Constante De Laura escrita por Renata


Capítulo 12
Capítulo 12


Notas iniciais do capítulo

Aqui vamos nós.



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Sábado passou rápido como um piscar de olhos, e o sol preguiçoso de domingo já entrava pelas frestas da cortina do quarto de Laura. No dia anterior ela e Skylar passaram boa parte do tempo pensando em uma maneira de ele sair da casa e retornar sem que fosse visto pelos pais da garota. E a melhor solução foi fazer o que Catarina tinha sugerido. Ela chegaria às 09:00 da manhã. Entraria na casa e conversaria com os pais de Laura, despreocupadamente, como sempre fazia. Tudo o que os dois deveriam fazer era descer as escadas do sótão sorrateiramente e passar direto pela cozinha e abrir a porta dos fundos, escapando para o quintal. Ainda teriam que contar com maior sorte na volta.

Laura estava nervosa. Estava pronta, e andava de um lado para o outro no quarto, citando mentalmente os passos do plano. Tinha convencido os pais na sexta-feira que teria que fazer um trabalho com Catarina, e ainda sentia um aperto no peito por ter que mentir. Parou para conferir o que precisava levar na bolsa: a carteirinha de estudante (com uma foto que ela odiava), dinheiro extra, cartão para o ônibus, balinhas de goma... Deu um pulo ao ouvir o bip do celular. Era o sms de Catarina avisando que estava quase chegando. Laura engoliu em seco e tratou de subir as escadas do sótão. Por sorte, só teria que despistar a mãe, já que o pai insistiu em sair a pé até a banca de jornais, que ficavam a umas boas quadras da casa.

Bateu leve com os nós dos dedos na porta. Três vezes como o combinado. Colocou a mão na maçaneta e empurrou a porta. Skylar estava em pé, parado bem próximo dali. Ele estava pronto também. Vestia as roupas novas (na verdade eram as roupas de Henrique): Calça jeans escura e a camisa de flanela e estampa xadrez. Os cabelos levemente encaracolados e loiros do garoto estavam bagunçados e Laura achou que estavam combinando com o “estilo”. Ela suspirou e encostou a porta, nervosa. Andou até a janela e puxou uma fresta da cortina velha. Viu Catarina saltitando pela calçada da sua casa. Estava na hora. O celular emitiu outro bip e ela escutou atentamente, no andar de baixo, a mãe atender a porta.

***

Skylar estava receoso. Aquelas roupas eram um pouco esquisitas. Não exatamente desconfortáveis, mas um pouco estranhas. Apesar disso, era assim que ele precisava estar. Laura tinha ajudado ele a escolher o que vestir no dia anterior, então provavelmente a garota tinha ideia do que estava fazendo. Estava ansioso também. Ele tinha algumas expectativas sobre aquele dia, e mal podia esperar para isso. Laura não tinha trocado uma palavra sequer desde o momento em que entrou no sótão. Parecia nervosa, e Skylar ficou prestando atenção nela. De modo súbito, a garota agarrou seu pulso e passou a puxá-lo em direção à cozinha. Os dois desceram a escada silenciosamente, e quando chegaram à porta que levava aos fundos da casa Laura girou nas pontas dos pés.

– Vamos dar a volta pelo lado esquerdo. Você sai pelo portão, e anda alguns metros. Eu volto e me despeço de minha mãe, e daí eu e Catarina te encontramos. - Ela sussurrou com uma expressão séria.

Ele assentiu. Os dois saíram nas pontas dos pés. De dentro da casa ouviam a voz de Catarina, perguntando à Alice, mãe de Laura, alguma coisa sobre a biblioteca. Se abaixaram ao passar pela janela do quarto de Laura, por precaução, e rapidamente se dirigiram ao portão. Laura esperou que Skylar saísse e fez um sinal que deu a entender que logo o alcançaria.

O garoto andou apresado até uma boa altura da rua. Parou perto de um jardim com algumas flores brancas, e passou a fitar o portão da casa de Laura. Skylar viu Dom se esgueirar pelo muro, parar preguiçosamente e lamber uma das patas. Depois de alguns minutos, Laura e Catarina saíram da casa e o alcançaram. Laura ainda parecia preocupada, e Catarina falava bastante, como Skylar já tinha notado.

– Ah, então! Eu dei uma olhada nos filmes em cartaz... Pra falar a verdade não tem muita coisa. Tem um, “A madrugada do massacre”... - Catarina andava rápido e dizia animada.

Skylar não tinha ideia do que significava, só observava a rua movimentada, cheia de veículos iguais aos dos pais de Laura.

– Catarina! Que titulo de filme é esse? Parece ser um daqueles de terror bem ruins. Não daqueles que dão medo, entende?

–É. Também vi um que se chama “Todo mundo no mesmo...” ah, esquece. É comédia babaca.

– Decidimos quando chegarmos lá. Primeiro temos que nos preocupar com o ônibus. – Laura disse determinada.

