Radiação Arcana: Totem De Arquivo escrita por Lucas SS


Capítulo 26
Capítulo 25: O Anjo da Morte


Notas iniciais do capítulo

Finalmente a série Radiação Arcana retorna, com o capítulo vinte cinco. Prometi para vocês que iria dar um presente. Pois então pensei em algo que espero que seja legal. Criei um blog para postar todo tipo de coisa sobre a fic, desde imagens até histórias extras. O link é esse: http://radiacaoarcana.blogspot.com.br/ . Não é algo muito desenvolvido, não me dou muito bem com essa coisa de blog, mas quem sabe algum de vocês me ajude. Já fiz uma postagem explicando algumas coisas e se tiverem qualquer dúvidas é só mandarem uma MP perguntando. Boa leitura.



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Uma seta de besta zuniu pelos ares, saindo de trás de uma rocha. Foi tão rápido que teria me acertado em cheio no rosto, eu não teria como sobreviver se não fosse pelo meu amigo Supreme.

Em milésimos de segundos, Supreme escutou o projétil, correu alguns metros para ficar entre mim e a seta e agarrou-a com a mão.

— Co-como você foi tão rápido? — perguntei supreso.

— Meu treinamento é extremamente rápido! — ele disse gritando e quebrando a flecha.

— Obrigado.

— Não me agradeça, só me ajude a bater no cara que está atrás da pedra.

Olhei para onde o inimigo deveria estar. Pelo jeito havia fugido depois de ver a velocidade que Supreme se moveu. Enquanto os outros ficavam parados esperando, eu e Supreme fomos buscar o inimigo. Agarrando pela gola da camiseta, arrastamos um elfo de pele escura e cabelos brancos até o meio do grupo

— Quem é você? — End perguntou, se agachando e olhando no fundo dos olhos do renegado.

Se não se lembram o que é um renegado, darei uma ajudinha. Renegados são os elfos que cometeram grandes crimes. Sua pele fica escura como a noite, quase azul, e seus cabelos ficam brancos como a neve. Eles geralmente se tornam bandidos, já que nenhum povo aceita eles direito, assim como nenhum aceita o meu.

— Você é o End? Por favor, poupe minha vida. Imploro-lhe, não me mate.

— Deixem esse ladrãozinho de merda ir. Sua vida vale menos do que a lâmina da minha adaga — o mestre da Morte disse, cuspindo as palavras.

— Obrigado. Vou ficar lhe devendo eternamente — falou o renegado, levantando-se e saindo correndo chorando.

— Corra, fracote! — gritou Roah.

Seguimos andando, porém um pensamento ficou na minha cabeça: se Supreme tinha ficado tão rápido em tão pouco tempo, como ele treinou? Será que os outros também tinham melhorado tanto assim?

Tudo que eu tinha melhorado era nas minhas manoplas, que Trevor havia incrementado poderes e entregado ao Water, que me devolveu durante a viagem. Os outros tinham treinado um pouco, somente eu que saí para comprar a maldita capa nova que custou quase todo o meu dinheiro.

— Alguém comprou comida para viajar? — perguntei.

Todos fizeram sinal negativo.

— Vamos entrar no próximo país então, para comprar coisas em algum vilarejo. Teríamos que passar por ele mesmo, já que é mais rápido entrar do que contornar — Tânia, a mestra de Limcon, disse.

— Vamos acelerar o passo! Estou com fome! — berrou Roah, seguido de um berro de aprovação de Supreme.

No caminho, analisei minhas manoplas novas. Não tinham mudado muito, pois a única diferença era que os cristais tinham sido cravados no ferro na parte das costas da mão, formando um losango dentro do símbolo do fogo.

Pessoalmente, eu gosto mais de ficar com minhas luvas do que sem elas. Sinto-me estranho quando minhas mãos estão nuas. A sensação do calor e do frio e do liso e do áspero fica mais forte quando estou sem as manoplas. Enquanto uso elas, minhas mãos parecem anestesiadas e ficam mais pesadas, porém, eu não me incomodo com isso.

Olhei para as armas dos outros e notei grandes diferenças.

Os machadinhos do meu irmão eram negros como o fundo do mar. Suas luvas agora tinham a cor verde, imitando um cacto. Às vezes espinhos surgiam e sumiam, sob ocontrole do ladino.

Supreme, que antes só usava manoplas, como eu, agora tinha correntes enroladas no antebraço, que serviam tanto para proteção quanto comoarma, caso desamarradas. Em uma das extremidades da corrente, uma pequena lâmina afiadíssima brilhava, refletindo a luz do sol. Na outra extremidade encontrava-se uma esfera de ferro maciço com o tamanho de um polegar. Com certeza ele estava usando armas mortais, ou melhor, duas armas, uma em cada braço.

