Meu Acampamento de Verão escrita por Diva Fatal


Capítulo 38
Capítulo 38: Tocada pela primeira vez


Notas iniciais do capítulo

Este cap será inteiramente para Gabbe, espero que gostem, é só um cap extra, mas sem ele não teria como ser obtido o Santo Graal.



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Gabbe:

As portas para um longo passado estavam abertas mais uma vez, um longo e forte vento subiu a espinha arrepiando a nuca.

Encolhi minhas asas colocando-as a frente do corpo como se fossem um escudo, que em terra aparentavam pesar toneladas, busquei equilíbrio nos pés para não tombar para a frente com o peso das minhas longas asas prateadas.

Meu próprio corpo emitia uma rajada de luz prateada iluminando até o fundo do anunciador. Caminhei cautelosamente afundando-me pelo cheiro de mofo e poeira. As paredes negras quando iluminadas pareciam paredes de úteros, bem úmidos e cheios de linhas negras e vermelhas.

Minhas asas gritavam por espaço, sentia o nervosismo, eu odiava passar por anunciadores. Normalmente anjos são claustrofóbicos quando estão com as asas á mostra, pois ficam sem espaço para abrir suas asas; posso ser um arcanjo, mas isso não era diferente, sentia a agonia como alguém com transtorno do déficit de atenção. Acho que essa encarnação me ajudava com essa parte, eu realmente tinha tda e só piorava quando eu abria minhas asas.

Quando cheguei ao fim do túnel dentro do anunciador, abri minhas asas com tanta força que uma rajada de vento gritou e assobiou rangendo as janelas de todas as casas a minha frente, cestas voaram, junto a algumas cabras que não conseguiram nem mesmo perceber o que acabara de acontecer. Carrinhos de madeira puxados por burros viraram graças a forte rajada de vento.

E como num toque de mágica, eu estava de volta ao prospero e antigo Império Roma. O cheiro de vinho invadiu minhas narinas, junto ao caseiro peixe da ceia de terça-feira. Se não me engano, hoje seria o dia em que o papa São Sisto II seria executado. Meu olhar foi levado ao céu cheio de pequenas nuvens negras, todas corriam em uma única direção e tentavam se juntar. Já eram 3 horas da tarde.

Se não me engano, nesta encarnação Lucinda é filha do Imperador Católico, Valeriano. Eu tinha de ficar afastada das ruinas atrás da cidade, também dos campos de leite, dos cavaleiros e dos portões da cidade. Cada um dos meus amigos, anjos, estavam nesses devidos lugares naquele tempo. Todos seguindo suas vidas esperando eternamente o reencontro de Daniel e Luce.

Encontrava-me atrás da capela gigantesca. Um coro continuava a cantar dentro daquele local. Uma pequena fonte de água jorrava ao meu lado, olhei minhas roupas molhadas e vi que já precisava de novas, algo mais a la mode.

Recolhi minhas asas, sentindo uma tristeza de deixa-las presas mais uma vez. Estalei os dedos em quanto meu corpo brilhou e tremeluziu em puro dourado como se fosse linhas de ouro. Agora minhas roupas haviam mudado, trajava uma túnica feminina romana, toda branca com leves decotes. As sandálias gladiadora eram meio desconfortáveis, deixavam meus pés ardendo em contado com o couro. Meus longos cabelos louros estavam presos caindo em uma leve trança pelo ombro, algumas pequenas mexas penteadas para trás da orelha esquerda fazendo uma franja.

Peguei uma cesta de palha qualquer que encontrei no chão e fui caminhando com um sorriso torto no rosto. Hoje Valeriano tomaria os bens da igreja cristã da cidade. O cálice estava lá em algum lugar, o problema era: todos os anjos estariam ali, inclusive eu mesma neste período.

A arquitetura romana da cidade era perfeita, simplesmente abusando de luxuria, mármore e mostrando o seu lado rustico e poético que somente os romanos e gregos possuíam.

Três luas antes, o Papa Sisto II havia sido executado, graças ao imperador que abominava os cristãos. Eu sei de tudo que ocorrerá, afinal, eu já vivi aqui e, este dia marcará o crescimento cristão.

A cidade inteira cochichava sobre o que estava acontecendo, Lourenço já estava no palácio com todas as riquezas da igreja, agora, apenas suas palavras afetariam o rumo de sua morte.

Pisquei os olhos e tudo a minha volta reduziu a velocidade, todos, até mesmo o céu começava a se endurecer como se estivesse sendo petrificado. Toda a claridade foi substituída por um cinza triste e obscuro. Serrei os punhos e continuei. Aquele efeito no anunciador me daria tempo de chegar ao local.

Adiantei o passo, era difícil antar com aquela túnica romana, incomodava, além de fazer muito calor, você não podia correr senão tropeçaria.

