Meu Acampamento de Verão escrita por Diva Fatal


Capítulo 46
Capítulo 46: Perdida no paraíso


Notas iniciais do capítulo

Bom ano novo meus anjos, prosperidade para vocês nessa nova oportunidade de errar e acertar 365 vezes.



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Mesmo depois de sobreviver a uma noite de merda como a que tinha ocorrido, não imaginei que ainda poderia piorar.

As fofocas de que eu estava grávida se espalharam de uma maneira incrível. Cada um no acampamento sabia e contavam que o pai era algum dos deuses. Foi dali para pior. Todos os chalés me encaravam com outros olhares, se agiam assim pela frente imagina pelas costas.

Até mesmo Quíron olhava diferente para mim, parecia estar ferido de certo modo, toda vez que me via desviava-se do caminho com uma expressão de dor no rosto como se eu fosse algum tipo de decepção, e eu realmente deveria ser...

Eu e Hermes nos encontrávamos em meus sonhos, sempre mantinha contato constante comigo, aquilo só me fazia refletir sobre a criança em meu ventre, tentava mentalmente buscar suas feições quando nascesse, imaginava-o com a alegria do deus, com seu sorriso e com seu nariz, em quanto os olhos seriam os meus; charmosos e persuasivos.

Meus irmãos e irmãs do chalé me evitavam o máximo possível, com exceção de Piper, ela parecia triste e tentava se colocar no meu lugar, mas a verdade é que nunca poderia sentir tudo o que eu sinto sem estar na minha pele.

Por outro lado, os amigos que eram próximos não mudaram, apenas o fato de que Karen e Roxane (que controlavam o “trafico de drogas” do acampamento) nunca mais me ofereceram bebidas ou um baseado, nem sequer uma flor de lótus.

Porém, esta manhã era diferente. Eu voltaria para a casa do meu pai, hoje era aniversário dele e queria comemorar comigo, foi isso que me falara. Ele não sabia que eu estava grávida, acabara de fazer dois meses de gravidez.

–São dois dos mais importantes verbos da língua grega, com os quais geralmente iniciam-se os estudos das conjugações e das particularidades do verbo grego. –Annabeth levantou-se deixando o giz branco do lado da mesa branca a qual estava. O quadro negro fazia seus cabelos parecerem mais loiros do que o de costume. –Isso é tudo por hoje, revisem o assunto de hoje, amanhã faremos um teste verbal depois da entrega das suas pinturas a Milena.

E assim encerrou. Os semideuses se levantaram fazendo suas cadeiras arrastarem ecoando o barulho oco no chão.

Aquela aula era uma “revisão básica” de Annabeth. Ela tinha a permissão de Quíron para dar aula aqueles que “filavam” os treinos físicos. Como eu estava gravida e não podia participar das aulas práticas, fui forçada pelo centauro a ir as aulas de Artes e Ofícios.

Peguei meu fichário preto e me levantei. Minha mente estava girando, não conseguia absorver toda aquela quantidade de grego por dia.

Agora era a aula de Artes, as quais se dividiam em um grupo de dança, de música e de arquitetura. Lá Annabeth se tornava aluna, nunca pedia uma única aula de arquitetura; faziam esculturas, plantas de terrenos e edifícios.

Os semideuses que se inscreveram para a aula de Artes já se encontravam em seus grupos. O local era como um templo grego, aberto e redondo com várias fileiras redondas as quais podia-se sentar, como na arena. Cada grupo se dividia em lugares diferentes do grande local sustentado por pilastras gregas imensas.

Me dirigi até uma das arquibancadas desguiadas a aula de música. Instrumentos de todos os tamanhos, gostos e estilos estavam apoiados nas arquibancadas em apoios cuidadosos, ali tudo tinha um dono definido ao qual comprara determinado instrumento. Violinos soavam docemente em quanto Bob, um dos filhos de Apolo, se dirigia a frente das arquibancadas ficando a vista de todos, o garoto esperava pacientemente todos tomarem seus devidos lugares com seus instrumentos em mãos e prestarem atenção nele.

