Quatro Palavras escrita por dear blue eyes


Capítulo 3
Hospital


Notas iniciais do capítulo

desculpem a demora, acabei refazendo o capítulo! Espero que gostem



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Enquanto Brian dirigia em silêncio, eu apenas chorava. Não conseguia segurar uma lágrima sequer, e os soluços vinham um atrás do outro. Ele sussurrava uma coisa ou outra, mas eu não conseguia prestar atenção no que era. O percurso era longo, nós já sabíamos, São Paulo é uma cidade gigante, e por mais que fosse mais de dez horas, ainda havia um numero grande de carros.

– Jenny, faz vinte minutos que saímos de lá. Já pode parar de chorar – Ele suspirou e disse suavemente as palavras, na tentativa de não parecer grosso. Estava certo. Enxuguei as lágrimas que desciam pelas maçãs de meu rosto, e engoli as que ainda não tinham aparecido. Tentei bloquear qualquer pensamento que tivesse John no meio, mas era impossível. Perguntei-me se mereci aquilo, mesmo estando com Brian, estava solteira, certo? Não havia motivo algum para ele ter feito aquilo. Ou havia? Será que ele... ainda me amava? Não, não, se me amasse, não teria feito o que fez. Mas, e se ele se cegou com o ciúme? Posso culpa-lo? Suspirei pesado, se não parasse de pensar, voltaria ao estado inicial.

– O que te faz sentir atraído por mim? – perguntei, encarando qualquer coisa que não fosse ele.

– Bom, o seu jeito, seu sorriso, suas atitudes, palavras, gestos, você me trata tão bem! E não só a mim. Você é diferente das outras, você não finge ser alguém que não é, nem tenta se arrumar para chamar atenção. O seu natural já chama a atenção... Pelo menos a minha. – ele sorria enquanto dizia tudo isso, e pude jurar que seus olhos brilhavam.

– Você está bêbado.

– Por que não acredita que é boa? Cadê a sua alto-estima?

Ouvi a porta da sala abrir. Tentei secar as lágrimas, e fingi dormir, quando minha mãe, sem bater, entrou com John no meu quarto.

– Querida, seu amigo está aqui – ela disse, sem perceber que eu estava chorando, já que não coloquei meu rosto para fora das cobertas.

– Tudo bem, obrigada mãe... – disse, ainda sem deixar de esconder o rosto. Senti alguém sentar na ponta da minha cama, esperei o barulho da porta batendo, então levantei e me joguei em seus braços. Sem dizer palavra alguma, ele apenas afagava minha bochecha, ficamos assim por alguns minutos, quando cessei o choro. Ele fitava meu rosto, tinha uma expressão calma, então levantou por alguns segundos, apenas para fechar a cortina do meu quarto, deixando a claridade mais amena, acalmando-me ainda mais. Como um menino de 15 anos podia fazer isso? Ele me deitou, segurando minha pequenina mão, e falava devagar:

– Não acredite no que ela diz, você sabe como meninas são... você estava se destacando, todos perceberam, Brenda apenas se sentiu apagada... Afinal, nunca ninguém cobriu o brilho dela como você fez hoje. Você é extraordinária, é linda e inteligente, têm amigos, amigos de verdade! Você tem um jeito único, ela é apenas uma cópia, e cópias nunca são perfeitas. Já você... – meu coração palpitava forte a cada palavra. Sentei-me, ficando frente a frente a John, passando minha mão por seus cabelos castanhos. Pude ver perfeitamente os detalhes do rosto do parceiro, que estava se aproximando. Então selamos nossos lábios pela primeira vez.

Respirei fundo algumas vezes, tanto pela lembrança quanto pelo que Brian havia falado, mas não queria me preocupar com o que acho ou sinto de mim mesma. Apenas pedi para ele parar o carro, e fui atendida prontamente. Descemos e fomos até o supermercado que estava logo à frente. Compramos vodka e ruffles, caminhando a pé até um parque. Sentamos na balança, em silêncio.

