Constante De Laura escrita por Renata


Capítulo 14
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

Capítulo com algumas novidades.



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Skylar deitou-se no chão do sótão. Tivera um dia incrível, mas uma coisa o incomodava. Ele queria se lembrar de alguma coisa. Os únicos fragmentos que lhe vinham à mente eram os corredores claros da Academia Delta Almaak, alguns poucos rostos borrados de seus colegas, mas nenhum nome ou situação específica. Lembrou-se de uma biblioteca imensa, e teve a leve impressão de que passara horas naquele lugar. Sentiu os olhos arderem quando lembrou-se das imagem de seus pais. Aquela era a sua melhor memória, a mais nítida, mesmo que não trouxesse a ele uma ideia concreta de tudo o que estava acontecendo.

Fechou os olhos e pode se concentrar na imagem deles. A mulher de longos cabelos escuros o empurrava, com s olhos marejados e cheios de súplica. Era a sua mãe, com toda a certeza. Pode ouvir a voz dela ecoando em sua cabeça, entoando uma cantiga de ninar, igual a quando ele era muito pequeno. O homem que estava mais a frente dele tinha os mesmo cabelos claros de Skylar, com braços estendidos e bradando contra alguém. De repente Skylar teve outro lampejo de memória e sentiu o abraço forte que o pai lhe dera, e por algum motivo em especial o parabenizava.

A sensação que tudo aquilo lhe causara era de uma dor lancinante do lado esquerdo do peito. Abriu os olhos novamente e enxergou tudo borrado, ao mesmo tempo em que as lágrimas quentes escorriam livres por seu rosto.

Alguns minutos depois Skylar estava sentado sobre a mesa, da mesma forma que Laura estivera. Estava espiando para o lado de fora do sótão, pela fresta na cortina desgastada. Não observava nada em especial. Mas tentou ao máximo evitar as lembranças confusas que acabara te der dos pais. Mas apesar do desconforto que sentira ao se esforçar para se lembrar de alguma coisa, foi bom poder rever as feições deles.

***

Laura estava subindo as escadas nas pontas dos pés. Já haviam passado algumas horas desde quando deixara Skylar sozinho. Estava levando algumas fatias de pizza que sobrara do jantar, frutas frescas e uma jarra média de suco de abacaxi. Como sempre, equilibrara tudo da melhor forma que podia, bateu na porta com os nós dos dedos e esperou alguma resposta de dentro do cômodo. Ouviu o destrancar da fechadura e sorriu ao ver que Skylar abrira a porta pra ela. O garoto parecia ter acabado de tomar banho. Os cabelos estavam molhados e escorridos, sem os grandes cachos habituais, e ele já estava usando um moletom que ela e Catarina conseguiram de Henrique.

– Trouxe comida!- Ela exclamou animada.

Os dois se sentaram à mesa. Laura empilhou todas as coisas que antes estavam ali e colocou num canto, abrindo espaço para colocar o jantar de Skylar. O garoto olhou um pouco relutante para a fatia de pizza, mas resolveu experimentar. Laura ficou olhando com o canto dos olhos, só para ver a reação dele. Deu um risinho quando Skylar voltou a encarar a pizza e deu mais uma mordida.

– Amanhã eu tenho um teste de espanhol. Eu nem estudei direito.- A menina tamborilou os dedos na madeira.- Eu não devia estar nervosa, não sou tão ruim em espanhol...

Skylar fitou Laura, com uma expressão preocupada.

– Eu acho que vou dar uma olhada no manual de espanhol...- A menina continuou, com um olhar distante.- É. Eu vou descer, okay?

– Você vai se sair bem.- Skylar tentou encorajar a menina.

– Obrigada. Espero que sim. De qualquer forma, amanhã eu saio antes do colégio... podemos dar uma volta. Eu sei de um lugar que você vai adorar conhecer.

–É mesmo?- Skylar sorriu, sentindo-se animado.

– É. Mas você vai ter que esperar.

Laura se levantou e caminhou em direção á porta. Deu um suspiro, sentindo o peso das obrigações. Suas notas precisavam melhorar, ou ela poderia até mesmo repetir de ano. Virou-se para o garoto que estava escondido no sótão de sua casa. Skylar estava em pé, ao seu lado. Ele colocou uma das mãos em seus ombros e ela deu um sorriso tímido.

– Até amanhã Skylar, boa noite.

–Até amanhã.

Laura abriu a porta e desceu as escadas.

***

Os olhos da garota estavam pesados. A página do livro de espanhol estava levemente amassada, e no titulo era possível se ler “Pronombres Átonos”. Laura esfregou os olhos e alcançou o celular. O relógio digital na tela de descanso marcava 23:00. Ela estava cansada, tivera um dia cheio e ainda tinha recapitulado a matéria do teste durante um tempo que durou pouco mais que meia hora. Resolveu empurrar o livro de qualquer jeito dentro da mochila, e escorregou para debaixo dos cobertores. Acendeu o abajur que estava ao lado da cama e passou a pensar coisas aleatórias, como sempre fazia antes de realmente pegar no sono. Pensou no teste, obviamente. Mais especificamente no conteúdo que provavelmente cairia e na nota que ela esperava que fosse alta. Lembrou-se do dia que tivera com Catarina e Skylar. Depois voltou a se lembrar do teste.