Skarlatte agora tinha um cinto com seis daquelas granadas de teleporte. Sua arma tinha de ser carregada sempre pelas alças, o que dificultava sua locomoção. Seu vestido vermelho tinha sido trocado por um novo, que era cortado para não dificultar ainda mais a caminhada. Ela vestia um casaco de pele de onça e usava sandálias brancas.

Limcon foi quem teve a arma mais modificada. Sua velha escopeta agora era somente uma serra elétrica movida à luz solar. Em compensação, seu cinto de ferramentas guardava caixinhas com upgrades que, quando acopladas a serra elétrica, transformavam-na em alguma arma diferente, como uma escopeta, uma sniper e até em um lança granadas. No total eram cinco caixas.

Meu amigo atirador estava com uma cara assustada, demonstrando nervosismo. Ele coçava a cabeça de vez em quando e olhava para os lados. Sua mão livre, depois de coçar a cabeça, ia direto ao bolso da calça. Percebendo que eu o analisava, Limcon se aproximou de mim.

— O que houve, cara? — perguntei.

— Eu tenho que te contar uma coisa, uma coisa... Bizarra — ele avisou.

— Ok, conte-me.

— Agora não posso. Quando fizermos a próxima pausa para descansar eu te contarei.

— Está bem — concordei ficando ansioso.

Como se soubesse que eu estava esperando a próxima pausa, End disse:

— Vamos descansar. É melhor que cheguemos com energia à cidade.

Todos concordaram e foram até as árvores mais próximas para se sentar. Acompanhei Limcon até um local um pouco longe do grupo, para que ninguém nos escutasse.

— E então, o que você tem para me contar? — perguntei.

— Antes de partirmos para a viagem, Tânia me treinou com uma simples missão. Eu invadi um templo guardado por fadas guerreiras, aquelas filhas da puta são difíceis de matar, e roubei um livro sagrado delas. Quando voltei, entreguei o livro à Tânia, mas ela disse para eu ficar e estudá-lo.

— E o que tem de estranho nisso? — questionei.

— Olhe o livro — Limcon disse me entregando um pequeno livro com a capa de couro.

Peguei-o e abri. Comecei a ler, mas as páginas não tinham muito sentido. Logo na primeira página estava marcada “página 38”. Virei a folha e percebi que a página seguinte era a setenta e dois. Nenhuma das folhas do livro estavam na ordem correta. Mas o mais estranho era a última.

— A última folha é a penúltima... — falei.

— Sim, e a última foi rasgada, olha.

— Percebi isso, Limcon. Mas então só essas duas folhas estão no lugar? Quer dizer, se a última folha estivesse ainda no livro, ela estaria no lugar?

— Sim. As outras páginas estão constantemente se embaralhando.

Voltei para a primeira página, que deveria ser a trinta e oito, mas agora era a cinquenta.

— Isso não faz sentido nenhum. Mas sobre o que é esse livro?

— Ele fala sobre o passado desse planeta, sobre os deuses, a história, a religião, ciência, tudo até agora. Na verdade, literalmente até agora. O número de páginas cresce, o livro está tornando-se cada vez mais grosso. Esse livro conta todas as coisas até...

— Até quando, Limcon?

— A página mais adiantada é sempre o dia de amanhã. Ontem a página contava sobre hoje e pelo que Tânia me disse, ele sempre prevê um dia do futuro, mas sem muita precisão, sem muitos detalhes, com palavras apagadas e linhas rabiscadas.

— Isso é muito macabro. Essa última página que está aqui é sempre a do futuro, não é? — perguntei.

— Sim. Mas a última de verdade, a que perdemos, fala sobre o que?

— Fala sobre o fim — falou alguém que estava em cima da árvore em que eu e Limcon estávamos próximos.

— Quem é ...? — Limcon começou.

— Sou eu, End. Não se preocupem — disse ele, caindo sem fazer barulho ao meu lado.

— Como você sabe que é isso?

— Eu sei de muitas coisas, já vivi muito tempo e fui a muitos lugares.

— Isso não responde a minha pergunta — falei cerrando o punho.

— Não preciso respondê-la. Vim avisar que vocês deviam descansar. Saiam um pouco do jogo, senão suas cabeças explodem, não é mesmo?

— Está bem, faremos isso — respondi.

— Mas, Balazar... — Limcon tentou me avisar.

Olhei para ele, que entendeu imediatamente. Melhores amigos tem a habilidade de conversar só por olhares.

