Stay Alive escrita por Giullia Lepiane


Capítulo 45
Terceiro Dia - Tarde


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!



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Carreiristas

 

Ryan conhecia alguns dos esquemas, embora fingisse que não.

O clima entre os Carreiristas era ainda mais tenso do que ele tinha imaginado que seria, antes dos Jogos, e ficava cada vez pior. Ele podia ouvir os sussurros entre os outros, à noite: Matamos a todos durante o sono e fugimos; Vamos esperar para pegar as melhores armas. Havia uma longa série de possibilidades, e Ryan sabia que não era o único a sempre dormir com um olho aberto. Uma traição podia ocorrer a qualquer momento.

Mesmo os que não conspiravam entre si tinham planos. Era fácil perceber em seus olhares – o tempo inteiro sombrios, considerando suas chances. O que aconteceria se eles se rebelassem naquele momento? E se enfiassem uma espada na nuca de quem estava andando em frente a eles? Até o próprio Ryan se pegava tendo essas ideias, às vezes.

Enquanto eles andavam pela floresta com suas mochilas – à caça, como sempre –, ele pensava em como esses planos com certeza logo se tornariam realidade, se eles não matassem mais alguém em breve. Seria a única maneira.

— Eu estive pensando – disse Louise. – Podíamos deixar todas essas coisas em um lugar fixo e nos dividir em turnos para vigiar, enquanto os outros vão atrás dos tributos.

A reação foi um “não” coletivo, que cortou a conversa por alguns minutos. Ryan foi o único que ficou pensando na proposta.

— Bem... – Começou, ao ter uma ideia. – O que nós podíamos fazer era usar nossos suprimentos como armadilha. Nós os deixaríamos em um lugar e observaríamos, e quando alguém se aproximasse...

— Ninguém ia se aproximou – Elizzy cortou. – Isso é sério mesmo? A cada dez edições dos Jogos, os Carreiristas tentam essa estratégia em nove, e nunca vi dar certo. Os outros tributos vêem os suprimentos e fogem com medo, não se aproximam.

— O diferencial seria nós não deixarmos que eles escapem.

— Ah, claro. Se você quiser perder seu tempo, boa sorte fazendo isso sozinho.

Ele sempre procurava evitar brigas ao máximo – elas, em geral, só davam dor de cabeça –, mas não pôde evitar sentir certo ódio de Elizzy dessa vez.

— Você tem uma ideia melhor, então, Três?

— Não preciso ter uma. Olhem isso.

A garota parou de andar e apontou para o chão, e todos seguiram o seu exemplo. Jogado lá, bem à vista, havia um pedaço de tecido – obviamente, proveniente de uma bermuda rasgada. Era a melhor pista que tinham desde o dia anterior.

Louise se aproximou e espetou o tecido com a ponta de sua lança, erguendo-o para todos verem. Rebekah foi a primeira a perguntar:

— Para qual lado?

— Não há como sabermos – lamentou-se Ryan.

— Roupas não rasgam sem motivos – Carter foi curto como sempre. – Deve ter mais algum vestígio, em algum lugar por perto. Vamos nos dividir para procurar.

O tom dele era de comando, e o plano era muito bom para eles o desobedecerem apenas por despeito. O grupo se separou, e cada um deles seguiu em uma direção, procurando.

Não muito tempo depois, Rebekah encontrou sangue.

Não era uma poça ou qualquer coisa muito significativa, mas a mancha escura na terra era mais do que o suficiente para chamar sua atenção. Ela encostou nela, para conferir se realmente era sangue, e sorriu sadicamente ao ver os próprios dedos manchados de vermelho.

— Por aqui! – Anunciou, alto, a fim de chamar a atenção dos outros. Eles largaram a própria busca e correram até Rebekah, todos examinando por si mesmos a mancha que ela tinha encontrado. Foi bom o bastante para todos. Ninguém tinha morrido naquele dia ainda, e o sangue estava fresco. Se tivesse sido há muito tempo, naquele sol, ele já estaria seco.

— Vamos lá – disse Ryan.

— Se a Rebekah não tiver espantado o tributo que deixou isso para trás com o grito que ela deu, vamos – provocou Louise.

Rebekah quis retrucar, mas deixou isso para depois. Agora, eles tinham questões mais urgentes para resolver do que brigas pessoais.

Seguiram, em silêncio, o rasto de sangue, e continuaram a trilha mesmo quando os respingos pararam de aparecer, pouco depois. Andavam juntos e, no entanto, mantendo distância uns dos outros, a fim de abranger uma área maior e não chamar tanta atenção.

E, quando ouviram passos que não pertenciam a nenhum deles, todos começaram a correr, com as armas prontas.

A perseguição foi curta, mas intensa. Eles foram atrás do som até ele cessar, e então pararam, olhando em volta.

— Deve ter subido em uma árvore – sussurrou Elizzy. Ela segurava um arco, e tirou uma flecha de sua aljava, atirando-a para cima em seguida, esperando alguma reação; mesmo que fosse um pequeno farfalhar de folhas, indicando movimento.

Nada aconteceu. A flecha voltou a mergulhar em direção ao chão, e todos se afastaram alguns passos para não serem atingidos.

— Sabemos que você está aí! – Gritou Louise.

