Stay Alive escrita por Giullia Lepiane


Capítulo 7
Colheita - Distrito 6


Notas iniciais do capítulo

Chegamos à metade das colheitas! Espero que gostem desta também!
P.S. St Clair, sei que você colocou na ficha do Benjamin Carter que ele preferia ser chamado apenas de Carter. Mas por haver já um garoto com Carter como primeiro nome na história, coloquei ele sendo chamado de Benjamin, normalmente. Você se incomoda? Espero que não, mas caso sim, eu dou um jeito depois. Sinto muito.



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Hazel Davis

            O vestido era remendado, feio e em cores vivas demais para o humor de Hazel Davis. E mesmo assim, ela sorriu como se o tivesse amado quando o recebeu das mãos do homem que costumava ser o melhor amigo de seu pai, antes de este falecer.

            - Obrigada, Ian. Ele é perfeito.

            - Não minta, Hazel. – Suspirou o homem. - Sei que é feio. Sinto muito não ter conseguido algo melhor.

            Hazel assentiu. Não havia sentido em continuar com a mentira, embora parecesse agora que o próprio Ian acabara de contar outra – era claro que dava para ele ter arranjado algo melhor para entregar para ela vestir no dia de sua segunda colheita, mas a esposa dele deve ter-lhe negado dar à menina algo melhor. Ela detestava Hazel gratuitamente, o que era muita maldade de se fazer com uma menina que não tinha família – tendo o pai adotivo falecido quando ela tinha nove anos e nem conhecido os biológicos – e que estava sendo forçada a viver num galpão desde então. Justamente porque a mulher não queria tê-la dentro de casa. E a única ajuda que ela tinha, desde então, era trazida por Ian em forma de comida, de roupas ou de companhia. Mas só a terceira sendo de qualidade.

            - Então – Prosseguiu ele, querendo mudar de assunto –, nervosa para hoje?

            - Só pedi cinco tésseras. Acho que não vou ser sorteada. – Ela respondeu, tentando não olhar para ele enquanto falava, como sempre fazia quando estava mentindo.

            - Não perguntei isso.

            Como Hazel ficou quieta, Ian estendeu a mão e mexeu nos cabelos castanhos-chocolate dela, com as pontas mais claras devido ao Sol. O cabelo de duas cores dela combinava com seus olhos multicoloridos, e Ian teve de se segurar para não dizer também que combinaria com o vestido.

            - Bem, acho melhor eu ir me arrumando, então. – Por fim disse ela, encolhendo os ombros.

            - Tudo bem. – Ian se espreguiçou, e depois começou a caminhar para fora do galpão. – Até mais tarde!

            - Até! – Respondeu Hazel, sorrindo novamente enquanto ele a deixava com a coisa que ela mais odiava no mundo: a solidão.

*********

Benjamin Carter

            Como se não bastasse o pai de Benjamin Carter ser um bêbado maldito que, apesar de ter vencido os Jogos Vorazes alguns anos antes, tinha abdicado de todos os seus direitos como vitorioso – a casa, a fortuna, tudo -, ele ainda tinha de ser completamente desprezível e destratar a própria esposa.

            - Quero mais sopa! – Gritou ele, batendo a colher contra a frágil mesa da cozinha, o que fez Benjamin revirar os olhos. Eles às vezes passavam fome por causa da inutilidade do pai, e quando todos da família tinham um prato de sopa para saborear, ele pedia mais?

            - Não tem mais. – Respondeu a mãe de Benjamin, timidamente, mas ao ver o olhar enlouquecido do marido tratou de substituir o prato dele pelo próprio, onde ainda havia um pouco da comida.

            Emma e Donna, as gêmeas de doze anos que eram as meninas mais novas da família, pregaram seus olhos em suas próprias tigelas. Não suportavam ouvir o pai falando assim com a mãe.

