmo para os comentários, críticas e afins que são bem vindos sempre; os encerramentos típicos de cada nota final permanecem. ^-^
Até o próximo!
o/



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