Stay Alive escrita por Giullia Lepiane


Capítulo 44
Terceiro Dia - Manhã


Notas iniciais do capítulo

Gente, desculpa não ter respondido todos os comentários ainda... Assim que eu tiver um tempinho vou correr atrás disso. Muito obrigada por tudo, Amelia Drummond, Lord Camaleão, Miss Apple e Lily Duncan. Vocês são importantes para mim e para a história.
Boa leitura!



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Benjamin Carter – Distrito 6

Hazel Davis – Distrito 6

 

Nenhum deles falava em voz alta, mas ambos estavam com muita fome e sede.

Os suprimentos que tinham conseguido na mochila tinham acabado na tarde do dia anterior, e os dois se sentiam, naquele momento, divididos entre a sorte de não terem encontrado nenhum tributo assassino até então e o azar de estarem sem ter o que beber e comer – sem contar com o medo dos Idealizadores, que poderiam tentar alguma coisa contra eles a qualquer instante. Então, eles caminhavam incertos, com a mochila vazia e o canivete que tinham achado dentro dela. Não sabiam o que encontrariam ao dar o passo seguinte.

— É um milagre termos vivido por tanto tempo – comentou Hazel, para quebrar o silêncio. Eles não tinham falado desde o momento em que acordaram, para poupar saliva.

— É uma boa coisa – Benjamin concordou, sem parecer, no entanto, empolgado com esse fato.

Eles ficaram mais meia-hora andando sem falar nada, até Hazel arriscar outra tentativa:

— Aquela história que você me contou no primeiro dia na arena... Aquela que você contava para as suas irmãs. Se estivermos vivos à noite, você pode me contar outra vez?

Como ela esperava, isso fez com que ele quase sorrisse.

— Você gostou dela?

— Gostei – Hazel assentiu. – Principalmente aquela parte em que... O que é isso?

Sobre uma pedra, havia um bestante. Não dava para se saber ao certo se se tratava de um animal ou um inseto: parecia uma perfeita mistura dos dois, na forma mais repugnante o possível. Era como uma gigantesca mariposa marrom, com antenas e asas – e, contudo, suas patas se assimilavam à de um roedor, assim como seu corpo gordo e peludo.

Hazel sentiu uma ânsia de vômito terrível, e recuou alguns passos em silêncio, sem conseguir, no entanto, tirar os olhos do bestante, que parecia encará-la de volta.

Ele bateu as asas, fazendo um barulho alto, e ela sentiu pânico ao pensar que ele ia decolar vôo – mas permaneceu pousado.

— Pode ser comida – disse Benjamin, embora ele mesmo tenha tido de se controlar para não vomitar. Hazel balançou a cabeça, incrédula.

— Não. Não, não vamos comer isso...

— Hazel – ele suspirou. – Eu não estou mais feliz do que você por isso, sabia? Mas nós temos de nos alimentar e, provavelmente, não vamos conseguir algo melhor que isso.

Ela hesitou. Sabia que ele tinha razão, mas era tão nojento.

— Certo... Mas não vamos conseguir pegá-lo. Ele vai voar e nos atacar se tentarmos.

Benjamin olhou para o chão ao redor dele, e pela primeira vez viu o quanto aquelas pequenas coisas podiam ser úteis: as folhas, os galhos, as pedras...

— Não vai. Venha me ajudar a recolher algum material. Vamos construir uma armadilha.

*********

Matthew Quingley – Distrito 7

Lyre Crosswell – Distrito 8

          

Lyre não tinha porque não gostar de Matthew. Ele tinha salvado a vida dela quando ela quase se afogara em um riacho, no dia anterior. Era um menino simpático e otimista, e sempre estava querendo fazer boas ações.

Porém, ele tinha decidido que seria aliado dela, apesar de Lyre já ter se decidido mesmo antes dos Jogos começarem que não teria aliado algum. Sabia que se complicaria muito, caso tivesse – ia se apegar à pessoa e sofreria se algo acontecesse a ela, sem contar que também poderia acabar por arriscar a própria vida pelo aliado, em algum momento. Era um risco que não valia a pena correr.

Então, ela estava fazendo todo esforço possível para ser indiferente àquele garoto, por mais difícil que fosse, e tentara muitas vezes despistá-lo, para poder seguir seu rumo sozinha. E nada tinha dado certo. Já estava sem saber o que fazer, e tinha decido que, por ora, apenas esperaria para ver o que aquilo ia dar.

Logo após eles acordarem naquela manhã, Matthew tinha dito para ela que tinha visto um lugar assustador, antes de encontrá-la se afogando. Ela estava quieta e tentava não conversar com ele, mas ele não parava de falar:

— É como se fosse uma aldeia. E tem gente morando lá. Mas não gente de verdade, sabe? São... bestantes. Bestantes muito humanos.

Aquilo acabou chamando a sua atenção.

— Como assim? – Perguntou, enfim.

— É isso mesmo. Uma aldeia de bestantes.

— Eu quero ver – pediu. Não sabia o que pretendia com aquilo; apenas seguiu sua intuição.    

— Parece ser muito perigoso lá. Não sei se seria uma boa ideia... Eu só escapei correndo muito.

