O virgem de 19 anos escrita por AmndAndrade


Capítulo 20
Capítulo 19


Notas iniciais do capítulo

AAAAAAAAHHHH mandaram review e marcaram pra acompanhar e favoritaram e prometeram recomendação e e e e e

HAUHAUH parei. Mas sério, que retorno gostoso, gente! Obrigada



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A resposta da mensagem pode esperar. Sinto o sangue esquentando em meu rosto e minhas sobrancelhas se unindo numa expressão de impaciência.

– Você não pode estar falando sério. Marcos pisca os olhos claros para mim.

– É a regra do jogo, guri. Tem de ser cumprida, até porque até agora você cumpriu o desafio e não aconteceu nada demais.

Passo por eles no corredor, enfiando o celular no bolso. Ouço passos me seguindo no assoalho caramelo. Já são quase quatro da tarde, o que significa que Vanessa deve estar se arrumando para a tal reunião. Lembro de quando ela fez quinze anos e seus pais iam dar a primeira festa em salão, com mais essas coisas que meninas gostam.

Vanessa nunca foi delicada, mas essa era a fase em que ela gostava mais desse tipo de coisa. Vivia enfiada com as amigas em sites de moda e recheado de fotos de garotos que passavam chapinha. Como elas os chamavam mesmo? Colírios? Não importa. Só sei que eu deveria entrar com ela e dançar uma música. O que eu era? Certo, o príncipe dela ou algo do gênero.

O problema é que ela faz aniversário em janeiro, um dos meses mais quentes. Especialmente se tratando do litoral capixaba. A organizadora da festa – uma antipática que parecia o filhote do pé grande – disse que eu deveria chegar às oito e quinze. O que eu fiz? Oito e quinze estava no salão, quase derretendo dentro do terno maldito que Vanessa me fez usar. Chequei meu inseparável relógio de pulso – ela não conseguiu me obrigar a tirá-lo, apesar de ter tentado. Enquanto as pessoas iam entrando e eu ia cozinhando, já eram quase nove da noite. Naquele dia eu tive tempo para planejar a morte de Vanessa de umas quinze maneiras diferentes.

Só que tudo isso se dissolveu quando ela entrou no salão, usando um vestido vermelho que deixava os olhos dela ainda mais claros. Ela sorriu para mim e eu ignorei todo suor do corpo quando a hora da dança chegou. Segurei seu corpo na valsa e guiei como havíamos ensaiado. Ela me lançou o sorriso mais bonito que eu já vi e eu tentei beijá-la; só que na hora ela virou o rosto para baixo, afastando seu corpo do meu antes que eu pudesse escutar seu coração bater.

– Caio, estamos falando sério – Marcelo diz, entrando na cozinha.

Viro, suspirando.

– Sério mesmo? Vocês não acham que o desafio foi idiota desde o início? Quer dizer, foi desnecessário. Pessoas estão se machucando e vocês parecem não ligar!

Marcos revira os olhos, me encarando.

– Bah, é só comer mais uma! Eu sei que tu dás conta!

Eduardo começa a rir e eu não aguento. O problema é que eu vou me sentir meio mal ficando com outra garota que não a Vanessa, depois do que aconteceu hoje. No momento, eu não consigo pensar em outra razão para os garotos me liberarem.

– Eu acho que vou pedir alguém em namoro – solto.

Os olhos verdes de Marcos se arregalam e um sorriso largo aparece em seu rosto.

– A gente podia conseguir duas garotas e fazer um ménage, o que vocês acham?

Sem que precisemos combinar, cada um dá um soco bem forte no braço do loiro. Ele alisa o lugar em que batemos, franze as sobrancelhas e revira os olhos, como quem diz “ai, foi só uma sugestão”. Eduardo pigarreia e se vira para mim.

– Sério, Caio?

Faço que sim com a cabeça, suspirando. Ele para pra pensar e me encara por alguns segundos.

– Então, hoje vai ser a sua última vez.

