Stay Alive escrita por Giullia Lepiane


Capítulo 13
Colheita - Distrito 12


Notas iniciais do capítulo

E este é, enfim, o último capítulo de colheita :D Obrigada a todos que comentaram durante este tempo e, bem... Tem muito que eu quero dizer para vocês, mas preparei um capítulo... hm... "especial", acho que podemos chamar assim, para encerrar definitivamente esta parte da história onde os tributos foram apresentados, e nas notas dele eu já vou colocar tudo o que tenho para dizer. Mas, não, já deixo registrado que a próxima etapa não mostrará a Capital ainda :( Eu explico direito no próximo capítulo, como disse.
Quando a este, espero que gostem! ;)



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Anna Borgin

Se Anna Borgin tivesse vendido o camafeu que sua mãe lhe dera poucos dias antes de morrer, ela e seu sobrinho Gabriel certamente teriam tido o que comer por semanas, mas aos dezesseis anos de idade ela não tinha mais coragem para efetuar a venda do que aos oito, quando sua mãe, seu pai, seu irmão mais velho e sua cunhada haviam morrido por causa de um acidente na mina onde trabalhavam, deixando-a sozinha com o sobrinho que tinha, na época, quatro anos, morando no terrível orfanato do Distrito 12, onde mal tinham comida para dar às crianças.

Anos atrás, Anna não conseguia vendê-lo por representar, para ela, a família dela e sua antiga vida, mas com o passar do tempo, ele havia adquirido outros significados: o ódio pela Capital, por exemplo, implícito na frase “A liberdade é o maior tesouro do homem”, impressa no camafeu.

E ela, naquele dia logo antes da colheita, ficou observando-o por vários minutos, sentada num canto do quarto das meninas do orfanato e pensando em tudo isso, até outra garota chegar e para a sua frente. Anna teve um sobressalto. A menina tinha entrado tão silenciosamente que ela nem havia percebido – e era claro que, se houvesse, teria escondido o camafeu o mais rápido possível. A última coisa que precisava era que os outros soubessem que ela tinha algo de valor.

- O que é isso? – Perguntou a menina.

Anna fechou a mãe em torno do objeto.

- Nada.

- Você está mentindo.

- Não estou não. – Com a mão livre, Anna tomou impulso para levantar. – Com licença, vou me arrumar.

E saiu andando, pensando em que raios de lugar ela poderia esconder o camafeu agora que o haviam descoberto.

No final de contas, decidiu que seria mais seguro se ela se mantivesse perto dele, por enquanto.

Onde guardá-lo, ela decidiria outro dia.

*********

Kriger Scherbitsky

A lagartixa estava encurralada – não importava para onde ela tentasse correr, o órfão de treze anos Kriger Scherbitsky bloqueava seu caminho com as mãos, observando-a com os olhos azuis concentrados.

O réptil estava aterrorizado, mas Kriger não ligava. Quando ficou cansado de prender a lagartixa, ele a segurou conta o chão. Ele estava no quintal do orfanato onde vivia desde que os pais faleceram no acidente que acontecera numa das minas do Doze oito anos antes, e que tirara as famílias de várias outras crianças e adolescentes, e estava segurando uma pedra pontiaguda que ele pegara para lhe servir de faca.

Lentamente, decepou uma das pernas da lagartixa, e quase sorriu ao ver o sofrimento dela. Mas não chegou à tanto.

Um por um, removeu todos os seus membros, deixando-a em pedacinhos. A lagartixa morreu antes do final da operação, todavia, e Kriger acabou não divertindo tanto quanto desejava. Insatisfeito, mas conformado com o final da brincadeira, pensou em esconder tudo sob uma pedra grande, ou quem sabe dentro de um buraco, mas no final teve uma ideia melhor, que o levou a guardar todos os membros nos bolsos das calças e ir para dentro do orfanato.

Ninguém o tinha visto fazer aquilo, mas todos conheciam sua índole, então as pessoas foram saindo de seu caminho enquanto ele passava. Kriger não olhou para ninguém até chegar ao quarto das meninas, e então parou na porta. Ouviu duas meninas conversando lá dentro, e esperou um pouco, casualmente. Enfim, uma delas saiu, e um pouco depois, a outra. Foi então que ele entrou.

Caminhou até o primeiro colchão que viu – no orfanato, as camas eram, na verdade, apenas colchões no chão. A situação de lá, como de todas as casas do Doze, era de miséria. – e escondeu as partes da lagartixa sob o lençol.

Ele esperava que, à noite, quando a menina que dormisse naquele colchão visse a lagartixa desmembrada, a reação dela proporcionasse diversão o suficiente para compensar o trabalho da operação.

*********

Os cidadãos do Distrito 12 tinham uma boa noção de que eram o último distrito desde que o Treze fora destruído, e definitivamente não precisavam que alguém ficasse lembrando-os disso o tempo inteiro. Mesmo assim, Chloris, a representante deles insistia nisso todos os anos:

- E aqui estamos, na colheita do Distrito 12, para fechar as colheitas com chave de ouro! Afinal de contas, as colheitas de todos os distritos já foram realizadas. As primeiras, até, há horas atrás! – Ela estava sendo simpática, mas era outra representante que deixava claro em seus olhos que preferia muito estar em outro distrito. – Algum voluntário? Lembrem-se que na Capital terá comida e roupas descentes! – Ao que ninguém respondeu, Chloris pareceu indignada. – Eu disse comida. – Algumas pessoas pareceram desejosas, mas não o suficiente para se voluntariar. – Certo, certo. Eu já devia saber.

Ela foi sortear a garota tagarelando sobre como ela teria comida e eles não – o que era meio antiético, se é que os representantes da Capital sabiam o que era isso – e tirou o primeiro papelzinho que sua mão alcançou.

- Oras, que nome fácil! – Comentou – Anna Borgin!

Anna, no momento em que seu nome foi chamado, só conseguiu pensar em Gabriel. Ela tinha de ficar para ele. Tinha.

Ficou parada, como se Chloris fosse se esquecer dela e sortear outro nome se ela não se manifestasse, mas todos os outros do distrito estavam olhando para ela, e logo Chloris também a achou.

- Venha para o palco, Anna.

Ela não foi. Os pacificadores se moveram em sua direção.

Foi então que ela correu.

Correu para longe, para qualquer lugar. Os pacificadores a alcançaram, e a agarraram. Anna se debateu, arranhou, chutou. Eles a levaram para o palco de toda a maneira.

Lá em cima, ela ainda tentou fugir, e acabou que um pacificador ficou lá com ela, segurando-a, ainda.

Chloris foi ao sorteio do garoto, parecendo um pouco assustada. Também puxou o primeiro papel.

- E o menino é... Oh, esse nome não é fácil. Vejamos... Kriger... Como se pronuncia isso? Scherbitsky, é isso mesmo?

Kriger ficou atônito. Se deu conta de que ele não saberia a reação da menina que deitaria sobre uma lagartixa morta naquela noite. E não gostou nada disso.

- Kriger, querido. – Chloris parecia estar implorando. Devia estar torcendo para que ele não tivesse a reação de Anna – Por favor, venha. E pacificamente.

Ele foi. Não tinha opção.

No palco, Anna e Kriger olharam para as famílias aliviadas dos outros jovens, felizes por seus filhos e irmãos não estarem indo para os Jogos. Os dois se sentiram mal não só por estarem, eles, indo, mas sim por não terem nenhuma – ou no caso de Anna, quase nenhuma – família para sentir a falta deles quando morressem.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo!



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