Meu Acampamento de Verão escrita por Diva Fatal


Capítulo 37
Capítulo 37: Avalon, a Profecia do Solstício




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As brumas envolviam tudo em um sombrio monótono. O piscar dos vagalumes diversificados agrediam os olhos e faziam um espetáculo deslumbrante por meio dos grandes paredões de neblina.

A noite subia e a lua brilhava num azul esmeralda logo a cima de nós. Logo a baixo podia identificar um lago, sobre suas águas bruxuleavam criaturas estranhas com formas de mulher com rabo de peixe. Não eram nem um pouco parecidas com as náiades que existem no acampamento. Lindas, sim, esbeltas e hipnotizadoras, mas havia algo ameaçador em seu rosto.

A pele das mulheres aquáticas eram cobertas por leves escamas douradas. Seus dentes eram pontiagudos e afiados como milhares de agulhas finas aglomeradas. Cabelos dos mais variáveis em tons loiros oxigenados até o azul escuro quase roxo. Olhos que iam de azul até um tom intenso de cristal parecendo não ter íris. Suas orelhas eram finas e leves barbatanas que se mexiam em dourado escamoso estendendo-se até o inicio do pescoço quando rosnavam para mim e Gabbe.

A anja que me abraçava manteve distancia da água já desconfiando das criaturas.

Aquele era sem dúvida o Lago de Verão, mas agora, onde está essa tal Senhora do Lago?

Em resposta a minha pergunta, a água ondulou vibrando levemente. As criaturas aquáticas fugiram se distanciando da superfície. Todo o lago parecia um tambor vibrando conforme um ritmo, ondulando e ondulando até que as brumas abriram-se formando dois paredões e nos revelando um local de pouso. Bem a beirada do lago encontrava-se um pequeno píer baixo formado por rochas sólidas e uma grande canoa em formato de serpente aquática. A madeira da canoa estava gasta, dois remos em formato de barbatanas de peixe se encontravam dentro dela.

O movimento estranho das brumas era até calmante. Pude perceber que Gabbe não estava gostando nada da ideia de pousar com aquelas criaturas no lago. Realmente, eu imaginava se podia existir perigos na floresta, mas como ninfas brincavam pelas arvores... não, não eram ninfas.

Agora olhando mais atentamente, percebi que as criaturas possuíam asas de borboletas ou libélulas, mulheres com a pele branca e macia como as próprias nuvens. Seus cabelos eram docemente amaciados pelo vento. Vestiam sedas transparentes que brilhavam levemente em uma leve luz branca, pela transparência do tecido que vestiam dava para se ver os seios duros e rentes, a intimidade estava invisível pois as coxas podiam inibir tal visão. Aparentavam ter cerca de 12 a 20 anos.

As mulheres brancas sobrevoavam por entre as arvores e brincavam por cima dos mesmos, pareciam estar em um pega-pega eterno, mas mesmo assim, riam, umas das outras vagando numa brincadeira monótona e sem sentido.

Das longas escadarias brancas que guiavam para o interior da floresta, uma mulher surgiu com um sorriso neutro em seu rosto. Ela estava completamente natural, nenhuma maquiagem havia maculado sua pele, nunca.

Olhos negros intensos combinando com seu cabelo cacheado também negro. Seus lábios eram carnudos dando a impressão que ela tinha uma boca um pouco maior que o normal. Trajava um vestido medieval verde lodo, o vestido ia dos ombros aos pés cobrindo seu corpo o máximo possível. Devia ter entre 30 a 35 anos.

A mulher estendeu os braços acolhedoramente. Tinha um sorriso solidário em seu rosto.

Eu e Gabbe não discutimos, apenas trocamos olhares e seguimos até a mulher. Paramos lentamente a frente da mulher.

-Quem é você e onde estamos? –Perguntei-a. Acho que não fui muito delicada, pois ela arqueou uma sobrancelha.

-Vocês estão em Avalon, o reino além das brumas. –A mulher tinha uma voz rouca e doce, ao mesmo tempo grave e potente, era como a das senhoras que costumam cantar em show de ópera na Broadway. –Eu sou Armena. A anciã porta-voz da Grande Senhora. –Ela fez uma leve reverencia com a cabeça. –E vocês, carne da minha carne. Como se chamam?