            - Meninas, peguem suas coisas. Vamos comer lá fora. – Disse Benjamin, gesticulando para a janela, indicando o jardim. Depois de ver por dezessete anos como funcionava a relação de seus pais, ele conseguira aprender a ignorar, mas gostava muito de suas irmãs para fazê-las passar por isso também.

            Embora fosse atípico comer no jardim, ninguém impediu os três de pegarem suas tigelas e saírem.

            No lado de fora, eles se sentaram de pernas cruzadas no chão. Donna deu uma risadinha, divertida com a situação deles, e Benjamin lhe sorriu. Emma, por sua vez, ainda parecia bastante abalada.

            - Por que o papai tem de tratar a mamãe deste jeito? – Questionou.

            - Porque o papai é um idiota. Mas não devemos dar atenção porque... – Começou Benjamin.

            -... idiotas devem ser ignorados. – Completou Donna, repetindo as palavras que o irmão já dissera várias vezes, já que aquela era uma pergunta que vinha incontáveis vezes às mentes das gêmeas.

            Dessa vez os três conseguiram dar um sorrisinho, antes de voltarem a comer suas sopas.

*********

            Para tudo há uma primeira vez. E a primeira vez como acompanhante de um distrito nos Jogos Vorazes do homem de cabelos amarelos que estava sobre o palco parecia estar sendo assustadora.

            - Olá! – Ele disse, com a voz firme, mas não tão natural quanto à dos que já exerciam a função há tempos. Fez uma pausa para examinar a reação geral, e como todos permaneceram olhando para ele em silêncio, prosseguiu: - O meu nome é Theoney e serei o representante de vocês a partir deste ano, já que a antiga representante passou por algumas complicações, e precisou sair. Saibam que estou aliviado por trabalhar com vocês, e não com... – De súbito, Theoney pareceu repensar o que ia dizer e improvisou o final da frase: -... coisas que não me fossem tão agradáveis.

            Mas todos sabiam o que ele ia falar de verdade. Ele estava aliviado por trabalhar com o Distrito 6, e não com os distritos extremamente pobres. Ninguém queria ser representante de lá – pelo menos, Theoney teve a decência de não concluir a frase.

            Talvez por causa do breve deslize, ele achou melhor encerrar logo a apresentação e ir logo para o sorteio. E, como era tradição, a primeira que ele foi sortear foi a menina.

            - Hazel Davis! – Leu, em voz alta, do papelzinho que havia pegado.

            A garota que foi ao palco arrancou suspiros do resto do distrito. Treze anos. Ainda era praticamente uma criança. Mas embora penalizadas, nenhuma garota mais velha ousou se voluntariar para ir em seu lugar.

            Depois veio o menino. O nome sorteado da vez foi Benjamin Carter, e ao contrário de Hazel, ele já era praticamente um adulto.

            O garoto começou a caminhar para o palco, como era de se esperar. Mas na metade do caminho, parou e foi correndo até a seção das meninas de doze anos.

            Os pacificadores, sempre de prontidão, foram velozmente na direção dele, porém não chegaram antes de Benjamin alcançar Emma e Donna no meio das garotas e dizer-lhes:

            - Eu vou voltar, eu prometo. – Ele sabia que teria tempo para dizer isso na hora das despedidas, logo mais, mas também sabia que as gêmeas precisavam ouvir aquilo naquele exato momento.

            Então o alcançaram, seguraram seus braços e começaram a arrastá-lo para o palco. Benjamin contorceu-se.

            - Me soltem! Sei ir sozinho! – E por fim os pacificadores cederam e deixaram-no ir.

            Uma vez sobre o palco, Benjamin procurou com o olhar os pais dele no meio da plateia. Sua mãe chorava, e daquela vez ele próprio sentiu que não conseguia lidar com isso, e desviou o olhar para Hazel.

            Foi então que realmente reparou na menina, e sentiu seu estômago afundar.

            Emma e Donna. Hazel.

           


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Notas finais do capítulo

Até o próximo capítulo!