Vexy Kruz

A fornada de biscoitinhos que havia acabado de assar exalava o cheiro mais maravilhoso que Vexy Kruz já tinha sentido, e isso levando em conta que ela já sentira muitos cheiros bons em seu trabalho na padaria do Distrito 5.

Marvel, o filho do padeiro, que retirava os doces do forno, sorriu ao ver a expressão em seu rosto.

- Ponha isso no balcão, por favor. – Disse ele, entregando-lhe a bandeja quente, que ela teve de segurar com muito cuidado para não queimar os dedos. – E tente não babar.

- Ha, ha. – Vexy sorriu também e saiu da cozinha, levando a bandeja até o balcão e despejando seu conteúdo em uma das divisões.

Seu irmão mais novo, Dominique, que também trabalhava na padaria – coisa que eles tinham de fazer, já que o pai deles era doente, não podendo trabalhar, e a mãe era falecida – foi outro a olhar desejoso para os biscoitinhos. Vexy deu de ombros para ele, solidária. Eles não podiam comê-los, e sabiam disso. Dominique voltou a cuidar do caixa, e Vexy foi em direção à cozinha quase sendo atropelada pelo padeiro, que saía naquele momento.

- Ah! Que bom que você está aqui, Vexy! Eu já estava indo liberar você e o Dominique por hoje. Ao menos que queiram ficar um pouco mais e ir para a colheita cobertos de farinha. – Ele deu uma piscadinha.

- Não, não queremos. – Ela riu, e depois perguntou mais alto, para o irmão ouvir: - Você quer, Dom?

- Quero! – Respondeu ele, brincando. Não podia ser sério, pois ele nem estava prestando atenção à conversa, já que estava atendendo um cliente.

O padeiro riu também, e mostrou para Vexy algo que estava segurando: Um pacotinho de papel branco, cheio de alguma coisa.

- Para vocês terem algo para fazer uma refeição comemorativa depois da colheita.

- Obrigada! – Ela aceitou o pacote, de bom grado. O padeiro era um homem muito gentil. Além de dar emprego a ela e o irmão, ainda lhes dava presentes.

Vexy abriu o pacotinho, e deu uma olhada dentro dele.

Eram os biscoitos.

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Tobias Lapworth

A 40ª edição dos Jogos Vorazes sempre fora a favorita de Tobias Lapworth. Também, pudera: Com os tributos largados em um descampado com nada além da Cornucópia, apesar da grande extensão do terreno, o combate tinha sido o mais sangrento da história. Ele sempre se lamentou de ter nascido um ano depois desta edição.

Assistindo ao DVD onde sua tia Rupalia, com quem morava, tinha gravado a tal edição, Tobias parou para pensar em quando foi que desenvolveu gosto pelos Jogos. Talvez tenha sido quando seus pais o esconderam em sua primeira colheita, e pacificadores os descobriram e levaram os dois embora. Os Jogos os teriam salvado – fugir dos Jogos trouxe-lhes a ruína. Simples assim.

Tobias quase estava querendo ir para os Jogos Vorazes naquele ano, ele perceberia que fosse honesto consigo mesmo. Até tinha pedido quarenta e seis tésseras, coisa que absolutamente ninguém fazia no Distrito 5 por necessidade. Lá, uma ou outra pessoa pedia uma ou duas tésseras, e nada mais. Tia Rupalia não tinha mais onde guardar os suprimentos, e passara até a dividi-los com os vizinhos, que Tobias detestava.

Toda a vizinhança achava-o louco por causa de seus sentimentos pelos Jogos. E ele tinha toda a certeza de que não era louco. Os outros é que eram otários que nada sabiam.

Tirou o DVD bem na hora em que matavam a garota do Distrito 1. Se não fosse sorteado, terminaria de assistir mais tarde, mas já sabia de cor o que aconteceria depois disso, mesmo, de tantas vezes que assistira àquela edição.

Tia Rupalia, além daquele DVD dos Jogos, tinha mais sete, já que ela tinha desde sempre o hábito de gravar as edições que mais gostava (sendo que seu preferido era a 32ª, quando uma garota chamada Edelweiss, do Distrito 3, fora a vitoriosa e a arena era coberta de neve), mas tentava manter segredo da coleção à todos que não fossem Tobias. Não queria ser tachada de louca como ele.

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- Ah, seus felizardos! – Dizia Vars, o representante de cabelos vermelhos do Distrito 5, com sua voz retumbante – Mais uma vez estão aqui para mais uma colheita. Sabiam que, quando eu era mais jovem, sempre desejava ir para os Jogos? Sortudos!

Ninguém sabia se ele estava falando sério ou não. Mas de todo o modo, ele estava sendo um idiota.

- Eu, se fosse vocês, me voluntariaria com certeza. – Vars devia estar tentando se utilizar da persuasão. – Afinal, com os Jogos vocês podem conseguir dinheiro, fama, aparecer na televisão. O que vocês poderiam pedir, além disso? E então, o que me dizem, meninas?

- Digo que o problema é seu. – Sussurrou uma menina para a amiga, e por sorte, Vars não a ouviu. Mas era verdade que tudo parecia irritantemente fácil e bonito quando dito por alguém da Capital. Eles não levavam em conta que haveria muito mais chances de que as crianças morressem do que vencessem e conseguissem tudo o que Vars citara. E, pelo menos na vista dos cidadãos do Cinco, não valia a pena correr o risco.

Vars se deu conta de que ninguém se voluntariaria, como em todos os anos, e bufou. Não viu opção além de ir sortear uma garota.

O nome chamado foi de uma garota de quinze anos, Vexy Kruz. Ele esperou a tal garota, mas ela não foi ao palco.

Sua reação foi o desespero. Ela não podia ir para os Jogos Vorazes. Aquilo não podia estar acontecendo. Vexy saiu correndo, tentando fugir. Mas é claro que pacificadores a pegaram logo em seguida, e a arrastaram para o palco.

- Não! Não! – Ela gritava, se debatendo inutilmente.

- Ao garoto! – Rapidamente Vars falou por cima, querendo, de súbito, acabar logo com aquilo. Correu até a outra bola, e puxou o primeiro papelzinho ao alcance de sua mão. – Tobias Lapworth!

- Legal! – Berrou um garoto na plateia, e logo saiu correndo para o palco, sorridente.

Aqueles tributos estavam fazendo algum tipo de brincadeira? Vars começava a achar que teria uma semana muito longa pela frente.