Bob era um garoto meigo e gentil. Dono de um sorriso atraentemente acolhedor e quente. Bronzeado meio avermelhado graças ao seu tom de pele ser claro. Cabelos loiros pesados e lisos que caiam sobre a testa e atrapalhavam um pouco a visão do garoto. Usava a camisa laranja do acampamento e calças jeans azuis junto a um tênis branco esportivo.

–O resultado da segunda competição das Olimpíadas Meio-Sangue foi definitivamente mais próspero que o primeiro. Atribuímos pontos às seis melhores equipes que se dispuseram a participar, ainda que dentre elas, poucos estivessem realmente bons. –O olhar sereno e cuidadoso do garoto começava a moldar mais suas feições, deixando-o mais másculo e parecendo severo. –Com tudo, vamos a um ensaio rápido para a introdução dos novatos a algum dos grupos. –Ele sorriu ligeiramente para cada um dos novos integrantes das aulas de música, isso me incluía já que eu era uma dos novatos. –Cody, você primeiro.

Cody era um dos filhos de Hermes, tinha mãos rápidas, ótimas para se tocar clarinete. Descendência asiática. Cabelos pretos lisos ao qual ele fazia um leve topete. Olhos azuis delicados e sobrancelhas bem desenhadas. Sempre usava um casaco de bolso duplo por cima da camisa do acampamento. Até para um filho de Hermes ele era relativamente antissocial e tímido.

Levantou-se da primeira fileira e posicionou um apoio de partitura ficando na frente de todos bem onde Bob estava. Sussurrou algo para Bob e o filho de Apolo fez um leve sinal para Lilyan Meison, a primeira filha de Nêmesis no acampamento.

Dona de cabelos negros alisados em chapinha e olhos marrons avermelhados. As unhas sempre pintadas de vermelho e seus lábios cobertos por batom negro. A sua bota preta ia até os joelhos. Usava um mine short jeans com uma corrente de metal saindo do bolso. Alguns diziam que ela tinha três piercings, um na boca, outro no umbigo e um num lugar um pouco mais a baixo...

A garota foi até o piano e começou a tocar fazendo um dueto com o Cody.

As notas suaves saíram do clarinete e do piano ao qual acompanhava-o. A música era Clarinet Concertino de Carl Maria Von Weber.

Porém, uma voz me chamava, e eu a reconhecia. Hermes sussurrava dentro da minha cabeça. Fechei os olhos longamente até que consegui focar na realidade imaginária em minha mente.

Era um campo verde com morros e montanhas totalmente cobertas por grama e os mais diversificados tipos de flores do mundo. O grande lago refletia tudo a sua volta e manchava-se de verde escuro. A planície a qual estávamos era bem em frente ao doce lago. O sol ali predominava e não incomodava-me, era quente e úmido a medida perfeita. Sabia que aquilo era real e que tudo não passava de uma fantasia na minha cabeça.

Hermes estava sentado estirado num lençol de piquenique. Ele atacava um sanduiche de atum de uma cesta de palhas que estava sobre a coberta de piquenique xadrez branca e vermelha. Usava uma camisa polo branca e um short esportivo junto a sapatos esportivos.

–Bom dia, princesa.

–Bom dia, Hermes.

Ele parecia cansado e desconfiado, meio nervoso inclusive. Ficava tomando suco de melancia geladinha e agora devorava um sanduiche de pasta de amendoim.

–É.. vim aqui para lhe contar uma coisa. –Ele engoliu o sanduiche e limpou o canto da boca que ficou sujo de pasta de amendoim.

–Estou ouvindo. –Sentei-me com ele e peguei um sanduiche de atum dentro da cesta.

–Depois da armadilha que aconteceu na corte Asmodeus eu lhe procurei por todos os lugares que pude, quando a encontrei Afrodite pediu-me que afastasse-me até o momento certo.

Tomei uma golada do suco de melancia e o fitei perguntando-me se isso tinha importância agora.

–Você sumiu por três dias para ser mais exato, três dias de procura por todos os cantos do mundo até lhe encontrar em Paris...

