Antonym escrita por TimeLady


Capítulo 9
9.


Notas iniciais do capítulo

Hello! Não tenho muito o que declarar, a historia está começando a entrar nos trilhos que eu queria, por isso talvez eu esteja escrevendo com mais animação do que o normal. Desculpas adiantados por algum erro de ortografia.



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O nome do médico era Samuel San Tiago e era um dos únicos médicos com quem Jane foi com a cara. Ele tinha o olhar de quem sabe que é a pessoa mais inteligente na sala, mas não levava isso mais afundo do que isso. Era como um jovem de vinte anos num asilo reconhecendo ser a pessoa mais nova dali, mas sem ver isso como um motivo para ter o ego inflamado.

Como consequência, ele não era arrogante, somente pratico e Jane gostava de pessoas praticas, mesmo que ele mesmo não fosse uma (nascido e criado num circo e as pessoas ainda acreditavam que um dia ele deixaria de ser tão teatral). Assim, quando Samuel se aproximou em passos rápidos com o olhar preso em uma prancheta e os informou do estado de Arthur sem sequer olha-los no rosto, o ex-vidente não tomou como um sinal de desdém.

Médicos são criaturas ocupadas.

“Ele está bem até onde poderia se esperar. O corte no braço apesar de comprido não foi fundo, nem atingiu o osso, o que é bom e também não achamos sinais de infecção, o que é uma surpresa levando em conta o estado geral do menino.” O homem terminou de assinar uma folha e o entregou a uma enfermeira que passava, pedindo em uma voz baixa para levar a secretaria.

Jane franziu levemente o cenho, processando o que tinha ouvido enquanto que Darcy, parada ao seu lado, cruzou os braços de modo impaciente. “Como assim, estado geral? Você não disse que ele estava bem?”

O doutor suspirou e guardou sua caneta naquele bolso infinito que todo jaleco de medico tem. “Agente, o garoto que os senhores nos trouxeram é uma criança de rua há pelo menos dois ou três anos, julgando pelo estado das roupas. Isso o afetou de modos que, se não forem permanentes, vai levar meses ou até mesmo anos para serem curados.”

“O que você quer dizer com isso?” Lisbon perguntou, uma ruga de preocupação em sua testa.

Jane notou como o homem segurou um suspiro, um sinal mais de fadiga do que irritação, levando em conta as leves orelhas embaixo dos olhos acastanhados do doutor. Por conta disso, o loiro resolveu que não seria justo pressiona-lo com um comentário seu e nem ao menos muito necessário – era só cansaço que estava no caminho da informação daquela vez, estressar mais ainda o informante não seria de muita ajuda. Então o consultor guardou as mãos tensas dentro dos bolsos da sua calça e escondeu seu nervosismo atrás de uma expressão neutra. Ele podia ser um pouco mais paciente.

“Olha, esse garoto deve ter por volta de oito a noves anos de idade, mas tem o físico de uma criança de seis a sete, tanto em altura como em peso. Ele está altamente desidratado, com claros sinais de falta de sono e alimentação, correta ou não, e eu duvido que isso seja de agora. Tem ferimentos passados não tratados corretamente por todo o corpo e o sistema imunológico dele está das vezes abaixo do normal, sem falar da anemia, embora eu ache que seja fruto do ferimento no braço.” O doutor Samuel disse, listando com uma monotonia de alguém que já teve lidar vezes de mais com coisas assim e já passou do ponto de ficar chocado. Ele deu uma pausa onde massageou o ponto entre os olhos, antes de continuar de olhos fechados. “Tem também o estado mental dele extremamente frágil. O garoto fica entre picos de medo extremo que o deixam incrivelmente violento e depressão corrosiva, onde ele fica completamente sem reação, além da ansiosidade e estresse, sintomas claros de TEPT.” O medico então tirou a mão do rosto e os encarou cansados. “O que eu quero dizer, Agente Lisbon, é que esse menino não está doente e não corre risco de vida, mas com certeza está longe de ser saudável.”