— Até daqui a pouco, End — falamos em coro.

Sentamo-nos e encostamos as costas na árvore. Eu tinha feito saídas do jogo frequentes durante a viagem, para evitar os problemas de saúde no mundo real, mas não declarei nenhuma delas, pois eram irrelevantes. Farei muito isso a partir desse ponto da história.

End se afastou, foi até meu irmão e começou a falar no seu ouvido. Eles estavam longe, então não consegui ouvir o que diziam, mas eu sabia que, mesmo de perto, seria impossível entender o que esses ladinos cochichavam.

— Limcon, meu irmão tentará roubar seu livro enquanto descansamos, então mantenha-se acordado.

Me virei e vi Limcon roncando.

— Limcon, acorda — disse sacodindo o gordinho — Vamos, seu gordo, acorda! — deu alguns tapas na cara dele, mas ele não acordava.

Desisti e pensei em um plano.

— Skarlatte, vem aqui rapidinho.

A garota parou de conversar com seu mestre e teletransportou-se ao meu lado. Quando falo que ela se teletransportou, estou falando sério. Era parte do treinamento dela fazer esse tipo de coisa.

— O que foi, Balazar? — ela disse sorrindo.

— Preciso que o Limcon acorde, é muito importante. Poderia fazer o favor...

— Claro.

Ela se aproximou do ouvido de Limcon, deu um beijo de leve e disse:

— Hey, amorzinho, é hora de acordar. É a sua skarlettizinha que está chamando. Vem, meu fofinho.

Limcon abriu os olhos repentinamente e agarrou Skarlatte. Os dois rolaram na grama e eu virei os olhos, não queria ver o namoro deles. Olhei para onde End tinha falado com meu irmão, que já não estava mais lá.

— Limcon! — gritei.

— Não me atrapalha agora, garoto chifrudo!

— Onde está seu livro? — perguntei.

O atirador parou de namorar e se levantou rapidamente, tateando os bolsos.

— Ainda está aqui.

— Pois então, mantenha-se acordado. Acho que um helmen tem como treinamento roubar seu objeto.

Limcon deu um suspiro de raiva e me disse:

— Se o seu irmão me roubar, juro que dou um tiro nele.

Passamos o resto da pausa para descanso preocupados em não sermos roubados. Foi uma tarefa difícil, exigiu 100% de atenção e de esforço para a Skarlatte manter o Limcon acordado.

— Vamos lá galera, levantando. Temos que caminhar mais uma hora até chegar à fronteira. Depois disso caminharemos mais meia hora para chegar a uma das principais cidades do reino da vida — Tânia avisou.

Todos se levantaram e arrumaram suas coisas. Partimos quando o sol estava entre o meio dia e o horizonte onde nascia.

Mais ou menos uma hora depois, avistei muralhas brancas. Elas deviam ter uns vinte metros de altura e os guardas faziam patrulha lá em cima. Não conseguia distinguir suas armas, eu imaginava que eram arcos e flechas. Todos usavam elmos pratas com penas brancas, mas eu não conseguia ver o resto do corpo. Olhei para os lados, tentando descobrir quem tomaria a frente para pedir passagem pelos portões de aço, e descobri que meu irmão, End e Igor tinham sumido.

— Onde eles...? — comecei a perguntar, mas fui contigo por Water que pedia silêncio.

Meu mestre chegou no portão e bateu com o punho fechado, como se fosse uma simples porta. Bocejou e retornou ao grupo.

— Quem quer entrar? — um guarda gritou lá de cima.

— Somos viajantes, precisamos cruzar o país para chegar mais rápido ao nosso destino — Water gritou.

— Onde precisam chegar? — questionou o soldado.

— No Reino do Fogo.

— Qual seu nome?

— Sou Water, dominador da Arte do Fogo, herói da Guerra Negra e desbravador da Caverna de Gort.

O soldado soltou um grito de surpresa e mandou os portões serem abertos. Imediatamente as grandes placas de aço saíram da nossa frente e deram passagem a uma estrada de mármore tão polida que, se estivesse chovendo, poderíamos escorregar como se fosse gelo.

Avançamos rumo à cidade de Pasteur. Como todos os outros reinos, o Reino da Vida era dividido em cinco estados. Cada estado tinha sua capital, mas uma dessas capitais também era a capital do reino inteiro. Esse não era o caso da cidade de Pasteur, pois ela só era a capital de um dos estados. Para o nosso azar, esse estado era o que tinha mais soldados, mesmo isso sendo pouco perto de todos os outros reinos. O Reino da Vida é muito pacífico, mas tem soldados para se proteger de invasões de tribos nômades e para manter a lei, mas o número de tropas é tão pequeno que, se fosse para dividir o número de soldados por cidade, cada cidade teria dez soldados.