Já sentindo o efeito do álcool, comecei a balançar sem parar, cada vez mais alto. Aquilo me deixava ainda mais tonta, mas a sensação era boa. Brian pediu para ir mais devagar, porém não dei ouvidos. Pediu uma, duas, na terceira puxou-me, fazendo com que eu perdesse o equilíbrio e batesse a perna no ferro. Reclamei de dor, ficando um tanto quanto emburrada, e logo caindo no choro. Sem entender muito bem, após pedir desculpas e analisar o roxo que formada em minha pele branca, acolheu-me em seus braços musculosos, e retornamos ao silêncio, observando a lua. Sua mão tocou a minha, seu rosto ficou alguns centímetros mais perto do meu. Agradeci por não estar totalmente claro, pois senti minhas bochechas quentes. Então vi seus olhos em mim. Corei mais ainda, então foi se aproximando, mais e mais, o que fiz? Apenas fechei os olhos , e deixei acontecer.

– Desculpe... – ele sussurrou – eu apenas não consigo evitar... – então Brian levantou, com uma expressão confusa. Não podia culpá-lo, afinal, existia alguém mais confuso que eu? Apesar de tantas dúvidas, segurei sua mão, e caminhamos assim até o carro.

– Bom, quer pegar um caminho mais curto? – perguntei – nós dois precisamos descansar, e ir pelo centro nos renderia bons quarenta minutos. Vamos pela estrada, chegaremos mais rápido.

– Tudo bem – ele sorriu torto, sem olhar pra mim – você quem guia.

Os próximos quinze minutos foram silenciosos, me sentia mais tonta do que antes – não achei que fosse possível - e imaginei o quanto Brian também estaria mal. Propus a ele que, depois do retorno que teríamos que pegar, ele parasse no posto e trocássemos, já que provavelmente minha tontura teria baixado. Eu tinha uma confiança muito grande no volante, e apesar de ser a mais nova do grupo, com 20 anos, era quem melhor dirigia. Ele assentiu, sem abrir a boca.

Dali cinco minutos estávamos perto do retorno, apontei, avisando onde ele viraria, mas o mesmo não se moveu. Chamei-o: nada. Quando virei-me, suas pálpebras estavam fechadas, ele estava dormindo! Tentei ser rápida e, enquanto gritava seu nome, tirei meu cinto para virar o carro e evitar que batêssemos no veículo na faixa ao lado. A velocidade era alta e antes que pudesse concluir a curva do retorno, estávamos descendo o morro de aproximadamente 10 metros. Tentei permanecer agarrada ao banco do motorista, sem sucesso. Pude sentir minhas costas baterem uma ou duas vezes no teto do carro. Batemos com força numa pedra, destruindo a parte frontal do carro, e fui atirada para fora do veículo, quebrando o vidro principal, caindo com força no chão, em seguida perdendo a consciência.

***

Abri meus olhos, sem enxergar de início. Ouvi uma voz familiar chamar-me. Enquanto minha visão clareava, me lembrei do acontecido, onde estava Brian? Onde eu estava? Aflita, procurei os olhos de quem estava comigo, e me assustei. John? O que ele fazia aqui? Tentei sentar-me, mas senti uma dor aguda em minhas costas, meus braços não respondiam prontamente e senti minhas pernas tremerem. Deitei novamente, vencida.

– Acho melhor você sair – uma voz feminina despertara-me desse êxtase de dor, mas ainda não me sentia preparada para abrir os olhos novamente, estava exausta. Ela estava falando comigo? Era Megan?

– Não, não sairei – John respondeu, em seguida segurou minha mão. Tentei fazer força com os dedos, avisar que estava ali, mas não tive forças para tal.

– A culpa de ter acontecido isso é totalmente sua! – Agora sua voz era alta, um tanto quanto desesperada, então os dois começaram a discutir. Ele fazia questão de colocar a culpa em Brian, defendendo seu ponto de vista a todo o custo. Realmente John nunca mudaria! Mas eu sabia a verdade, a culpa era minha. Fazendo o máximo de forças, abri os olhos pela segunda vez, tentando mantê-los acordados. Suspirei um monossílabo qualquer, e consegui chamar atenção. Os dois aproximaram-se, pude sentir a respiração de meu ex-namorado próximo a minha bochecha.