A praça pública estava a frente, eu corria me esbarrando em casais, homens vendendo frutas, passava por lojas de cerâmica com lindas porcelanas. Até que finalmente o corredor largo do comércio se abria.

A praça era o fim de quatro ruas largas que levavam a locais diferentes. Uma fonte com o cupido marcava o centro. O imperador estava acompanhado junto a sua guarda real. Meus olhos foram guiados ao filho do imperador que também estava junto a ele. Galiano e Lipicínia, a encarnação de Lucinda nesta vida romana. Pelo visto, Valeriano Menor não estava junto aos irmãos ou ao pai.

Públio Licínio Inácio Galiano, ou só Galiano, trajava uma túnica roxa leve, porém, incomoda. Estava montado em sua égua branca, Paixus. Possuía cabelos negros e ondulados bem curtos, seu físico era impecável, mas mal era notado por causa da túnica, isso não deixava muito espaço para a imaginação. Cerca de 28 anos.

Públio Licínio Lipicínia, ou só Lipicínia, usava uma túnica branca de algodão leve. Estava montada em um pônei marrom manchado. Seus cabelos negros como a noite estavam presos em uma única trança, caiam pelas costas até a cintura. Imaginei, se trançados iam até a cintura, imagine soltos...

Lipicínia tinha olhos negros rubros, pareciam brilhar com uma luz escura e nebulosa. Sua pele pálida parecia metálica ricocheteando os fortes raios de sol. Atualmente tinha cerca de 6 a 8 anos.

Me afastei da multidão e fiquei em pé ao lado de uma loja de semi joias. Dei uma leve piscada de e o tempo voltou ao seu curso natural. Lipicínia brincava com sua trança já esquecendo das rédeas do pônei. Percebi Cambriel do outro lado da praça.

Cam vestia-se com uma túnica branca leve e solta exibindo seu peitoral nu. Seu cabelo estava curto e com um topete estilo militar. Sua pele estava mais pálida do que o normal, seus olhos verdes se sobressaiam brilhando com ferocidade como dois faróis verdes brilhando em meio a um mar neblinoso.

Percebi Roland logo atrás de Cam, ele brincava com os dedos. Vestia a mesma túnica branca exibindo o peitoral malhado e bem definido. Estava com a cabeça raspada, mas mesmo assim ainda era belo como somente os anjos são.

Os dois deleitavam-se com a cena.

-Estes são o património da Igreja. –Falou Lourenço oferecendo tudo da igreja que fora arrastado até a praça.

O diácono apontou para um pilha de moedas romanas, junto a alguns objetos de ouro, incluindo um cálice de ouro que estava um pouco amassado.

O imperador arqueou uma sobrancelhas e a raiva o subiu a cabeça.

-Executem este maldito! –Gritou o imperador sentindo-se insultado com tais palavras.

Os guardas imperiais desmontaram de seus cavalos e carregaram o pobre Lourenço.

-Perdoa-os, pai. Eles não sabem o que fazem. –Falou Lourenço em quanto recebia um soco na cara por um dos guardas.

Engasgando-se com sangue e chorando com o nariz quebrado, Lourenço foi arrastado até o centro da praça.

Dois católicos vestidos em túnicas carregaram um cotoco de madeira de dois metros. Cravaram fundo na terra batida e esperaram mais ordens do imperador.

-Tragam a grelha, esse maldito deve morrer gritando. –Ordenou Valeriano.

Logo uma grande grelha fora carregada e posta aos pés do cotoco de madeira de dois metros. Caminhei lentamente até Lourenço, que agora era amarrado a grande madeira. Podia ver uma certa calma e generosidade em seus olhos, mesmo assim, ele estava assustado e com certa raiva, pois sabia o que iria acontecer a seguir.

Cam e Roland me dirigiram um certo olhar de advertência. Eles não devem ter percebido que eu não era a Gabbe daquela época.

Os guardas não me impediram de me aproximar-me do condenado, fui até lá discretamente e silenciosamente, cedendo e orando pela sua alma.

-Sir. pelo menos deixa-me despedir-me dele uma última vez. –Pedi ao forte homem que o amarrava com brutalidade ao local.

-Seja rápida ou terá o mesmo destino que ele. –O bruto continuou a amarrar Lourenço até seus pulsos romperem em carne viva e sangrarem.

Apoiei-me nas pernas de Lourenço e fiquei nas pontas dos pés para conseguir alcançar seu ouvido.

-Não tema, sei que esta com medo, mas irá para o reino de Deus, se juntará ao teu criador e será aconchegado pela presença do papa ao qual chamaste de pai.

Lourenço estava quase aos soluços, mas impediu-se de chorar ou de demostrar que o faria.

-Você é diferente, quem é você? –Perguntou-me.