Silencio caiu entre os quatro adultos, enquanto os oficiais da justiça absorviam as noticias. Teresa tinha aquela sua expressão preocupada e nauseada de quando ela lidava com coisas que afetavam até o seu profissionalismo, enquanto que Darcy desviava os olhos de maneira instintiva para a direção do quarto do garoto.

Suas mãos se fecharam em punhos cerrados dentro dos bolsos.

Sentia seu coração bater violentamente contra seu peito, fazendo circular a raiva venenosa que aquele exato tipo de coisa sempre provocava em si. A injustiça simplesmente não lhe descia, de modo algum. Era como uma pedra de puro fogo gelado entalada na sua garganta, um incomodo insuportável na sua consciência e que não podia ser deixado de lado, independente do quanto se esforçasse. Pingava ódio e revolta em seu coração logo abaixo, fazendo seu sangue queimar.

Assim como trazia a culpa da parte mais profunda da sua alma.

[... a tragédia pode trazer...]

[O melhor...]

[... ou o pior]

[... daqueles que ela toca...]

“Podemos vê-lo?” Falou num tom de voz considerável, educado.

Sua mascara já havia voltado.

Dr. Samuel piscou os olhos cansados em sua direção, como se só tivesse notado agora o homem loiro estranhamente calmo ao lado das intimidantes agentes policiais. Viu o médico considera-lo por alguns segundos, como se estivesse avaliando quem estava confrontando – e foi nesse processo que ele notou o sangue seco em seu peito, onde Arthur havia apertado o braço machucado.

“Você deve ser o homem que trouxe o menino.”

Jane sorriu, sentindo o seu rosto esticar como couro envelhecido. “Na verdade, ele trouxe a si mesmo, eu só... o ajudei a chegar à sala de emergência.” Enquanto o protegia de agentes do FBI famintos por informação, como abutres sobre um filhote adoentado e mais do que preparados para arrancar pedaço por pedaço enquanto a carne ainda estava fresca.

Bem, ele não podia dizer isso com Agente Darcy parada ao seu lado, com seus olhos escuros queimando buracos no seu rosto. Ela sabia o que ele havia feito quando ele saiu correndo escada abaixo feito uma criança de nove anos com uma criança de realmente nove no colo, jogando-se no andar mais próximo antes de algum agente conseguisse processar o que ele estava fazendo. Jane não gostava de médicos, mas reconhecia que em um hospital eles seriam a única força maior do que suas chefas e que se ele conseguisse um deles do seu lado, ele poderia adiar a dissecação do FBI sobre aquela criança por mais um tempo, até que ele conseguisse formular um plano.

Darcy seguiu esse seu mesmo raciocínio e não ficou muito feliz quando o doutor Samuel San Tiago surgiu no seu caminho com mais outros cinco enfermeiros, informando em tons claros que ninguém entraria naquele quarto até que ele desse bandeira verde. Ela não gostou e fez questão de Jane entender isso com um único olhar, mas não protestou também.

Susan tinha um coração, afinal de contas. Não era como a maioria do FBI.

O médico o considerou por alguns minutos, mas então sacudiu a cabeça como Jane previu que ele faria. “Infelizmente não, o garoto ainda está sobre efeitos de sedativos e está descansando no momento. Voltem amanhã e talvez as coisas estejam diferentes.” Com isso, o homem deu um leve aceno como despedida e virou, partindo em direção ao corredor.

Darcy soltou um suspiro frustrado, mas não fez nenhum outro comentário. Um ponto extra para ela no contador interno de Jane (um pouco mais e ela vai começar a merecer sua confiança, mas não vamos nos apressar, certo?). Lisbon ao seu lado lutou para trazer de volta sua manta de profissionalismo que, por certos códigos de honra que ela mesma havia criado, era indispensável em campo e virou para o loiro com uma expressão cuidadosamente mantida. “Jane, eu preciso que você me conte tudo o que você descobriu.”