Skylar seguia as duas garotas, que ainda discutiam sobre qual filme deveriam assistir. Ele gostaria de opinar, mas não era um especialista no assunto. As duas pararam de repente, de baixo de um suporte que saia do chão, e se estendia sobre suas cabeças.

– Acho que deve chegar em uns dez minutos.- Laura disse enquanto olhava para um dispositivo que brilhava, e às vezes emitia alguns bips.

As meninas não falaram mais sobre os filmes. Resolveram parar de ignorar Skylar e passaram a comentar e dar dicas sobre coisas que pareciam naturais para as pessoas.

– Bom, a gente não pode conversar durante o filme. Apenas cochichar, bem pouco. Uma vez Catarina começou a falar sobre o fato de os personagens não agirem de forma parecida com os da série de livros e... quase fomos expulsas da sala.

Skylar arregalou os olhos, imaginando o quanto isso seria ruim. O que acontecia depois de ser expulso? Na academia Delta Almaak ser expulso era terrível, e significava que seu futuro seria comprometido.

– Eu não tive culpa, o filme todo foi uma palhaçada! Ah... Skylar, nós precisamos ajudar Laura a escolher um vestido!

– Catarina! Eu não vou comprar vestido nenhum!

– Mas a festa está chegando...

–Não, nem vem.

Festa. Laura tinha comentado sobre elas serem ruins. Ele estava prestes a dizer isso, quando Catarina quase deu um salto e começou a balançar o braço esquerdo freneticamente. Uma coisa grande parou diante deles e Catarina subiu a bordo, e então Laura pousou uma das mãos em suas costas e o empurrou para dentro. Lá dentro ele viu outras tantas pessoas e não pode evitar ficar surpreso.

***

Laura teve que obrigar Skylar se sentar. O ônibus não era exatamente o meio de transporte mais confortável e ela preferia que todos eles se sentassem nos últimos bancos, daqueles com vários lugares um ao lado do outro. Empurrou o menino para o canto e se sentou entre ele e Catarina. Skylar estava boquiaberto, e ela temia que as coisas saíssem do controle. Mas ele não disse nada, apenas observava tudo quase que maravilhado. Catarina trocava uma ou duas frases, agora tinha colocado os fones de ouvido e escutava alguma música para passar o tempo.

Chegaram ao shopping, e depois de atravessarem a rua, o menino fitou Laura com um sorriso enorme.

– Foi divertido!- Disse sendo realmente sincero.

– Ah, não quando você precisa fazer isso todos os dias.- Ela comentou.

– Vão ver diversão quando entrarmos ali!- Catarina apontou para o grande prédio com portas de vidro e grandes outdoors coloridos.

Estava tudo bem calmo, para o alívio de Laura. Catarina bufou ao ver as lojas fechadas, já que no domingo as mesmas só abriam depois das 14:00 horas, e amarrou a cara quando viu que Laura conduzia Skylar para o elevador. Os três se dirigiram ao piso do cinema, e Catarina apanhou um folheto contendo as sinopses dos filmes em cartaz. Se sentaram em uma mesa com cadeiras macias e passaram a ler as informações.

Depois de uma discussão entre as meninas sobre uma comédia romântica, que Laura julgara “água com açúcar” e “igual à todos os outros”, os três entraram em consenso sobre assistir um filme de época, que misturava comédia e ação, e tratava sobre a resolução de um mistério. Laura defendeu a escolha dizendo que o elenco e o diretor do filme eram ótimos. Skylar ficou do seu lado, mesmo que não parecesse ter a mínima ideia de como esses fatos poderiam sustentar seus argumentos, e Catarina cedeu depois de ver um ator que ela achava lindo no cartaz do filme.

Os três comeram um sanduíche e tomaram suco depois de comprarem os ingressos do filme, que ainda demoraria pelo menos meia hora para começar. Depois, minutos antes da sessão, as meninas trocaram os pontos de seus cartões fidelidade em pipoca, chocolate e refrigerante para acompanhar o filme. Quando entraram na sala da sessão, Skylar passou a olhar para todos os cantos, extasiado, o que fez com que Laura tivesse que equilibrar os doces e os copos de refrigerante enquanto puxava o garoto pelo braço. Catarina escolheu os lugares, no alto, e um pouco afastado das demais pessoas que estavam dispostas a estarem no cinema naquele horário.

–Está confortável?- Laura perguntou para o menino ao seu lado.

–Sim, obrigado.- Respondeu sussurrando.

Laura deu um sorriso e passou uma barra de chocolates para ele. Depois Catarina deu-lhe uma cotovelada no braço, que a fez se virar para a amiga.

– Ei Cat, isso dói!

– Desculpa. Mas você viu como o Matt está um gato?- A menina bateu palmas rapidamente, mas sem fazer barulho.

Laura revirou os olhos. É. O ator era mesmo bonitinho. Deu um gole no refrigerante e as luzes se apagaram.


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Notas finais do capítulo

Ficou meio chato, mas as coisas começam a tomar forma nos próximos capítulos, prometo.



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