-Sou Gabrielle Givens –Gabbe se corrigiu. –Gabriela Alencastro... Sou o segundo arcanjo, mensageiro do Trono e protetor de Phoebe Battler.

Sério, aquilo me espantou um pouco. Tive vontade de gritar: Que droga é essa de protetor!? Porém, fiz a escolha de me calar e me apresentar também.

-Sou Phoebe Battler, filha de Afrodite. –Meu rosto corou, aquele nome quase não saiu da minha garganta, era como se este maravilhoso mundo a qual eu estava alojada não permitisse que eu o pronunciasse.

-Eu vejo que tens outras crenças. –Armena sorriu e prosseguiu com o que dizia. –Todos os forasteiros que passam aqui sempre tem outras crenças.

Armena virou-se subindo lentamente os degraus brancos indo para o interior da floresta.

-A Senhora do Lago pede para me seguirem.

Eu compreendia as palavras que saiam da boca da mulher, mas não entendia o que ela falava. Era tudo tão confuso. Relutante, eu e Gabbe a seguimos sempre olhando para tudo a nossa volta, esperando qualquer tipo de emboscada ou armadilha. Bem, se estivéssemos mesmo preocupadas com qualquer possível ataque nem mesmo estaríamos seguindo essa mulher, mas se ela era a tal porta-voz da Senhora do Lago, a qual o deus Cornífero nos mandou, com certeza ela não nos faria mal algum.

Ao longo das escadarias observava coisas parecidas com sapos mutantes correndo em nossa direção e parando boquiabertos nos encarando e até mesmo rosnando para nós. As margens das escadas haviam uma espécie de cogumelo marrom feito de pedra.

Esses bichos tinham a forma de sapos, bem redondinhos e chegavam até meus joelhos. Em sua pele haviam bolhas que cuspiam certas substancias melequentas amarelas em quanto de buracos parecidos com furúnculos, escorria um liquido fedorento verde pântano. Fileiras duplas de dentes podres e deformados se estendiam por suas bocas fedidas com bafo de morte.

-O que são essas coisas? –Perguntei.

-Goblins, são feiosos nojentos, mas podem ser dominados e comandados pelas bruxas e feiticeiros como servos. –Respondeu Armena.

-Por que não estão nos atacando? –Encarei os olhos pretos e um deles.

-Os cogumelos nos protegem. –Armena sorriu encantada para as criaturas. –Nós de Avalon sempre tivemos boa convivência com as fadas e as outras criaturas de luz.

Logo a frente podia ver uma grande fogueira, via vultos e sombras dançando em volta dela, pareciam ser pessoas.

-As fadas nos ensinaram a nos proteger de qualquer criatura malévola, eles não podem ultrapassar os caminhos das fadas que foram sangrados pela terra. –Continuou Armena. –Nada, nem mesmo as mais horrendas sombras ultrapassam o caminho sagrado. A única coisa que consegue... são os obsessores. –Ela estava um pouco nervosa quanto ao que falava.

As arvores se abriram a nossa frente fazendo um arco para que passássemos. Literalmente se abriram, suas raízes se moveram para fora da terra e encaixaram-se ao lado fazendo o tronco abrir o caminho. Um anel feito de flores brilhantes estava em cima do arco de árvores. Em questão se segundos passamos pelo arco e podia ver com mais clareza o que estava acontecendo.

Homens usavam roupas de couro tocando flautas e bardos, dançando com damas a beira de uma grande fogueira. Um altar de pedra estava logo atrás da fogueira. Buques de flores ocupavam o chão em volta do altar de pedras cuidadosamente colocadas para não cair.

Ovos cruz estavam sento enterrados atrás do altar em quanto ovos pintados e decorados com símbolos estranhos eram postos ao correr das pedras do altar junto as flores.

-O que esta acontecendo? –Perguntei.

-Hoje é o grande dia, o auge da fertilidade. –Argumentou Armena.

-Auge da fertilidade? –Perguntei.