–Eu sei que se esforçou, mas estou aqui agora. Vá direto ao ponto.

–Eu achei que você tinha morrido. Você e nosso bebê. –Hermes fitou o meu ventre como se tivesse afeição pelo nosso filho antes mesmo do nascimento. –Eu me desesperei, bebi e bebi para afogar a mágoa.

Agora um frio percorreu o corpo, era como se sentisse que algo ruim estava para chegar, e como de costume quanto a misérias futuras, eu estava certa.

–Eu deitei-me com uma modelo em Milão quando havia perdido as esperanças. –Seu rosto mudou para culpa e desespero, agora ele não conseguia mais olhar-me, nem mesmo ao nosso filho que ainda estava se desenvolvendo.

A noticia foi como se uma faca estivesse sendo encravada na minha costela espinhal. Foi como uma bala sendo atirada contra meu cérebro. Como uma coceira na carne por baixo da pele, um local onde eu não poderia coçar e sabia que incomodava.

–Eu sumo por três dias, apenas três dias e você me trai. –Me levantei prestes a virar as costas para ele. –Deuses, todos iguais, hipócritas quanto aos mortais, humanos traem e não se julgam, mas os deuses dizem ser melhores dos que nós, tão grandiosos e cheios de si que são cegos a ponto de não ver sua impureza. Pelo menos Hera mantem-se fiel a seu marido asqueroso. Depois de todas as traições do deus ela manteve-se firme e tolerou, décadas segurando sua raiva e perdoando, perdoando e perdoando.

Fez-se um silencio momentâneo, tanto eu quanto Hermes paramos de respirar por um segundo e então minha mente clareou.

–Bem, eu não sou Hera, não sou tolerante e não tenho a obrigação de lhe perdoar.

Dei as costas para o deus e me distanciei. Ele me seguiu e segurou meu braço gentilmente pedindo-me para que esperasse. Virei-me para olha-lo, mas agora meu ódio era mais forte do que meu amor apunhalado; já virei dando um tapa no seu rosto, foi com tanta força que Hermes caiu no chão colocando a mão sobre sua bochecha esquerda.

–Você não merece me tocar, não merece nem mesmo olhar para mim. –Lagrimas desciam do meu rosto. Cada palavra machucava-me tanto quanto a Hermes, mas não podia suportar olha-lo ou ser tocada por ele. –Eu lhe dei minha alma, confiei meu coração a você. Algo que nunca fiz, nunca amei ninguém assim. Eu escolhi você, você! Um homem que fosse minha espada e meu escudo, um homem que dissesse “eu te amo” todas as noites antes de dormir, um homem que me amasse.

Sabia que se continuasse falando mais palavras venenosas jorrariam para destroçar não só o deus, mas também a mim. Suspirei enchendo os pulmões e tentando acalmar a mente.

– Viver sem saber se vou sobreviver mais um dia, sem saber o que aguarda-me no futuro, sem saber se serei devorada por um monstro toda vez que colocar os pés fora do Acampamento. Amor... era a única coisa que podia me tirar dessa merda de vida, desse mundo maluco ao qual pertenço. Era minha única esperança. E você a destruiu.

Hermes estava com os olhos arregalados sem expressão e nem mesmo consciência para falar algo. A ligação mental foi cordada e eu acordei do meu sonho momentâneo.

Quando abri os olhos já estava no final da música, Cody e Lilyan haviam voltado aos seus respectivos lugares.

–Phoebe. –Chamou Bob. –Sua vez. –O seu sorriso gentil nunca sumia daquele rosto bronzeado e esbelto.

Desci das arquibancadas tentando não desmoronar. Lembrava daquilo e a sensação era como se alguém tivesse dado-me diversos tapas e socos no rosto. Uma lágrima quase escapou do meu rosto quando desci a última arquibancada.

Os olhares voltados para mim, a sensação de ser mais uma vez observada pelos meus iguais e indiferentes. A sensação de estar exposta, desprotegida, era como se toda a atenção de todos queimasse a pele. Era natural para eles, algo tão normal quanto respirar, mas naquele momento para mim machucava, estava abalada demais para poder manter-me firme e cantar a música anterior que tinha em mente.