Última quase-vez, corrijo mentalmente. Se eu consegui permanecer virgem até agora, qual a dificuldade em fingir os sons mais uma vez? Principalmente se eles escolherem um bar, o que provavelmente vai acontecer. Tenho uns cinquenta reais na carteira e acho que qualquer prostituta aceitaria emitir os sons. Eu tenho um baralho no criado-mudo, posso até levá-lo. Se tiverem três garotas lá, a gente pode até soltar umas partidinhas de bisca. Resolvo não pensar muito mais.

– Pode ser. – Suspiro. – Qual o lugar e que horas?

Eles se entreolham mais uma vez. É Marcelo que diz agora.

– Depois das cinco, qualquer hora. E vai ser aqui em casa.

Aqui em casa. Aqui em casa, oh merda! Como eu vou trazer uma garota para cá, enfiar a digníssima no meu quarto e depois perguntar se ela sabe jogar uno? Tenho um pequeno pressentimento de que não vai dar certo. Mas o desafio dizia uma semana e eu concordei não uma, mas duas vezes com a escolha de alguma coisa sem ouvir primeiro. Primeiro, quando eles escolheriam o lugar. E agora, quando escolhem aqui em casa.

Pensando bem, eu não me importaria em quebrar a promessa hoje. O problema é com quem eu quebrarei a promessa. Não estou falando dessa coisa que garotas têm que “a primeira vez tem que ser especial”, longe disso. É que é ela quem saberia o que fazer. É ela que eu gostaria de ver, tocar e beijar. Mas como dizer isso sem parecer um completo idiota?

– Pense nisso como sua despedida de solteiro – Marcelo diz.

Sorrio torto para ele, resistindo ao impulso de revirar os olhos. Aliás, não sei como eles ainda não soltaram das órbitas, dadas as inúmeras vezes em que os revirei na última semana. E sim, essa teoria dos olhos saltarem é tão plausível quanto a de o estômago engolir meus outros órgãos – poderia acontecer, mas não acontece.

Balanço a cabeça positivamente e os três voltam a sorrir.

– Certo, vocês venceram. Preciso... Pegar uma coisa. Uma coisa no meu quarto – digo, saindo. Escuto o rangido na cadeira e me viro com rapidez, fazendo com que eles fiquem imóveis. – E não preciso que vocês venham comigo.

Eles recuam automaticamente e eu atravesso o corredor, sentindo o azulejo frio debaixo dos pés e querendo trocar de amigos. A porta de madeira se abre com um rangido. Mas que droga, será que vou ter de colocar óleo ali também? Jogo-me na cama, com um pensamento que parece muito com o que tive logo depois de ser submetido ao desafio: de que só uma pessoa poderia me ajudar. Mas e se ela tiver a ideia louca de deixar a reunião pra vir fingir comigo? Sabe-se lá, do jeito que Vanessa é louca. Não posso fazer isso com ela... Chega de prejudicá-la por conta do meu problema. Vou escolher uma garota, trazer pra cá e mandar ver.

Oh, Deus, eu não quero mandar ver com outra garota. Quero mandar ver com Vanessa. Isso se ela quiser, é claro. Quer dizer, ela quer, não é mesmo? Não foi por isso que ela ficou brava quando eu levei aquela garota loira pro quarto, no dia em que ela me ligou bêbada? Não foi por isso que ela foi me buscar no hospital, mesmo depois de eu ter chamado a bendita de vadia – ainda que sem querer? E ela disse que me amava. Qual é, todo mundo sabe que bêbado não mente.

E a verdade é que eu gosto dela de verdade. Eu sinto vontade de dormir com ela – falando de fechar os olhos e sentir o cabelo dela roçando no meu rosto. Sentir minha barba por fazer roçar o pescoço dela como aconteceu hoje de manhã. Sentir...

Certo, Caio, se isso não foi uma tentativa de compor um sertanejo de corno, está bem perto. Vamos manter o foco.