“Com toda a certeza, Skylar se sairia muito bem. Ele tem a maior cara de ser um C.D.F. Porque eu não posso ser assim? Gostar de estudar mais, tirar boas notas...”

Laura rolou de um lado para o outro.

“Pelo menos eu não preciso de notas tão altas em espanhol. Só preciso de notas em matemática, história, química e biologia. Talvez um pouco em literatura. Droga.”

A menina resolveu pensar em outras coisas ou teria insônia. Optou por se lembrar dos detalhes do filme. Mais rápido do que pudesse imaginar caiu num sono sem sonhos malucos e pode descansar.

***

Skylar estava sem sono. Sentou-se no sofá e começou a ler uma das tantas histórias em quadrinhos de Laura. Era a melhor maneira que ele encontrou para lidar com a frustação de não conseguir recuperar a sua memória. Minutos se passaram e ele já estava lendo outra revista. E outra, e outra e mais outra. Quando se deu conta já tinha lido uma pilha delas. Levantou-se, andou em círculos por algum tempo. Abriu a cômoda que estava num dos cantos do sótão. Lá estavam as roupas do irmão de Catarina. Nenhuma daquelas roupas se parecia, no mínimo que ele se recordava, com os trajes de Gliessium. Começou a lembrar de todas as pessoas que viu quando foi ao cinema. Aquilo tinha sido uma experiência e tanto. Pode aproveitar e se divertir por horas. Mas agora tudo o que ele sentia era um incomodo imenso. Tinha certeza que não existia sensação mais esquisita do que aquela. Revirou a gaveta e fitou os trajes especiais dele. As linhas laterais azul escuros não pareciam dizer nada a Skylar, nem mesmo o bordado de constelação e as siglas D.G.A. significavam alguma coisa com clareza.

Desistiu de tentar se lembrar, pelo menos por hora. Deitou-se no sofá e passou a se concentrar no que Laura tinha dito mais cedo, sobre ela voltar antes do colégio e o fato de que ela o levaria para um passeio.

***

Skylar estava espremido atrás de um móvel grande e ornamentado. A sala estava escura, devido as cortinas escuras que não deixavam que a luminosidade entrasse pelas janelas. Seu coração batia descontroladamente e ele estava suando frio, temendo que o encontrassem. Se abaixou, para que pudesse enxergar pela fresta por entre os pés do móvel. Cinco homens estavam na sala de reuniões. Um deles era o próprio rector da Academia Delta Almaak. Fechou os olhos e desejou profundamente que nada daquilo estivesse acontecendo.

Quando abriu os olhos novamente Skylar estava no setor restrito da Biblioteca Oficial de Gliese 667 Cc. Ele precisava ser rápido, ou então seria punido. Os registros estavam todos dispostos em caixas arquivo, com identificações confusas. Ele já estava fazendo isso à semanas. Quando olhou por cima do ombro, tudo ficou escuro.

A nitidez voltou aos poucos e junto à ela pode ouvir a conversa dos pais. Skylar estava em sua própria casa, altas horas da noite,voltando da sala de estudos com os livros complementares aos estudos da Academia Delta Almaak. Passou próximo a sala privativa, que por descuido dos ocupantes não estava completamente fechada. Colou o ouvido na parede.

– Conspiração!- Mesmo baixo, Skylar pode entender o que o pai dizia.

– Diante dos nossos olhos.- A mãe parecia desolada.- Estamos prestes a sofrer um golpe. Não tenho dúvidas.- A mulher suspirou penosamente.

Skylar tratou de voltar ao seu aposento. O quarto tinha paredes claras, com prateleiras repletas de livros e replicas em miniatura de todos os modelos de Tempestris, e no teto a representação de diversas constelações que divagavam livremente como se estivessem soltas no próprio universo. Trancou a porta e largou os livros no chão.

A cena mudou. Skylar estava completamente sozinho, num setor desconhecido e completamente devastado. Alguém o perseguia. O local estava sujo, com metal distorcido espalhado por todo canto. Ele escutou um barulho ensurdecedor, parecido com alguma coisa se chocando. Virou-se de costas por um segundo, enquanto tentava identificar onde estava. Antes que pudesse reagir foi capturado, e estava sendo arrastado para um buraco escuro.

***

Skylar deu um pulo e quase caiu do sofá. Estava suado e seu coração se chocava violentamente contra o peito. A luz fraca da manhã passava pelas frestas da cortina. Com alívio, reconheceu o sótão da casa de Laura. O garoto estava zonzo e levou alguns minutos para se acalmar. Caminhou até a janela, puxou a cortina cuidadosamente e viu Dom passar furtivamente pela fresta do portão.

Precisava colocar a cabeça no lugar. Urgentemente, ou ele poderia perder a mínima chance.





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Notas finais do capítulo

E aí? Dúvidas? Alguma coisa a declarar?

:)



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