-Sou Gabriel, o arcanjo mensageiro. –Sussurrei levemente em seus ouvidos. -Nec corpus ab anima vestra dolere. (Tradução: Sua alma irá partir de um corpo que não mais sentirá dor)

Lourenço sorriu e encheu os pulmões com ar.

-Resista até o fim, Lourenço, prometo-lhe, no futuro irão construir uma igreja neste mesmo local somente em sua homenagem. –Toquei sua testa com o dedo indicador e por um rápido momento todo o medo e dor abandonaram seu corpo.

-Até o fim, Gabriel. –Sussurrou ele para mim.

Afastei-me dele bem a tempo de desviar de uma tocha em chamas que iria cair na grelha a baixo dos meus pés.

Lourenço irrompeu em fogo, lentamente fora coberto pelas chamas. Minutos duraram em quanto a multidão apreciava a cena sem ter coragem de fazer nada a respeito.

-Podem me virar agora, pois este lado já está bem assado. –Ironizou Lourenço rindo até que as forças o abandonarem e cremassem completamente o seu corpo.

Observei uma neblina azulada subindo de seu corpo carbonizado. Ela se acumulava elevando-se para o alto, de metro em metro se afastando e tomando a forma de Lourenço. Ele acenou em minha direção, rindo e maravilhado, espirando ansiedade para ver o que o aguardaria a seguir. Acenei de volta para ele e movi os lábios dizendo: Vá com deus. Um dia eu o reencontrarei nas portas do paraíso.

Lipicínia olhava horrorizada para a cena, mas nem uma única palavra saia de sua boca. Aproveitei o momento em que todos estavam descontraídos com o “show” e corri até o monte das riquezas da igreja, logo atrás dos cavaleiros. Saquei o cálice sem graça em meio a prataria.

Estudei seu formato, era um simples cálice de ouro imitando uma taça tradicional. Sentia todos os caminhos por qual ele trilhou durante os anos. Jesus havia bebido deste cálice na ceia santa, o último momento de alegria dele durante a vida.

Não podia acreditar que finalmente o tinha em mãos.

Abri caminho por entre a multidão de pessoas até me afastar o suficiente das lojas que estavam paradas só para ver o que se passava na praça. Joguei a cesta de palha no chão e percebi que Cam estava seguindo-me.

-Não vai ficar para ver Daniel? –Perguntou Cam num tom um pouco sombrio.

-Não nesta vida, não desta vez. –Sussurrei.

-Pra que seguir separada desta vez? –Perguntou-me.

-Tenho promessas a cumprir, Cam. Afazeres a serem feitos e mais do que nunca, afastar-me de você. –Fitei o chão e levemente ele tocou o meu queixo levantando-o.

-Por que recusa-me tanto? –Cam mantinha seus olhos verdes nos meus, aquilo era viciante e hipnotizante.

-Sou uma devota a deus, anjos não foram feitos para amar, Cam. Sinto que se ficar com você... acabarei quebrando o meu voto. –Fechei os olhos afastando sua mão do meu rosto.

Por muitos anos eu sentia algo por Cam, nunca havia comentado, pois senão, eu seria igual a Lúcifer, não seguiria os passos que ele seguiu.

-Não desistirei sem nem ao menos um beijo. –Ele segurou firme e rente em minha nuca, levando-me para mais perto de si.

Fechei os olhos antes dele oscular-me. Ele ainda não era um demônio, não neste tempo, mas isso não mudava o fato deu ser o segundo maior arcanjo, como tal, tinha de ser exemplo para os outros devotos do Trono. Mesmo assim, entreguei-me ao momento. Correspondi ao beijo de Cambriel, podia sentir o calor elevar-se entre nós.

Sua língua invadiu minha boca com veracidade, explorando cada centímetro da minha boca. Não demorou para estarmos travando uma batalha para ganhar espaço. Nossas línguas dançavam um ritmo não compassado, até que finalmente o fôlego nos faltou e nos separamos ofegando sem nenhum ar nos pulmões.

-Adeus, Cam. –Corri para o beco e invoquei o anunciador mais próximo.

Vi Cam tentando correr atrás de mim. A sombra flutuou e pairou a minha frente já formando a passagem só de ida para o meu verdadeiro presente. Saltei para dentro vendo uma última imagem de Cam chamando o meu nome e tentando alcançar-me. O anunciador se fechou em uma cortina negra até que por fim desapareceu.

Eu ainda estava em choque, observando e tentando assimilar o que tinha acontecido. Eu estava amando... e o pior, meu amor era Cambriel, atualmente um demônio no circulo de confiança de Lúcifer.

Com dor no peito, afastei aqueles pensamentos e tomei foco para o presente. Meu objetivo agora era encontrar Phoebe e seguir com o cálice até a nossa perdição.


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Notas finais do capítulo

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