Deu de ombros de leve. “Não muito, não mais do que vocês descobriram pelo medico e pelo o que Arthur disse.”

“Então por que você correu atrás do menino?”

“Porque eu o reconheci” Olhos de lobo e [sorriso falso?] medo, terror, duvida, inteligência, suspeita, dor. Não só pela foto, não pela foto. Jane reconheceu o rastro de Red John impresso naquela criança no momento em que seus olhos se encontraram, instintivamente reconhecendo alguém também manchado por aquele mesmo vermelho.

[Um presente]

[Charlotte Anne Bronte era a escritora favorita...]

[“Eu sempre gostei dos livros dela, Patrick”]

Lisbon não discutiu, porque ela mesma havia reconhecido o menino no momento que o olhou no rosto. Apesar de não ser exatamente a mesma coisa. “Ele disse alguma coisa enquanto vocês estavam sozinhos?”

Sim. “Não”

Darcy ergueu uma sobrancelha cética ao seu lado. “Vocês ficaram uns quinze minutos a sós, e você quer que nós acreditemos que vocês não conversaram sobre nada?”

“Primeiro, sete desses quinze minutos consistiu de mim correndo atrás dele pelo hospital inteiro” E suas pernas já estavam começando a doer. Legal. “Segundo, eu não preciso que vocês acreditem, foi isso o que aconteceu.”

Dessa vez, ambas as mulheres o encararam com a mesma expressão descrente e ligeiramente irritada. Isso trouxe uma fagulha que diversão que começou a quebrar a pedra fria entalada na sua garganta trazendo-lhe de volta um pouco de seu equilíbrio. Conseguiu prender melhor sua mascara e de repente não havia mais rachaduras ou pontos soltos (fazia anos que não a tirava completamente assim. Era ao mesmo tempo libertador e assustador). “Olha, a criança estava completamente aterrorizada. Tudo o que eu consegui dele no nosso tempo sozinho foi o seu nome.” E alguns outros pequenos detalhes.

“Não exatamente.” Interrompeu a voz de Cho e eles se viraram para encontrar o chinês se aproximando com Wayne e Grace logo atrás. O homem parou diante das mulheres e Jane com um papel nas mãos, olhando brevemente para cada um enquanto falava. “Eu puxei um favor no ARI e consegui entrar em contato com a Scotland Yard em Londres, eles ainda estão procurando por mais informações, mas conseguiram me enviar isso há alguns minutos atrás.” Entregou o papel para Lisbon e o loiro imediatamente espiou por cima do ombro da morena.

Era um registro de abrigo para sem-tetos da Inglaterra, Londres, com uma foto escura e borrada de algo reconhecível como um menino e uma quantidade de informações magra, espalhadas pela folha branca grande demais. Seus olhos rapidamente absorveram tudo o que estava escrito e a principio nada fazia sentido.

“A dona do obriga disse que registrou o garoto uns quatro anos atrás e que lembra bem dele porque foi à primeira criança que ela recebeu. Um homem o trouxe alegando ser o pai do menino e pedindo para que ela cuidasse da criança por um tempo, até que ele conseguisse um emprego. Foi embora e nunca mais voltou e deixou o menino registrado sobre o nome de Currer Bell.”

Seus ouvidos pareciam cheios de sinos quando ouviu isso e de repente a pedra em sua garganta despencou em seu peito, espalhando veneno e ódio e vermelho. Respirou fundo e se afastou levemente de Lisbon, como se temesse que a mulher escutasse seu coração de repente a mais de mil por hora dentro da sua caixa torácica.

Oh, mas que piada divertida.

Uma brincadeira sádica bem planejada e com um certo toque de elegância. De certo, se Jane não matasse Red John assim que o encontrasse, talvez ele conseguisse elogiar a crueldade encantadora que o assassino conseguia colocar nos detalhes. Um só nome, um só nome apenas e o autocontrole de Jane já estava rachando de dentro para fora fazendo sua boca ter um gosto metálico.