Caminhamos alguns minutos, até que uma voz conhecida disse:

— Bom trabalho, Water.

Levantei a cabeça, pois estava olhando para o chão, e me deparei com Igor, Fear e End deitados na grama como se não tivessem nada para se preocupar.

— Usaram teletransporte, não foi? — Tânia adivinhou.

— Sim. Esses dois não podem ser vistos pelos guardas, eles usam um tipo de magia proibida aqui — Igor falou.

— Qual? — perguntou Skarlatte.

— Magia da Morte. Estamos no reino da vida, é meio óbvio que não se pode usar uma magia tão contrária assim. No início, as duas magias eram a mesma — End contou. — Os magos usavam o controle sobre a energia vital para recuperar ou matar, mas, com o tempo, seus estudos foram ficando especializados, até que surgiu a medicina e a necromancia. No fim a Arte da Vida tinha mais força. Os necromantes foram mandados embora e tiveram de viver no canto do continente, sendo vizinhos do país da Escuridão e o país do Veneno. A morte não é algo tão ruim quanto essas duas coisas.

— O que quer dizer? — meu irmão perguntou.

— A morte pode ser natural, pode vir de uma doença ou de uma luta por um donzela, pode vir de um soldado defendendo o reino ou de um pai caçando javalis para alimentar seus filhos. Mas a escuridão e o veneno não. O veneno é uma morte intencional, que faz o alvo sofrer. Ninguém que morre com veneno tem uma morte limpa. Já a escuridão abriga seres malignos, coisas que não deviam existir, feitiços proibidos e homens banidos. Ninguém sabe o mal que a escuridão guarda.

Quietos, todos seguimos viagens. Fiquei pensando naquilo que End disse. Será que todos os elementos tinham uma filosofia? O que esse mundo guarda? No início parecia só um jogo, mas a cada dia que se passa eu me sinto mais ligado a esse mundo.

Quando já estávamos quase chegando a Pasteur, uma pergunta eclodiu entre meus pensamentos mirabolantes.

— Algum de vocês já saiu do submundo?

Todos os mestres me olharam subitamente. Se tivessem visão de raio laser, acho que eu seria só um monte de pó.

— Não falamos muito do submundo, garoto — Water respondeu calmamente.

— Mas não, nenhum de nós foi ou saiu de lá — Igor respondeu, nitidamente controlando seu tom de voz.

— E conhecem alguém que já saiu? — insisti no assunto.

— Sim — End disse olhando para o horizonte.

— Por favor, estamos nesse mundo também, precisamos saber das coisas — falei.

Fear e Limcon concordaram comigo.

— Pois bem... Conhecemos um homem que saiu de lá. Não diremos o nome dele, ninguém diz. Lendas contam que ele persegue e mata quem pronuncia seu nome e depois ele vai até o submundo para te matar de novo e de novo.

— Mas ele não deve ser louco de ir ao submundo mais de uma vez, não é? — Fear falou com um sorriso trêmulo.

— Dizem que ele já foi mais de cem vezes lá — Roah falou quase sussurrando.

Se aquele grandão estava com medo, então esse cara não devia ser um lutador fraco, por isso não acho que ele deve ter ido para o submundo morrendo.

— Mas como ele vai e volta tão facilmente? — Skarlatte questionou.

— A primeira vez que ele foi para o submundo foi por causa de um Anjo da Morte. Os Anjos da Morte são lutadores que usam o poder necromante, como End e Fear, porém o garoto não é muito avançado nessa arte, então não chamariam ele de Anjo da Morte ainda.

Meu irmão não tinha expressão sob seu capuz negro.

— Esse homem que fugiu do mundo dos mortos... Bem, ele vagou durante meses naquele lugar. Usando pedra e ossos, matou monstros para sobreviver. Com o tempo ele ficou quase imbatível. Dizem que os demmarcs tem medo dele, pois seu prato favorito é coração de demônio. Mas não vem ao caso — Water fez uma pausa para respirar. — Com o tempo, esse soldado mapeou o submundo, se acostumou com o lugar, tornou-se um morador. Então o apelidaram de Desbravador da Morte. Mas seu apelido durou pouco tempo, pois o desbravador enlouqueceu entre os mortos. Ele matava todos, e matava de novo, dizendo que não queria mais viver lá. Até que, um dia, ele encontrou a saída. Como vocês sabem, a saída não fica no mesmo lugar sempre.

— O que é a saída? — perguntei.