–Bri... Brian? – Perguntei por ele, estava desesperada por notícias suas, apesar de ver o rosto decepcionado de John, era necessário.

– Uma pena não ter morrido... – O mesmo parecia aborrecido, revirando os olhos e se afastando um pouco.

– Não ligue pra esse idiota – Megan sorriu na tentativa de me manter calma – ele está bem, melhor que você! Afinal, por que estava sem cinto? – quando abri a boca para me explicar, ela fez um gesto para nem começar – já passou! Faz dois dias do ocorrido, mas você está se recuperando muito bem! Não quebrou nada... Obteve apenas um corte profundo nas costas, e vários pequenos, mas a cirurgia já foi feita, a cicatriz não é longa! Logo você e Brian terão alta... Daí nos explica tudo!

Seguimos assim por quatro dias. Permanecia sozinha pela manhã, em seguida algumas enfermeiras vinham trocar meu curativo. Minhas pernas e braços carregavam arranhões, alguns mais fortes, outros bem leves, o que achei pouco, pois quando pulei para fora do carro pensei que fosse morrer. O ponto das costas era meu principal inimigo, ainda não podia andar por causa dele, nem sair da cama. Só conseguia usar o banheiro acompanhada de alguém, já que recusei mil vezes quando me ofereceram a cadeira de rodas feita para urinar. Pela tarde apareciam minhas visitas favoritas, deixando-me mais feliz.

– Oi! – John abriu a porta de meu quarto com um longo sorriso no rosto e o violão nas costas. Veio até meu leito e depositou um beijo próximo a meus lábios, fazendo minha respiração perder o ritmo. Calma, Jenny, foi só um beijo perto da sua boca, calma, calma e calma.

– Oi! – minha voz ainda não era forte, então sempre tentava força-la para causar uma boa impressão.

– Eu trouxe minha amiguinha aqui – ele bateu no violão, amigável – para lembrarmo-nos dos velhos tempos e...

– John – cortei-o. Pude ver a expressão de seu rosto mudar em menos de um segundo, agora seu rosto trazia confusão, um pouco de arrependimento e medo – depois do que aconteceu, eu... Não estou preparada para isso ainda. Você sabe mais do que qualquer outra pessoa que aquilo era uma coisa minha e sua, de mais ninguém... E depois do que você fez, eu não sei se posso confiar em você novamente...

– Jenny! Você me incentivou a isso! – Suas mãos longas procuravam desesperadamente pelo cigarro guardado junto ao instrumento musical.

– Assuma a culpa uma vez na sua vida? Nós não temos mais nada, não é isso? Então posso sair com quem eu quero, certo? Afinal, não sou eu quem estava desfilando com a aniversariante. Você sempre falou mal dela! Por que fez isso? Quer saber? Vá embora! Me dê uma chance de te esquecer! Enquanto você for “meu amigo”, ainda o amarei, então suma!

– Você ainda me ama? – Ele perguntou, tornando tudo mais difícil.

– Ei ei ei ei ei – Megan entrou com tudo no quarto, olhando feio para nós – John, escutei você do corredor. Eu disse que era uma má ideia você aparecer, não disse? Respeite-a, já que é o mínimo que pode fazer, e saia daqui.

Enquanto escutava, ele me olhava, como se procurando alguma duvida dentro de mim. Tive que transparecer segurança, segurar qualquer tipo de sentimento até ele sair dali. Devagar, por fim, levantou-se, em silêncio. Desviando seu olhar de mim para o chão, pegou suas coisas, e saiu. Vi o sorriso de Megan, que fechou a porta com um pouco de força a mais que o necessário, vindo até mim, comemorando com um “estou tão orgulhosa de você!” Então resolvi guardar para mim o sentimento de arrependimento que rodeou-me no instante seguinte que John saiu de vista.