A resposta foi um grunhido animalesco, que fez com que alguns deles se sobressaltassem, e todos se juntassem mais. Eles se entreolharam por não mais que um segundo, e depois voltaram a olhar ao redor.

— Mas o que...? – Começou a dizer Rebekah, mas nunca pode concluir a sua frase, pois nesse momento uma flecha voou por entre as árvores e a atingiu na barriga.

Os outros se afastaram dela automaticamente, e olharam para o lugar de onde a flecha tinha saído. O que viram deu calafrios a Ryan: uma figura humanóide alta, com feições reptilianas e pele alaranjada, segurando um arco artesanal e já preparando outra flecha.

Tinham entrado no território de bestantes. Eles foram atraídos para uma armadilha.

Rebekah ainda estava viva quando todos correram de lá – não queriam enfrentar o bestante sem saber a totalidade de suas habilidades, e nem se ele estava sozinho ou em maior número –, mas foi possível ouvir o canhão que anunciava sua morte durante a fuga. Rápido demais, indicando que a flecha estava envenenada ou que ela ainda foi atingida mais vezes.

Mais flechas voaram na direção deles, vindas de todos os lados – mais e mais bestantes se aproximavam deles, em um silêncio anormal – e Elizzy não deixou barato, por vezes virando-se para atirar algumas de volta. Conseguiu atingir alguns, porém as flechas batiam em suas peles duras e caíam no chão, sem prejudicá-los.

Os Carreiristas usaram as armas que tinham em mãos para se defenderem e mudar o rumo das setas antes que elas encostassem neles, e estavam fazendo um bom trabalho – conforme se afastavam daquele lugar, parecia que os bestantes também se afastavam cada vez mais deles, indicando que tinham uma área limitada para se locomoverem.

Já estavam achando que iriam sair daquela situação sem mais problemas quando um deles pulou no meio do grupo, e este não segurava um arco, e sim uma lança que era maior do que qualquer humano, esculpida em madeira e com a ponta vermelha. Ele grunhiu, desferindo um golpe em direção a Carter, e eles souberam que não saíram vivos de lá sem lutar.

A lança de Carter era menor, mas ele era forte. Bloqueou o golpe e o desviou, e o bestante tentou atingi-lo por baixo. O garoto deu um pulo para o lado e empurrou a lança para a garganta dele, que a contornou com a versatilidade de uma cobra.

Enquanto Elizzy atirava flechas nos outros bestantes, para impedi-los de se aproximar mais e Carter enfrentava o bestante que estava no meio deles pela frente, Louise e Ryan começaram a atingi-lo por trás. Era complicado perfurar a pele, mesmo com as armas afiadas, mas conseguiram fazer alguns cortes, dos quais saiu um sangue preto e gosmento.

Isso enfureceu a criatura, que deixou Carter de lado para se virar contra os dois. Fez como se fosse acertar Ryan, que foi para o lado, e, de última hora, se voltou contra Louise, perfurando-a com a lança.

Louise ainda encontrou forças para desferir dois golpes, ganhando tempo para os outros, e tudo foi tão veloz que todos tiveram a impressão de que ela ainda estava lutando quando seu canhão soou.

No tempo que o bestante perdeu para arrancar a lança de seu corpo e voltar à luta, Carter e Ryan se lançaram às costas dele, e, juntando forças, conseguiram decepar sua cabeça. Então deixaram o corpo cair, inerte, no chão.

— Corram – disse Elizzy, com urgência, e não precisou falar duas vezes. Os três Carreiristas restantes saíram em disparada, e não pararam de correr mesmo quando os bestantes pararem de aparecer a sua volta, indicando que eles já tinham saído do território deles.

Todos estavam focados em um só objetivo agora: achariam quem tinha criado aquela armadilha para eles e os matariam. Não podiam estar muito longe.

 Procuraram por quase uma hora, sem parar nem para conferir os machucados em seus corpos. Tinham remédios o suficiente para lidar com isso depois, em um momento de calma. E, finalmente, ouviram algo: folhas se mexendo.

Elizzy preparou uma flecha e a lançou para o topo das árvores, como outrora, e o som de um corpo caindo ao chão se seguiu ao som do canhão.

Eles não quiseram saber quem era. Apenas seguiram o caminho deles.

E enquanto isso, não muito longe de lá, Lyre Crosswell, com uma bandagem improvisada amarrada em torno de sua panturrilha para estancar o sangue do corte que tinha feito para criar a armadilha para os Carreiristas, olhava, em estado de choque e com uma mão sobre a boca, o corpo de Matthew Quingley, que ela achava que estaria seguro ao dar a ele a função mais fácil de seu plano: ficar sobre as árvores observando os Carreiristas e conferindo se eles estavam indo pelo caminho certo, enquanto ela os atraía.

Como podia ter dado errado?


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Notas finais do capítulo

Pessoal, é chato dizer isso, mas vou ter de fazer outra pausa... Os capítulos adiantados que eu tinha para Stay Alive terminaram, mas, como eu tenho alguns adiantados para outras histórias que estão em hiato há mais tempo, eu decidi tirar um tempo para colocá-las em dia antes de voltar para o Stay Alive. Mas eu vou voltar, certo? Como voltei da última vez. Muito obrigada por estarem acompanhando, e até logo!



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