— Pelo que ele contou, a saída é um par de pilares feitos de crânios. Quando alguém se aproxima, uma cortina de chamas acende entre os pilares. Quem passar entre eles estará no nosso mundo. Mas em algumas horas a saída se desmancha e surge em outro lugar. Todos achavam que era um lugar aleatório, mas o lado lúcido do Desbravador da Morte o obrigou a estudar esses pilares. Com o tempo ele descobriu que havia uma lógica no movimento dessa saída. Aprendendo essa lógica, ele descobriu como sair de lá quando quisesse. Assim ele podia entrar e sair daquela dimensão, servir de comerciante, cobrar pedágio pela saída, reinar no mundo de fogo.

— E ele faz isso até hoje, não? — perguntei.

— Sim. Se você morrer e quiser sair de lá, terá de achar ele e pagar pela saída.

A ideia de morrer e ter de achar uma saída para do inferno já era aterrorizante, mas agora, com esse louco, vocês não fazem ideia do meu medo. Imagina ter de encontrar esse cara, que sobreviveu no mundo inferior e tornou aquilo seu lar. Se ele não quisesse que eu passasse, teria de lutar para escapar, mas acho que eu não teria chance contra esse monstro.

Dez minutos depois estávamos no mercado de Pasteur, comprando mantimentos para a viagem. Planejamos dormir no hotel e seguir viagem logo depois que o sol nascesse.

— Fear, venha cá, quero dar-lhe um presente.

Meu irmão se aproximou de mim sorrateiramente. Entreguei algumas moedas de ouro para o vendedor, que me deu um par de luvas de pano, perfeitas para proteger do frio e do calor, mas não atrapalharia quando o ladino estivesse escalando ou roubando.

— Obrigado, Balazar — meu irmão disse me dando um abraço e vestindo as luvas.

Quando foi vestir a luva na mão direita, deixou seu anel da morte exposto por alguns segundos.

— Guardas! Guardas! Um necromante! — gritou o maldito vendedor.

Alguns guardas marchavam pela rua e, escutando a palavra “necromante” agiram imediatamente. Os nossos mestres sumiram, deixando somente Fear, Limcon, Skarlatte, Supreme e eu ali, cercados por dez soldados vestidos de armadura branca, com alabardas apontadas para nós. Tivemos sorte dos nossos amigos se juntarem a nós rapidamente, senão seria somente eu e meu irmão contra aqueles soldados.

— Vocês não tem para onde ir, rendam-se — gritou um dos guardas, que parecia ser o chefe do grupo.

Sua armadura era melhor e sua alabarda tinha pedras preciosas cravejadas.

Olhei para minha esquerda, onde meu irmão deveria estar, mas não era de se surpreender que ele já tivesse sumido. Quando olhei para o capitão do grupo novamente, vi sua cabeça caindo de cima do pescoço. Em seguida, todos os outros guardas morreram com cortes perfeitos, que desmontavam o corpo. Em três segundos dez guardas estavam no chão, mas nada estava atrás deles.

— Quem foi que...? — Skarlatte começou a formular a pergunta quando meu irmão tirou o capuz e voltou a ser visível.

— Fear, você foi incrível, matou eles como se fossem feitos de manteiga! — Supreme gritou.

— E depois eles dizem que você não pode ser um Anjo da Morte — Skarlatte disse.

— Acho melhor sairmos daqui. Ou até dessa cidade — Limcon disse quando um sino começou a tocar.

Todos corremos por entre as casas de mármore até não aguentarmos mais. Saímos da cidade que não tinha muralha nem guarita. Estávamos a um quilômetro de distância da casa que marcava o fim da zona urbana de Pasteur, atirados no chão arfando, quando um pé me cutucou. Sentei-me e olhei quem havia me chamado atenção.

— O que vocês fizeram naquela cidade, crianças? — Roah cuspia enquanto gritava.

— Não foi por querer. Eles descobriram que Fear tinha o anel da morte e tentaram o render. Tivemos de lutar — Limcon tentou explicar.

— Vocês podiam ter sido mais discretos — Tânia falou com calma.

— Agora não importa mais, não podemos ficar nesse país e teremos de acampar com cuidado. Vamos lá, será por conta de vocês a primeira metade da ronda noturna — End falou. — E da próxima vez eu corto os dedos dos pés de cada um de vocês. Estamos entendidos?

— Sim — respondemos em coro, cheios de medo.


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Notas finais do capítulo

E é com esse capítulo que o ano de mais escrita começa. Esse ano eu terei mais dificuldades para escrever, pois estudarei o dia todo e tenho treino de noite, mas darei um jeito. A história não pode parar. Espero que tenham gostado. Até.