Depois disso, tudo ficou vazio, solitário. Deixei-me vagar por todos os acontecimentos desde a festa até aqui, e senti que não fui errada ao fazer o que fiz a John mais cedo. Pensei em Brian, que, apesar de estar internado no mesmo corredor que eu, não o tinha visto desde o acidente. Apenas sabia o que Megan contava.

Sentindo-me amargurada, procurei meu livro de cabeceira, mas o mesmo encontrava-se na mesa, perto da porta de saída. Suspirei alto, não passaria a noite daquele jeito. Tentei sentar-me e logo senti meus pontos. Gemi baixo, ignorando em seguida a dor. Coloquei um pé no chão, devagar, e logo, o outro. Ufa, não estava tão mal assim, eu até me daria alta para amanhã. Sorri com esse pensamento. Usando como apoio a parede e os dois sofás que ficavam ali, cheguei até o livro, pegando-o, orgulhosa e satisfeita. Então tive uma ideia.

Abrindo levemente a porta, espiei pelo corredor, encontrando apenas uma enfermeira gorda bem distante, sentada e de cabeça baixa: era a minha deixa. Devagar, saí, tentando ficar um pouco mais ereta, sem sucesso. Sentindo-me o corcunda de notre dame, e rindo internamente disso, olhava placa por placa de cada porta em meu caminho, procurando por seu nome. Era três portas depois da minha. Bati de leve duas vezes, e entrei sem esperar muito. Suas pupilas estavam dilatadas, a boca semiaberta, surpreso por me ver. Um segundo se passou até Brian tentar dizer algo, então chacoalhei as mãos, reprovando, em seguida sussurrando “shhhhh, eu não posso estar aqui!”.

Ainda sem entender, mas agora, sorrindo, Brian cedeu um espaço para mim em sua “cama”, e ficamos nos encarando, em silêncio. Eu não tinha pensado nisso. O que dizer agora? Pedir desculpas, brigar, chorar, rir, perguntar se ele está bem, beijá-lo?

– Olha, eu nem sei o que dizer... – ele coçou os olhos, procurando palavras – é... Isso nunca aconteceu, sabe? Me desculpa... Não queria que tivesse acontecido, muito menos com você...

– Não tem que se desculpar – sorri, acalmando-o – afinal, quem te deu vodka fui eu... E o carro é seu, imagino o custo dessa brincadeira, mil perdões...

– Não diga isso, por favor! Mas já passou certo? Vamos... Deixar pra lá? A única coisa que ainda quero saber é onde está ferida, se está melhor, se tem condições para vir até o meu quarto sozinha – ele fez careta de reprovação, mas logo voltou ao rosto sereno e carinhoso.

Conversamos sobre os últimos dias, soube que a perna dele ficou presa entre o banco e a parte frontal que estava amassada, e ele teria que andar de muleta por algumas semanas, mas sem risco algum. Tivemos sorte, muita sorte! Quando minhas costas começaram a reclamar um pouco mais alto, o garoto de cabelos pretos brilhantes deu mais espaço (quase tudo) e ficamos lado a lado. Cochichamos, rimos, nos silenciamos, e depois fizemos tudo de novo por uma hora, até que me senti cansada e decidi voltar para o quarto.

– Você promete voltar amanhã? – Seus olhos verdes pareciam ainda maiores, com tanta esperança, fazendo-me perder a respiração. Tinha que admitir: Brian era lindo.

– Sim, prometo voltar! – sorri, me jogando em seus braços. O cheiro de hospital invadiu-me, e guardei como uma boa lembrança, sabendo que toda a vez que me recordasse disso, sorriria.

Voltei do mesmo jeito que viera. A mesma enfermeira gorda estava do mesmo jeito no final no corredor, então foi fácil demais voltar para o meu quarto. Entrei devagar, sem fazer barulho algum ao fechar a porta, mas quando virei-me, levei um susto tão grande que quase perdi o equilíbrio, por estar com pouquíssima força nas pernas. Suas mãos vieram de encontro aos meus braços, impedindo-me de cair. Após respirar fundo por duas vezes, disse, num tom alto e alarmado:

–O que está fazendo aqui?


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Notas finais do capítulo

Então, como estamos indo até aqui?



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