-21 de março, o dia da fertilidade, o dia da Deusa Oster. Ela trás os coelhos carregados de boa sorte, prosperidade, abundancia, em geral, ela trás a fertilidade para tudo. Este é o proposito do Equinócio de Primavera. –Armena sorriu observando em quanto um pequeno grupo se juntava dando as mãos e dançando em círculos em volta do altar.

Mulheres, crianças, adolescentes, homens, todos juntos em danças medievais antiquadas, mas até que tinham uma certa beleza.

Gabriela segurou a minha mão direita , senti um leve arrepio subindo da mão até a nuca.

“Não saia de perto de mim” –A voz de Gabriela sussurrou em minha mente.

Fiz um sim com a cabeça e ela soltou minha mão.

Uma mulher aproximou-se com uma cesta de palha feita a mão em seus braços. A cesta estava transbordando de rosas brancas. Possuía longos cabelos vermelhos que estavam trançados em mechas onduladas. Olhos castanhos grandes e cheios de gentileza. Consigo usava um vestido verde e marrom, feito de linho e couro de veado. Estava descalça e seus pés melados de terra e grama. Ela devia ter em torno de 16 ou 20 anos.

-Bessed Be. –Cumprimentou-nos a mulher ruiva.

Armena curvou a cabeça e alongou um sorriso cumprimentando-a também.

-Boas festas. –Anunciou Armena sacando uma das rosas brancas da cesta.

Curvei a cabeça reverenciando-a também. Apanhei uma de suas flores e vi o seu sorriso solidário no rosto.

Gabbe fez o mesmo e cheirou a rosa branca em suas mãos. A flor não possuía perfume, era apenas branca e singela, podia ser diferente de todas as outras rosas, mas não era tão atrativa quando as outras rosas normais.

-Boas festas. –A mulher afastou-se cantarolando e pondo uma das rosas brancas em seu cabelo ruivo trançado.

De pouco em pouco perdi seu andar e ela se misturou a multidão de criancinhas que gargalhavam em quanto ouviam adultos contando histórias e comiam ovos cozidos usando as mãos.

-A Senhora do Lago contou-me o propósito para suas vindas aqui. –Armena caminhou até a moita de blueberry mais próxima e ali plantou a rosa branca, fechou os olhos parecendo estar rezando. –Tem certeza de que deseja que este bebê continue a crescer outra vez? –Ela perguntou levantando-se e virando em nossa direção.

Meu olhar vacilou e tive de buscar apoio em Gabbe. Ela me encarava ansiosa como se esperasse minha resposta. A voz dela ricocheteava em minha mente.

Só depende de você.

Sim, eu sei que depende e mim, mas esta escolha é a pior de todas.

-Sim, tenho certeza. –Anunciei por fim dando um final a aquela tenção no ar.

Não, não tenho certeza, não quero este bebê, tire-me daqui, Gabbe. Era isso o que eu queria dizer e sair dali tão rápido quanto eu vim. Mas agora já era tarde demais para voltar e tentar fazer as escolhas certas. Minhas decisões me trouxeram a isso. Nunca acreditei em destino, acho que agora era um bom momento para deixar tudo para esse tal de “destino” e ver no que dá.

-A Deusa escutou sua decisão e atenderá seu pedido. –A morena foi caminhando lentamente na direção do altar. –Sigam-me.

Gabbe me lançou um olhar de alivio em quanto seguíamos a mulher pela roda de crianças. Todos aqueles sorrisos e olhos curiosos me faziam refletir sobre o que eu realmente queria. Um filho, uma responsabilidade gigantesca em meio ao meu mundo, pelo menos ao meu novo mundo.

Adentramos uma trilha separada da festança. Um caminho de degraus de pedra que seguia descendo um pequeno morro. A baixo podia ouvir o leve som de água corrente.

Alguns poucos minutos de caminhada em meio a floresta nebulosa e escura nos fez chegar a um córrego. Um escuro riacho de águas verdes que serpenteavam pela floresta.

Armena manteve certa distancia da margem, cumprimentou o lago com uma leve reverencia de cabeça.

-O deus que habita em mim enxerga o que habita em ti. –Ela anunciou-se para o lago, o mesmo ondulou lentamente.

Eu sem entender nada apenas repeti as mesma palavras.

-Dai ao lago um presente novo e um velho. –Armena puxou o vestido pro lado para que não se molhasse nas águas verdes e profundas.