–Bob, mudança de planos, vou para o piano.

Ele me fitou ligeiramente como se perguntasse: O que está fazendo? Mas assim o fez, arrastou o piano deixando-o de lado para que toda a arquibancada de música pudesse me ver tocando.

Peguei um microfone de apoio e coloquei ao lado de papeis brancos empilhados logo a cima das teclas.

–Evanescence. Lost In Paradise, por favor. –Falei para os papeis. Algumas letras brilharam em bronze negro com toda a letra da música em partitura marcando os papeis mágicos usados pelos filhos de Apolo.

Limpei a garganta e ajeitei o microfone na altura da minha boca. O piano já me era familiar, passei horas daquela semana tocando-o junto a Milena Frantines que me ensinara a usa-lo.

Comecei a tocar lentamente, as doces notas saindo daquele grande piano.

–Eu estive acreditando em algo tão distante. –Fechei os olhos tentando entrar em meu mundo infinito e particular, mas nada aconteceu.

–Como se eu fosse humana... E eu estive negando... Esse sentimento de desespero em mim, em mim.

Aquela casa aberta e clara ao qual havia acordada depois da festa de Roxane no submundo me veio a mente. Relembrando de Hermes, relembrando de tudo o que aconteceu, era tão real e fantasioso quanto podia ser.

–Todas as promessas que fiz só para te decepcionar. Você acreditou em mim, mas eu estou quebrada..

As notas pairavam lentamente no ar assim como minha voz, doce e grave, baixa e alta, um mesclo de mentira e verdade, realidade e ilusão.

–Eu não tenho mais nada restando. E tudo que eu sinto é esse cruel desejo. Nós estivemos caindo por todo esse tempo.. E agora... Estou perdida no paraíso.

Abri os olhos me focando somente em mim e na fantasia a qual projetava para mim, sob meu controle e sob meu desejo. Criava um mundo a minha volta em quanto tocava, fingia que tudo estava bem, mas a verdade é... nunca mais iria ficar bem, mas precisava acreditar na minha mentira.

–Tanto quanto eu gostaria que o passado não existisse. Ele ainda existe. E tanto quanto eu gostaria de sentir que eu pertenço a este lugar. –Suspirei rapidamente e dramaticamente tomando forças para continuar cantando. –Eu estou tão assustada quanto você. Eu não tenho mais nada restando. E tudo que eu sinto é esse cruel.. desejo. Nós estivemos caindo por todo esse tempo. E agora.. Estou perdida no paraíso.

Minha voz e o piano cobriam todos os ruídos presentes no lugar, não deixavam espaço para que nada interrompesse e nem para que ninguém mais falasse.

–Fuja! Um dia não vamos mais sentir essa dor. Leve tudo embora. Sombras de você. Porque elas não vão me deixar ir até que eu não tenha mais nada restando. E agora.. Estou perdida no paraíso. Sozinha e perdida no paraíso.

Aquilo foi o suficiente para ter forças de me levantar do piano, encarar todos nas arquibancadas por um breve segundo, porém, não eram só o grupo de música que observava. O grupo de arquitetura e o de artes haviam parado e todos estavam observando, não sei se foi o meu poder de nascença, o charme, ou se foi apenas a curiosidade de todos para verem uma adolescente grávida cantando e tocando em um piano em quanto pensavam no que se passava na minha cabeça. A verdade é, não me importo com nenhum deles, assim como nenhum deles se importam de verdade comigo, ou para o que eu sinto, muito menos para o que eu digo.

Saí daquele lugar o mais rápido que pude, quando cheguei nas escadarias do “templo” onde se era aplicado os estudos de artes corri até a beirada das escadas e senti meu estômago revirar começando a subir pela garganta tudo que havia comido uma hora antes.

–Mate-me, não quero mais viver nessa porcaria de mundo. –Falei fitando o chão.

–Que assim seja. –Falou uma voz masculina vindo da minha frente seguindo pelos arbustos e algumas arvores que rodeavam a trilha do grande coliseu.


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