Uma piada interna.

Uma cutucada na ferida.

[Um presente para a nossa escritora]

Fechou os olhos e repetiu sua mantra controle-se controle-se contole-secontrole-secontrole-se.

Quando os abriu de novo, o rugido na parte de trás da sua cabeça já não era tão alto e sua visão estava normal de novo. Sem vermelho. Sem vermelho.

Estavam trancados atrás da porta branca de novo, longe dos olhos alheios.

“Mas eu achei que o nome dele fosse Arthur.” Lisbon falou e sua voz gentil, macia foi uma boa ancora para o seu mar de sentimentos. Apoiou-se na sua pedra firme, no seu porto segura naquela tempestade que era sua vida diária e firmou sua mascara quando viu a mulher virar em sua direção, procurando por respostas e sem ter ideia do que havia perdido nos segundos que não olhava para o loiro.

O ex-vidente convocou uma expressão confusa em seu rosto, como se ele também não tivesse entendido direito. “Sim, Arthur King, esse foi o nome que ele me deu.”

Cho acenou, como se já soubesse disso. “Sim, bem, foi esse o nome que o garoto deu também, quatro anos atrás quando lhe perguntaram. Quando o indagaram sobre o nome que o homem deixou, ele apenas disse que aquele era o nome que o seu pai queria, mas Arthur era o nome que sua mãe lhe deu.”

Algumas peças começaram a se encaixar na cabeça de Jane, começando a formar um cenário da qual ele realmente não estava gostando. Sentiu seu corpo lentamente perder a temperatura na velocidade do seu coração t-tum t-tum t-tum batendo como um tambor contra o seu peito.

“E a mãe? Ela é a nossa refém, não é? Conseguiram alguma informação referente ao que Arthur... Currer, ou qual que seja o nome dele, disse sobre ela estar morta?” Darcy perguntou, cruzando os braços.

Ah, ninguém havia entendido ainda?

Foi Wayne que respondeu dessa vez. “Não temos nada ainda, primeiro a gente tem que confirmar a identidade do garoto para descobrir sobre a mãe. A Scotland Yard pediu para enviarmos algumas digitais para que eles possam verificar no banco de dados deles amanhã.”

“Ok. E o homem que levou o garoto até o abrigo? Alguma informação, identificação?” Lisbon indagou, balançando o papel levemente com a mão.

Os três agentes do CBI se entreolharam e aahh então alguém estava na trilha certa. Pelo menos foi no que Jane resolveu acreditar.

Van Pelt puxou uma mecha vermelha para atrás da orelha e falou num tom de voz nervoso, mas firme. “Ele não deixou nenhuma identificação e nem modos para contata-lo. Como ele também parecia um sem-teto, a moça do abriga não achou estranho e não perguntou demais.” A ruiva parou, parecendo reorganizar seus pensamentos. Então continuou com uma voz tensa. “Ele só deixou o nome dele, chefa.”

Lisbon virou a cabeça levemente de lado, daquele modo indagador dela. “E qual é?”

Uma dor simpática, uma dor por outra alma, por outro coração atacado pelas mãos de um assassino sem nenhum dos dois, invadiu o seu corpo. Correu por suas veias com o seu sangue, fazendo sua respiração ficar mais pesada e que água se acumulasse em seus olhos por pura simpatia, pesar.

Pobre criança.

Pobre criança.

Pobre criança.

Grace respondeu. “Tagliaferro, Roy Tagliaferro.”

[Não se deixem enganar pela aparência, crianças]

[Porque o Diabo é lindo, porque costumava ser um anjo]

[E ele era o favorito de Deus]


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Notas finais do capítulo

Enfim. Vai demorar mais alguns dias para eu poder atualizar a historia porque eu tenho outros dois projetos em andamento, então peço que tenham paciencia, please!

Algum erro detectado no capitulo me avise, eu escrevi esse meio que na pressa e não o revisei muitas vezes.



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