-Presente? –Perguntei-a.

-Dê algo novo, algo que acabou de ganhar, e um velho, algo que já esteja com você a algum certo tempo. Assim ela poderá enxergar o seu passado e deslumbrar o teu futuro. –Armena pôs um pé dentro das águas. De pouco em pouco foi entrando e sumindo lentamente, até que parou quando as águas atingiram a sua cintura.

Gabriela engoliu em seco só observando tudo, suas mãos tremiam.

Peguei a flor, afinal, era algo novo, depois tirei meu anel encrustado com pequenas safiras e segurei os dois na palma da mão.

-A flor não é objeto, dê algo que o lago possa usar.

Fiquei com dó de jogar o anel no lago. Aquilo ia sumir e ser passageiro, mas meu pai o comprou para mim. Era a única coisa que me lembrava dele. Senti o colar de bronze pesar em meu pescoço.

Tirei o colar do pescoço e o substitui no lugar da rosa branca. Com um peso de culpa e medo atirei a oferenda ao lago e com um amargo brutal na boca, vi os dois acessórios afundarem nas águas escuras e pantanosas.

Armena cambaleou para o lado e para o outro. Parecia estar entrando em convulsão. Mantendo-se firme, não caiu dentro da água, olhei-a aterrorizada até que seus olhos se abriram e os vi brancos, completamente brancos.

Sua voz ficou rouca e quebradiça como a de uma lâmina sendo amolada:

-Pelas profundezas irão se arrastar, As três almas um fardo terão de carregar. Em busca do arcanjo morto na desgraça sucumbirão, Para que no fim na luz da glória se deleitarão. Nas portas do paraíso uma escolha farão, A pomba e o anjo a última batalha travarão. –Armena caiu de costas na água e se sacudiu jorrando água para fora do lago. Gabbe segurou em sua mão e a levantou com toda a força para fora das águas e a trouxe até a margem.

-Esta é a resposta da deusa. –Falou Armena tossindo e cuspindo água. –Para seu bebê voltar a se desenvolver, tem de ser fecundada pelo mesmo que uma vez o fez.

-Então tenho de fazer... de novo com Hermes...? –O nome Hermes quase não saiu da minha boca, uma certa raiva me tomou o peito e eu precisava socar alguém naquele momento.

-Carregue mais uma vez o filho deste homem e conseguirá trazer este filho a vida. Agora tens de ir. As duas irão trazer maldição a estas terras se ficarem por mais tempo. –Armena se levantou sacando uma espécie estranha reluzente de pedra vermelha. –Deem isso ao filho da magia, entregue a ele e somente a ele. –Ela pôs em minhas mãos o objeto.

Analisei-o mais de perto. Tinha cerca de 14 cm de comprimento, o cabo era feito de prata em desenho de uma serpenta enrolada a pedra vermelha como sangue, pulsava uma luz vermelha e feroz. Pude jurar que vi a serpente de prata se mexer enrolando-se mais a fina e grade pedra.

-Sabe onde esta o Santo Graal? –Perguntou Gabriela apertando os olhos.

-Este maldito cálice se esconde no tempo, regresse as nascentes e busque o que procura. Agora vão e não olhem para trás em momento algum!

Gabbe me abraçou e rapidamente ouvi o leve timbre de suas grande e majestosas asas se abrindo. Com velocidade e força saímos do chão em apenas uma batida de asas. Ganhávamos altitude cada vez mais em quanto as brumas no céu se abriam formando um corredor que nos guiavam para fora da cidade mágica que se ocultava em outra dimensão.

-Adeus, Avalon.

Atrás de nós as brumas se fecharam ocultando qualquer sinal de que alguma vez estivéssemos em Avalon ou sequer que ela existisse. Nada da fogueira iluminando a floresta, nada de vagalumes roxos, nada de flores brilhantes, nada de bruxas, sacerdotes ou sacerdotisas comemorando o Solstício de Primavera.

Tudo que havia lá não existia em nosso mundo, eu via apenas uma das muitas montanhas verdes de Glastonbury.

Sim, Adeus, criança. –Sussurrou uma doce, fina e forte voz em minha mente.


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