— Claro que é uma boa ideia. E você disse que não é longe daqui, não é? Então me leve.

Matthew, afinal, concordou, e eles foram. Seguiram por entre as árvores por alguns minutos, quando ele começou a parecer um tanto confuso. Só tinha feito aquele caminho uma vez, e não reparara muito por onde estava indo. Lyre pensou em seu irmão Tyler, pouco mais novo que Matthew, que também estava frequentemente se perdendo, mas se obrigou a deixar aqueles devaneios de lado. Não podia comparar os dois garotos. Não podia se apegar.

Ela já estava quase desistindo daquela ideia de ver a tal aldeia e sugerindo que eles fizessem o caminho de volta para perto do riacho – de onde ela não queria mais sair, apesar de seu quase afogamento, com medo de desidratar novamente – quando eles finalmente acharam algo. Mas não eram bestantes.

 Lyre agarrou Matthew por trás e colocou uma mão sobre a boca dele, para que ele não gritasse. Ele ficou surpreso, mas não se mexeu, e ambos ficaram em grande silêncio.

Vozes altas. Passos. Um grupo estava se aproximando deles, e, embora o significado disso fosse óbvio, Lyre se pegou torcendo para que não fossem os Carreiristas.

Ocasionalmente, eles citavam os nomes uns dos outros, e ela prestou a atenção. Louise. Rebekah. Ryan.

Não demorou muito para se lembrar de quem eram aquelas pessoas, e sua pior suspeita foi confirmada. Eles tinham de sair logo daquele lugar.

— Fique em silêncio – fez com os lábios para Matthew, e ele assentiu. Então ela o largou e os dois se viraram e saíram andando, com passos muito lentos e silêncios, tentando se passar despercebidos, mesmo que a grande vontade deles fosse sair correndo.

Seguiram pelo lado oposto ao qual vinham os sons, e correram quando acharam que estavam longe o suficiente. Lyre tinha noção de que provavelmente se perderiam e não conseguiriam mais achar a única fonte de água que tinham, mas o instinto de sobrevivência falou mais alto. Não pararam para conversar ou pensar no que fariam, e Lyre até fez mais uma ou duas tentativas de sair da vista de Matthew, sem sucesso.

Os Carreiristas ficaram para trás, e, ainda assim, eles continuaram, cortando por entre as árvores até acharem algo que os fizeram parar tão de repente que quase desabaram no chão.

Estavam ofegantes e tinham de recuperar o ar, mas consideraram isso uma questão menor, em relação à que tinham à frente. Eles tinham chegado. Tinham encontrado o lugar do qual Matthew falara. O queixo de Lyre caiu.

Os dois estavam diante de uma aldeia, como a de uma daquelas tribos indígenas que existiam séculos antes de Panem. Lá, havia cabanas de palha e madeira, montadas no chão ou sobre raízes de árvores. Uma grande fogueira queimava entre as cabanas, mesmo em plena luz do dia, e muitos objetos artísticos enfeitavam o lugar: vasos de barro, armas confeccionadas com madeira e penas de pássaro. Tudo era muito brilhante e colorido – da arquitetura até a decoração – tendo sido possivelmente usados os pigmentos das frutas para pintá-los. O lugar não ocupava uma área muito maior que a de uma clareira consideravelmente grande.

E aquilo não era o mais impressionante sobre a aldeia.

Matthew estivera certo sobre os bestantes. Pareciam pessoas, na maneira de andar e no formato do corpo e dos cabelos muito escuros. Só que havia algumas diferenças bem marcantes – os bestantes tinham entre dois e três metros de altura, e suas peles eram de um laranja vibrante. Seus olhos amarelos tinham um ar reptiliano, e no lugar do nariz, eles tinham um buraco para a respiração. Não vestiam qualquer tipo de roupa.

Nenhum deles falava ou parecia se comunicar entre si. No entanto, todos sabiam exatamente seus lugares naquela sociedade: alguns seguravam armas e vagavam pela aldeia, atentos. Outros estavam reunidos em grupos, sentados no chão, comendo as frutas coloridas que seriam extremamente venenosas para um tributo. Deviam ser em vinte e cinco ou trinta.

Era a coisa mais assustadora que Lyre já tinha visto, depois da morte televisionada de seu irmão Theron, dois anos antes, também nos Jogos Vorazes. Contudo, ela não se afastou. Sua mente começou a trabalhar a toda velocidade, enquanto ela observava.

— Vamos sair daqui – Matthew sussurrou em seu ouvido, assustado. Já tinha estado lá antes, e sabia do que os bestantes eram capazes.

Lyre não lhe deu ouvidos. Um plano começava a se formar.

— Todos eles estão amontoados nessa aldeia. Eles conseguem sair? – Perguntou para ele, bem baixo.

— Conseguem, mas acho que não podem se afastar muito. Quando eu estive aí ontem, eles me viram e tentaram me seguir, mas pararam logo quando me perderam de vista.

Ela assentiu, em compreensão. Era perfeito.

— Matthew, eu tenho um plano. E você vai ter de me ajudar.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo capítulo!



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