Pego o celular e pesquiso até que a “Vanessa Gostosa” apareça na tela. Ela e suas manias de mudar os nomes dos meus contatos. Disco uma vez, nada. Mais uma vez, nada. Enfio os polegares nos olhos como sempre faço quando estou frustrado, ainda pensando, até que o aparelho começa a vibrar. Os pontinhos brancos na minha visão não me deixam ler o número, mas fico instantaneamente aliviado quando a voz doce de Vanessa pergunta:

– Caio? – Não, número errado. – Minha visão volta a ter foco e eu me sento sobre os lençóis já bagunçados.

Ela solta uma risadinha.

– Achei que você não queria responder minha mensagem. Sobre eu estar com saudades e tal.

– É o tipo de coisa que eu prefiro te mostrar quando a gente se encontrar. – Rio.

– Mal posso esperar.

Então há uma longa pausa, onde escuto barulhos de carro. Checo o relógio de pulso. Cinco e quinze.

– Onde você está? – pergunto.

– No Bernardão, tinha um professor esperando aqui. A orientadora tá levando a gente.

– Eu deveria ficar com ciúmes? – pergunto com uma risada abafada.

– Do Bernardão? – Ela gargalha. – Não, não... Ele é... Meio duro, sabe? Quadrado. Sólido demais.

É óbvio que é quadrado e sólido. O Bernardão não é uma pessoa, como muitos estudantes pensam ao entram na Federal de Viçosa, mas se trata de um prédio. Recebeu esse nome numa homenagem ao viçosense Arthur Bernardes, que foi o presidente do Brasil no século passado e fundou a escola que mais tarde viria a se tornar a nossa amada UFV. Dou uma risadinha.

– Mas o que você queria? – pergunta e meus lábios param de sorrir instantaneamente.

Ela percebe o silêncio.

– Caio? O que foi? – diz num tom preocupado.

Suspiro.

– O desafio ainda não acabou e eu vou ter que dar um trato em uma garota aqui hoje à noite. Na realidade o tempo pra escolher a garota já começou a correr e eu não consigo pensar em ninguém, porque eu não quero fazer isso com outra garota agora.

Posso imaginar que ela esteja mordendo o lábio inferior agora, porque a linha está quieta.

– E você... Não quer? Não quer fazer isso com outra garota? – ela pergunta.

– Exato – admito, um pouco sem graça.

A linha fica muda mais uma vez e quando ela volta a falar, sua voz está um tanto mais rouca.

– Fico muito feliz em ouvir isso, de verdade. Você quer que eu vá para aí? A gente dá um jeito, eu só preciso de uma carona e...

– De jeito nenhum – interrompo-a. – Se você aparecer aqui, eu vou te mandar pra sua casa. Eu te quero nesse estágio, entendeu? Eu não te liguei para você vir aqui.

– Mas são só uns quarenta minutos aí... – ela insiste.

– Vanessa – volto a interrompê-la. – Eu só preciso de uma ajuda. Não te quero perdendo essa oportunidade, entendeu bem? E estou falando sério sobre a coisa de te mandar pocar fora se aparecer aqui. Preciso de uma sugestão, é isso. Só uma ideia que não envolva realmente fazer isso com outra garota. Você pode me ajudar ou não? – Posso ter sido grosso, mas quando ela põe uma coisa na cabeça o único jeito de fazê-la parar é agindo assim.

A linha fica silenciosa por alguns segundos. Ao fundo, consigo escutar o rádio de um carro e o som de outros carros passando na estrada. Questiono se fiz a escolha certa ao compartilhar esse problema. Mas não é isso que os namorados fazem?

Ai. Namorados.

– Tive uma ideia. – A voz está ligeiramente mais alegre.

Suspiro.

– Sou todo ouvidos.

– Por que você não liga pra Luli?


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Notas finais do capítulo

E então, quem aí lembra da Luli, prima da Vanessa? Jeez, mais tenso do que estar apaixonado e dormir com uma qualquer é estar apaixonado e dormir com a prima dessa pessoa AHUHAUAH

E esses amigos, taqueopariu, vamo combinar né... Mas enfim. Gostaram? Odiaram? Palpites?

HAUHAUH lembrem do meu review, e de favoritar ou recomendar (se acharem que merece, claro). Beijos, até mais!